Uma resposta tardia
São dias destes que arrasam com as nossas expectativas. E eu às vezes sinto-me assim, sinto-me a pessoa que baralha as previsões, aquela que não se comporta como devia...
Ontem, num reviver do passado recordei-me de um inquérito que preenchi no colégio à alguns anos. Lembro-me de duas perguntas em especial: Quais as tuas disciplinas favoritas? e Quais as disciplinas em que sentes mais dificuldades?
Ainda na minha inocência e sem qualquer pretensão recordo que a minha resposta para ambas foi: Português e Matemática.
Enquanto a minha professora recolhia os questionários lembro-me de ter parado para ler as minhas respostas. E passado pouco tempo vejo aparecer um sorriso incrédulo no seu rosto; então, como se estivesse a falar com uma criança que vive noutro planeta pergunta-me: Ana, como é que podes gostar das coisas com as quais tens mais dificuldades?
Lembro-me de sentir aquilo que mais tarde percebi ser humilhação, e fiquei calada porque ainda não podia formular resposta para essa pergunta. Duvido que mesmo agora a minha explicação seja satisfatória, mas acredito que os seres humanos evoluem para superar as suas próprias debilidades. Criamos aviões para nos movermos mais rapidamente, a medicina para curar mais rapidamente, a escrita para guardar as nossas memórias, os arranha-céus para chegarmos mais alto...
Constantemente vemos pessoas a desafiarem-se para ir mais longe. E nem por um segundo duvido que sentissem medo.
Multiplicam-se os especialistas, os livros, os estudos: crescemos com as crises que superamos, e a verdadeira evolução e mudança acontecem quando nos atrevemos a enfrentar as nossas próprias limitações. Já evoluímos tanto tecnologicamente, contudo, não poderemos ir mais longe se não nos mudarmos a nós próprios. Falta reconhecer que temos medo dessa mudança e seguir em frente.
Até porque duvido que se hoje voltasse a dar a mesma resposta a esse questionário, a reacção fosse diferente. E continuo sem perceber o que há de errado em gostar de desafios...