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Estás a alimentar as tuas inseguranças?

As nossas inseguranças, sejam de que tipo forem, são pequenas lacunas na nossa personalidade que nos impedem de atingir o nosso verdadeiro potencial. A maioria das pessoas, se não mesmo todos nós, já experimentamos na pele esse sentimento. Mas poucos aprendemos a superá-lo.

Os sentimentos de insegurança não se resolvem sozinhos e com o passar do tempo, como sempre me levaram a acreditar. Pelo contrário, eles resolvem-se por uma determinação real e uma vontade consciente de os derrotar.

Mas, inocentemente todos buscamos conforto nos outros quando a insegurança nos bloqueia o caminho. Eu já passei por isso e sei o bom que é o apoio dos outros quando a vida nos faz recuar.

Fotografia de Mauricio Ulloa

Quando saí do país, contactar com a minha família e amigos ficou muito mais difícil. Para alguém que sempre teve apoio, esta foi talvez a mais dura das lições. De repente quando surgia um problema ou quando tinha que lidar com algo que me assustava não tinha mais sítios por onde fugir. Não podia evitar as situações que me assustavam, elas estavam lá e não me iam largar.

Depois de meses a lidar com situações que tinha evitado toda a minha vida percebi algo muito importante. Sempre tive alguém para me confortar e ajudar e, por isso, nunca lidei muito tempo com as minhas próprias inseguranças.
Inconscientemente assumi que essa era a responsabilidade dos meus amigos e, quando eles falhavam em confortar-me eu não era capaz de lidar com as minhas lacunas. E, nesses momentos, em vez de aproveitar para lidar com elas, dei por mim a culpar tudo e todos pela minha infelicidade.

“Nenhum homem é uma ilha”

Escrevia John Donne em pleno 1624 e continua a ser verdade ainda hoje. Nenhum homem só poderá algum dia alcançar o seu verdadeiro potencial se se isolar do resto da sociedade. No entanto, eu não estava a crescer em conjunto com aqueles que me rodeavam, eu simplesmente esperava que eles me carregassem quando eu não era capaz de caminhar pelos meus próprios meios.

No fundo estava dependente dos outros. Mas não sou a única a agir assim, bastou regressar a casa para perceber que quase todos esperamos que os outros nos salvem dos nossos sentimentos. Para saber se tens dependido demasiado dos outros ultimamente convém estar atento a alguns sinais:

  • Depois de um trabalho sentes-te satisfeito com o resultado, mas quando alguém importante te critica é suficiente para desvalorizares o trabalho;
  • Arranjas-te para agradar o teu grupo de amigos, porque não queres que eles reprovem a tua escolha de vestuário e/ou maquilhagem;
  • Esperas pela aprovação dos outros para avançar com uma ideia;
  • Esperas a opinião dos outros para poderes expressar a tua sem medo de ser rejeitado;
  • Recuas facilmente de uma decisão quando pressionado por um amigo;
  • Evitas fazer certas actividades ou assumir certas atitudes porque sabes que não são bem vistas pelo teu grupo de amigos;
  • Ao sentires-te inseguro a primeira coisa que fazes é contar a um amigo e esperar pelas suas palavras de conforto.

São apenas alguns exemplos. No entanto, estes comportamentos muitas vezes apenas reflectem a nossa vontade de pertencer a um grupo ou a um lugar. O problema é quando essas atitudes passam a ser a regra e não a excepção.

De forma recorrente estas atitudes podem provocar uma forte dependência e, adivinha, não resolvem nenhuma das tuas inseguranças. Mas asseguro-te, se foste capaz de identificar as tuas dependência é meio caminho andado para mudares a tua forma de pensar.

O apoio dos nossos amigos não é bom para nós

Eu percebi até que ponto dependia da aprovação dos outros quando mudei de país, espero que para ti não seja necessário ir tão longe. Mas é verdade que a forma mais rápida de descobrires o teu nível de dependência é saíres do teu contexto familiar e ir ao encontro do desconhecido.

