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A ilusão da falta de tempo

Algumas pessoas decidem viver a vida a contra-relógio. Tomam em mãos a difícil tarefa de dominar o seu tempo. Escusado será dizer que a maioria falha miseravelmente.

Isto porque ignoram uma verdade básica: não podemos possuir o tempo, por isso, ele nunca nos pode faltar.
créditos: anna gutermuth

A falta de tempo é, muitas vezes, uma ilusão que nos esforçamos por manter. Para não termos que lidar com o medo de estar a desleixar uma parte importante da nossa vida.

E é esse medo que nos mantém dentro da nossa zona de conforto. Uma concha dura que nos isola de tudo, incluindo, de nós próprios.

Passamos o nosso dia a lidar com altos níveis de “stress”, e quando, finalmente temos um tempo para nós, desperdiçamos esse tempo em frente à televisão. Dizendo a nós próprios que merecemos descansar depois de um dia complicado.

Mas a verdade é que a vida se torna um pouco mais vazia em dias assim. Pensamos que a televisão nos vai trazer de volta o equilíbrio depois de sobreviver a mais um dia no mundo da super produtividade. Mas a televisão faz pouco mais do que proporcionar uma zona neutra na qual não temos que pensar, lutar ou criar.

A televisão é o vácuo, o intervalo que podemos fazer entre o lado stressante e o lado positivo da nossa vida. E, por isso, por muito agradável que seja usar a televisão como escape, é preciso reconhecer que esse vácuo não pode substituir o positivo.



A síndrome da falta de tempo, que muitas vezes enfrentamos, exige um pouco de jogo de cintura. Exige olhar para a nossa rotina e decidir que actividades nos trarão mais felicidade a longo prazo. Com essa atitude poderemos reconhecer que a televisão representa a satisfação imediata que, por não exigir qualquer esforço da nossa parte, se torna numa satisfação fugaz.

O contrário de uma satisfação fugaz passa por perceber aquilo que queremos verdadeiramente. E comprometermo-nos a trabalhar nesse sonho quando o resto do “mundo” descansa.

E isso pode ser doloroso ao início, mas é, sem sombra de dúvida, algo que nos trará confiança e felicidade duradouras a longo prazo.



Às vezes os nossos dias e problemas no trabalho parecem infinitos. Às vezes trabalhamos mais do que todos os outros, pensamos mais, estudamos mais, dedicamos mais de nós. E chegamos ao fim do dia vazios, como coragem e forças apenas para comer metade de uma refeição decente e encostarmos a cabeça na almofada.

E às vezes, trabalhar menos horas, ou dedicarmo-nos menos nem sempre é solução para a nossa falta de tempo. Porque, como estamos tão cegos na nossa frustração nem percebemos o tempo que gastamos em actividades inúteis. Não percebemos que 15minutos por dia de dedicação a uma actividade que nos deixa realmente orgulhosos de nós próprios é suficiente para equilibrar a nossa vida e resolver as nossas ansiedades.

Ou pelo menos, é isso que tenho vindo a aprender!
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A liberdade de opinião e a intolerância

Criar a nossa própria definição de sucesso e felicidade é libertador.

De um momento para outro percebemos que não precisamos de um grande carro para sermos felizes. Que não precisamos de usar roupa de marca e jóias brilhantes para nos sentirmos bem connosco próprios.

Mas, criar a nossa própria definição de felicidade é simples, basta que arranjemos um tempo na nossa agenda para deixar a nossa mente voar. O complicado vem depois.

Un abrazo | José Valiente


Porque, no final do dia, somos todos humanos. E como seres humanos precisamos de outras pessoas para tornar a nossa vida mais real.

Quando criamos as nossas próprias regras damos oportunidade a nós próprios de perseguir os nossos sonhos, e não os sonhos dos outros. Contudo também abrimos as portas a confrontos e a intolerâncias quando tentamos impor a nossa ideia de felicidade àqueles que nos são mais próximos.

Criar as nossas próprias regras não nos livra de um mal fundamental: o julgamento.

Porque, a partir desse momento passamos a ver o mundo de forma diferente e, por isso, esquecemos que a nossa visão de felicidade não é melhor nem pior do que a visão dos outros, é apenas diferente.

E como tal, não precisamos de livrar os outros dos seus próprios ideais. Porque cada pessoa tem direito a criar as suas próprias regras.


Mas então, porque é que continuamos a assistir a discussões acesas entre pessoas com opiniões diferentes?




É tudo uma questão de identidade.

Construímos a nossa identidade na relação com os outros. Procuramos, nos outros, formas de validar a nossa visão do mundo. E para fortalecer esses ideais chegamos a rejeitar outras formas de pensamento.

E isso é uma forma de intolerância. Uma intolerância que passa despercebida, porque se tornou num comportamento vulgar nos dias que correm.

Essa intolerância nasce da falta de confiança que temos nas nossas opiniões e, fundamentalmente, na falta de confiança que temos na nossa própria identidade.

A falta de confiança nas nossas opiniões leva a que, quando alguém choca com a nossa noção da realidade, nos sintamos rejeitados. E a rejeição diminuiu ainda mais a nossa capacidade de confiar nos nossos ideais.

Com isso a nossa sociedade tem-se tornado cada vez mais intolerante a diferentes visões do mundo. E quando ouvimos, não escutamos realmente. Apenas procuramos uma oportunidade para impor os nossos ideais sem considerar realmente que podem haver outras interpretações do mundo e da realidade.

Damos muitas vezes conselhos sem que as pessoas nos peçam. Erradamente, tentamos melhorar a vida dos outros dizendo-lhes que estão errados. E sempre que alguém desabafa as suas desventuras connosco desvalorizamos o seu sofrimento para impor o nosso.


E quantas vezes não começamos os nossos “conselhos” com o inevitável: “se eu fosse a ti…”?


Mas nós não somos os outros! Nós somos nós. E não é por calçarmos os sapatos de outras pessoas durante 5minutos que vamos ser capazes de resolver-lhes a vida. E é isso que torna a convivência com outras pessoas tão mágica.

Quando se trata de filosofias de vida não existe apenas o certo e o errado. Existe o diferente. E lá porque não partilhamos da opinião das outras pessoas não significa que não as possamos aceitar.

O nosso mundo não irá ruir se nos dispusermos a ouvir aquilo que os outros têm para dizer. Porque a filosofia de vida de cada um é algo que deve estar em constante evolução, acumulando a experiência própria e as experiências de outros.

Não podemos desvalorizar o conhecimento e opinião alheias só porque elas entram em confronto com as nossas. Porque quando não fazemos o esforço de aceitar opiniões diferentes estamos a desprezar a diversidade desta vida.

Estamos a desprezar de que existe um mundo inteiro, imenso, complexo e rico para além das nossas opiniões.

Negarmo-nos a escutar o diferente é o mesmo que deixar de evoluir. E deixar de evoluir impede-nos de desfrutar da vida pleno…
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Como medes o teu sucesso?

Conheces aquela sensação? Reencontrar velhos amigos, ter aquela típica conversa de quem está há anos sem falar, ficar a par das novidades. E, no meio de tudo isto, enquanto aquela pessoa te conta os seus sucessos, dás por ti a pensar:
Mas que raios estou eu a fazer com a minha vida?

Ali estás tu, a ouvir histórias magníficas, e tudo o consegues pensar é no pouco que podes contar para virar a balança a teu favor. A sensação de ser deixado para trás, de estar a comer a poeira do sucesso dos outros…
Success | créditos: CR artist

Uma ou outra vez somos confrontados com essa pergunta. E, muitas vezes, nem sequer precisamos de reencontrar velhos amigos bem-sucedidos para nos lembrarmos dela.

As duas caras do sucesso alheio


O sucesso dos outros pode ser tanto motivador como angustiante. Tudo depende de como encaramos a nossa vida.

Se sentirmos que estamos a dar o nosso melhor, todo o sucesso nos parecerá justo.

Se, pelo contrário, nos sentirmos estagnados, dependentes de um milagre ou de uma reviravolta do destino, é normal ficarmos deprimidos com o sucesso alheio.

Portanto, o que pensamos sobre o nosso percurso de vida define a forma como encaramos o sucesso dos outros. Tão simples quanto isso.

No entanto, o que sentimos sobre a nossa própria vida nem sempre corresponde à realidade. Porque, na maior parte das vezes medimos o nosso sucesso pelos parâmetros dos outros.

E isso pode ser esmagador para a nossa auto-confiança.

Como medimos o nosso sucesso


O sucesso para aqueles que te rodeiam, e para a sociedade em geral, pode implicar:

  • Ser rico,

  • Estar numa relação amorosa estável,

  • Ter uma posição influente numa grande empresa,

  • Ter um grande carro,

  • Uma piscina…

E, a maior parte de nós apenas se preocupa em perpetuar esses ideais, sem nos perguntarmos sequer: preciso mesmo destas coisas para ser feliz?

Ficamos até presos a um trabalho que nem sequer gostamos só para comprar coisas que simbolizam o sucesso. Só para que as outras pessoas o vejam e aprovem as nossas escolhas.

E isso é ridículo. E é ainda mais ridículo a enormidade de pessoas que não se apercebe do ridículo que isso é.

O sucesso não é algo estático e objectivo. O sucesso é muito íntimo e pessoal.

E, para sermos felizes enquanto seres humanos, às vezes, temos simplesmente que dar um pontapé nos ideais de sucesso da sociedade e adoptar os nossos próprios ideais.

A felicidade passa por descobrir o que significa o sucesso para NÓS. E seguir esses ideais, em vez de tentar perpetuar ideais que foram fabricados por campanhas de marketing.

