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Uma esperança e uma cerveja

O frio e os trabalhos que se acumulam na minha secretária bem tentaram, mas a minha vontade de sair de casa e de perder-me por Madrid triunfaram, por isso, coloquei todas as minhas mundanas preocupações numa breve pausa.

Chegava esta sexta uma amiga de Karla (uma das minhas companheiras de piso) de Barcelona para conhecer Madrid. E embora nesse dia me tenha isolado um pouco por circunstâncias, que vou aqui chamar de: "coisas que acontecem e que tu não podes mudar, mas que te deprimem", o sábado chegou e com o amanhecer decidi quebrar o encanto do "quem espera sempre alcança".
De câmara numa mão e a outra no bolso (porque o frio era muito) juntei-me às duas amigas e, embora em Portugal isso fosse visto como um óbvio aproveitar da boa vontade dos outros (o típico "mitra" como se dizia no Norte não há muito tempo), aqui não me podia sentir mais bem-vinda. As três andamos por museus, ruas e bares, desfrutando de tudo na mesma medida... mesmo quando nos venciam as pernas cansadas e nos ardia a cara com o frio.
As actividades foram aquelas que o pouco tempo permitiu, mas não deixaram de aumentar, ainda mais, o meu já grande fascínio por esta cidade. Sempre senti o Porto como a cidade do meu coração, mas, neste momento, não posso deixar de amar Madrid, a cidade que vê nascer uma Ana bem diferente da menina que se isolava e apenas nos livros encontrava o seu refúgio.


Depois de dois dias esgotantes mas incrivelmente bem passados, chega a hora do vôo de regresso. Contudo, antes da despedida, instalamo-nos num bar perto do aeroporto, e aí, de cerveja na mão assistimos deliciadas ao grande clássico Barcelona - Real de Madrid.
Atiçada pelos gritos dos adeptos tive vontade de comprar um cachecol e gritar pelo Real de Madrid a plenos pulmões... um acontecimento bem raro em quem nunca interessou muito por este desporto.
Com o copo vazio e o jogo terminado senti uma pontada da desilusão ao ver o resultado. Barcelona 1 - Real de Madrid 0. Mas eu nunca fui de me ligar muito aos resultados, é toda a experiência que conta.
Por isso, mesmo para aqueles que, como eu, não são fãs de futebol... não podem dizer que o jogo não acende as almas das pessoas, atiça paixões e desperta alegrias, depois de ver o fruto do trabalho destes jogadores, que constantemente se desafiam para ser melhores, para ir mais além...

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A donzela na Casa de Campo

Ao despertar de uma noite bem dormida (sem os habituais sonhos loucos que a costumam povoar) abri a janela do meu quarto. O gelado sol eliminou os restos da minha teimosa preguiça.
Assim, carregando a mochila fiz-me à estrada, saudada por uns gelados 12ºC e por uma paisagem que aprendi a chamar de minha. Depois de uma longa viagem de metro, com os habituais personagens estranhos que conseguem sempre surpreender-me (não, não vou explicar), chego ao meu destino. Linha 10, estação de metro: Lago, situada no famoso parque natural de Madrid chamado "Casa de Campo".
Acompanhada pela minha câmara percorri os desconhecidos caminhos, sem nunca me afastar demasiado por medo de me perder no imenso labirinto de árvores e arbustos.
Na hora de almoço arranjei um bom lugar junto ao lago, que, embora ao início me tenha desiludido por parecer tão artificial e pequeno, não deixou de me maravilhar pela sua simplicidade. O tempo aqui ganhou novos contornos; depois de comer e ler um pouco do livro que trouxe da biblioteca - "Frankenstein", o tempo tinha voado. E a minha cansada e inquieta mente tinha, por fim, repousado afastada dos conflitos, mesmo daqueles que não são mais do que fruto da imaginação.
Ainda sem vontade de voltar a casa dirigi-me ao metro, em direcção a Arguelles, onde se situa o teleférico que faz a travessia do parque. Comprei uma viagem de ida e volta e, ao contemplar o mundo lá em baixo  esqueci-me de mim.