Quando saí de casa tinha vontade de telefonar aos meus pais e amigos sempre que algo corria menos bem. Nesse momento, entendi que todos aqueles elogios e palavras bondosas tinham-me impedido de lidar comigo mesma, especialmente as partes menos luminosas de mim.

Senti-me incrivelmente frágil e assustada face às minhas inseguranças. Ignorei-as grande parte da minha vida e, por isso, elas eram desconhecidos para mim como as ruas da minha nova cidade. Eu era uma estranha para mim mesma.

Depois de uns meses de imensa ansiedade e vontade de encher o meus dias com tarefas inúteis para não ouvir o som da minha própria voz. Percebi que a única saída da estrada que me estava a levar à insanidade (porque raramente tinha alguém para me apoiar nos momentos difíceis) era enfrentar os meus medos. Por isso, sentei-me e desliguei-me do mundo, da internet, do telefone, da televisão e de qualquer outra coisa que me pudesse distrair e disse a mim mesma: estou pronta para falar.

Esmiuçando as inseguranças


As inseguranças têm uma característica perigosa, alimentam-se do nosso próprio silêncio. É como um amigo que ignoramos e que lentamente vai acumulando um certo rancor por nós até explodir. Mas se nos sentarmos com esse amigo prontos para escutar, mesmo coisas que nos poderão magoar, o problema vai parecer muito mais insignificante.

Fotografia de Brett Taylor

Na prática esta compreensão deve começar por uma análise profunda dos nossos comportamentos. Começa por estar atento aos teus sentimentos quando ages de acordo com a tua insegurança:

  1. Porque é que eu me sinto assim?
  2. O que é que mais me assusta neste momento?
  3. Quando e como é que este comportamento começou? (para este ponto pode ser útil perguntares aos teus familiares e amigos - eles são muito mais sensíveis a mudanças nos nossos comportamentos do que aquilo que pensamos)

Provavelmente as primeiras respostas que te ocorrerem serão as mais verdadeiras. E para essas respostas terás que fazer novas perguntas até sentires que chegaste ao centro de todos os teus problemas.

Por exemplo, imagina que recuas sempre quando o teu chefe te critica e isso deixa-te frustrado. Não és capaz de enfrentá-lo por causa das tuas inseguranças. Se calhar sentes que o teu chefe não te dá o valor que mereces e tens medo que ao enfrentá-lo ele te despeça. Nesta situação, a tua insegurança nasce do teu medo de perder o emprego, porque se o perderes sabes que será complicado arranjar outro e tens medo de não conseguir pagar as tuas dívidas.

Como escreve Susan Jeffers no seu maravilhoso livro: “Feel the fear and do it anyway” (podes comprá-lo através da Amazon em: Feel the Fear and Do it Anyway: How to Turn Your Fear and Indecision into Confidence and Action). Todos esses medos nascem de um só: o medo de não conseguirmos lidar com essas situações. Desconhecemos as nossas próprias força e não confiamos nas nossas capacidades para resolver os problemas que cruzam o nosso caminho.

A insegurança nasce por medo ao desconhecido

Os nossos medos e receios normalmente não têm qualquer fundamento e, muitas vezes, são reacções que temos inconscientemente, são hábitos que mantemos sem saber porquê. E para vencer qualquer hábito é necessário que tomes atitudes completamente opostas às quais te habituaste.

Não queiras mudar o teu comportamento de um dia para o outro. Mudar é como subir uma montanha, se saltares sem qualquer apoio depressa vais cair e voltar ao ponto de partida, mais fraco do que antes. Mudar implica traçar planos, lançar apoios e, sobretudo dar espaço para te conheceres a ti mesmo sem pressas nem pressões.

A confiança nas nossas capacidades nasce quando somos capazes de fazer algo por nós próprios. Quando vamos traçando pequenas metas e avançando a passos de bebé de encontro aos nossos objectivos.