Não te parece?
7 com

1 ano de blogue e o dilema da falta de tempo

A consistência não é algo que eu pratique em excesso. Na verdade, esta não a primeira vez que tento manter um blogue. Mas é também verdade que “A Revolução da Mente” é, de longe, aquele que eu mantive por mais tempo.

Fez no passado sábado, dia 16, um ano desde que comprei o domínio sobre o qual escrevo. E apesar de ter passado muito tempo a pensar que tinha sido uma decisão idiota, agora acredito que foi uma boa jogada.

1 ano não é muito tempo. Mas é o suficiente para aprender algumas duras lições e alcançar algumas pequenas conquistas.

Umas lições e conquistas que, neste momento, se encontram num irritante stand-by.

Algo que me deixa furiosa e mal-disposta.

Esta falta de dedicação ao blogue deve-se à minha nova rotina. Por causa do meu trabalho de investigação os meus dias têm sido caóticos, alguns deles dão comigo em louca. E acabam com uma Ana exausta a pensar se a vida há-de sempre assim.
Uh oh | créditos: Allan Foster

Contudo, no decorrer destes estranhos meses, percebi que às vezes as situações difíceis não estão lá para as evitarmos. Embora a tentação de fugir seja sempre muito grande.

As situações difíceis estão lá para nos fortalecerem, se estivermos dispostos a aprender com elas. Por muito “cliqué” e lamechas que pareça, não deixa de ser verdade.

Algumas dificuldades, principalmente as do mundo do trabalho, só nos dão vontade de arrumarmos as nossas tralhas, virar as costas e gritar ao mundo que não estamos para aturar estas porcarias.

Porque somos pessoas especiais e merecemos melhor, certo? Pois, é certo. Mas esse tipo de mentalidade não é a mentalidade de quem conquista coisas importantes nesta vida.

Para sermos bons em algo temos que descer do nosso pedestal. E perceber que não só temos que aturar porcarias, como essas porcarias são essenciais para o nosso crescimento.

Claro que vivi longos dias cheia de irritação, indignação, frustração e outras coisas acabadas em “-ção” que não me lembro agora. Mas depois de passar por uma longa fase de “menina mimada a quem tiraram o brinquedo” - sendo o meu brinquedo o tempo livre que agora está a oscilar entre o pouco e o nenhum – acho que amadureci.



Por isso é que hoje, 11 dias após o suposto aniversário do blogue, não me apetece gabar-me de glórias passadas e perder tempo a olhar para o que já ninguém se lembra.

O que quero com este post é partilhar aquilo que aprendi ao tentar manter este blogue com pouco tempo entre as mãos:

Não há atalhos na vida


O emprego ideal não existe. Seja ele dentro ou fora da internet. Vais ter dias maus, muitos, imensos. E vais culpar o teu chefe, teus colegas, clientes, fornecedores. Vais até culpar a economia, o governo e a mentalidade do país…

Não existe fim para a infinidade de coisas que podem estragar o teu bom humor e azedar a tua felicidade.

E trabalhar na internet não é o fim dessas coisas. É apenas o princípio de coisas diferentes, igualmente irritantes.

Por isso, o truque não é encontrar um atalho, nem encontrar o emprego ideal. O truque é aprender a superar as adversidades, sem fugir delas. É não fugir quando a situação fica negra, e aprender que, na maior parte das vezes, a resposta mais eficaz às adversidades é: esperar.

Apostar num sonho platónico pode ser uma péssima decisão


Surpreendem-me as pessoas que desistem de tudo por causa de um sonho. Seja ele fotografar, escrever, desenhar.

Desistir de um emprego estável quando o futuro é incerto é, não só uma decisão arriscada como pode pôr em causa esse mesmo sonho.

Será que escreverias da mesma forma se o fizesses por dinheiro, em vez de o fazeres por prazer? Se houver a pressão de colocar a comida na mesa há um grande risco de, tanto a tua motivação como as tuas capacidades, deixarem de evoluir.

No fundo dar um passo arriscado cedo demais pode levar-te a um angustiante fracasso.

É por isso que eu prefiro ter sucesso daqui a 10anos ou mesmo 20anos, do que desistir do meu emprego por um talento que ainda precisa de muito trabalho.

Aprender a ganhar o nosso sustento é uma questão de dignidade humana. E os sonhos são óptimos para alegrar os nossos dias, mas só com o tempo (muito tempo) e com muito trabalho nos irão colocar comida na mesa.

A pergunta que tens que fazer a ti próprio é se as tuas capacidades estão maduras o suficiente para ganhares o teu sustento. Porque ficar dependente doutros é mau para a nossa auto-confiança. E uma auto-estima baixa é algo que se reflecte na qualidade do nosso trabalho.

Mais tempo não significa mais dedicação


Cheguei a uma estranha conclusão nos últimos tempos:

Se eu não conseguir reunir a coragem para escrever com pouco tempo entre as mãos, é pouco provável que seja capaz de o fazer a tempo inteiro.

Mais tempo por dia nem sempre significa mais dedicação. O tempo que dedicamos a melhorar uma capacidade não se mede pelas horas que dedicamos num dia, mas pelo esforço constante e a longo prazo.

É como treinar um músculo. Não é por passares 4horas no ginásio que amanhã vais notar a diferença. É o esforço diário a médio prazo que te vai proporcionar os melhores resultados.

Desistir de um emprego estável (é verdade que quase nenhum emprego é estável nesta economia, mas percebes o que quero dizer) para ter mais tempo para trabalhar nos teus sonhos pode conduzir-te a um pesado fracasso. Principalmente se não tiveres nada mais palpável do que a tua determinação para te apoiar.


Conclusão


Mantêm o teu passatempo preferido vivo, se ele durar tempo suficiente, se sobreviver às tensões do mundo do trabalho e se a tua motivação se fortalecer, então aí, se quiseres podes largar tudo e dedicar-te apenas àquilo que mais amas.

Mas acredita que o sonho que amas pode não te trazer mais felicidade do que aquela que tens agora. Porque a relva do vizinho há-de ser sempre mais verde e o Sol será sempre mais agradável do outro lado. E vais ter sempre que aturar porcarias.

Mudar de país, mudar de emprego, mudar de look… nada disso resolve as tuas angústias. Nada. Lamento, mas é a verdade. Porque a mudança externa pode ser gratificante a curto prazo, mas, o mais provável é que se torne irrelevante depois de algum tempo.

Aprender a viver em paz com as coisas que nos angustiam é uma das bases para uma vida profissional feliz.

Vai existir sempre algo ou alguém que te angustie, que estrague os teus planos, que te leve à loucura. Todos acabamos por superar isso se convivermos com a origem da nossa angústia durante tempo suficiente.

Mas, o mais importante nem é a superação é mesmo aprender a ver o lado positivo das frustrações e usá-las para reforçar o nosso valor.

E é entre o superar o mau e o usar o mau para construir algo positivo que está a linha que divide os bons dos excelentes profissionais.



O teu trabalho também te deixa doido? Adorava ouvir mais sobre as tuas loucuras!
7 com

Nenhum sucesso vem sem espinhos

Vivemos na época do politicamente correcto.

Chegamos até ao cúmulo de etiquetar todos aqueles que criticam de cínicos e ignorantes. Quando, na verdade, os verdadeiros ignorantes são aqueles que deixaram de criticar.

As críticas são uma parte importante do crescimento tanto dos artistas como dos empreendedores.

Não falo daquele tipo de críticas que nos fazem rolar os olhos pela sua óbvia infantilidade. Falo sobre aquele tipo de críticas que são difíceis de digerir. Que afectam o nosso equilibrio e nos mostram uma perspectiva completamente diferente das nossas capacidades e limites.
Varanasi, Índia |créditos: whl.travel



Claro que nos dias que correm todos refreamos a nossa vontade de criticar. Não poupando nos elogios e nos parabéns na esperança de cair das boas graças do nosso interlocutor.

E esses elogios superficiais, que muitos nos largam na cara como se fosse um empréstimo que um dia planeiam cobrar, a largo prazo são devastores. Embora, no seu momento, sejam extremamente reconfortantes.

A ausência de críticas, no entanto, não é algo a celebrar. Porque sem críticas construtivas, partam elas dos outros ou de nós próprios, corremos o risco de parar de evoluir. Porque a crítica, ao contrário do elogio vazio, é dolorosa ao princípio e enriquecedora (e fortalecedora) a longo prazo.


A evolução de um artista ou empreendedor


Quando iniciamos um projecto importante nas nossas vidas é normal que o nosso peito inche de orgulho e bravura. No início sentimo-nos reis, confiantes de que as nossas capacidades nos levarão longe, muito longe, onde nenhum ser humano jamais se atreveu a ir.

É a fase da paixão.


É nestas alturas que abundam os elogios vazios de quem apenas procura reconhecimento pelos seus próprios talentos.

É a lua-de-mel da nossa jornada, como escreve Donald Mass no seu livro "The Breakout Novelist" (em Amazon.comou em Amazon.co.uk). Onde tudo nos parece assombrosamente possível e todos os nossos pequenos triunfos parecem extraordinários.

Esta fase acaba por passar.

Mais rápido para uns do que para outros. Mas uma coisa é certa: o encanto passa para todos.

Chegamos então à perda da inocência.


Uma grande e obscura parte na vida de qualquer artista ou empreendedor. Nesta fase o nosso sentido de identidade e de valor estilhaça-se em mil pedaços.

É uma quebra inrreversível e dolorosa.

Nesta fase o que é testado é a profundidade do nosso compromisso, mais do que o nosso talento. É uma prova de ferro, fogo, suor e lágrimas. E é aqui que os bravos se distinguem daqueles que apenas entraram no esquema procurando status e dinheiro.

É uma fase de conflito. Em que a tua auto-confiança sofre um choque frontal com a realidade e descobres as falhas que tão habilmente soubeste evitar até este preciso momento.

