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6 regras de ouro para mudar hábitos e mantê-los

Muitas pessoas são obrigadas a reavaliar os seus hábitos quando as suas vidas sofrem mudanças repentinas. Quando mudam de cidade, país ou de emprego. Quando se alteram as estruturas familiares, quando se integram num novo grupo de amigos. Quando alguém importante saí ou entra nas suas vidas.

Mas essas situações muitas vezes, não as podemos controlar. São situações normais nas nossas vidas e a mudança de hábitos é apenas uma resposta involuntária de adaptação à nossa nova realidade.

A grande maioria dos meus amigos sabe as loucas mudanças que sofri nos últimos tempos e sabem como cresceu a minha personalidade em poucos anos. Mas quase todas estas mudanças foram provocadas por situações que eu não podia controlar.

Escolhi de sair do país por duas vezes para estudar no estrangeiro porque queria crescer como pessoa e conhecer novas culturas. No entanto, as mudanças que experimentei ocorreram por força das circunstâncias. Apesar de ter sido por escolha própria senti que não era capaz de controlar aquilo que me estava a acontecer. Estava sem sombra de dúvidas a crescer, mas nem sempre tive a certeza da direcção que estava a tomar.

Fotografia de Kevin Krejci

Estou imensamente grata pelas experiências que tive nos últimos anos, ensinaram-me bastante. Mas creio que todos chegamos a um momento na vida em que sentimos que esse tipo de mudança radical (provocada por algo que é exterior a nós) só nos poderá levar até um certo ponto do nosso caminho. Aquilo que podemos crescer pela força dos acontecimentos é limitado pela intensidade e duração dos mesmos.

Por isso, não é sobre esse tipo de mudanças que vou escrever hoje. As mudanças que quero abordar são aquelas que fazemos de forma consciente e consistente, que resultam de uma decisão e compromisso sérios.

A maioria das pessoas sabe, instintivamente, quando necessita duma mudança radical no seu estilo de vida. No entanto, nem todos temos a força de vontade para a iniciar.

Os grandes “inimigos” de uma mudança consciente de estilo de vida são a rotina e o conforto do nosso dia-a-dia. A rotina muitas vezes leva-nos a pensar que não temos tempo criar novos hábitos, enquanto que o conforto é viciante ao ponto de sermos incapazes de o contrariar. São grandes mentiras que contamos a nós próprios, para evitar o desconforto pelo qual temos que passar em qualquer período de mudança nas nossas vidas.

As mentiras que contamos a nós próprios


“Sabe tão bem estar no sofá a ver esta série, hoje não vale a pena ir correr”
“Eu até começava a ir ao ginásio, mas não tenho tempo”
“Eu até começava uma dieta, mas gosto demasiado de batatas fritas para resistir.”
“Não preciso de mudar este hábito na minha vida, se me faz sentir bem não vejo a necessidade de me livrar dele.”

Sussurra uma voz doce a maliciosa ao nosso ouvido. E por vezes estas palavras são tudo o que precisamos para desistir da decisão de mudar ou criar um novo hábito. Como diz Miguel Lucas no seu blogue Escola da Psicologia:

“...à nascença todo o ser humano trás já no seu reportório uma tendência natural para a adaptação hedónica (adaptação natural a acontecimentos considerados positivos e prazerosos)”

No entanto, como bem sabemos instintivamente essa não é a nossa verdadeira voz. É apenas o produto de séculos de evolução em que a segurança e o conforto eram essenciais para a nossa sobrevivência. O nosso cérebro não sabe como lidar com situações desconhecidas por isso considera-as, à partida, uma ameaça para o nosso bem-estar.

E, no fundo, isso não é nenhuma mentira porque, na fase de adaptação a um novo hábito o nosso organismo sofre choques consideráveis. É um caminho recheado de desconforto físico e psicológico, que nos deixa frágeis e vulneráveis. É o período que vai desde o início da mudança até à consolidação de um novo hábito.

Este período de tempo varia conforme a pessoa e o hábito em questão, no entanto, vários autores parecem concordar que um novo hábito demora até 30 dias a estabelecer-se (para saber mais lê o artigo de Steve Pavlina: 30 days to success).