Por exemplo, se desejas viajar sozinho mas sentes que não tens coragem podes começar por fazer pequenas excursões a locais não muito distantes. À medida que vais alcançando essas pequenas metas a confiança em ti mesmo cresce. E a satisfação que ganhas por essas vitórias é de longe mais duradoura do que os elogios de terceiros.

O medo e o receio pelo desconhecido vão sempre estar lá. Nunca desaparecem por completo, por muitos anos que vivas e por muita confiança que adquiras, o segredo é aprender a lidar com esse medo. Sempre que eu sinto a insegurança a atacar-me penso: Ana, qual é o pior que pode acontecer nesta situação? O que é que tens a perder e o que é que podes ganhar?

Lentamente vais construindo a tua auto-confiança e a opinião dos outros deixará de te afectar tanto. E vocês, como lidam com as vossas inseguranças?
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Como apagar incêndios nas nossas vidas

Desde que começou a “época dos incêndios” foram muitos os homens que se viram obrigados a testar as suas forças contra a insaciável força das chamas, na esperança de preservar um pouco da riqueza natural deste país e de impedir que o fogo ponha em perigo vidas e construções humanas.

Este verão foram raros os dias em que o céu não esteve escurecido pelas cinzas e não houvesse um intenso cheiro a madeira queimada no ar. Ainda não vi as chamas de perto este ano, mas a televisão não nos deixa esquecer a loucura e a tragédia que se vivem nas florestas de Portugal.

Incêndio em Alcobaça (fotografia de Paulo Cunha)

As chamas avançam incansáveis contra a frágil tentativa humana para as controlar e os meios de comunicação banqueteiam-se com as audiências que aumentam pelo aterrador espectáculo de luzes. O combate às chamas ganha um estatuto de uma celebridade e a importância de um primeiro ministro, mas só nesta altura do ano e quando o número de incêndios começa a ser um pouco difícil de ignorar...

“Desde a meia-noite de ontem até às 13h de hoje foram registados 150 incêndios, sendo os do Parque Nacional da Peneda-Gerês a situação mais preocupante.” reportava o jornal Expresso na edição de hoje.

A situação tornou-se insustentável ao ponto do assunto ocupar todas as capas e contra-capas dos jornais e ser a saudação do jornal da noite. Mas ser consciente dos incêndios que assolam o país é suficiente?

Em 2005 o nosso país parecia o inferno em chamas e 5 anos depois a situação parece não ter mudado muito. E em todo este tempo foram raras as ocasiões em que ouvi a resposta a uma simples e importante pergunta: o que causou tudo isto?

Os fogos florestais têm, na sua maioria, origem no comportamento e (atrevo-me a dizer) ignorância humanos. As consequência desses comportamentos estão bem visíveis para todos, mas as causa são muitas vezes esquecidas, talvez porque não tenham a espectacularidade das labaredas.

O espectáculo de fogo é real e assustador, mas a verdade que poucos se atrevem a pronunciar é que, neste momento é pouco o que podemos fazer para alterar a situação, resta-nos continuar a lutar na esperança de travar rapidamente aquilo que já deixou atrás de si um rasto de destruição.

Incêndios, crise, terrorismo, desemprego, desastres naturais não digo que não sejam acontecimentos dramáticos que devem ser ignorados. Apenas acredito que passamos a maior parte do nosso tempo a olhar para direcção errada.

Vivemos tanto tempo obcecados com os resultados das nossas acções que quando algo corre mal ficamos desfeitos. E por isso deixamos fugir a excelente oportunidade de aprender com os nossos erros. E essa aprendizagem começa quando nos desligamos da destruição que causamos e começarmos a olhar para aquilo que é verdadeiramente importante: a origem.

Fotografia de Zara J

A origem dos nossos problemas contém, na maior parte das vezes, a sua solução (encontrar o êxito no fracasso). Para apagar de vez os incêndios temos que os impedir de acontecer. Pouca diferença fará treinar mais bombeiros ou comprar mais carros para o combate de incêndios, se não prestarmos atenção às suas causas. E uma vez que as tenhamos identificado é altura de nos perguntarmos:

O que posso eu fazer para melhorar a situação?

