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O fim...

21 Janeiro 2013


Este será o último artigo deste blog.

Acabaram-se as semi-promessas, semi-sérias e semi-cumpridas. Adiei esta decisão por demasiado tempo. E apenas deixei que tudo se complicasse pelo caminho.


Portanto, aqui estou eu, a desistir com todas as letras.


Analisei esta questão de muitas perspectivas e feitios. Pesei todas as minhas dúvidas, razões e certezas. E, no final, percebi que toda essa doentia análise foi apenas um desperdício do meu tempo.


Agarrar-me a este “compromisso” tem sido um desconforto com o qual tenho tolerado viver. Mas quando 2013 entrou de rompante, sem deixar tempo para grandes preparações mentais, senti necessidade de virar a página.


Deixei que este blog me definisse. Deixei que este tema me definisse. E deixei que todo o frenesim da profissionalização da blogosfera moldasse os meus objectivos.


Quando dei por mim estava a querer mais leitores, mais comentários, mais partilhas. E estava, lentamente, a esvaziar a minha escrita de qualquer personalidade para injectar as mais de milhares de dicas que crescem pela internet.



Fui uma idiota. Mas quem não o é de vez em quando?


Tentei entregar conteúdo útil e de qualidade e recebi comentários de pessoas maravilhosas. Tinha tudo o que era preciso para continuar a crescer. Excepto motivação, claro.


Deixei de escrever como queria realmente escrever. Porque o medo de ser rejeitada e ignorada abafou tudo isso. E passei a escrever como se fosse outra pessoa. Mais perfeita, mais entendida, mais sábia.


E a realidade é que a minha vida é um caos! Estou a fazer o melhor que posso e estou a falhar miseravelmente, vezes sem conta.


Novidade: eu não sou perfeita, ninguém é.


Nem um layout profissional e umas palavras bonitas podem disfarçar isso, é loucura tentar mudá-lo. E é loucura criar uma imagem de perfeição para empacotar e vender em massa.



Não sou a mesma pessoa que era quando comecei este blog. Na altura tinha toda a espécie de ideias patéticas e ingénuas sobre a vida. Agora passei por algumas desilusões e surpresas. E vejo que todo o tempo que passo a contemplar o passado à procura de respostas é uma oportunidade que perco de encontrar um caminho diferente. Preciso de começar de novo. Sem o peso deste passado nas minhas costas.


Ignorei algo importante nesta jornada. Ignorei o facto da minha escrita possuir uma vontade própria. Posso melhorá-la e aprofundá-la. Mas não posso transformá-la naquilo que ela não é. E ela não é isto! Não é este blog, nem estas ideias, nem estas palavras.


E por muito que tente, ela não se vai comportar como eu quero, só porque é mais bonito assim. Os talentos têm que ser nutridos e têm que falhar consistentemente para poder crescer. Não podemos formar escritores, nem devemos querer formatá-los. Caso contrário passaremos todos a “cuspir” o mesmo discurso e não haverá nada de diferente para provocar as nossas mentes adormecidas.


Preocupamo-nos demasiado em perpetuar um estilo uniforme para não ter que enfrentar o fracasso. Mas sem erros a vida seria monótona.



Por tudo isso decidi avançar. O blog continuará no ar por algum tempo. Mas, por razões óbvias vou deixar de responder a comentários. Inclusive neste post. Disse tudo o que tinha a dizer. E agora tudo o que me resta é seguir em frente.

Um abraço especial a todos os leitores fantásticos que me acompanharam.
 

Estou seriamente empenhada em criar um novo blogue. Se depois de tudo isto ainda me quiseres acompanhar fica atento às minhas novidades no twitter ou no facebook.

Até breve

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Kit de sobrevivência para a criatividade

Criatividade catapulta-nos sempre para uma visão de pessoas dinâmicas e extraordinariamente energéticas.

Pessoas que vivem à velocidade da luz e que deixam, todos os outros, a comer poeira.

Na realidade, a criatividade é muito menos épica do que aquilo que nos tentam vender.
 


Sgt. Sean Marlow | Official U.S. Air Force



A criatividade já me apanhou em calças de pijama com uma chávena de chá na mão. Já me deu um encontrão quando eu saía da casa de banho. Já correu comigo para apanhar o comboio.

Não existe nada de romântico, nada de magnífico. A criatividade não é nada que se treine. Porque, no fundo, a criatividade consiste em encontrar o novo no meio do familiar, em inovar o velho, em criar o que ainda não existe.

Por isso não pode ser ensinada. Não pode ser treinada. Nem vendida. Nem trocada.

Ela simplesmente existe. E existe de igual forma para cada um de nós.