Quando é um bom momento para iniciar a mudança?

Porque mudar de estilo de vida nos deixa mais frágeis nem todos os momentos são ideais para iniciar um novo hábito. Na realidade, normalmente, escolher um mau momento para cultivar novos hábitos é a principal causa do seu fracasso.

Quando temos uma tese para concluir ou uma reunião importante para preparar, quando estamos na época de exames ou quando iniciamos um novo trabalho, estamos naturalmente stressados por circunstâncias que são exteriores a nós. Por isso, iniciar um novo hábito nestes momentos não é saudável.

Porque cada novo hábito implica um desequilíbrio, iniciá-lo num momento crucial das nossas vidas pode reduzir o nosso rendimento. Por muito bom e saudável que seja o hábito em questão.

As alturas ideais para plantar novos hábitos nas nossas vidas são precisamente aquelas em que estamos mais relaxados, em que passamos grande parte do nosso tempo em frente há televisão ou computador. E é precisamente nestes momentos que mais nos ataca a voz sedutora, que nos tenta convencer que um sofá e televisão por cabo é tudo o que precisamos para sermos felizes. Não te deixes enganar.

Os passos para a mudança

Nos últimos três meses tenho lutado para viver a minha vida de forma mais saudável e para concretizar alguns dos meus objectivos. Foi nesta caminha que percebi e aprendi muitas lições que vou agora partilhar contigo.

Fotografia de Bruce Tuten

1) O desejo de mudança tem que nascer em nós

Mudar o nosso estilo de vida só pelos nossos amigos, familiares ou namorados(as) é um erro que todos cometemos alguma vez na vida. Mas esta mudança traz sempre um preço, por muito bom que seja o hábito que nos queiram obrigar a formar: mais tarde ao mais cedo vamo-nos sentir magoados. Vamos guardar rancor pelas pessoas que instigaram a nossa mudança quando realmente não a desejávamos.

Por isso, quando se trata de mudar de estilo de vida devemos ignorar modas e os conselhos de amigos. Acredito que saberemos instintivamente aquilo que devemos excluir e aquilo que devemos abraçar nas nossas vidas para conquistar os nossos objectivos.

2) Escolhe um hábito que te apaixone de verdade


Normalmente quando falo com as pessoas sobre o meu gosto pela escrita o comentário que mais ouço é: “eu não seria capaz de escrever como tu”. Sem querer ofender ninguém tenho que admitir que esse comentário me irrita profundamente e normalmente respondo com outra pergunta: “há quanto tempo é achas que eu escrevo...?”.

O hábito da escrita não nasceu da noite para o dia. Eu tenho escrito de forma consistente desde os meus 12/13 anos. Mas manter este hábito tanto tempo apenas foi possível porque EU ADORO ESCREVER.

Por isso, se não gostas de escrever, faz um favor a ti mesmo, não gastes os teus esforços em vão. O mesmo é válido para qualquer outro hábito que queiras cultivar. Por vezes vejo pessoas a mergulhar de cabeça em actividades que não gostam, o resultado é sempre o mesmo: passado pouco tempo desistem.

Não temos todos que gostar das mesmas coisas. Lá porque o teu amigo corre e escreve ou tira fotos muito boas não significa que tenhas que te dedicar a isso. Se já é difícil o suficiente cultivar um novo hábito, mais vale que ele te faça sentir bem.

3) Um hábito de cada vez

Quando começa um novo ano temos a tendência de decidir que faremos 1001 coisas de forma diferente. Começamos uma dieta ao mesmo tempo que tentamos desenvolver o hábito de praticar exercício físico de forma frequente, ao mesmo tempo que decidimos ver menos televisão e ler mais, passar menos tempo em casa e deixar de fumar...

Obviamente, passado uma semana ficamos tão cansados que acabamos por desistir dos nossos esforços. É demasiada mudança ao mesmo tempo e o nosso organismo não aguenta tamanho choque.