A resposta normalmente é muito mais simples do que aquilo que pensamos à partida. No caso dos incêndios a resolução para o problema devia estar concentrada em educar os agricultores para que não façam queimadas no verão ou dando "voz" política aos bombeiros que se sentem frustrados com o pouco valor que damos ao seu esforço e o pouco reconhecimento da profissão.

Na nossa vida os problemas podem parecer mais complexos porque normalmente estamos no "olho" do furacão. Mas se formos capazes de nos afastar um pouco desses problemas seria mais fácil perceber que a resposta paira diante dos nossos olhos.

Mesmo tendo uma grande paixão pela escrita não significa que tudo seja suave no meu caminho. Enquanto tento desenvolver essa habilidade passo por muitos momentos de frustração, falta de inspiração e falta de fé nas minhas capacidades. Isso fez-me questionar até que ponto sou adequada para este trabalho.

A conclusão é surpreendentemente simples: eu gosto de escrever e isso é suficiente para saber que tenho futuro. Quanto à minha dificuldade com a inspiração a resposta à ainda mais simples: tenho que praticar mais.

"O génio consiste em 1% de inspiração e 99% de transpiração"
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22 razões para fazer uma pausa na vida

Estou de volta à minha casa, aquela que fica no meio do nada numa terriola num canto de Portugal. O regresso foi um choque em todos os sentidos, mas do tipo de choque que se prolonga durante dias. Não é uma sensação má, é como se tivesse a oportunidade de rever tudo o que deixei desde uma nova perspectiva.


Desde então já passaram alguns dias e, pela primeira vez em anos o meu próximo ano não estará condicionado por um plano curricular, deveres ou professores. Pela primeira vez estou inteiramente por minha conta. Nunca passei por algo semelhante em toda a minha vida.


Neste momento sei que todas as decisões que tomei foram condicionadas por terceiros, apesar de, no seu momento acreditar que eram perfeitamente óbvias e racionais. Mas depois de conviver durante algum tempo com outras realidades percebi que a vida é mais semelhante a uma sucessão de estações de comboio do que a uma estrada onde somos os condutores dos nos nossos próprios veículos.

Fotografia de Trey Ratcliff

Na verdade, o que mais vejo neste momento são pessoas apressadas para embarcar no comboio que os levará até à próxima estação das suas vidas. Raramente param por um momento para pensar se esse caminho é o ideal para elas.

Porque embarcamos então? 

Acredito que a razão principal é porque conhecemos o destino e sabemos o que nos espera. As linhas de comboio que fomos construindo ao longo do tempo foram testadas por outros ao longo de anos. São linhas seguras para o sucesso e o conforto na vida (se é de facto aquilo que buscamos).


Podemos viver mais anos do que antigamente mas vivemos a um ritmo acelerado que tem um preço que poucos estão dispostos a pagar: esquecemo-nos da importância dos nossos sonhos e desejos. Estamos tão concentrados em embarcar no próximo comboio que esquecemo-nos de questionar se é realmente esse o caminho que queremos seguir, ou se estamos apenas condicionados pela pressão social.


Infelizmente, essa velocidade faz com que a maioria das pessoas cheguem aos seus 40 anos de idade com um emprego que odeiam, uma família que não os preenche e dívidas que os escravizarão até muito para além da idade da reforma. Basta escutarmos as pessoas que nos rodeiam para percebermos que essa é a dura realidade.


Esse ritmo que impomos a nós próprios não tem que ser a única velocidade que conhecemos nas nossas vidas. E esse comboio que pensamos que temos que apanhar não tem que ser o nosso único destino. Afinal de contas, quem nos garante que um curso superior é o único caminho para o sucesso? Que todos devemos casar e ter filhos? Que todos devemos submeter-nos a um emprego que não gostamos para ganhar muito dinheiro? Que o único sucesso que devemos esperar é material e virá com muito sacrifício?