Vai-se apagando aos poucos com a formatação que recebemos na escola. Morre um pouquito quando a nossa ideia brilhante de querer pôr um porco a voar na peça de teatro da escola é levada a mal por aqueles indivíduos que andam sempre carrancudos.

E morre ainda mais um pouco quando as nossas respostas geniais, fora da caixa, impensáveis recebem um risco vermelho de alto a baixo nos testes e um comentário lacónico do professor: “não percebeu a pergunta!”

A minha vontade era desenhar um avião por cima. E escrever a caneta laranja fluorescente: “desculpe lá, mas foi você que não percebeu a resposta!”.

A criatividade é pensar o que nunca foi pensado. Pelo menos na nossa forma peculiar de pensar.

E logo não pode ser cultivada. Embalada. Produzida em série ou distribuída em massa.



O que podemos treinar é tudo o resto.

É a técnica e a habilidade de estar receptivos ao extraordinário. Aconteça ele onde acontecer.

Treinamos isso ao deixar de ser os idiotas que desenham um chato traço vermelho em cima das ideias inexploradas. Ao deixar de ser os covardes que escrevem e falam sobre o que lhes é familiar com a autoridade rígida de um pseudo-perito ruminante.

A criatividade nasce no fresco. Em escrever de forma diferente. Num papel cor-de-rosa. Com uma caneta azul bebé.

Nasce de concordar com aventuras patéticas, que nos atiram tão completamente para fora da nossa zona de conforto que demoramos imenso tempo a encontrar o caminho de volta.

Para que a criatividade floresça precisamos de lhe dar espaço.

Precisamos de mostrar as nossas ideias. De expô-las. De deixar que elas sejam criticadas e pensar em novas e em melhores ideias. Ideias que nascem de todas as outras que vão ficando pelo caminho.

As ideias são dinâmicas. Como seres vivos. Como microscópicas bactérias que se adaptam, modificam e proliferam sem nunca perder o seu propósito: continuar a crescer.

Pelo menos enquanto houver espaço e comida. E, ao contrário das bactérias, as ideias precisam apenas de espaço mental e de ser alimentadas pela nossa própria recusa em seguir o caminho convencional.
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Quebrar o ciclo da insanidade no trabalho

Estava furiosa. E isso notava-se em tudo o que fazia.

A injustiça incendiava as minhas faces e fazia-me guinchar como um galo emproado no topo do meu poleiro.

Sabia-me bem. Admito. E o meu ego empanturrava-se com todo esse drama.

A única pessoa que não se apercebia do ridículo era mesmo eu.


Angry Bale | Nomadic Lass



Demorei mais de um ano da minha vida a chegar ao ponto de ruptura. Mas entre as queixas e as mágoas percebi que em todos os momentos de revolta estava apenas a causar mais dor para mim e para os outros.

Não vou dizer que acordei de repente e percebi tudo. Na verdade, não percebi nada. Apenas percebi que tinha percebido tudo mal!

Mas deixa-me recuar um pouco…

Todo o drama começou quando passou a fase do romance no meu contacto com o mundo do trabalho.

Nunca deixei de gostar daquilo que faço. Mas comecei a aperceber-me de pequenos grandes pormenores que espetaram com o romance no esgoto.

Foi um acordar violento. E eu, na minha sede de provar que estava a ser injustiçada, fiz o que toda a gente faz – nada. A não ser queixar-me claro. Isso fi-lo aos potes.


O que significa realmente queixar


O excesso de queixas levou-me a perceber que queixar não implica apenas mostrar insatisfação. Existe também um prazer perverso em culpar os outros pelos nossos azares.

E queixar implica também obrigar aqueles que nos são mais próximos a servir de audiência para as nossas neuroses.

Mais tarde comecei a sentir um certo sabor amargo na boca sempre que me queixava. E acabei por perceber que toda essa postura de vítima não só estava errada, como me fazia sentir ainda pior com toda a situação.

Em pouco tempo deixei de me identificar com as minhas palavras e atitudes. E nesse pequeno espaço consegui perceber que tinha exagerado e permitido que o drama se complicasse apenas para poder sentir mais pena de mim.

Contudo, por muito errada que estivesse, não há como negar que o mundo do trabalho actual se encontra afogado na sua própria insanidade.


O trabalho e a insanidade


Existe algo de sinistro nos loucos que discutem sozinhos pela rua fora.

Tão sinistro que falhamos em perceber que a única diferença entre nós e esses loucos reside no simples facto de nós termos audiência para os nossos delírios e eles não.

Munidos com as nossas neuroses dedicamo-nos a criar stress todos os dias e a toda a hora.

Deliramos com a possibilidade de falhar ou de ser bem-sucedidos. E participamos no delírio coletivo de um local de trabalho altamente especializado em difundir o medo e o stress para assegurar a continuidade da sua própria insanidade.