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Há dias estúpidos nesta vida...

Depois de um espectacular fim-de-semana na minha casinha de Portugal (com direito a banquete, festa e uma ida ao dentista... essa não foi muito agradável), o resto da semana passou a voar. Isto porque, depois horas perdidas em frente ao computador a escrever, e outras tantas a ouvir duras criticas ao meus artigos, o tempo tornou-se algo confuso na minha cansada cabeça.

Ontem, uma vez que não tinha aulas, e depois de enviar um outro trabalho (um pouco menos sofrido que o anterior), fiquei com tempo de sobra para mim. Lembrei-me de ir comprar o bilhete de autocarro para o Natal; então, por volta das 17h meti-me no metro a caminho da dita estação.

Depois de quase uma hora de viagem recheada de estranhas personagens, cheguei. No ar pairava um suave odor a apressadas partidas e emocionantes chegadas. Dirigi-me ao balcão da companhia Alsa, e prontamente me coloquei na imensa fila. Ao ver todos com malas comecei a desconfiar que não me venderiam o bilhete com tanta antecedência.

Saudei a funcionária com um esperançoso "boa tarde", e, depois de uma luta com as palavras em espanhol, que ainda demoram a sair, lá consegui pedir uma viagem de ida e volta para Portugal. O resultado foi aquele que eu esperava: para além de ali não conseguir aceder às promoções que a companhia oferecia a viagens compradas com antecedência, não poderia comprar o regresso para dia 10 de Janeiro. Decepcionada, mas com uma enorma vontade de rir de minha estupidez, liguei à minha mãe a contar o sucedido, rir-me um pouco mais daquela situação idiota e comprei uma revista ("Super interessante") para me entreter no cansativo regresso.

Ao chegar a casa enchi a minha mochila para a habitual ida ao ginásio, onde mais uma vez me aguardavam as intragáveis recepcionistas, cuja única habilidade é abrir a porta ao pressionar um botão na sua secretária. Convencida que estava mais que a tempo demorei a reagir quando me disseram: "Sabe que o ginásio fecha às 20h não sabe?". Não, não sabia, não era isso que estava no site (sim, porque quaisquer que fossem as minhas dúvidas, relativas ao funcionamento do ginásio, só esse site me poderia esclarecer).
Olhei para o relógio: 19.37h, mordi os lábios e, de ombros descaídos retomei o caminho para casa... Depois de vir o caminho todo a mal-dizer a minha sorte, avistei ao chegar, o centro cívico. Nesse momento decidi que não valia a pena continuar numa espiral de auto-comiseração, peguei nos documentos necessários e dirigi-me ao luminoso centro, onde, na silenciosa biblioteca me fiz membro. Agarrei no livro de Mary W.Shelley, "Frankenstein" e voltei para o conforto do meu lar.

Já em casa agarrei numa taça de cereais e numas bolachas e, assim acompanhada, assisti ao espectacular  filme de Clint Eastwood: "Gran Torino". Um dos meus favoritos, daqueles que em vez de esvaziarem uma pessoa de emoções conseguem encher as suas almas de significado. Tenho receio que, com a chegada de romances extraordinários, que não aportam qualquer tipo de significado novo às nossas vidas (como é o caso da saga "Crespúsculo") a literatura e a sétima arte se reduzam apenas ao entretenimento, esquecendo a nobre função de formar consciências e alargar horizontes.