No entanto continuamos a viver com essas convicções e a única forma de começarmos a viver a vida como realmente queremos é parando. Mas parar não significa rendermo-nos à preguiça e ao medo, ou tirar umas férias prolongadas para não fazermos absolutamente nada.


Parar, pelo menos para mim, é fazer algo que normalmente não faríamos e arranjar um tempo para pensar. Pensar verdadeira e profundamente, de uma forma que poucos têm a oportunidade de fazer nos dias de hoje. Há quem faça um ano de intervalo antes de entrar na faculdade ou começar a trabalhar, ou quem tire uma licença sabática. Ou quem simplesmente se despeça do seu emprego e pegue nas malas porque percebe que a vida deixou de fazer qualquer sentido.

Fotografia de Michael Napolean

Qual a verdadeira importância de fazer uma pausa na vida?

Há algum tempo a psicóloga Catarina Mexia explicava ao jornal i a importância do chamado “gap year” (um intervalo na vida de um estudante): “É muito importante para o crescimento pessoal. (Os estudantes) libertam-se da pressão de fazer tudo de carreirinha, sem pensar bem no que estão a fazer. Orientam a própria vida, sem seguirem os desejos de terceiros. Aprendem a desenrascar-se sozinhos e encontram a sua vocação, porque viraram-se para dentro à procura de respostas".


Isto é válido não só para os estudantes mas para todos aqueles que não tiveram a oportunidade de ponderar verdadeiramente sobre a direcção das suas vidas. Uma pausa permite-nos:

  1. Aprender a escutar os nossos verdadeiros desejos
  2. Aprender a ser responsáveis pelas escolhas que fazemos nas nossas vidas
  3. Ver a vida de diferentes perspectivas
  4. Encontrar a nossa verdadeira vocação
  5. Descobrir o que nos faz realmente felizes
  6. Aprender uma nova habilidade nada relacionada com o nosso actual estilo de vida
  7. Descobrir as razões por detrás dos nossos fracassos
  8. Alargar os nossos horizontes
  9. Aprender a lidar com os medos que controlam as nossas vidas
  10. Conhecer novas pessoas
  11. Reencontrar antigas paixões
  12. Reconciliarmo-nos com a vida
  13. Conhecer melhor os nossos amigos
  14. Descobrir o ritmo de vida ideal para nós
  15. Relembrar aquilo que já fizemos
  16. Aprender a lidar com as nossas emoções
  17. Conhecer a nós próprios
  18. Afastarmo-nos da nossa realidade para perceber o que realmente é importante para nós
  19. Descobrir as razões por detrás no nosso sofrimento
  20. Conhecer pessoas que vivem as suas vidas de forma inspiradora
  21. Ganhar a determinação para seguir os nossos sonhos
  22. Livrarmo-nos daquilo que atrasa a nossa evolução na vida

Estas são as minhas razões, e as tuas?
 

Como sempre, os comentários são todos vossos...
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O guia para recuperar a criatividade na vida (parte 2)

Neste artigo vou continuar com o tema do anterior: como recuperar a criatividade na vida. Podes rever a primeira parte deste pequeno guia em:

6) Escolhe um tema

Este passo pode parecer uma contradição de todos os outros. Mas às vezes não esclarecer as linhas gerais do teu projecto ou artigo pode fazer com que a tua besta selvagem adormeça de puro aborrecimento. Por isso, antes de escrever um tema: investiga, pensa nos pontos mais importantes do teu artigo e, se possível deixa passar umas horas até começares a escrever (ou pintar, ou dançar).

Fotografia de Esparta Palma

Estas horas de intervalo entre a investigação e a criação permitem que tenhas o tema presente o suficiente para guiar a tua actividade, mas não demasiado presente para impedir que esta se manifeste naturalmente.