E como nos dedicamos a criar stress (e a deixar que outros o criem para nós) a nossa mente vive ligada a um futuro que pode nunca chegar a acontecer.

Enquanto stressamos estamos desligados do presente. E só raramente experimentamos momentos de consciência verdadeira em que pensamos:

“Já é sexta-feira!?”

“Já estamos no final de Setembro!?”

“Já passou um ano!!??”



O stress torna-nos cegos ao passar do tempo.

E muitas vezes ficamos tão absorvidos por essa cultura que a nossa mente começa a ter dificuldades em deixar o local de trabalho. Mesmo quando o corpo já saiu há muito de lá.


Mudar a infelicidade


Quanto mais me revoltava com a minha situação pior me sentia ao fim do dia.

Ter que carregar toneladas de ressentimentos durante a minha jornada de trabalho só tornou tudo mil vezes mais difícil para mim.

A princípio não pude fazer nada a não ser observar o meu comportamento delirante ao longo do dia. E foi nesse nada que encontrei a minha resposta.

Mudar a minha infelicidade passou por estar mais presente. E por evitar viver alienada e obcecada com os problemas que muitas vezes só existiam na minha cabeça.

Passou por admirar as coisas pequenas e por aceitar que, por agora, tenho uma tarefa pela frente e que devo levá-la até ao fim.

Estar presente resume-se a estar atento sem julgar as pessoas ou as circunstâncias. E embora esse estado seja incrivelmente difícil de atingir, a sensação que fica por ganhamos a consciência que somos muito mais que os nossos delírios é revigorante.


Despindo a insanidade


Todos nós, em algum momento das nossas vidas, nos identificamos excessivamente com o nosso trabalho.

Vivemos tudo duma forma muito intensa, em especial, a insanidade colectiva. E tudo isso se torna demasiado relevante e demasiado importante para nós.

Para ser dolorosamente sincera penso que pouco podemos fazer para a actual ética de trabalho. É uma cultura madura e estabelecida com um reinado épico que continua, nos dias de hoje, com muita força.

O único que podemos realmente fazer, sem perder a nossa sanidade no processo, é ganhar consciência dessa insanidade. Especialmente quando ela nos fizer uma rasteira e nos morder o rabo sem a mínima provocação.


Reconhecer a insanidade…


… e aprender a viver com ela


“There is more to life than increasing its speed.”

“Há mais na vida do que aumentar a sua velocidade.”

Mohandas Gandhi

Temos que admitir que, por vezes, procuramos algo no trabalho. Algo que, no fundo, sabemos que o trabalho apenas não nos pode dar.

Procuramos preencher um vazio e encontrar um significado. E mesmo quando começamos a suspeitar que não é no trabalho que o vamos encontrar, continuamos a escavacar na esperança de encontrar “algo”, seja lá o que isso for.

Demasiadas vezes, trabalhamos demais porque, ao fim dalguns meses (ou anos) de stress intenso deixamos de saber como viver a vida sem toda essa pressão. Os nossos tempos livres enchem-se de ansiedade e medo, que nos apressamos a tentar tapar, com mais trabalho e preocupações.

Demasiadas vezes perdemos tanto tempo a trabalhar como aquele que perdemos a mostrar dedicação.

Claro que a dedicação em si não tem nada de mal! O problema nasce quando atafulhamos a nossa lista de tarefas com pequenas coisas que têm como único propósito mostrar a nossa dedicação e prender-nos no trabalho até mais tarde.

Coisas que teriam melhores resultados se fossem adiadas para outro momento.

Coisas que poderíamos delegar e coisas que são absolutamente desnecessárias.

São essas pequenas coisas que, quando deixadas aos seus próprios inventos, vão minando a nossa capacidade para nos dedicarmos aquelas coisas que são realmente importantes.



Fugir a esse ciclo começa com estar presente e com reaprender a viver com a incerteza.

Temos que reconhecer que somos mais do que o nosso trabalho e mais do que as expectativas que os outros têm para nós. Para que o medo não paralise as nossas escolhas.

Temos que reconhecer que leveza do trabalho de forma inteligente bate aos pontos o cansaço do trabalho duro. E que a vida para além do trabalho não é apenas uma necessidade dos fracos, mas uma fonte de motivação para aqueles que são verdadeiramente fortes.

Existem tantas ideias nefastas sobre o trabalho. Crescemos com elas, transmitimo-las e perpetuamo-las num ciclo dominado pela inconsciência. Talvez seja a altura de o quebrar…
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Vamos procrastinar?