Ao vaguear ainda sem sono pela internet, encontrei a nova música de Michael Bublé, que, como todas as outras músicas do artista, me deixa um bom sentimento de leveza e a sensação de que tudo correrá bem:


Até breve...
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A reportagem e o retrato de Dorian Gray

Depois de um pacote bolachas Digestive de Chocolate de Leite (oferecidas pela minha avó), de uma noite curta, de um despertar atribulado, de uma manhã passada em frente ao portátil a escrever um trabalho, no qual senti um imenso bloqueio criativo que, durante dias não me deixou passar da primeira página. Depois da entrega desse trabalho (que ainda não percebi como fui capaz de acabar) em cima da hora... posso finalmente relaxar antes de agarrar num outro trabalho cujo o prazo de entrega é amanhã...

Ora, este medíocre trabalho que acabei de mandar ao professor não passa de uma reportagem de 3 páginas (sofridas) que descrevem os problemas que enfrentam agora as selvas amazónicas... eu sei, quem é que vai ler isso? Enfim, mas fiz o trabalho à mesma, e provavelmente fui a ultima a entregar. Gostava de dizer que valeu a pena o esforço e as poucas horas de sono, mas, sinceramente, não sei se é por ter passado tanto tempo a olhar para aquilo, já não consigo gostar.

A única frase da qual me orgulho é a primeira, que feita em poucos segundos fruto de uma repentina inspiração é bem capaz de ter aniquilado a minha imaginação para o resto da reportagem... Mas como é o ínicio que define se o leitor continua ou não a ler, ter começado bem nem é mau de todo.
Tenho tanto orgulho no raio da frase que a vou deixar aqui, só para que, daqui a muito tempo, ao reler as páginas deste blog me possa rir da altura em que uma simples frase bem concebida (se bem que com erros, uma vez que ainda não domino o espanhol escrito) era capaz de me fazer feliz:
"Al revés de lo que sucede al joven Dorian Gray, que nace del imaginario de Oscar Wilde, pintamos un cuadro de una Amazonias que no envejece, mientras la realidad se deteriora ante nuestros ojos, sin que seamos capaces de contrariar sus efectos."

Para quem desconhece este mítico personagem ou quer relembrar: Dorian Gray retrata uma época de hedonismo na qual vivia Oscar Wilde. Este jovem, cuja beleza é eternizada num retrato da autoria de Basil Hallward, apercebe-se, ao contemplar as suas feições retratadas, que a sua juventude não será eterna. Neste momento formula um desejo, o de permanecer para sempre como o pintor o eternizou.
O seu desejo acaba por se cumprir, e enquanto Dorian se afunda numa vida de pecados e perversões cada vez mais insanas, o retrato envelhece por ele, deformado pela passagem do tempo. No fundo, o quadro passa a ser a imagem fiel da sua própria alma.
O filme tem estreia marcada para 31 de Dezembro, segundo o site sapo.pt, e é daquelas estreias que eu não queria perder!


Até breve
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Morrer poeta

Era uma vez uma menina, que pensava que nascia para ser poeta, para engrandecer as coisas pequenas,
alargar as fronteiras do próprio corpo,

olhar para o mundo dentro de si.
Para ir mais longe que a própria vida
e confundir os outros com as suas palavras...

Mas quando a menina se fez mulher, contemplou o mundo à sua volta e sorriu,
estava cansada de olhar só para si,
de escrever palavras que só ela conhecia,
de viver histórias na sua cabeça
e construir castelos na areia.
Com o seu olhar vazio de mundo, a menina agora mulher pegou nos seus poucos pertences,

despediu-se da vida que não era sua,
e dirigiu-se à estrada que nascia dentro de si.

O seu destino é o próprio destino,
o de fazer-se pequena no mundo,
de contemplar cada nascer e pôr do sol,
como se, a cada dia, contemplasse o seu próprio nascimento.

Morreu para ela mesma, para que no mundo pudesse nascer,
renasceu um ser vivente, um ser que vê, respira e ama...
E agora enfrenta um infinito que nunca poderá abarcar,
como um marinheiro enfrentando as fúrias dum revolto Mar.