7) Não edites enquanto produzes

Faças o que fizeres durante o processo criativo não edites aquilo que já escreveste ou pintaste. Não há nada pior do que dar um passo atrás, é algo que simplesmente acaba com a espontaneidade do momento. Tens que aprender a ignorar erros idiotas e a seguir em frente sem parar para dar um jeitinho à estética. Acredita, este era o meu maior erro.

8) Deixa a poeira assentar

Depois de teres soltado o teu animal selvagem vais ter a criatividade à flor da pele, louca por atacar a sua próxima vítima. O que significa que quanto mais te entregas ao processo criativo mais forte se vai tornar a tua criatividade. Ao contrário do que se pensa, a criatividade não se esgota!

No entanto, depois de escreveres um texto ou delineares um plano resiste à necessidade de rever o que fizeste. Se sentires uma imensa vontade de continuar pega noutro tema e continua. Foi assim que eu escrevi três artigos de três páginas cada um em apenas uma hora e meia (sim, é verdade). Quando acabei um e ainda tinha vontade de escrever passei para outro tema e escrevi um artigo gigante sem parar para respirar sequer.
E depois fechei o editor de texto e pus-me a fazer outras coisas. Porque depois deste passo é necessário que deixes a tua mente racional tomar as rédeas da situação.

9) Agora, o verdadeiro segredo: a edição

Quando reveres o que fizeste passadas 24 horas vais-te perguntar quem foi o louco que escreveu aquilo, vais ficar chocado com os teus erros, e com a pobreza das tuas ideias. É o que acontece com toda a gente. Num dia parece que foi a nossa melhor criação, no outro só temos vontade de deitar o projecto ao lixo.

É normal! Eu disse que as tuas tentativas iam ser péssimas. Porque quando estás a ler ou a observar estarás a trabalhar com o lado racional da tua mente. E agora vais descobrir o verdadeiro segredo da criatividade: a edição.

A edição começa por identificares os pontos fortes das tuas ideias, anotá-los e fazer tudo de novo. Desta vez com uma direcção mais clara. Não se trata simplesmente de corrigir os erros, trata-se de encontrar o discurso lógico e contá-lo como se fosse a primeira vez, como se o estivesses a explicar a um amigo.

10) Aprende a parar

Para as pessoas perfeccionistas este é o pior ponto. Aliás, para mim sempre foi um grande problema. Se eu não tivesse eu definido as terças-feiras como o meu dia de publicação possivelmente ficaria imenso tempo a tentar melhorar os meus artigos.

Mas queres saber um segredo? A perfeição é aborrecida e não gera debate nem empatia. Por isso larga essa mania de querer tudo perfeito, o ponto forte das grandes obras são mesmo os pontos que não se chegam a esclarecer. Tens que deixar sempre um espaço para debate.

11) O contacto com o mundo

Quando teu produto saí finalmente à luz do dia convém preparas-te para lidar com duas coisas: com as críticas e com os elogios. Os elogios são perigosos: não te podes deixar levar pela vaidade. E as críticas estão lá para te pôr no lugar e dar-te uma grande lição sobre o que significa verdadeiramente ser humilde.

É essencial que te prepares, porque a forma como enfrentas o resultado deste contacto pode condicionar como vais enfrentar a actividade criativa nos próximos tempos. Os elogios nem sempre são bem intencionados ou ponderados e as críticas nem sempre são feitas para te destruir. O melhor que podes fazer nestas situações é não levar as críticas demasiado a sério. Não é a tua reputação que está em jogo, é simplesmente um produto da tua criatividade.

12) Há sempre espaço para melhorar

Não te conheço, mas uma coisa sei: vais falhar, por muito bom que sejas. Sim, por muito perfeito que queiras ser e por muito que esperes o reconhecimento dos teus pares: vais falhar. Esta é talvez a maior prova que vais ter que superar para te manteres criativo, mas as falhas existem simplesmente por uma razão: para te mostrar que podes sempre melhorar.

Quando deixas de falhar é porque deixaste de evoluir, estagnaste, deixaste que a tua criatividade adormecesse outra vez... é altura de começares o processo de novo.