Não preciso de explicar porque é que esta fase é dolorosa. Conheces a dor da rejeição tão bem como eu.



A primeira vez que a minha escrita foi triturada em praça pública fiquei devastada. Depois de dias a arrastar-me pela casa a lamber as minhas feridas, acabei por chegar à conclusão que a pessoa que me tinha criticado era um perfeito idiota.

Cheguei à conclusão que a minha escrita era fantástica e ninguém me iria convencer do contrário. Claro que esta foi a minha forma infantil de negar as evidências.

Esta atitude é o derradeiro esforço de auto-preservação do nosso ego. Mas, se as críticas continuarem a aparecer tornar-se-à cada vez difícil negar a realidade.

É neste momento que muitos artistas e escritores regridem para dentro da sua concha. Passando a habitar num universo só seu, onde os seus talentos continuam a florescer protegidos do mundo exterior.

No entanto, embora muito apelativo, o isolamento é a pior opção. Isso foi algo que vim a descobrir à muito pouco tempo.

A razão?


Alimentar a crença de que somos melhores que os outros e escondermo-nos de qualquer crítica torna-nos seres humanos egoístas.

E esse tipo de seres não têm nada de novo a acrescentar ao mundo. Se queres realmente fazer a diferença tens que aprender a sair da concha. No fundo tens que te tornar mais acessível e, com isso, mais vulnerável a críticas.


Esta vulnerabilidade, mais uma vez, é dolorosa a curto prazo.


Mas a longo prazo é uma mais-valia.

Ficar fechados nas nossas conchas é algo que nos irá privar de valiosas lições.

Por isso a vulnerabilidade é essencial. E esta atitude perante as críticas implica muitas vezes aprofundar as feridas.

Eu explico melhor:
Uma pessoa que está disposta a aprender com as críticas, primeiro, tem que tornar-se vulnerável a elas e, segundo, tem que estar disposta a fazer perguntas dolorosas. E em vez de ficar pelo problema básico, deve tentar encontrar a raíz.

Isto implica, muitas vezes, enfrentar cara-a-cara os nossos críticos e perguntar directamente: "Exactamente, o que é que se passa de errado com a minha escrita?"

Depois dalgum tempo esta atitude traz bons frutos.

Crescer não é o mesmo que dar um passeio descontraído pela praia, aliás, crescer assemelha-se mais a escalar uma montanha: há sempre o risco de cair, de nos magoarmos e de nunca sermos bem sucedidos. Mas se não tentarmos nunca vamos saber o que nos espera no topo dessa montanha.

Leva anos a subir essa montanha. Anos atingir a maturidade.

Mas é um caminho que vale a pena. Caso contrário passaremos o resto das nossas vidas a viver abaixo do nosso potencial.

Privando o mundo do nosso contributo e privando-nos a nós próprios de uma verdadeira e duradoura felicidade. Não te parece?
9 com

Dicas para os viajantes solitários

Nota: Escrevi a primeira versão deste artigo na passada quinta-feira, no parque do Retiro em Madrid, numa curtíssima viagem solitária que me deu muito que pensar.

Para mim existem, indiscutivelmente, dois tipos essenciais de viagem:

  • As viagens do tipo: “quero fugir da minha rotina e ir trabalhar para o bronze numa praia qualquer onde ninguém me possa encontrar”

  • E as viagens do tipo: “à descoberta”

[caption id="attachment_900" align="aligncenter" width="560" caption="A viagem, em rascunho | Imagem própria"][/caption]

Não quer dizer que as viagens do tipo “à descoberta” não possam servir de pretexto para fugir à rotina. No entanto, este último tipo de viagens costumam ser melhor planeadas e as expectativas de quem nelas embarca costumam ser muito superiores.

E, dependendo das expectativas e planos de cada um existem também vários tipos de turistas:

  • Os turistas tipo excursão,
    Que, para onde quer que se virem estão sempre rodeados por uma multidão de gente em roupas confortáveis, chapéus e câmaras fotográficas.

    Este tipo de turistas podem não ser os mais abundantes, mas chamam muito a atenção. Principalmente porque uma multidão em excursão é irritante como um bando de moscas e suscita nos outros uma vontade imensa de fugir…

  • Os turistas tipo microondas,
    Do género: Pões a comida no microondas, marcas dois minutos e já está! Estes turistas têm um objectivo muito simples em mente: ver o maior número de atracções no menor tempo possível.

    Não digo que seja errado. Já dei por mim a viver esse tipo de situações. Alguns lugares são tão imensos e cheios de história que se torna quase impossível resistir à tentação.

    O problema deste tipo de turismo é que acabamos por perder a melhor parte da experiência. Não temos qualquer ideia daquilo que estamos a ver, só sabemos que é um monumento conhecido e que agora teremos uma foto a provar que estivemos lá, em carne e osso. Mas continuamos a saber tanto sobre o lugar como sabíamos antes de termos posto lá os pés.

  • Os turistas por vocação,
    São turistas que demonstram um interesse genuíno pela história e cultura locais. Não se conformam com as rotas estabelecidas. É um tipo de turismo enriquecedor em que os turistas sabem encontrar o equilíbrio entre o tempo passado a conhecer o lugar e o tempo passado a viver o lugar.

E depois, dentro destes dois últimos grupos de turistas podemos distinguir os que têm companhia dos solitários.

Os solitários ou marginais, não têm um grupo que lhes proporcione protecção. Não têm a companhia de amigos e, a maior parte das vezes, são mal encarados pelos outros tipos de turistas. Especialmente porque esses gostariam de ter tomates suficientes para se fazerem à estrada sozinhos…

E é para quem gostaria de experimentar (ou já experimentou) a viagem solitária “à descoberta” que eu desejo escrever.


Um bom motivo para ser um viajante solitário


Viajar é uma actividade rodeada por uma aura quase mística. Algo que a maior parte de nós, comuns mortais deseja, embora não saibamos bem porquê. Algo com que muitos sonham, mas poucos realizam.

Isto porque viajar é aterrador. Se formos para um sítio “turístico” com grandes praias, buffets e serviço de quartos, sabemos com que contar. Esse tipo de turismo “turístico” é como um bálsamo de acção rápida para a nossa rotina e carreira esgotantes.

Mas é algo que dificilmente nos enriquece e muda. Esse tipo de viagem proporciona boas memórias. Mas raramente nos leva a pensar profundamente sobre nós e sobre a vida.

As viagens enriquecedoras não precisam de ter como destino sítios exóticos. Não exigem anos de poupanças, apenas: bom planeamento, coragem e força de vontade. Então, porque raios é tão difícil encontrar companhia para este tipo de aventuras?

Bem, a verdade é que os nossos amigos hão-de ter sempre muito trabalho, problemas financeiros, dilemas pessoais e outras desculpas quaisquer para não terem que alinhar nos nossos planos de viagem malucos.

Alguns alinham. É verdade. Mas se queres que viajar seja uma actividade constante na tua vida não te podes contentar com as raras vezes que alguém está disposto a pegar na mochila e ir contigo à procura do fim do mundo.

Porque esse tipo de viagens é aterrador. Imprevisível. Mágico. E portanto, exige coragem, muita coragem e uma mente aberta.

As dicas, sem mais demoras…


1. Planear, planear, planear

A primeira viagem a solo pode ser uma experiência aterradora. Eu sei que o foi para mim. E continuo a sentir-me maldisposta sempre que tenho que ir sozinha para um sítio novo e desconhecido. Mas não é por isso que vou deixar de o fazer.

Algo que me ajuda imenso é ter sempre um plano. Sou uma medricas, confesso. Tenho muito medo de viajar sozinha. Quando tenho um plano de viagem bem estruturado mal tenho tempo para ceder ao medo da solidão.

Se tiveres um bom plano, sabes que tens que ir de A para B pelo caminho X. Tens objectivos e esses objectivos põe a tua mente a trabalhar de forma construtiva. Com um plano podes superar o teu medo do desconhecido. Porque, aconteça o que acontecer sabes que o plano não te vai falhar, é a tua bússola.

Para fazer um bom plano ajuda ter um bom guia, um bom mapa e, se possível conhecimento de quem já visitou o teu local de destino. E, como é óbvio, a internet é um lugar fabuloso para encontrar todo o tipo de informações.

Não tenhas medo de perder tempo a elaborar o teu plano. É algo que vai tornar a tua confiança mais sólida e te vai tornar menos susceptível a sofrer de angústia com os percalços de qualquer viagem.


2. Se tiveres um medo particularmente forte de algo que te possa acontecer em viagem – precavem-te.

Pensa antecipadamente naquilo que farias diante de determinada situação. No caso improvável do teu medo acontecer estarás mais do que preparado para lidar com ele.

Podes confiar no teu plano em vez de depositares a tua confiança no raciocínio distorcido que acompanha sempre momentos de pânico. Pergunta-te seriamente: Se isto acontecesse, o que poderia eu fazer para atenuar as consequências?

Pensa em várias alternativas. Eu sei que estes planos se podem revelar completamente inúteis na tua viagem. Porque, num mundo desconhecido é impossível prever aquilo que pode acontecer. Mas se fores precavido estarás a reforçar a tua confiança enquanto viajante solitário.


3. Procura conselhos de quem já fez viagens do tipo “à descoberta”

Ninguém tem que nascer ensinado. E tendo em conta que viajar à descoberta é uma actividade complexa que exige empenho é errado desejar que tudo corra bem à primeira.

Ter a experiência de outros pode fazer toda a diferença. E ajuda a tornar a viagem muito mais agradável e produtiva.