E nesse confronto, que existe em tudo, ela encontrou a sua própria luta,
renasceu visionária,
para mostrar o que os outros tardam em ver,
para dizer: "Parem... o mundo é vosso e espera apenas uma oportunidade para vos ensinar a viver..."
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Ágora

Actualmente, depois de séculos de história, nasce a preocupação de iluminar as sombras do nosso passado e enaltecer personagens que permanecem esquecidas pelos caprichos do tempo. Principalmente em Espanha, tenho tido o privilégio de observar os crescentes e ricos estudos sobre as mulheres na ciência. Uma dessas mulheres - Hypatia - ganha agora vida pelo corpo e voz de Rachel Weisz, no filme de Alejandro Amenábar: "Ágora".
No século IV D.C. uma violenta revolta cristã assola as ruas de Alexandria, atingindo a famosa biblioteca,  o maior arquivo do conhecimento do Mundo antigo. Dentro dos seus muros, Hypatia luta pela preservação  dos documentos e contra a crua mentalidade da época, que despreza a inteligência de uma das primeiras filósofas ocidentais.
Com estreia em Portugal para princípios de Dezembro deste mesmo ano, acredito que este filme resgata um pedaço enterrado da nossa história. Nem todos os factos narrados serão reais, pela própria falta de informação desse período, mas este pequeno olhar para o passado poderá trazer-nos pistas sobre o nosso incerto futuro.

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A arte de comunicar

Acho que a maioria das pessoas concorda, actualmente, que a credibilidade dos meios de comunicação se vê reduzida a interesses económicos, políticos e quaisquer outros que tornam qualquer notícia tendenciosa. O problema é que nem sempre nos preocupamos em tentar perceber porque isso acontece.
Como aprendiz de uma profissão numa espiral de decadência, tive o privilégio de construir a minha opinião na discussão entre especialistas, tanto de ciência como de comunicação. Contudo, todos os pontos de vista serão sempre formados nas crenças de cada um, e a minha crença é que os meios de comunicação são essenciais moderadores da crescente inundação de informações que nos ataca constantemente.

Todas essas influências são pouco sãs para a objectividade, e tornamo-nos cada vez mais conscientes disso, basta ver os próprios títulos das notícias. Contudo, isto tem uma forte razão de ser: é que a Comunicação/ Jornalismo sempre ocuparam escalões medianos de poderio financeiro. Desta forma, com a emergência dos grandes grupos, estes meios estão a ser comprados, vendidos, transformados e, os seus interesses terão que ser compatíveis com as prioridades dos seus financiadores.
No entanto, isto não pode ser a única desculpa para a decadência que agora observamos, também temos que nos perguntar: Será que foram os meios que criaram a necessidade de consumo de notícias sensacionalistas? Ou somos nós mesmos que, no presente excesso de informação, apenas o mais absurdo e distorcido capta a nossa atenção?
Sinceramente, não creio que haja uma resposta correcta, porque cada caso é tão distinto do outro que uma generalização apenas nos faria perder uma perspectiva sã das coisas. Contudo, uma drástica mudança neste sector dependerá:
  • da vontade dos seus profissionais (que passa pela boa e diversificada formação da nova geração);
  • do reavivar do sistema económico (que passa pela consciencialização das massas da necessidade de mudar o sistema moribundo que não mais nos suporta);
  • da adaptação da comunicação ao novo meio - Internet - e estudo de novas fontes económicas que possam suportar este sistema;
  • e finalmente, inovar a arte de comunicar, que deverá ir mais além do mero informar de factos actuais... que, pelo seu excesso deixam a nossa atenção apática e amputam a nossa capacidade de pensar por nós mesmos.
Não passarão todas estas palavras da esperança de uma jovem que não enfrenta ainda o feroz mercado de trabalho, e cujos os ideais cresceram num meio protegido. Mas, por aquilo que tenho visto e vivido tudo isto me parece ter um pouco de verdade. Sintam-se à vontade para discordar.

