Estás a alimentar as tuas inseguranças?

As nossas inseguranças, sejam de que tipo forem, são pequenas lacunas na nossa personalidade que nos impedem de atingir o nosso verdadeiro potencial. A maioria das pessoas, se não mesmo todos nós, já experimentamos na pele esse sentimento. Mas poucos aprendemos a superá-lo.

Os sentimentos de insegurança não se resolvem sozinhos e com o passar do tempo, como sempre me levaram a acreditar. Pelo contrário, eles resolvem-se por uma determinação real e uma vontade consciente de os derrotar.

Mas, inocentemente todos buscamos conforto nos outros quando a insegurança nos bloqueia o caminho. Eu já passei por isso e sei o bom que é o apoio dos outros quando a vida nos faz recuar.

Fotografia de Mauricio Ulloa

Quando saí do país, contactar com a minha família e amigos ficou muito mais difícil. Para alguém que sempre teve apoio, esta foi talvez a mais dura das lições. De repente quando surgia um problema ou quando tinha que lidar com algo que me assustava não tinha mais sítios por onde fugir. Não podia evitar as situações que me assustavam, elas estavam lá e não me iam largar.

Depois de meses a lidar com situações que tinha evitado toda a minha vida percebi algo muito importante. Sempre tive alguém para me confortar e ajudar e, por isso, nunca lidei muito tempo com as minhas próprias inseguranças.
Inconscientemente assumi que essa era a responsabilidade dos meus amigos e, quando eles falhavam em confortar-me eu não era capaz de lidar com as minhas lacunas. E, nesses momentos, em vez de aproveitar para lidar com elas, dei por mim a culpar tudo e todos pela minha infelicidade.

“Nenhum homem é uma ilha”

Escrevia John Donne em pleno 1624 e continua a ser verdade ainda hoje. Nenhum homem só poderá algum dia alcançar o seu verdadeiro potencial se se isolar do resto da sociedade. No entanto, eu não estava a crescer em conjunto com aqueles que me rodeavam, eu simplesmente esperava que eles me carregassem quando eu não era capaz de caminhar pelos meus próprios meios.

No fundo estava dependente dos outros. Mas não sou a única a agir assim, bastou regressar a casa para perceber que quase todos esperamos que os outros nos salvem dos nossos sentimentos. Para saber se tens dependido demasiado dos outros ultimamente convém estar atento a alguns sinais:

  • Depois de um trabalho sentes-te satisfeito com o resultado, mas quando alguém importante te critica é suficiente para desvalorizares o trabalho;
  • Arranjas-te para agradar o teu grupo de amigos, porque não queres que eles reprovem a tua escolha de vestuário e/ou maquilhagem;
  • Esperas pela aprovação dos outros para avançar com uma ideia;
  • Esperas a opinião dos outros para poderes expressar a tua sem medo de ser rejeitado;
  • Recuas facilmente de uma decisão quando pressionado por um amigo;
  • Evitas fazer certas actividades ou assumir certas atitudes porque sabes que não são bem vistas pelo teu grupo de amigos;
  • Ao sentires-te inseguro a primeira coisa que fazes é contar a um amigo e esperar pelas suas palavras de conforto.

São apenas alguns exemplos. No entanto, estes comportamentos muitas vezes apenas reflectem a nossa vontade de pertencer a um grupo ou a um lugar. O problema é quando essas atitudes passam a ser a regra e não a excepção.

De forma recorrente estas atitudes podem provocar uma forte dependência e, adivinha, não resolvem nenhuma das tuas inseguranças. Mas asseguro-te, se foste capaz de identificar as tuas dependência é meio caminho andado para mudares a tua forma de pensar.

O apoio dos nossos amigos não é bom para nós

Eu percebi até que ponto dependia da aprovação dos outros quando mudei de país, espero que para ti não seja necessário ir tão longe. Mas é verdade que a forma mais rápida de descobrires o teu nível de dependência é saíres do teu contexto familiar e ir ao encontro do desconhecido.

Quando saí de casa tinha vontade de telefonar aos meus pais e amigos sempre que algo corria menos bem. Nesse momento, entendi que todos aqueles elogios e palavras bondosas tinham-me impedido de lidar comigo mesma, especialmente as partes menos luminosas de mim.

Senti-me incrivelmente frágil e assustada face às minhas inseguranças. Ignorei-as grande parte da minha vida e, por isso, elas eram desconhecidos para mim como as ruas da minha nova cidade. Eu era uma estranha para mim mesma.

Depois de uns meses de imensa ansiedade e vontade de encher o meus dias com tarefas inúteis para não ouvir o som da minha própria voz. Percebi que a única saída da estrada que me estava a levar à insanidade (porque raramente tinha alguém para me apoiar nos momentos difíceis) era enfrentar os meus medos. Por isso, sentei-me e desliguei-me do mundo, da internet, do telefone, da televisão e de qualquer outra coisa que me pudesse distrair e disse a mim mesma: estou pronta para falar.

Esmiuçando as inseguranças


As inseguranças têm uma característica perigosa, alimentam-se do nosso próprio silêncio. É como um amigo que ignoramos e que lentamente vai acumulando um certo rancor por nós até explodir. Mas se nos sentarmos com esse amigo prontos para escutar, mesmo coisas que nos poderão magoar, o problema vai parecer muito mais insignificante.