Se quiseres saber mais sobre o tema podes consultar alguns artigos inspiradores:
Conhecem outras técnicas para desenvolver a criatividade?
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O guia para recuperar a criatividade na vida (parte 1)

"é a faculdade de encontrar soluções diferentes e originais face a novas situações"

É como o dicionário porto editora define criatividade. Não é pintar um quadro, não é escrever uma obra-prima, não é ser excelente e reconhecido, é simplesmente encontrar soluções diferentes face a novas situações. O que significa que não são apenas os artistas que precisam de criatividade, todos a necessitamos para transformar o nosso dia-a-dia. Para evitar que a rotina mate lentamente os nossos sonhos.

A criatividade é uma qualidade que está em todos nós, no entanto crescemos numa sociedade que não a considera vital ou importante. E crescemos convencidos que apenas algumas pessoas são capazes de a desenvolver. A ciência provou que não existe qualquer vantagem que torne as pessoas mais criativas.

Então, porque é que a maioria das pessoas não abraçou ainda a sua criatividade?

Quando era pequena sentia que a escola e os compromissos tornavam a minha vida demasiado aborrecida, por isso gostava de inventar as histórias mais fantásticas para entreter os meus amigos. Obviamente o que eu contava não era verdade, mas naquela idade nunca nos preocupamos com as consequências das nossas acções. Gostamos de experimentar a vida e encaramos os problemas como mais uma diversão.

Fotografia de Thomas Hawk

Passado uns tempos os meus contos começaram a atrair a atenção dos adultos. E como deves imaginar passei por uns poucos sermões e castigos à conta da minha fértil imaginação. Nunca me importei muito com os castigos, mas a partir desse momento percebi que no mundo não havia lugar para as minhas "mentiras".

Porque é que vos conto isto? Por uma razão muito simples: acredito que todos partilhamos histórias semelhantes. Todos ouvimos sermões dos nossos familiares e educadores quando decidimos pintar as paredes da casa porque nos aborrecemos com a sua falta de alegria, ou quando desmontamos um aparelho electrónico por pura curiosidade, ou quando saímos de casa sem o conhecimento de ninguém para partir numa aventura.

Mas depressa percebemos que a nossa imaginação não é bem-vinda e ela adormece lentamente na rotina do nosso dia-a-dia. Todos nascemos criativos, mas o actual sistema de ensino e a mentalidade dos nossos educadores acabam por estrangular essa criatividade. E, mais tarde, quando estamos prontos para ser adultos e nos pedem que resolvamos um complicado problema enfrentamos as mais incríveis dificuldades. Porquê?

Porque decidimos deixar a nossa criatividade numa caixa com os nossos antigos brinquedos. No entanto, seja qual for a etapa da vida em que te encontras ou a função que desempenhes é sempre possível resgatar essa capacidade criativa para melhorar a tua vida em todos os sentidos.

Ao contrário da crença popular resgatar a criatividade não é difícil, o problema reside muitas vezes no facto de não sabermos por onde começar! Por isso, deixo aqui um pequeno guia que poderá ser útil para quem deseja acordar esta característica dormente que todos possuímos:

1) A criatividade é uma besta selvagem


A criatividade é um função do teu cérebro que não segue qualquer padrão lógico ou racional. O teu lado racional são as amarras que prendem esse animal, se queres realmente que ele se manifeste na sua verdadeira natureza tens que o soltar.

Esquece por completo a necessidade de fazer algo que tenha "sentido" como escrever um texto com coerência e com toda a gramática correcta, ou pintar algo bonito e profundo ou mesmo delinear um plano ou uma estratégia "perfeita". Porque uma criatividade organizada é algo que simplesmente não existe.

2) Desliga-te do mundo

Desliga a internet, o teu telemóvel, a televisão, o rádio, o que quer que te distraia. Se for necessário avisa os teus amigos que não vais estar disponível nas próximas horas.