4. Viajar não muda a tua personalidade, apenas potencia o que já lá está

Viajar é quase uma desconstrução da personalidade de cada um. Os viajantes podem sentir que afinal, aquilo que tomavam como certo ou aquilo que pensavam saber sobre si mesmos não está nem perto da realidade.

[caption id="attachment_909" align="aligncenter" width="560" caption="Parque do Retiro, Madrid | Imagem própria"][/caption]


A minha dica é que mantenhas as tuas expectativas controladas. Caso contrário arriscas-te a ter uma valente desilusão.

Viajar, e mesmo viver noutro país não é solução mágica para nenhum dos teus problemas. Aliás, quando saímos da nossa zona de conforto o mais certo é que trazermos os nossos problemas connosco.

O fantástico da viagem é que nos permite reescrever aquilo que somos. Mas isso demora o seu tempo.


5. Carrega algo que te faça sentir seguro

A não ser que planeies fazer uma viagem ao Texas não te recomendo que carregues uma arma, ok?

Mas para qualquer outra parte do mundo, levar um objecto pessoal que nos lembre a nossa casa, ajuda a que nos sintamos seguros. O objecto não precisa de ser sempre o mesmo, o ideal é que esteja à vista, ou acessível e que te transmita a sensação de que não estás sozinho e desligado do mundo.

Ás vezes esse objecto pode ser um telemóvel que, com um simples clique te pode pôr em contacto com alguém que ames. Pode ser uma máquina fotográfica, uns óculos de sol. Podem ser coisas banais aos olhos dos outros, coisas que só tu entendas o significado.

Assim que já tenhas alguma experiência em viagem, gradualmente, deixarás de precisar tanto desses objectos. Passarás a experimentar uma segurança interna que não necessitará de coisas externas para se manter forte.


6. Sai dos caminhos convencionais

Pergunta aos locais que sítios interessantes poderias visitar. E por locais digo, empregados de um restaurante onde pares para almoçar. O senhor que vende jornais, o dono do albergue onde fiques hospedado, alguém que encontres na rua e que tenhas a oportunidade de abordar.

Especialmente em meses de verão torna-se quase impossível desfrutar de uma boa viagem. Demasiados turistas com as suas câmaras e companheiros de excursão. Demasiado stress e confusão, pelo menos para mim.

Por isso, visitar sítios diferentes irá certamente proporcionar-te uma experiência diferente.


7. Perde-te

Mas convence-te que vais em direcção a algum lugar.

Para mim esta é parte mais difícil da viagem solitária. Por isso, sempre que quero perder-me, deliberadamente, levo um mapa. Caso contrário, o medo de estar perdida pode arruinar, por completo, a minha experiência.

Estar perdido é também uma das experiências mais poderosas de uma viagem solitária. Mas não te queiras atirar de cabeça se ainda não te sentes preparado.

Para te preparares podes escolher um caminho mais longo entre o local onde estás agora e aqueles que queres alcançar. Podes seguir uma intuição que te diz para virar à esquerda em vez de seguir em frente. Podes quebrar o teu plano. Parar em sítios inesperados e tirar fotos a situações que pareçam banais aos olhos das outras pessoas.

Todos os que andam perdidos vão para algum lugar, só que ainda não sabem que lugar é esse!


Ainda com medo de viajar?


Uma dica para o caminho: faz turismo na tua própria cidade. Tenho a certeza que existem dezenas de lugares inesperados que não sabias que existiam, prontos para serem descobertos.

A viagem solitária requer uma coragem que se constrói com o tempo. Sempre me disseram que era medricas e tímida demais para abandonar as sais dos meus pais. Então, à primeira oportunidade decidi ir sozinha para Madrid. Sobrevivi.

Se eu consegui, tu também consegues, tenho a certeza.

A todos os viajantes solitários: adorava ouvir as vossas dicas e experiências. A todos os que desejam viajar mas ainda não encontraram a coragem: adorava conhecer as vossas dúvidas.

Um grande abraço e até breve
8 com

Ser escritor na era digital

Uma crença que muitos aspirantes a escritor carregam (incluindo eu, nos meus dias menos bons) é que apenas serão “bons” quando receberem alguma prova de que sociedade reconhece e aprecia o seu talento.

Isto porque a escrita é uma actividade que requer uma certa dose de solidão e vem acompanhada por alguma frustração. Depois de horas de trabalho, inocentemente, desejamos que toda a gente goste de nós.

É normal carregar essas expectativas. Afinal de contas, nos primeiros tempos estamos tão inseguros na nossa arte, que nos tornamos dependentes da opinião e atenção dos outros.
Calligraphy | créditos: Mark

A grande treta é que estas expectativas nos tornam emocionalmente instáveis. Se aparece alguém que nos elogia o nosso ego explode em proporções impensáveis, contudo, se, no momento seguinte aparece alguém que nos critica, tornamo-nos na pessoa mais miserável do mundo.

Viver a vida como uma bomba relógio emocional é algo que, gradualmente, vai enfraquecendo a nossa escrita. Por isso, em primeiro lugar é preciso que te libertes dessa montanha russa. E podes fazê-lo se reconheceres uma simples verdade:

Nem todos vão gostar de ti. E o mais importante é saber que as pessoas certas vão gostar de ti. Não precisas que o mundo inteiro te ame e te sustente para que possas viver da tua escrita. Vamos fazer um jogo:

Escolhe um número. Não um número qualquer, escolhe quanto gostarias de receber num mês pela tua escrita.

Já escolheste? Boa. Vou abrir o meu jogo contigo, o meu número mágico, nesta altura da minha vida é 3000€ (cerca de R$ 6800).

Podemos usar o meu número como ponto de referência. Imagina o valor mais baixo que podias cobrar por um produto teu (um livro, por exemplo): 1€ (cerca de R$ 2,29)? Significaria que 3000 pessoas teriam que te pagar 1€ por mês…

Achas que é muito?


Estima-se que a população mundial chegue aos 7 mil milhões no próximo ano. 3000 parece um número bem pequeno em comparação.

Mas nem precisamos de ir tão longe. Estima-se que já somos cerca de 240 milhões a falar português. 3000 é um número bem tímido em comparação, não te parece?

Fiz este jogo por uma razão muito simples: o mundo é imenso. Para seres bem sucedido não precisas que essa montanha de gente te reconheça, aplauda e dê dinheiro. Aliás, precisas apenas que uma pequena parcela da população o faça.

Por isso, em vez de te dedicares aos 240 milhões que nunca se vão importar com a tua escrita. Dedica-te aos 3000 para os quais a tua escrita estará carregada de significado.

A boa escrita é pessoal.


Caso contrário cairemos na asneira de praticar o politicamente correcto e passar a soar igual a todos os outros escritores.

Como se escreve chega, por vezes, a ser mais importante do que aquilo que se escreve. Nunca te aconteceu leres um livro com uma história banal e não o conseguires largar? E nunca te aconteceu sentir uma pontada de tédio num romance com uma história forte, mas com uma escrita fraca?

Portanto, vou voltar ao mesmo: uma escrita forte é pessoal. O pessoal – os teus sentimentos, crenças e experiências – é o que te diferencia dos outros escritores. E é com o pessoal que deves começar.

A escrita pessoal passa muito por umas atitudes muito simples:

  • Escreve para ti ou para uma pessoa que ames.Todas as outras pessoas não interessam. Porque escrever para encaixar numa audiência perfeita é suicídio criativo. Com a internet as tuas ideias podem chegar até aos confins do mundo, algures no teu caminho vais-te cruzar com pessoas que se sentem atraídas pelas tuas ideias. Pessoas à quais tens muito para oferecer.Podes tentar vender sapatilhas de corrida a um manco. Mas sabes que, na verdade, ele não precisa delas. Assim como um manco não precisa das sapatilhas, há muitas, aliás, imensas pessoas neste mundo para quais as tuas ideias são ridículas e desnecessárias. A essas não podes ajudar. Aceita isso. Porque não precisas de agradar a 7 mil milhões de pessoas… aliás, agora já sabes qual é o teu número mágico.

  • Deixa de lado o politicamente correcto.Escreve asneiras, palavrões, expressões sem sentido. Escreve, só porque podes. A boa escrita não é a escrita do “Maria vai com as outras”, a boa escrita tem que ser memorável. E para que a escrita se torne memorável ela tem que se mais do que uma espiral incansável de factos.Sê idiota por 30minutos. O que tens a perder? Não estou a dizer para insultares as pessoas, estou a dizer para largares aquela fera indomável que manténs cuidadosamente escondida de olhares indesejados. Para que a tua escrita seja memorável vais ter que a soltar.

  • Diverte-te. Sim, leste bem. Muito bem.Quando escrevemos apenas por compromisso, ou quando escrevemos aquilo que pensamos ser importante para os outros a escrita deixa de ser divertida. E se não te estás a divertir, é pouco provável que os teus leitores se divirtam.Quando já escreves há algum tempo é normal que os teus sentimentos mais profundos (mesmo aqueles dos quais não estás consciente) saltem para o papel. E se começas a ficar farto dum texto, o mais provável é que os teus leitores se apercebam disso e aproveitem a oportunidade para fugir.

  • Escreve quando não tens vontade.O que significa escrever? Não te estou a perguntar o que significa para ti. Imagina que tens que o explicar a uma criança pequena, em que termos o farias? Eu diria algo do género:Escrever significa agrupar palavras para que elas formem frases. E juntar frases para que elas formem parágrafos e textos. E este conjunto de palavras serve para dar forma a pensamentos.Portanto, escrever significa dar forma a pensamentos. E isso é difícil para caraças.

    Lembraste daquele dia em que estavas estupidamente inspirado e te sentaste a escrever? Escreveste durante horas, dando pulinhos de emoção com a adrenalina que te corria pelas veias.