Até breve
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Insatisfeita e sem tempo para mais

Nada me tem deixado mais insatisfeita do que a impossibilidade de aceder à Internet sempre que quero, sem ter que contar o tempo, olhar para as horas ou poder relaxar e escrever o que quero neste blog.
Tantas coisas se passaram desde a última vez que escrevi, mas o tempo, mais uma vez é bastante escasso. Quero ter tempo para me exprimir como deve ser, mas como a vontade de escrever supera isso, creio que vou tentar resumir a muito pouco aquilo que tenho passado.

Ainda sem internet em casa (acho que deu para perceber pelas minhas queixas), e ainda sem perceber se é por amnésia do senhorio ou se ele está a adiar aos poucos aquilo que prometeu porque já não lhe convém. Não quero fazer juízos precipitados sobre as pessoas, mas passado tanto tempo não posso deixar de me questionar.

O passado fim de semana estava recheado de planos, tantos que tive que prescindir de uns para desfrutar de outros. Mas acaso do destino ou não, aquele que eu estava disposta a cumprir acabou por não acontecer, e todos esses planos se dissolveram quando fiquei em terra a braços com a missão de tornar pouco tedioso o meu infindável fim-de-semana.
Tudo se resolveu, pelo melhor ou não, e apesar dos planos furados e do frio, andar perdida pela cidade acabou por ser algo relaxante.

Hoje e amanhã decorrem as Jornadas do Meio Ambiente e do desenvolvimento sustentável em Madrid, num estranho mas interessante auditório chamado de "La Casa Encendida" (em português pode-se dizer que é a casa acesa... mas não soa muito bem!). Estou animadíssima, nunca vi tamanho empenho em Portugal para formar os jovens e fazê-los conscientes dos problemas actuais, principalmente nos centros urbanos. Com tantas e diversas opiniões finalmente posso dizer que os meus estreitos horizontes se alargam, quando posso vislumbrar um pouco daquilo que são os planos e opiniões de especialistas das mais diferentes áreas.

Até breve
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Confusión

Sempre tentei cultivar uma boa arte de escrita enriquecendo-me com leituras pesadas (mas nem sempre enfadonhas) e aventurando-me em assuntos nos quais a minha ignorância provou ser o maior dos pesos.


Mas estes computadores que não me deixam escrever o "til" começam a testar seriamente a minha paciência. Até agora tento ignorar esse facto e acredito ser capaz de lidar com ele enquanto espero que liguem a internet na minha casinha. Casinha essa que parece ter-se tornado mais pequenina com a chegada da minha 2ª companheira de piso, com três mulheres na mesma casa creio que alguns desastres e confrontos serão certamente inevitáveis.


E vamos ser sinceros, eu também não sou nenhuma flor que se cheire, que o diga a minha família. Podem, neste momento, sentir saudades minhas, mas voltem a perguntar-lhes se as têm depois de terem de me aturar durante 2 meses seguidos, tenho a certeza que a resposta será inesperada. Como todos os Homens sou uma criatura de hábitos, com a agravante de tender sempre a complicar as coisas simples e a sofrer com a ansiedade das coisas que estão ainda para acontecer.


Bem, já flutuei para bem longe daquilo que queria escrever.

Depois de uma noite mal passada, em que o sono só chegou com o raiar do dia, fui acordada pelo meu senhorio por volta das 9.30... atendi a chamada com a minha voz sexy completamente ensonada e confusa. Resulta que tive mesmo que me levantar e apressar porque queria "empadronarme" nesta bela parte afastada de Madrid chamada Getafe. Para quem não sabe (eu também não sabia), "empadronarme" é basicamente um papel que diz que estou a morar em Getafe e como tal tenho direito aos serviços comuns dos cidadãos (com cartão de saúde, etc.).

Em vez de ir para fila de horas que me esperava no "Ayuntamiento" (tipo junta de frgeuesia, câmara), o meu senhorio conseguiu meter-me lá por vias travessas para encurtar este processo nuns mero 10 minutos.