 “Procrastinar é o dilema fundamental, entre aquilo que é bom para nós agora e aquilo que é bom para nós a longo prazo"


Procrastinar começa com uma escolha. Que muitas vezes fazemos de forma inconsciente.

Durante insignificantes instantes a nossa mente pondera as vantagens e desvantagens de procrastinar. Até que o cansaço, o medo ou a pressa decidam por nós.

As distracções não são o vilão. São apenas o resultado de escolhermos o prazer imediato, em vez de escolhermos adiar as recompensas.

Porque cedemos às distracções…


Somos humanos. E quando escolhemos, repetidamente, adiar as recompensas numa certa área, torna-se difícil, senão mesmo impossível, tomar essa mesma decisão noutras áreas das nossas vidas.


Leão adormecido | Vera Kratochvil



Fazemos isso nas nossas carreiras. Toleramos comportamentos insuportáveis, críticas intoleráveis, condições de trabalho péssimas e exigências sobre-humanas. E embora haja dias em que nos apeteça fugir, sabemos, lá no fundo, que todo esse trabalho vai ser recompensado.

Este esforço também se torna perigoso a longo prazo. Tomar demasiadas "boas" decisões pode deixar-nos exaustos. Nas palavras de Ariely pode levar-nos a um "esgotamento do ego".

O cansaço pode levar-nos a desistir das coisas que consideramos importantes. E o esgotamento pode levar-nos a cometer erros e a escolher mais o prazer imediato, em vez de adiar as recompensas.


Humanidade vs. Produtividade


Algo me incomoda nos actuais sistemas de produtividade. Os seus criadores parecem ter embarcado numa cruzada para eliminar todas as distracções. Nunca considerando o lado positivo da procrastinação.

Habituamo-nos a viver com um nível insano de stress. Ao ponto das doenças cardiovasculares figurarem no top 10 das causas de morte mais comuns a nível mundial (dados da OMS). E à medida que aumentam as mortes por causa do nosso estilo de vida, aumenta também a histeria na guerra contra a procrastinação.

Neste momento faltam pessoas a defender o ócio produtivo. A defenderem a necessidade de abrandar. Porque as decisões mais idiotas são aquelas que tomamos de cabeça quente. E que as ideias mais pobres são as que menos trabalhamos.

A arte do não fazer nada tem-se perdido à medida que aumenta o consumismo. E as cruzadas contra a procrastinação são apenas uma consequência disso.

Nesta era do excesso de stress, a maioria das pessoas parece ter-se esquecido que procrastinar é um mecanismo de defesa. É o nosso subconsciente a tentar passar uma mensagem. É o nosso termostato emocional. A luzinha vermelha que se acende quando estamos prestes a despenhar-nos numa ilha remota.

Procrastinar é humano e é saudável. Rejeitá-lo é rejeitar uma parte de nós.


“Too much procrastination will kill you!”


No final, a procrastinação reduz-se a um problema de dosagem. Procrastinar em demasia é tão mau como resistirmos à nossa vontade de procrastinar. E, mais tarde ou mais cedo, todos pagamos o preço.

Viver a vida procurando apenas o prazer imediato deixa um vazio impossível de preencher. Esse vazio, na verdade, é o resultado das nossas patéticas escolhas:

  • Preferir a recompensa imediata.

As conquistas que requerem pouco esforço são boas para nós naquele instante. Mas essa sensação de bem-estar é de vida curta. Por isso passamos tantas horas no Facebook e nos parece sempre pouco.

Adiar as recompensas, por outro lado, obriga-nos a investir mais tempo e, quando finalmente recolhemos os frutos do nosso trabalho, a sensação de bem-estar, de realização e de felicidade podem durar toda uma vida.

  • Gastar o nosso tempo em tarefas inúteis.

Às vezes enrolamo-nos até ao pescoço de tarefas inúteis, só para fugir aquela tarefa que nos aterroriza. O que acontece é que ao fim de pouco tempo começamos a sentir-nos desnecessários e pouco importantes.

No fundo acredito que cada um já sabe aquilo que é melhor para si. Por isso, sempre defendi que não precisamos de especialistas para nos apontar o caminho.

O grande problema começa quando não queremos ouvir a nossa intuição. E fazemos de tudo para nos certificarmos que nunca vamos ter tempo para a ouvir. Caso contrário não haveriam tantas pessoas frustradas com o seu trabalho e mal-encaradas com os seus colegas.


Aprender a gerir a procrastinação


Quando me apetece muito ceder a uma distração improdutiva faço-o. Pode parecer contraintuitivo. Mas não deixo de perder tempo no Facebook, ou ver televisão só para aumentar a minha produtividade.

O que faço de diferente é impor limites. Foi estranho ao início, mas marcar 15 minutos no timer para ver o Facebook, o Gmail e todas as coisas inúteis em que me meti, acabou por ser uma bênção.