    Quando não tinhas mais para dizer fechaste o caderno ou o computador e foste viver o resto do teu dia com um fervoroso entusiasmo. No dia seguinte vais ler o que escreveste e apanhas uma valente desilusão.

    O que se passou aqui foi muito simples: a tua mente acaba de reconhecer que a experiência de escrever foi melhor que o resultado. E isso significa que, instintivamente, tu sabes que podes fazer melhor, muito melhor.

    O que acontece é que isto de dar forma a pensamentos é mais difícil do que parece. Porque, na tua linda cabecinha os pensamentos não se manifestam apenas por palavras, por vezes aparecem misturados com sons, imagens, cheiros, sentimentos, memórias, associações. E, infelizmente é impossível transmitir todo o conteúdo da tua mente para um papel. Só ia servir para ficares louco e enlouqueceres a tua audiência no processo.

    Por isso é que é preciso escrever muito. Especialmente quando não te apetece ou sentes que não tens nada a dizer. É o mesmo que ganhar massa muscular. Pensa na tua habilidade para a escrita como um músculo. Se não lhe deres o alimento certo e não a treinares com frequência ela começa a atrofiar. E quando um momento de inspiração te rebenta nas mãos, se não tiveres o teu músculo treinado não vais ter forças para lidar com essa explosão.



Escrever na era digital é uma oportunidade tremenda. Não precisamos de agradar a meio mundo. Precisamos apenas de agradar a um punhado de pessoas.

Não precisamos de correr atrás de editores, podemos publicar por nós próprios. Não precisamos que os nossos artigos sejam aceites por um grande meio de comunicação. Agora basta carregar no botão publicar de um blogue para termos a nossa própria publicação.

Apesar de haver mais oferta e, portanto, mais competição, não é impossível viver da escrita. Porque, ao mesmo tempo que aumenta a oferta, abriram-se também milhares de novos canais de comunicação que nos permitem chegar à nossa audiência sem ter que lidar e agradar a intermediários.

O escritor na era digital tem grandes oportunidades, só tem que aprender a aproveitá-las. Não achas?
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9 razões para admirar a Lady Gaga

Stefani Joanne Angelina Germanotta sempre se sentiu uma estranha. Alheia à mentalidade que predominava entre os jovens da sua idade.

Ninguém podia prever que abraçar as suas qualidades únicas a conduziria a uma fama monstruosa. Da mesma forma que não poderiam prever que, aos seus 24 anos de idade, esta miúda nascida e criada em Nova York iria ser conhecida mundialmente como Lady Gaga.
Lady Gaga at CES 2010 | créditos: Lori Tingey

A minha admiração pela cantora e compositora não foi do tipo "amor à primeira vista". Na verdade, a primeira vez que ouvi as suas músicas pensei estar a assistir ao delírio de uma artista que tinha ido longe demais para se destacar da sua concorrência.

Mas os meses foram passando, o nome de Gaga correu o mundo e a sua fama não parou de crescer. Foi por aí que comecei a ficar intrigada: o que veriam os seus fãs naquela excêntrica que gostava de chocar com as suas roupas berrantes e comportamentos tão pouco convencionais?

Decidi começar a ouvir realmente aquilo que a artista tinha a dizer. O que descobri foi surpreendente. As atitudes fortes da cantora podem ensinar-nos inúmeras lições sobre sucesso e criatividade:


1. A personalidade e a história pessoal são importantes


Muitas pessoas tentam esconder as partes de si mesmas que as fazem sentir envergonhadas. Gaga não podia ser mais transparente. A sua história de vida é algo que ela nunca escondeu e isso fortaleceu a sua arte.

As falhas não enfraquecem as pessoas. Os defeitos são apenas excelentes pontos de partida para criarmos a vida que sempre sonhamos.

E o fantástico em explorar aquilo que nos torna diferentes reside no facto da nossa perspectiva única sobre a vida poder ajudar a libertar muitas pessoas.

Abraçar as nossas diferenças e distanciarmo-nos da "manada" é uma das coisas mais difíceis e dolorosas que qualquer ser humano pode fazer. No entanto, continuar a seguir a "manada" não nos levará a nenhum lugar inesquecível.


2. Valoriza os teus fãs


Gaga chama aos seus fãs de "little monsters". À partida pode parecer uma atitude narcisista. No entanto, apenas mostra que, para ela, os fãs não são apenas pessoas que gostam da sua música, são muito mais que isso. A artista comunica constantemente com os seus fãs. E, ao que tudo indica, por muito que a sua fama cresça Gaga nunca se esquece das pessoas que a ouvem e respeitam.

Muitos artistas vivem desligados dos seus fãs como se estes fossem um zumbido incómodo. Eles ignoram que o seu feedback é extremamente enriquecedor.

O contacto com outras pessoas traz-nos sempre uma perspectiva diferente sobre as nossas capacidades. E, para além de ser motivador pode ajudar-nos a crescer enquanto pessoas e enquanto profissionais.

A comunicação com aqueles que convivem de perto com o nosso trabalho desafia-nos sempre a superar os nossos feitos. Acredito que, para provocarmos um grande impacto na vida dos outros, primeiro, temos que deixar que os outros provoquem mudanças em nós.


3. Explora territórios "mortos"


Até agora os videoclipes eram apenas uma extensão das próprias músicas e, raramente, o vídeo trazia à música um novo significado.

Com Gaga os videoclipes são verdadeiros enigmas. A artista e aqueles que apoiam a sua carreira foram capazes de transformar algo estático que não trazia nada de novo, num novo meio capaz de enriquecer a própria música.

Nos tempos que correm os escritores (só para dar um exemplo) não se podem limitar a ser escritores e a viver na penumbra. Se querem realmente ter um impacto profundo no mundo não podem fazer exactamente o que os outros fazem. Têm que procurar novas formas de expressão que estão a ser descuradas pelos outros profissionais da área e explorá-las.


4. Define a tua mensagem


Muitas vezes tudo o vemos é o óbvio. É muito fácil criticar seja quem for se desconhecermos as suas razões para fazerem o que fazem.

Lady Gaga tornou-se poderosa e adorada pela mensagem que quer transmitir. Uma mensagem que é maior que ela própria. Gaga, que sempre se sentiu uma "freak" entre os seus pares transmite uma mensagem de amor-próprio e de aceitação das nossas diferenças.

Todos temos mensagens a transmitir. As nossas mensagens não podem ser ocas nem fabricadas. Têm que nascer das nossas próprias experiências e sentimentos.

Todos temos uma visão única do mundo e trazê-la à luz do dia pode inspirar muitas pessoas ou, pelo menos, mostrar-lhes que não estão sozinhas com os seus problemas e preocupações.

A nossa mensagem acaba por mudar com o tempo, porque a própria vida está longe de ser estática. No entanto, definir e explorar essa crença enraizada, poderosa e motivadora que temos sobre a vida pode ser um excelente combustível que nos ajudará a refinar os nossos talentos.


5. O sucesso não é a última paragem


Nos dias que correm a palavra sucesso é usada e abusada. No entanto, raramente mencionamos que, mais difícil que obter um certo nível de sucesso é mantê-lo.

O sucesso não é última paragem. Não é o local onde podem cessar todos os nossos esforços e nos podemos sentar e receber todos os louros pelos nossos feitos sem termos que mexer uma palha.

O sucesso é apenas mais um ponto de partida. Não deve ser nunca o nosso destino final. Porque não podes pegar no sucesso, arrumar as tuas coisas e desligar todos os teus projectos só porque cruzaste essa porta.

Uma das coisas que mais admiro em Gaga é a sua voracidade pela inovação.
créditos: Naomi Lir [CC-BY-SA-2.0], via Wikimedia Commons

Apesar dos bilhetes para a sua tourné mundial terem esgotado, Gaga continuou a ter prejuízo porque, mais do que um concerto, ela quis criar uma experiência enriquecedora, diferente e complexa para os seus fãs. Com o nível de sucesso que alcançou Gaga podia ter-se conformado com o formato habitual de uma tourné. Mas ela quis ir mais longe e dar mais do que aquilo que as pessoas esperavam.


6. Não olhes para trás


Gaga é uma "máquina" produtora de sucessos. E isso não acontece por a cantora passar dias a lamuriar-se sobre tempos passados e músicas falhadas (sim, ela teve algumas antes de começar a ter sucesso). As novas ideias não podem fluir se continuarmos agarrados às antigas.

Por isso é preciso definir um ritmo e prazos para nós próprios. Se estivermos constantemente à procura de novas ideias quase certamente não iremos cair no erro de nos agarrarmos a ideias antigas que falharam. A produção constante evita esse apego à criação passada e permite-nos manter sempre uma perspectiva fresca e original sobre o nosso trabalho.

Caso contrário corremos o risco de fossilizar. Ou seja, corremos o risco de parar de evoluir e de sofrer uma "morte criativa". E se isso acabar por acontecer o nosso sucesso tornar-se-á apenas uma lembrança que iremos recordar com carinho.


7. Nada importa se não estás disposto a arriscar


Lady Gaga arrisca muito ao expôr-se da forma que se expõe. É uma pessoa destemida que aceitou plenamente a responsabilidade pelas suas acções e não foge às consequências.

Para termos sucesso em áreas que exigem criatividade é necessário, mesmo para a nossa motivação, arriscarmos. Fazermos apostas altas e desenvolvermos a confiança nas nossas capacidade. Um artista que se esconde é um artista que não arrisca nada e que, por isso, não tem nada a perder. E isso não é inspirador para os fãs, nem é fonte de motivação para o próprio artista.

Se queres uma vida plena é preciso que aprendas a complexa arte de apostar alto nas tuas próprias capacidades. E, depois de o fazeres, é preciso também que te prepares para lidar com as consequências: sejam elas um estrondoso sucesso ou um miserável fracasso.