Fotografia de Brett Taylor

Na prática esta compreensão deve começar por uma análise profunda dos nossos comportamentos. Começa por estar atento aos teus sentimentos quando ages de acordo com a tua insegurança:

  1. Porque é que eu me sinto assim?
  2. O que é que mais me assusta neste momento?
  3. Quando e como é que este comportamento começou? (para este ponto pode ser útil perguntares aos teus familiares e amigos - eles são muito mais sensíveis a mudanças nos nossos comportamentos do que aquilo que pensamos)

Provavelmente as primeiras respostas que te ocorrerem serão as mais verdadeiras. E para essas respostas terás que fazer novas perguntas até sentires que chegaste ao centro de todos os teus problemas.

Por exemplo, imagina que recuas sempre quando o teu chefe te critica e isso deixa-te frustrado. Não és capaz de enfrentá-lo por causa das tuas inseguranças. Se calhar sentes que o teu chefe não te dá o valor que mereces e tens medo que ao enfrentá-lo ele te despeça. Nesta situação, a tua insegurança nasce do teu medo de perder o emprego, porque se o perderes sabes que será complicado arranjar outro e tens medo de não conseguir pagar as tuas dívidas.

Como escreve Susan Jeffers no seu maravilhoso livro: “Feel the fear and do it anyway” (podes comprá-lo através da Amazon em: Feel the Fear and Do it Anyway: How to Turn Your Fear and Indecision into Confidence and Action). Todos esses medos nascem de um só: o medo de não conseguirmos lidar com essas situações. Desconhecemos as nossas próprias força e não confiamos nas nossas capacidades para resolver os problemas que cruzam o nosso caminho.

A insegurança nasce por medo ao desconhecido

Os nossos medos e receios normalmente não têm qualquer fundamento e, muitas vezes, são reacções que temos inconscientemente, são hábitos que mantemos sem saber porquê. E para vencer qualquer hábito é necessário que tomes atitudes completamente opostas às quais te habituaste.

Não queiras mudar o teu comportamento de um dia para o outro. Mudar é como subir uma montanha, se saltares sem qualquer apoio depressa vais cair e voltar ao ponto de partida, mais fraco do que antes. Mudar implica traçar planos, lançar apoios e, sobretudo dar espaço para te conheceres a ti mesmo sem pressas nem pressões.

A confiança nas nossas capacidades nasce quando somos capazes de fazer algo por nós próprios. Quando vamos traçando pequenas metas e avançando a passos de bebé de encontro aos nossos objectivos.

Por exemplo, se desejas viajar sozinho mas sentes que não tens coragem podes começar por fazer pequenas excursões a locais não muito distantes. À medida que vais alcançando essas pequenas metas a confiança em ti mesmo cresce. E a satisfação que ganhas por essas vitórias é de longe mais duradoura do que os elogios de terceiros.

O medo e o receio pelo desconhecido vão sempre estar lá. Nunca desaparecem por completo, por muitos anos que vivas e por muita confiança que adquiras, o segredo é aprender a lidar com esse medo. Sempre que eu sinto a insegurança a atacar-me penso: Ana, qual é o pior que pode acontecer nesta situação? O que é que tens a perder e o que é que podes ganhar?

Lentamente vais construindo a tua auto-confiança e a opinião dos outros deixará de te afectar tanto. E vocês, como lidam com as vossas inseguranças?

4 comentários:

André Valongueiro | 24 de agosto de 2010 às 17:32

Eu tenho algumas simples palavras para dizer sobre inseguranças e problemas inéditos em nossas vidas.

Existe algo que quase pode ser considerado uma verdade universal: um problema nunca é tão complexo e difícil de resolver quanto imaginamos. A verdade é que somos péssimos em prever situações e imaginar como as coisas acontecerão. Nos preocupamos com algo e, depois que esse algo acontece, nós quase sempre concluímos que o problema não era tão grande quanto o fizemos em nossa cabeça.

E se um problema é realmente grande e complexo esteja certa de que o preço a ser pago pelos ensinamentos recebidos quando você resolve encará-lo é sempre baixo demais. Você estará "comprando" uma grande e valiosa lição por um preço quase insignificante, pois o problema não mais existirá enquanto o aprendizado perdura pelo resto dos seus dias.

Abraço!

André Valongueiro

Ana Reis | 24 de agosto de 2010 às 18:20

Excelente reflexão André! Concordo completamente com o que escreveu. Gostei especialmente da parte em que diz que os problemas complexos dão-nos lições valiosas e que o preço que pagamos pelas dificuldades é "sempre baixo demais".

Normalmente temos a tendência de nos preocuparmos demasiado com o nosso futuro. Preocupamo-nos com situações que podem nunca vir a acontecer e isso rouba-nos a energia para viver. O segredo é mesmo acreditar que: venha o que vier aprenderemos a lidar com as situações ao nosso próprio ritmo!

Obrigada por comentar.
Um abraço,
Ana

Yolanda | 25 de agosto de 2010 às 20:53

Ótimo texto para reflexão, Ana!

Penso que a insegurança tem origem no medo da frustração que pode ou não existir. Enfrentar esses medos é doloroso, mas necessário.

"A única coisa da qual devemos ter medo é do próprio medo".
- only thing we have to fear is fear itself
(Franklin D. Roosevelt, durante a posse, em 4 de Março de 1933)

Meu afetuoso abraço,
Yolanda

Ana Reis | 25 de agosto de 2010 às 22:07

Muito obrigada pelo comentário Yolanda! É bem verdade a frase de Roosevelt, é uma das frases que teve (e continua a ter) uma grande influencia na minha vida.

O medo, ou ansiedade, ou receio, como quisermos chamar-lhe é o que mais nos afasta das coisas que realmente desejamos nesta vida.

Um abraço,
Ana

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