E quando acaba o tempo definido volto-me para as coisas importantes sem peso na consciência.

Fazer ciclos entre tarefa produtiva e tarefa improdutiva levou-me a viver os dias mais produtivos da minha vida. Na verdade, percebi (não sem bater antes com a cabeça numa parede de tijolo bem dura), que não é quantidade de tempo que dedicamos a uma tarefa, é a qualidade do tempo. Passar muito tempo numa tarefa não é garantia de melhorias, é apenas garantia de uma gigante dor de cabeça.

E acho que todos podemos concordar que temos a concentração de um peixinho dourado quando estamos a pensar noutras coisas.

Há que ser improdutivos. Abraçar a procrastinação e usá-la para viver uma vida mais equilibrada.


E depois há aqueles dias…


… em que temos que nos render. Quando não dá, não dá. Não importa quantas técnicas de produtividade experimentemos, simplesmente não vai acontecer. O timer pode apitar loucamente, e até podemos pedir a um amigo para nos ameaçar com uma arma de arremesso, que as coisas não vão acontecer.

Nessas alturas não vale a pena forçar. Porque estamos demasiado absorvidos por outra coisa, preocupados ou distraídos. Há dias em que simplesmente nos apetece mergulhar no sofá e ver a lixeira na TV durante 12h seguidas. E, em certos dias, a coisa mais produtiva que podemos fazer é isso mesmo!

É sinal de que precisamos de descansar. Sinal de que, algures, fizemos uma grande imbecilidade e precisamos de recuperar.

Não vale a pena afogar a vergonha num balde de gelado quando isso acontece. Somos humanos (e eu não me canso de o relembrar)! E o ócio faz parte da vida.


As coisas vão melhorar?


A produtividade, ou a vontade de fazer algo que nos trará prazer a longo prazo é algo que se treina.

Na adolescência parece que todos "nascemos cansados". Os primeiros anos a trabalhar parece que não conseguimos acertar o nosso relógio.

Mas, eventualmente, as coisas melhoram. Eu costumava ficar irritada quando ouvia isso da boca de um adulto. E agora dou por mim a dizê-lo. E a razão por que o faço é simples:

A experiência muda-nos. O mundo à nossa volta pode ficar igual. O teu chefe pode continuar a levar-te à loucura com a sua necessidade de micro-gestão. Mas tu mudas. Passas a arranjar tempo, passas a arranjar paciência, a arranjar motivação e a arranjar alegria.

O importante é não desistir por completo. Podemos e devemos fazer cedências temporárias em períodos ou dias complicados das nossas vidas. Não há mal nenhum em ver televisão durante 1h ou durante o dia inteiro. Não somos máquinas de produtividade, nem devemos aspirar a sê-lo, é desumano.

Mas é importante entender que esses períodos de cedência são temporários. É importante usá-los para recuperar do excesso de cansaço, mas, mais tarde ou mais cedo, temos que voltar à carga. Temos que forçar a barra e ir em frente.

A procrastinação pode ser usada para o bem ou para o mal. Usando-a para o bem podemos sarar a nossa criatividade. Usando-a para o mal leva-nos a esquecer as nossas feridas e a ignorar os nossos sonhos.

E tu, como tens usado a tua procrastinação?



Leitura recomendada:
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Quando escrever se torna difícil

Face a uma corrente forte, todo o mergulhador experiente sabe que, entrar num braço-de-ferro é a decisão menos inteligente que pode tomar.

O mergulhador pode até vencer esse minúsculo confronto, mas é quando as correntes favoráveis surgem que o verdadeiro campeão se revela. Nessas alturas, em que podíamos dar o nosso tudo por tudo, o cansaço impede-nos de continuar.


Ilse Reijs and Jan-Noud Hutten


É por isso que, remar contra a corrente, é uma decisão idiota. E essa foi a decisão que tomei, diariamente, durante mais de um ano da minha vida.

Eventualmente, como acontece com todos os idiotas, o cansaço acabou por vencer. E eu aprendi a minha lição. Uma lição que me custou engolir, como um bolo exageradamente seco numa tórrida tarde de verão.


A escrita e as complicações da vida


Depois de uns tempos a tentar engolir o tal bolo eu percebi (finalmente!), que as complicações eram apenas fruto da minha imaginação frustrada, que se viu desligada do seu meio de expressão favorito e que, para me castigar, decidiu fazer da minha vida um inferno.

Mas estou a antecipar-me. Deixem-me voltar ao início.

Tudo começou quando quis arrastar os hábitos da minha antiga vida para uma rotina radicalmente diferente. E a verdade é que a situação pareceu aguentar-se por uns tempos. Por uns tempos consegui fingir que estava tudo bem. Até que deixou de estar.