Arriscar passa muito por ser consciente de que temos muito a perder se não tentarmos um plano arrojado. Porque se não tivermos nada a perder, é difícil continuarmos a lutar motivados por um pedaço de ilusão.


8. Estuda casos de sucesso


Gaga pode parecer um pouco "gaga" (louca - tradução literal do inglês) devido às suas atitudes. Mas a artista não podia estar mais longe disso. Na verdade, ela considera-se uma estudiosa da arte da fama, e dedicou muito do seu tempo a tentar perceber como outros cantores obtiveram, mantiveram e perderam a sua fama.

A artista não dorme em serviço e é a prova de que o sucesso tem muito de planificação e muito pouco de sorte. O que não falta neste mundo são pessoas talentosas. Apenas temos que compreender aquilo que separa os talentosos bem-sucedidos daqueles que viverão, para sempre, na escuridão.

Não podemos esperar que o nosso talento cubra todas as nossa falhas. O talento não é a cola que mantém tudo unido, é apenas a matéria prima. Se queres alcançar o sucesso deves olhar à tua volta e procurar conhecimento e lições naqueles que conseguiram conquistar aquilo que tanto ambicionas.


9. Existem críticas que devemos ignorar


As escolhas e acções arrojadas de Gaga trouxeram-lhe uma legião de fãs e, com ela, um legião de críticos. Os críticos podem dividir-se. claramente em dois grupos:

  • Os críticos destrutivos: aqueles que a criticam por ser diferente e não se esforçam para a perceber;

  • Os críticos construtivos: pessoas que percebem bastante sobre música e arte e não se contentam com aquilo que ouvem dizer sobre Gaga, preferem antes investigá-la antes de formar uma opinião sobre o assunto.

No entanto, nos tempos que correm, parece que apenas existem críticos destrutivos. E Gaga têm-nos aos montes.

O que significa que uma certa dose de sucesso não torna os profissionais imunes a este tipo de críticas. Elas são o reflexo de uma sociedade que se torna cada vez mais superficial e intolerante.

Cada vez mais as pessoas têm uma opinião sobre tudo e todos. Contudo, essas opiniões raras vezes têm fundamento e factos para as apoiar. Vivemos numa época em que nos contentamos com os títulos e, automaticamente nos tornamos "peritos" num tema. E, sem sabermos estamos a deixar, gradualmente de pensar por nós próprios. O que nos torna vulneráveis à influência dos grandes meios de comunicação.


Conclusão


A mensagem que quero que leves deste artigo:

  • Nem tudo aquilo que te chega aos ouvidos é a única verdade.

  • Se queres sucesso e influência, primeiro tens que te deixar influenciar por aqueles que te rodeiam.

  • Se queres ser diferente não podes fazer aquilo que os outros têm feito e esperar resultados diferentes.

  • Sucesso requer planificação, mais do que talento.

  • Haverão sempre críticos destrutivos, porque eles são o reflexo de uma sociedade que, automaticamente excluí todos os que não se encaixam nas suas regras silenciosas.

  • Estuda bem o teu ofício e o percurso de outros profissionais: a resposta que procuras está lá.

O que pensas sobre Gaga e o seu sucesso?
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Como não passar o nosso tempo livre

Mathieu Ricard escreveu:
“Enquanto os teus dias são finitos, as actividades banais são como as ondas do mar – não se esgotam.”
em Art of Meditation


Com esta frase Ricard queria relembrar-nos da nossa mortalidade. E, com isso, expor a verdadeira natureza das coisas banais, às quais, muitas vezes nos entregamos sem esforço ou pena.

Ricard pensava em meditação enquanto escrevia esta frase. O pensamento, no entanto, continua válido para qualquer actividade humana que exija um distanciamento dessas banalidades. Como as actividades que requerem criatividade, disciplina e concentração.

A cow boy | créditos: Steven Kim



As actividades banais, em comparação, são fáceis.


Muito fáceis. Mantêm-nos ocupados, cativos e reféns dos impulsos que não nos esforçamos por entender.

E, numa era em que a rapidez parece ter substituído a concentração pela superficialidade, as banalidades ganharam solo fértil para crescer.

No entanto, existe um limite na quantidade de ar que podemos forçar para dentro de um balão. A partir daí o material tornar-se-á demasiado frágil. E mesmo que deixes de soprar, o balão jamais voltará à sua forma original.

Algo de semelhante se passa connosco.

Embora o nosso cérebro tenha uma brilhante capacidade de recuperação, à sempre um limite à quantidade de informação (banal ou não) que podemos absorver. A partir desse limite aguarda-nos um período de pesada apatia em que deixaremos de ser capazes de processar aquilo que se passa à nossa volta.

As banalidades não se esgotam mas deixam marcas em nós.


São leves porque são fáceis e, por isso, não sentiremos quaisquer dificuldades em iniciá-las. Basta um clique e estamos online no Facebook e quase nem gastamos calorias no processo.

E porque não nos custa começá-las é fácil perdermos a noção do tempo quando andamos de trás para frente entre páginas infinitas de informação que vamos absorvendo rapidamente como faríamos com comida num banquete.

Banalidades no fundo são actividades que consomem o nosso tempo (e dinheiro). São, na verdade, um mau investimento.

É quase como comprar um carro em tempos de escalada no preço do combustível. Por isso, fica um bocado ridículo pensar que essas actividades nos trarão frutos no futuro.

O Facebook, a televisão, as horas passadas a navegar na internet entre vídeos engraçados e notícias trágicas… São tudo coisas que nos preenchem, mas que nunca nos poderão alimentar.

O entretenimento é a palavra de ordem neste momento.


Quem sabe, daqui a alguns anos os historiadores nos classifiquem como humanóides sem cérebro que viviam fascinadas pela tecnologia sem serem capazes de se distanciar das coisas banais.

Mas já me estou a adiantar um bocado. O que eu queria dizer com toda esta história é que, no meio da banalidade quase nos esquecemos do que significa não fazer nada.

Os nossos tempos de ócio estão armados de entretenimento até aos dentes. E livrem-nos de ficar sem acesso à internet ou à televisão!

Vivemos saturados das notícias e, contudo, não somos capazes de nos distanciarmos desse dramatismo trágico que expõe o pior de nós de forma gratuita. Vivemos saturados de intrigas, mortes, corrupção, contudo, esse é o tema de conversa na nossa hora de almoço.

E ao vivermos saturados deixamos de viver de todo.

As plantas não crescem em solo esgotado. Por isso se praticou durante muito tempo o pousio.

Às vezes precisamos de praticar com a nossa mente esse pousio. Colocar o entretenimento em stand-by e, entregarmo-nos ao momento.

Ir às compras, dar um passeio no parque, cantar no chuveiro, comer um gelado, correr à chuva…

Ao afastarmos a nossa mente da torrente infindável de informação o tempo passa a correr mais devagar. A nossa criatividade tem finalmente a oportunidade para vir à tona. Depois de tanto tempo enterrada na lama, sufocada com a próxima tragédia do horário nobre.

Não acreditas em mim? Desafio-te a sair deste blog, a desligar o computador e ir espreitar a paisagem pela janela. Tenta vê-la como se fosse a primeira vez… Não te sentes melhor?

Nas eternas palavras de Horácio:
Carpe diem, quam minimum credula postero
(aproveita o dia, sem te preocupares demasiado com aquilo que o futuro te reserva)

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Porque estive ausente

Certamente já notaste a minha ausência. Não era minha intenção deixar este blog ao sabor do vento. Mas as coisas na vida nem sempre correm como sonhadoramente planeamos. E são os imprevistos e os acontecimentos inesperados que nos relembram da nossa insignificância e inexperiência perante a própria vida.
créditos Aditya Mopur

Mas já estou a divagar.

A verdade é muito simples: comecei a trabalhar. E como qualquer novato sem experiência que se preze estou a viver um descompassado e confuso período de adaptação. As semanas transformaram-se em meses na minha cabeça e cada início de semana soa-me a um anúncio de tempestade.

Sempre pensei que ia adaptar-me rapidamente a este novo estilo de vida. Afinal de contas fui eu que escolhi este caminho. E, embora não esteja arrependida das minhas escolhas tenho tido dificuldade em lidar com as suas consequências.

Muitas horas de trabalho mal recompensadas deixam a sensação de estar a vender o meu tempo por trocos. E, não fosse eu uma teimosa que adora escrever nunca me sentiria mal pelas horas perdidas entre problemas sem fim.

Felizmente estou habituada a lutar por aquilo que quero. Mesmo que isso implique dar dois passos para trás antes de poder dar um passo em frente. Mesmo que isso implique chocar as pessoas que se limitam a aceitar e a perpetuar as regras “silenciosas” da sociedade.

E com regras “silenciosas” refiro-me à ridícula mentalidade que governa o nosso mercado de trabalho.

Mentalidade que põe aqueles que se sabem organizar e apenas trabalham o tempo estritamente necessário sob uma pesada e violenta onda de críticas. E uma mentalidade que valoriza o número de horas que dedicamos ao trabalho, ignorando que, grande parte dessas horas são passadas a aquecer as cadeiras.

Claro que, para quem não me conhece estas são as conclusões de uma menina mimada que sabe pouco sobre a vida. Mas, do meu ponto de vista parece-me surreal e assustador a facilidade com que abdicamos dos nossos sonhos e princípios em troca de um “modesto” salário.

Mas uma pessoa sábia disse-me: Todo o trabalho é temporário. E isto pôs-me a pensar.

Trabalhar é uma experiência que nos muda profundamente. Mas a maior parte das pessoas limita-se a resignar esquecendo-se que, quando assinamos um contrato não estamos a vender a nossa alma.