Alguns escritores e artistas afirmam que estar num local amplio e bem iluminado os ajuda a ser mais criativos, porque não se sentem presos às quatro paredes. Por isso, muitas vezes as melhores ideias surgem quando não te sentes fixo a uma realidade como numa tranquila viagem de carro, de autocarro ou de comboio, ou em lugares como parques, jardins ou praças.

Claro que nestes locais, principalmente nas cidades, o ruído ambiente pode ser avassalador, por isso, ajuda bastante ter uns auscultadores que te isolem do som ambiente, tudo o que precisas de ouvir é a tua própria voz.

3) Escolhe a tua forma de expressão

Algumas pessoas acreditam firmemente que não são criativas porque não têm capacidade para escrever, cantar ou pintar. Mas essas são apenas as habituais formas de expressão, e a tua criatividade pode não se encaixar em nenhuma delas. É algo perfeitamente normal. A escolha de um canal de expressão determina o teu sucesso ou fracasso, por isso, este passo é essencial. E descobrir qual é o canal adequado à tua personalidade só se consegue experimentando.

Muitos artistas descobriram tarde na vida qual a forma de expressão que mais espicaçava a sua criatividade! Por isso, convém que percas algum tempo neste passo: vai a umas aulas de dança, de música, de pintura e desenho, de fotografia, de escrita criativa, faz voluntariado, participa em debates...

Acima de tudo é uma tarefa que exige bastante atenção da tua parte. Existem formas de expressão que nos põe mais à vontade que outras, mas não é um mundo branco e negro, não vais ser, à partida muito bom numa e péssimo nas outras. Por isso, o importante é que te concentres naquilo que te faz sentir melhor.

4) As tuas primeiras tentativas vão ser péssimas

Não podes experimentar dança por um dia e decidir que não foste feito para isso. Quando se trata de recuperar a nossa criatividade é necessário largar todos os conceitos e toda a educação que condiciona a nossa vida.

Tens de esquecer tudo aquilo que te prende e desfrutar do momento sem qualquer preocupação. Se conseguires aguentar o período de resistência inicial então estarás pronto para decidir. E só quando encontrares um meio adequado à tua personalidade estarás pronto para avançar.

No entanto, não significa que vais começar imediatamente a ter bons resultados e que vais ser instantaneamente bom expressando-te dessa forma. Aliás, nos primeiros tempos o mais habitual é que as tuas tentativas sejam sempre péssimas.

E é muito importante aprender a aceitar este facto. Mesmo depois de produzir inúmeras obras primas Mozart e Beethoven continuaram a produzir peças medíocres. Mas isso nunca os levou a desistir: eles simplesmente tentaram mais do que todos os outros, e aceitaram que o fracasso é apenas mais uma etapa do processo criativo.

5) Cronometra a tua actividade

Antes de começares a escrever (ou a pintar) diz a ti mesmo que vais escrever durante uma hora seguida sem parar. Senta-te e não te levantes até ter acabado o tempo. Em vez de pensares naquilo que vais escrever simplesmente escreve. Eu normalmente começo os meus primeiros rascunhos com frases idiotas do género: "Hoje está demasiado calor nesta cidade...".

O importante é que aprendas a criar um ritmo, isso vai permitir que as tuas ideias comecem a fluir livremente. Porque um ritmo constante normalmente "adormece" a tua mente racional e a espontaneidade terá a oportunidade de entrar.


A publicação da segunda parte deste artigo está agendada para dentro de três dias. Até lá podem visitar a página do Demetrio Guimarães que é um exemplo de alguém que decidiu levar a sua vida de uma forma totalmente espontânea e criativa.

Acaba de publicar o seu primeiro livro sobre as aventuras de um biólogo especialista em escorpiões que descobre que a vida se estende muito para além das suas limitadas crenças. Visitem o blogue do Demetrio onde ele fala sobre Rudamon: O novo herói!


E vocês, o que fazem para desenvolver a criatividade nas vossas vidas?
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