Quando dei por mim já não conseguia escrever. Algo me repugnava na minha escrita. Os poucos textos que ia produzindo acabavam sempre na reciclagem. Todas as minhas palavras me pareciam sempre falsas e vazias.

Esse ódio à minha falsa escrita levou-me a desistir. E já que não podia escrever, decidi dedicar-me a ser adulta e a autodestruir-me em jornadas olímpicas de trabalho.


O choque


No fim percebi que o trabalho se tinha tornado um vício. Um vício de quem tenta loucamente escapar a algo. E como todos os amadores, pensei que era tudo uma questão de tempo até conseguir ignorar aquele elefante gordo que me estragava os tapetes da sala.

Neste ano dediquei-me a provar a todos (e a minha mesma) que conseguia fazer o mesmo que eles, que valia tanto como eles, que podia ter um trabalho respeitável e ser boa nele. E por isso deixava-me ficar no trabalho até mais tarde. Só um pouco mais, até o cansaço me triturar por dentro e me fazer esquecer aquilo que me fazia tremer.

Passei umas longas semanas em choque. A tentar digerir essa informação. Percebi que por muito miserável que me sentisse o trabalho não era o culpado. O culpado era a tal coisa que me fazia fugir a sete pés.


O medo


Existe, em todos os escritores, um estranho medo de encarar uma página em branco. Um medo de que esse espaço vazio nunca seja preenchido. E, ao mesmo tempo, um medo que ele seja preenchido por frases e palavras inúteis e fracas, manchando um espaço que antes era perfeito, onde antes estavam em aberto todas as possibilidades.

E esse medo não foi diferente para mim.

O medo fez jogo sujo com a minha mente. Como eu penso que faz com todos nós. Pegou nas minhas inseguranças mais profundas e fê-las bailar à frente dos meus olhos em maratonas sem fim.

Nesta jornada percebi que os escritores têm que conviver com esse medo. O medo vai lá estar quando acordarmos, quando tomarmos o pequeno-almoço, escovarmos os dentes e nos sentarmos a escrever.

Não existe fórmula mágica para o esquecer. Ele vai estar sempre lá, às vezes camuflado de argumentos lógicos e persuasivos que nos farão questionar a sanidade dos nossos sonhos.

Dei razão ao meu medo durante longos meses. Mas a escrita não é um talento que eu se possa arrumar para um canto sem sentir as consequências. Porque quando escrevo sinto-me inteira, e isso vale mais do que todos os argumentos que me afastaram de uma folha em branco durante grande parte da minha vida.


Os erros


Quando comecei a levar a minha escrita a sério, foi quando comecei a cometer graves erros. Presumi que podia manipulá-la e moldá-la à minha vontade. Quis encaixá-la dentro dos padrões que não eram meus. Quis comercializá-la, domá-la. E o resultado foi uma escrita que nada tinha a ver comigo. Por isso tudo me parecia tão falso!

Foi um choque perceber que, eu, a pessoa que adora planear tudo, escrevo melhor quando não tenho absolutamente plano nenhum para me guiar. Foi estranho perceber que, muitas vezes, não tinha absolutamente nada para dizer até ao momento em que decidia sentar-me a escrever.

Talvez eu seja aquilo a que chamam de escritora intuitiva. E sabê-lo foi o primeiro passo para regressar. Pessoalmente, adoro a organização. E ter que conviver com uma escrita intuitiva caótica foi um pouco agressivo para o meu estômago sensível.

Por isso, antes de me render e antes de desistir de remar contra a corrente, tentei estruturar os meus pensamentos antes de estar completamente consciente daquilo que queria transmitir. O resultado foi uma escrita que passei a odiar.

No fim de toda esta desventura reconheço que foi bom experimentar ambos os lados. Agora percebo onde sou mais produtiva. Embora isso continue a assustar-me de caraças.


A mudança


Entretanto a minha vida mudou, tal como eu queria que mudasse. Embora, não no sentido que eu mais desejava. Por isso, muitas vezes sinto que estou apenas numa estação de serviço e que não posso parar por aqui.

Sinto que algures no meu caminho dei uma volta errada, virei para Este quando devia ter virado para Oeste. Fi-lo porque a Este estavam todos os meus amigos e família, todos os lugares familiares e as caras amigas. E a Oeste pairava uma grande nuvem e tudo me parecia demasiado estranho, escuro e diferente.

O resultado das minhas escolhas tenho-o sentido na pele, nos ossos, nas olheiras, nas insónias e tudo o resto que não me atrevo a partilhar aqui.