Assusta-me a facilidade com que as pessoas desistem em troca de uma estabilidade ilusória. Porque tudo é passageiro. Os nossos chefes são pessoas de carne, osso, sorrisos e lágrimas, tal como nós. E nós não somos organismos dispensáveis. Somos seres especiais.

E viver fechados durante todo o dia, vendo o Sol desaparecer no horizonte antes de retomarmos o nosso caminho para casa é triste.

O problema deste país é trabalharmos demais. Vivermos demasiado para o nosso trabalho.

Porque concentrar toda a nossa energia numa única “janela de acção” não é humano. Nós não somos máquinas. Mas continuamos a agir como tal.

Ignorando que esta clausura diária apenas degrada a nossa energia e a nossa criatividade.

Existem muitas histórias de escritores que nunca mais foram capazes de escrever uma única palavra depois de passarem largos períodos de tempo enclausurados a trabalhar num romance.

Isso devia servir de lição: a criatividade nasce da diversidade. Porque, muitas vezes apenas me lembro da solução para um problema depois de uma boa noite de sono ou depois de um encontro com os meus fantásticos amigos. Tenho a certeza que sentes o mesmo.

Na verdade, acredito que não nascemos para trabalhar. Pelo menos, não nascemos para trabalhar como o temos feito até este momento da história. O trabalho surgiu como necessidade para sustentar o desenvolvimento do país. E, neste momento, não podemos esperar que mais horas signifiquem mais produtividade e mais criatividade.

Porque o que vemos hoje em dia é uma cambada de funcionários que tomam o seu emprego como garantido e passam grande parte do horário de expediente em tarefas inúteis para justificar o seu cargo.

Portanto, vamos ser realistas. Porque nos matamos a trabalhar?

A vida devia ser mais do que isto. Aliás, a vida é mais do que isto. Mas só para aqueles que se atreverem a sonhar e sejam capazes de lidar com as consequências das suas acções.
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A quatro perguntas do sucesso

No passado dia 16 de Abril dei por mim às portas do Coliseu do Porto. O tempo estava ameno e o entusiasmo da multidão causava-me arrepios na espinha. E apesar da dor que pulsava na minha cabeça e da revolta silenciosa do meu estômago dei por mim irrestivelmente atraída por aquele evento.

A conferência "Life Energy" talvez fosse um convite que eu rejeitasse noutro momento qualquer da minha vida. Mas as coisas corriam-me de feição e não é todos os dias que posso reunir-me com pessoas que partilham da minha paixão por desenvolvimento pessoal.
Conferência "Life Energy" no Coliseu do Porto | créditos: Life Training

Não vou aqui dizer que o evento teve um impacto profundo na minha vida. Se alguma coisa aprendi ao viver no estrangeiro e ao enfrentar os problemas que enfrentei é que, raramente, aquilo que vivemos tem um impacto imediato e profundo nas nossas vidas.

Não são os acontecimentos externos que provocam a mudança. É a nova perspectiva que esses acontecimentos trazem ao que pensamos sobre a vida e sobre nós próprios a verdadeira origem da mudança.

Naquele preciso momento, o acontecimento pode não provocar grandes mudanças em ti. Mas talvez, daqui a algumas semanas, meses ou anos, quando acabares de interiorizar a nova perspectiva que ganhaste sobre a vida, reconheças que aquele evento foi a faísca, e só agora presencias a chama a que deu origem.

O evento em si não foi significativo, pelo menos para mim. Mas a derrocada que enfrentei nas semanas seguintes obrigou-me a agarrar nessa faísca e a atear fogos de mudança na minha vida.

O que mais valorizo dessa conferência neste preciso momento foram quatro perguntas. Apenas isso? - perguntas tu. Sim, apenas isso.


Uma nova luz sobre os obstáculos


Por vezes erramos, fracassamos e passamos a envergar o manto da auto-comiseração por tanto tempo que os sonhos que nos faziam sorrir perdem o seu fulgor.

Por vezes usamos essa tristeza como arma de arremesso contra aqueles que nos tentam ajudar e contra a própria vida, enquanto o mundo que cuidadosamente construímos se desmorona à nossa volta.



Ninguém está livre de enfrentar esses momentos. Apenas aqueles que se recolhem para dentro dos limites confortáveis daquilo que é familiar e conhecido se podem esconder dessa tristeza. Apenas aqueles que não se aventuram e que não se atrevem a arriscar, se vão livrar dessa dor. Isso é algo que não nos ensinam nas escolas e é algo que a maior parte das pessoas prefere calar.

Apesar da maior parte de nós passar a vida em queixumes, parece-me que falar abertamente sobre o fracasso e sobre a tristeza é um tabu maior do que falar sobre optimismo em tempos de crise.

A tristeza é uma realidade que todos os que se aventuram vão ter que enfrentar mais tarde ou mais cedo. Quem arrisca expõe-se a situações que poucos tiveram que enfrentar. E como poucos as enfrentaram, são também poucos os que podem ajudar-nos a entender e a superar essa situação.

Porque arriscar implica lidar com o desconhecido significa que deixaremos de ser capazes de prever o resultado das nossas acções. Por isso, é normal que, em terrenos incertos tenhamos que lidar com muitos mais fracassos e obstáculos do que se decidirmos seguir pelo caminho seguro e conhecido.

E para que esses fracassos nos fortaleçam há quatro perguntas que podemos fazer a nós próprios que nos permitirão olhar para os sítios certos, em vez de nos perdermos num ciclo infinito de autocomiseração.


As perguntas


Penso que, ao nível do inconsciente todos conhecemos essas perguntas. Mas a conferência "Life Energy" ajudou-me a trazê-las para a luz:
Coragem | créditos: Kean Kelly



  • O que significa isto?


Quando acontecimentos inesperados abalam com as nossas crenças e com os nossos planos acabamos todos, inevitavelmente, por fazer esta pergunta. O que significa isto?

Será que eu sou fraca e incapaz de resolver os obstáculos que bloqueiam a minha evolução? Ou será que a culpa é dos outros?

E a maior parte das pessoas fica-se por aí. Oscilando entre culpar a sua fraqueza, a malvadez dos outros, a injustiça fria da vida e a indiferença pesada de Deus.

Mas há pessoas que vão mais longe. E escavam incessantemente dentro de si por um significado que faça sentido. E são essas pessoas que têm maiores chances de progredir na vida.

Não é no pessimismo e optimismo extremos que encontramos as respostas. Não basta dizer que a culpa é dos outros, que nós fizemos tudo bem. Ou que somos uns fracos e incapazes. Temos que estar dispostos a encontrar um significado que faça sentido para nós, que não nos deixe angustiados ou cegos por uma confiança vazia.

É importante reconhecer que temos sempre uma pontada de responsabilidade naquilo que nos acontece.

Não podemos é deixar-nos afundar por essa responsabilidade, temos que usá-la para analisar objectivamente o papel que interpretamos no nosso próprio fracasso. Sem menosprezarmos os nossos esforços ou culparmos os outros pela nossa desgraça.


  • O que é que eu posso aprender com isto?


Depois de percebermos a causa dos nossos erros é indispensável melhorar a nossa perspectiva sobre a vida e sobre nós próprios. Como escrevi antes, em terrenos incertos não podemos prever o resultado das nossas acções.

Por isso é tão importante aprendermos com os nossos erros. Quando somos pequenos é através desse tipo de comportamento que aprendemos a "manipular" o mundo para obter os resultados que desejamos.

Quanto mais erros cometermos mais iremos perceber a nossa nova realidade e mais perto estaremos de triunfar. Não esperes reagir bem a todos os obstáculos que cruzam o teu caminho. Perde tempo a analisar os teus erros, porque é neles que encontramos conhecimento valioso que nos irá conduzir de volta ao caminho certo.


  • O que posso fazer?


Na sociedade da informação estamos tão habituados a ser bombadeados por ela que nos esquecemos que o conhecimento só tem valor e peso se se traduzir numa acção.

Quem se lembra ainda das matérias do liceu? Todos passamos horas encerrados numa sala de aula a absorver todo o tipo de conhecimento, mas quantos de nós ainda se lembram com clareza das matérias complicadas que tivemos de memorizar?

Quase ninguém, não é verdade? Isso é porque o conhecimento que absorvemos teve pouca aplicação e uso nas nossas vidas.

O mesmo acontece com o conhecimento que adquirimos da análise dos nossos erros. Se não lhe dermos uso provavelmente vamos acabar por cometer o mesmo erro e vamos ter que aprender, novamente, a mesma lição.

Muitas pessoas acreditam que para resolver grandes problemas é necessário tomar medidas desesperadas. Mas não é preciso agirmos como kamikaze para retirar os obstáculos do nosso caminho. Não é preciso explodir com tudo, nem esmagar aqueles que nos fazem sofrer.

Aquilo que podemos fazer é quase sempre mais subtil e, muitas vezes, precisamos apenas de mudar a nossa mentalidade e atitude para evitar cair na mesma situação.

Para dar um exemplo,
Quando nos calha um chefe exigente e inflexivel nem sempre precisamos de largar o nosso emprego e procurar outra coisa. Para resolver essa situação às vezes apenas precisamos de deixar de encarar o nosso chefe como alguém que nos atira com tarefas intermináveis e desenterrar o ser humano que existe lá.

Ás vezes é mantermo-nos infléxiveis o que mais problemas nos causa. Temos que nos adaptar às nossas novas circuntâncias e desenhar as nossas próprias regras, não deixando esse poder e responsabilidade em mãos alheias.




  • Como posso contribuir?


São tão raras as pessoas que pensam em contribuir depois de terem enfrentado os seus fantasmas. A maioria prefere vagloriar-se e dizer que foi fácil e conservar todo o conhecimento só para si.