Mas onde quero eu chegar com isto? Não, não é enriquecer o vosso conhecimento acerca das burocracias deste meu novo país. Na verdade, quando estava a preencher os meus dados ocorreu algo do qual me avergonho, mas não me consigo impedir de o contar.

Quando cheguei à parte que diz país de origem adivinhem o que eu escrevi!? Tenho a certeza que ninguém acertou... A resposta correcta é: Portugual! Se não detectaram nenhum erro pode ser que o senhor que me "empadronou" também não o tenha notado, eu mesma só me apercebi quando saí toda feliz do edifício.


Cada vez me confundo mais, mesmo a escrever. Todo este post foi feito de "releituras" para apanhar as palavras em espanhol que não consigo já conter. Talvez venha a criar um blogue em espanhol à parte deste, uma vez que este país me deslumbra cada vez mais e, a ideia de realizar aqui um estágio não está assim tão distante.


Acordar a "hablar" espanhol, dizer os bons dias às minha companheiras em espanhol, falar com o meu senhorio e a sua família (ao menos quando eles chegaram a minha cara de sono já não era tão grave), "empadronarme"... como é possível que eu chegue ao fim do dia a escrever e falar bem ambas as línguas?

Ainda ontem há noite, quando liguei para os meus pais, estava a falar tão lentamente que parecia que estava a tentar esconder uma bebedeira... porque na verdade o meu cérebro já estava a formar todas frases em espanhol e creio que se sentiu um pouco ofendido com a súbita mudança de idioma.

Como dizia um irmão inglês em Taizé: "comecei por não falar francês, mas com o tempo fui aprendendo e agora resulta que não falo bem nenhuma das línguas (foi +/- isto)". Pelo andar da carruagem creio que terei um destino muito similar.
Até breve...
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Incerteza


Não tenho escrito muito, o que por si só é algo raro. Na verdade, nunca conheci ninguém que se agarrasse tanto e de forma tão séria à escrita como eu.

Nos últimos tempos, sempre que escrevo, para além do enorme esforço que isso agora implica, parece que só encontro as palavras erradas para expressar, como aconteceu no último post. Creio que foi a solidão e a total consciência do quão desamparada e frágil estou, que provocaram esse desabafo.

Contudo, desde esse turbilhão de emoções pude finalmente acalmar, apesar de me arrepender profundamente de ter escrito o que escrevi; mais pareciam uns devaneios de uma velha louca. Mas sei que apagar esse post seria o mesmo que fingir que o passado não aconteceu, e, no fundo, não passaria de um desesperado acto de cobardia.
Tenho cometido tantos erros desde que aqui cheguei; mostrando o meu sorriso a quem me magoa e uma dura face a quem tenta aproximar-se. Tenho sido falsa (comigo mesma inclusive), hipócrita, ignorante, insegura, pateta e um insensível bloco de gelo.
Mas para mim parece-me claro que, tal como não fui capaz de me impedir de publicar aquele triste post, também não sou capaz de esconder debaixo das minhas defesas os meus verdadeiros sentimentos. O meu problema neste momento, aquilo que me escapa mesmo sem querer, é o facto de eu não ser ainda capaz de compreender a ambiguidade desses sentimentos.
Na maior parte do tempo sinto-me feliz e optimista, isso sou capaz de reconhecer. Contudo existe algo mais por detrás disso, algo que só posso vislumbrar quando essa alegria é abalada – quer pela rotina do dia-a-dia, quer pela mágoa dos momentos mais duros e mesmo na ausência de apoios.
Esse incompreensível sentimento assemelha-se a uma estranha insatisfação em oposição ao meu medo perante a profunda incerteza que cria já raízes no meu coração. O resultado é um “sentimento” que não posso definir, mas que nunca me deixa parar ou desistir, por muito que magoem as circunstâncias e por muito que o peso da ausência me tente vergar.
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