Seguir o caminho mais fácil (embora no meu íntimo eu soubesse que era o caminho errado) de repente mostrou ser muito mais difícil do que enveredar pelo caminho mais estranho (que eu acreditava ser o certo).

A falta de vontade que começou a marcar os meus dias obrigou-me a aprender algo com este caminho. E tudo o que estava para trás - todos os artigos, todas as entradas no meu diário, todas as tentativas de escrever ficção - me pareceu ultrapassado, falso e infantil.

Regressar ao blog neste ponto da minha vida obrigava-me a voltar ao passado e isso eu não conseguia fazer. Tinha-me tornado uma estrangeira no meu próprio domínio e todas as palavras no ecrã me pareciam ter sido escritas por uma estranha.


O regresso e o futuro


Contra todas as expectativas regressei.

E adorava de ter uma cara lavada para mostrar. Mas aprendi que as mudanças reais e duradouras quase nunca são visíveis a olho nu.

Secretamente, como todos os contos de criança me fizeram acreditar, pensei que ia deixar de ser o sapo e que me transformaria numa bela princesa. A realidade mostrou-me que a Princesa é que é a falsa desta história, eu nunca fui o sapo, o pato feio ou o porquinho da índia!

Eu fui sempre eu. Continuo a vestir um top simples e umas calças de ganga e os meus sapatos não são de cristal. E contudo, sou melhor do que essa Princesa que tinha imaginado. Sou mais real, mais profunda, mais autêntica. E não precisei de um novo look para sentir isso na pele.

A verdade é que passei quase toda a minha vida a tentar não ser eu. Inventava mundos diferentes, fantasiava com vidas paralelas, fazia de tudo para escapar da realidade. Porque, o mundo me fez detestar ser eu, pensava que era um ser humano incompleto, vazio, nada interessante... e foi nessa fuga que eu me encontrei.

Não encontrei a princesa dos contos de fadas que todos prometiam. Mas encontrei-me e, para meu próprio choque, percebi que nunca tinha sido aborrecida.

O que espero para o futuro deste blog é continuar a evoluir. Continuar a crescer e a descobrir-me e talvez, se tiver sorte, inspirar alguém a fazer o mesmo.

Não volto com um plano debaixo do braço. Volto apenas com a intenção de voltar a confiar na minha escrita, num processo que é só meu e de mais ninguém. E, daqui a uns tempos, quando deixar de sentir indigestão ao ler os meus textos, talvez possa dar o passo seguinte. E, com sorte, alguns de vós estarão lá para o testemunhar!
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A ilusão da falta de tempo

Algumas pessoas decidem viver a vida a contra-relógio. Tomam em mãos a difícil tarefa de dominar o seu tempo. Escusado será dizer que a maioria falha miseravelmente.

Isto porque ignoram uma verdade básica: não podemos possuir o tempo, por isso, ele nunca nos pode faltar.
créditos: anna gutermuth

A falta de tempo é, muitas vezes, uma ilusão que nos esforçamos por manter. Para não termos que lidar com o medo de estar a desleixar uma parte importante da nossa vida.

E é esse medo que nos mantém dentro da nossa zona de conforto. Uma concha dura que nos isola de tudo, incluindo, de nós próprios.

Passamos o nosso dia a lidar com altos níveis de “stress”, e quando, finalmente temos um tempo para nós, desperdiçamos esse tempo em frente à televisão. Dizendo a nós próprios que merecemos descansar depois de um dia complicado.

Mas a verdade é que a vida se torna um pouco mais vazia em dias assim. Pensamos que a televisão nos vai trazer de volta o equilíbrio depois de sobreviver a mais um dia no mundo da super produtividade. Mas a televisão faz pouco mais do que proporcionar uma zona neutra na qual não temos que pensar, lutar ou criar.

A televisão é o vácuo, o intervalo que podemos fazer entre o lado stressante e o lado positivo da nossa vida. E, por isso, por muito agradável que seja usar a televisão como escape, é preciso reconhecer que esse vácuo não pode substituir o positivo.



A síndrome da falta de tempo, que muitas vezes enfrentamos, exige um pouco de jogo de cintura. Exige olhar para a nossa rotina e decidir que actividades nos trarão mais felicidade a longo prazo. Com essa atitude poderemos reconhecer que a televisão representa a satisfação imediata que, por não exigir qualquer esforço da nossa parte, se torna numa satisfação fugaz.

O contrário de uma satisfação fugaz passa por perceber aquilo que queremos verdadeiramente. E comprometermo-nos a trabalhar nesse sonho quando o resto do “mundo” descansa.

E isso pode ser doloroso ao início, mas é, sem sombra de dúvida, algo que nos trará confiança e felicidade duradouras a longo prazo.