Quando queremos mudar radicalmente o nosso estilo de vida, é normal que isso implique mudar muitos hábitos. No entanto, essa mudança requer a resistência de um maratonista e não de um velocista. É um processo incrivelmente lento, é necessário que saibamos distribuir os nossos esforços.

Para uma verdadeira e duradoura mudança recomendo que escrevas todos os hábitos que desejas mudar em ti este ano. E comeces pelo mais fácil. Dá ao teu organismo pelo menos 2 meses para se adaptar à mudança para seguires para o próximo passo.

4) Cultiva uma atitude de auto-disciplina

Quando tentamos incluir um novo hábito na nossa vida, mesmo que esse hábito nos faça sentir bem connosco próprios, no início vamos sempre sofrer com o desconforto. Por isso é necessário cultivar uma atitude disciplinada para perseverar mesmo quando os resultados demoram mais do que o esperado.

O segredo é sabermos muito bem os nossos motivos para desencadear uma determinada mudança. Senão corres o risco de um dia te perguntares: “afinal, porque é que eu me estou a esforçar tanto?”. Se te concentrares nos teus motivos e objectivos em vez de te concentrares nos resultados é incrível a quantidade de coisas que conseguirás realizar.

Hoje li a fascinante história de Steve Martin no blogue Zen Habits. Steve relembra nas suas memórias "Born Standing Up: A Comic's Life": “Fiz stand-up durante 18 anos. Dez dos quais passei a aprender, quatro a refinar e os restantes quatro a usufruir de um sucesso estrondoso”.

“Se fizeres as contas,” escreve Cal Newport “isso equivale a 14 anos de trabalho duro antes que Martin obtivesse o resultado dos seus investimentos”. E durante todo este tempo, o actor e comediante nunca perdeu de vista o seu objectivo: inovar a forma como se fazia comédia.

5) Arranja um companheiro com objectivos semelhantes

Eu nunca dei muito valor ao apoio de outras pessoas quando estava a lutar por um objectivo só meu. Mas este blogue ensinou-me uma dura lição: o caminho para refinar os nossos talentos é quase sempre um caminho solitário e sem apoios.

Por isso, aconselho-te que comeces a relacionar-te mais com pessoas que têm objectivos semelhantes aos teus. Ou que, pelo menos, evites a companhia de pessoas que desvalorizam ou criticam os teus objectivos.

Ajuda imenso ter alguém com quem conversar quando as coisas correm mal ou mesmo quando as coisas correm bem (mas não existe lá ninguém para te aplaudir). Desta forma, o caminho que escolheste seguir tornar-se-à um pouco menos penoso e será mais fácil chegar muito mais longe do que aquilo que tinhas previsto inicialmente.

6) Desfruta da viagem

Acima de tudo tens que aprender a desfrutar da viagem. Cultivar novos hábitos é uma batalha diária, mas não tem que ser um sofrimento constante, tudo depende da forma como encaras a vida. Tens que estar preparado, como Martin, para colher os frutos do teu trabalho muito depois de teres iniciado a tua jornada.
Por isso, desfruta dos pequenos passos que vais dando a cada dia. Como escrevi já noutro artigo:

"Tendemos a sobrestimar aquilo que somos capazes de completar num só dia, e a subestimar o que podemos alcançar em largos períodos de tempo."

Chris Gillebeau autor do blogue "The Art of Non-Conformity"


O início de Setembro é sempre um excelente período para programar algumas mudanças profundas no nosso estilo de vida. As férias sempre nos enchem de ideias maravilhosas e de uma imensa força de vontade.

No entanto esta força pode ser fugaz se nos deixarmos levar apenas pelo calor do momento. Ela é desperdiçada quando não a aliamos à auto-disciplina. Para ler mais sobre este tema recomendo o novo artigo do Miguel: 10 exercícios para melhorar a sua força de vontade e auto-disciplina.

Obviamente eu não sou especialista no tema mas espero sinceramente que as minhas ideias sejam úteis. E adorava saber a vossa opinião, acredito que todos podemos crescer com as experiências dos outros, por isso, não tenhas receio em partilhar a tua.

Até breve
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