Às vezes os nossos dias e problemas no trabalho parecem infinitos. Às vezes trabalhamos mais do que todos os outros, pensamos mais, estudamos mais, dedicamos mais de nós. E chegamos ao fim do dia vazios, como coragem e forças apenas para comer metade de uma refeição decente e encostarmos a cabeça na almofada.

E às vezes, trabalhar menos horas, ou dedicarmo-nos menos nem sempre é solução para a nossa falta de tempo. Porque, como estamos tão cegos na nossa frustração nem percebemos o tempo que gastamos em actividades inúteis. Não percebemos que 15minutos por dia de dedicação a uma actividade que nos deixa realmente orgulhosos de nós próprios é suficiente para equilibrar a nossa vida e resolver as nossas ansiedades.

Ou pelo menos, é isso que tenho vindo a aprender!
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A liberdade de opinião e a intolerância

Criar a nossa própria definição de sucesso e felicidade é libertador.

De um momento para outro percebemos que não precisamos de um grande carro para sermos felizes. Que não precisamos de usar roupa de marca e jóias brilhantes para nos sentirmos bem connosco próprios.

Mas, criar a nossa própria definição de felicidade é simples, basta que arranjemos um tempo na nossa agenda para deixar a nossa mente voar. O complicado vem depois.

Un abrazo | José Valiente


Porque, no final do dia, somos todos humanos. E como seres humanos precisamos de outras pessoas para tornar a nossa vida mais real.

Quando criamos as nossas próprias regras damos oportunidade a nós próprios de perseguir os nossos sonhos, e não os sonhos dos outros. Contudo também abrimos as portas a confrontos e a intolerâncias quando tentamos impor a nossa ideia de felicidade àqueles que nos são mais próximos.

Criar as nossas próprias regras não nos livra de um mal fundamental: o julgamento.

Porque, a partir desse momento passamos a ver o mundo de forma diferente e, por isso, esquecemos que a nossa visão de felicidade não é melhor nem pior do que a visão dos outros, é apenas diferente.

E como tal, não precisamos de livrar os outros dos seus próprios ideais. Porque cada pessoa tem direito a criar as suas próprias regras.


Mas então, porque é que continuamos a assistir a discussões acesas entre pessoas com opiniões diferentes?




É tudo uma questão de identidade.

Construímos a nossa identidade na relação com os outros. Procuramos, nos outros, formas de validar a nossa visão do mundo. E para fortalecer esses ideais chegamos a rejeitar outras formas de pensamento.

E isso é uma forma de intolerância. Uma intolerância que passa despercebida, porque se tornou num comportamento vulgar nos dias que correm.

Essa intolerância nasce da falta de confiança que temos nas nossas opiniões e, fundamentalmente, na falta de confiança que temos na nossa própria identidade.

A falta de confiança nas nossas opiniões leva a que, quando alguém choca com a nossa noção da realidade, nos sintamos rejeitados. E a rejeição diminuiu ainda mais a nossa capacidade de confiar nos nossos ideais.

Com isso a nossa sociedade tem-se tornado cada vez mais intolerante a diferentes visões do mundo. E quando ouvimos, não escutamos realmente. Apenas procuramos uma oportunidade para impor os nossos ideais sem considerar realmente que podem haver outras interpretações do mundo e da realidade.

Damos muitas vezes conselhos sem que as pessoas nos peçam. Erradamente, tentamos melhorar a vida dos outros dizendo-lhes que estão errados. E sempre que alguém desabafa as suas desventuras connosco desvalorizamos o seu sofrimento para impor o nosso.


E quantas vezes não começamos os nossos “conselhos” com o inevitável: “se eu fosse a ti…”?


Mas nós não somos os outros! Nós somos nós. E não é por calçarmos os sapatos de outras pessoas durante 5minutos que vamos ser capazes de resolver-lhes a vida. E é isso que torna a convivência com outras pessoas tão mágica.

Quando se trata de filosofias de vida não existe apenas o certo e o errado. Existe o diferente. E lá porque não partilhamos da opinião das outras pessoas não significa que não as possamos aceitar.

O nosso mundo não irá ruir se nos dispusermos a ouvir aquilo que os outros têm para dizer. Porque a filosofia de vida de cada um é algo que deve estar em constante evolução, acumulando a experiência própria e as experiências de outros.

Não podemos desvalorizar o conhecimento e opinião alheias só porque elas entram em confronto com as nossas. Porque quando não fazemos o esforço de aceitar opiniões diferentes estamos a desprezar a diversidade desta vida.

Estamos a desprezar de que existe um mundo inteiro, imenso, complexo e rico para além das nossas opiniões.

Negarmo-nos a escutar o diferente é o mesmo que deixar de evoluir. E deixar de evoluir impede-nos de desfrutar da vida pleno…
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