Não posso dizer que domino e entendo por completo a necessidade de contribuir. Mas sei que o ser humano é o que é porque começou a mover-se em grupo.

Se quisermos sucesso e fama podemos lutar para os conquistar e nunca dar nada em troca. Aquilo que contruirmos será tão fino como uma cana de bambu e tão alto como o Evereste.

E quando um vento soprar vamos cair, não teremos sítios onde nos apoiar e quando batermos no fundo apenas nos iremos lamentar por tudo aquilo que perdemos. E como a vida foi injusta connosco.

Ou podemos lançar uma rede às pessoas que nos rodeiam, e em vez de construir um pilar frágil podemos construir uma imensa pirâmide. Assim, em vez de ficarmos sozinhos no topo teremos muitos com quem partilhar o nosso sucesso e ele será fonte de inspiração para essas pessoas.

Então o sucesso que conquistamos passa a ser maior que nós próprios e deixaremos de ser seres solitários que contemplam o vazio para ser um pilar que ajudou a crescer o resto da humanidade.

É assim que um ser humano cria um impacto verdadeiro no mundo. Não é com acto isolados de egoísmo e auto-preservação. Não preciso de explicar mais nada, pois não?

Até breve
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Como lidar com o fracasso

A vida prega-nos partidas. Num dia caminhamos alinhados com os nossos objectivos, carregando orgulhosamente os nossos compromisso. Noutro dia sofremos um choque frontal e colapsamos.

Aconteceu comigo. Acontece com muita gente. E tenho a certeza que aconteceu contigo também.
Crédito: Maggie Smith

Nesses momentos apenas temos vontade de mandar à fossa a psicologia positiva e desistir. Não é nenhuma vergonha, nem sequer é um sentimento raro. Contudo, na cultura em que vivemos, tendemos a ver esse colapso como um sinal de fraqueza. Podemos lê-lo nos olhos dos outros e podemos lê-lo nos nossos próprios olhos, quando nos forçamos a encarar o espelho.

O fracasso não é agradável


Não te vou mentir. Nem tentar embelezar a situação. Colapsar, fracassar ou errar (como queiras chamar-lhe) não é agradável, nem sequer é bonito de se ver. Não é o momento em que damos um pulo e exclamamos "eureka" com uma expressão da mais profunda felicidade. E seria desumano fingir que desfrutamos de todo o sofrimento.

Não te iludas. Todos colapsamos, independentemente de estarmos ou não a ser bem sucedidos nas nossas vidas.

Alguns colapsos e quedas são maiores que outros. Mas não é por teres conquistado muito na tua vida que vais deixar de te sentir injustiçado perante o fracasso e gritar aos céus: "Eu não mereço isto...".

Todos sentimos pena de nós próprios, em algum momento das nossas vidas, e cedemos à tentação de nos arrastarmos pela lama. E isso é normal.

A pena e a tristeza são uma parte importante das nossas vidas. E se é verdade que a tristeza tolda o nosso julgamento, também é verdade que reprimí-la não costuma trazer bons resultados a largo prazo.

O significado da tristeza


Não é necessário espantar a tristeza. Por vezes ao derramar uma lágrima vemo-nos rodeados de pessoas que quase nos gritam "não fiques assim" como se fosse um mantra para afastar os maus espíritos. Mas a tristeza não é venenosa, por isso não é preciso afastá-la sem perceber antes o seu significado.

Uma coisa que aprendi com a tristeza e com o desespero é que estes costumam amainar quando vamos ao cerne da questão.

Á poucos dias, enquanto me arrastava pela lama e vestia o manto do "coitadinha de mim" dei por mim a fazer a seguinte pergunta:

"Porque é que eu estou assim afinal?"

Essa interrogação fez um baque no meu cérebro. E dei por mim a admitir que estava a chorar por algo completamente diferente daquilo que eu pensava inicialmente. E quando percebi exactamente o que é me estava a fazer sentir miserável a tempestade amainou.

Limpei as minhas lágrimas, limpei a lama das botas, peguei nas armas e fui provar a mim mesma que era capaz de lidar com aquela situação.

E apesar de ainda sentir uma réstia de ansiedade a tristeza evaporou-se.

No que devemos focarmos quando fracassamos


O mais importante quando enfrentamos os nossos erros não é a profundidade da nossa tristeza, nem sequer é o tempo que demoramos a erguer a cabeça.

O imporante é reconhecer que temos três opções:

  • Podemos ceder aos nossos medos e desistir

O fracasso será como um espinho que irá manchar a nossa confiança em nós próprios.

  • Podemos ignorar a nossa dor e voltar a fazer tudo da mesma forma

Repetir as nossas acções costuma trazer consigo resultados muito semelhantes. E, eventualmente, a dor tornar-se-á avassaladora.

  • Podemos decidir aprender com os nossos erros e fazer as coisas de forma diferente

Fracassar é doloroso. Vamos recuar, agarrar-nos a um balde de gelado, enrolar.nos num cobertor, ficar a ver programas idiotas até altas horas, sentir pena de nós próprios e derramar mais algumas lágrimas depois de constatar que o nosso rabo ganhou mais celulite.

Mas não faz mal. Porque, quando tivermos inspirado profundamente e perguntado a nós próprios: "porque raio me sinto tão miserável!?". As coisas vão começar a fazer sentido.

Não é como caímos que é importante, é como nos levantamos. Não é como reagimos, é como agimos.

As reacção são acções do inconsciente moldadas por anos de aprendizagens que nem sempre são positivas e verdadeiras.

Mudar a forma como reagimos é difícil e demora tempo, muito tempo. Pode até demorar anos! Por isso, o importante é que te conheças, porque de cada vez que caires e começares a resmungar, uma luz vai acender-se e vais pensar: "ah! já me lembro deste sentimento, não vai demorar muito a passar...".

Com os anos acabarás por ganhar uma calma interior que virá com a experiência de superação de muitos obstáculos.

Até lá quero que saibas que por muito mal que te sintas ao cair, o importante é como decides levantar-te. Agarra nos teus erros e pergunta:

"O que posso eu fazer de diferente para ser bem-sucedido?"

Pensa nisso...
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A estante abandonada e a gestão do tempo

Os livros são como pregos que se cravam na minha pele. De cada vez que me deparo com o estado de abandono da minha estante sinto que, ao afastar-me, carrego nas minhas costas todo o peso das páginas não-lidas.

Sempre fui uma leitora ávida. Mas o tempo passa e a vida muda. O tempo que tinha em abundância transformou-se num luxo escasso e arrastou consigo muitos dos meus sonhos. Deparei-me com o dilema de toda uma sociedade que vive absorvida pelo seu trabalho. O dilema da falta de tempo e da falta de capacidade para gerir o tempo que sobra.

[caption id="attachment_783" align="aligncenter" width="518"] The Passage of Time | Toni Carbó[/caption]

Quando o tempo é escasso e o trabalho arrasa com a nossa vitalidade, as actividades que valorizamos tendem a ocupar uma posição secundária. O trabalho passa a ser o protagonista nas nossas vidas e reclama todo o nosso tempo para si.

Quando finalmente chegamos a casa, qualquer réstia de motivação que conseguiu sobreviver à passagem do dia, acaba por ser absorvida pelo cansaço e pela facilidade que é deixarmo-nos levar pela televisão.

O tempo que foge


Contemplar a minha estante, recheada de livros que comprei quase por reflexo, é quase como um despertar para a realidade. Nesses momentos penso: para onde foi o meu tempo afinal? Devolvam-me o meu relógio antigo porque este anda depressa demais!

Foi então que percebi que estava a ser uma perfeita idiota! Cubrir-me de lamúrias nunca resolveu os meus problemas no passado.

É um facto que o tempo é escasso. Que todos os dias me lamento por estar a deixar os meus livros apanhar pó. Por estar a deixar as histórias que quero contar enterrarem-me por baixo das preocupações do quotidiano.

Mas isso não tem que determinar as minhas acções ou sentimentos. Como disse, estava a ser uma idiota.

O velho erro


Inocentemente, estava à espera que os livros arranjassem um "buraco" na minha agenda para serem lidos. E que o meu portátil me perseguisse na esperança que eu me sentisse inspirada para escrever. Estava a cair (outra vez) no velho erro de permitir que o meu tempo se gerisse a si próprio, sem qualquer intervenção inteligente da minha parte.

Bem que podia esperar uma eternidade. Duvido que os meus livros ganhassem, de repente, vontade própria e aparecessem nos momentos mais oportunos e nos cenários mais confortáveis.

Não posso depender dessas casualidades se quero realizar algo de memorável com a minha vida. Não posso esperar por folgas surpresa ou que o dia ganhe mais umas horas.

Depender, apenas, da sorte é a primeiro passo para o abandono das tarefas que mais prazer nos proporcionam.

A angústia pela falta de tempo


A angústia por abandonar actividades que são importantes para nós é um sintoma. Um sintoma de que estás insatisfeito. Podes ignorar essa insatisfação e ser consumido por ela. Eventualmente hás-de habituar-te e os pregos que se cravam na tua pele por adiares certas tarefas tornar-se-ão parte de ti, e acabarás por os esquecer.

É um mecanismo de adaptação e sobrevivência. Todos o possuímos e aplicamos quando a dor da perda se torna avassaladora para nós.

"Agora não é um bom momento", parece-nos, na maior parte das vezes uma desculpa perfeitamente racional. Mas é apenas uma forma de lidar com a nossa incapacidade para controlar o tempo que nos escapa.



Agora que já te assustei com tudo isto espero que me permitas dar-te um conselho. É um conselho que parte duma idiota com boas intenções.

Se te queixas da falta de tempo existem três perguntas que deves fazer a ti próprio:

  1. Como é que eu estou a gastar o meu tempo?

  2. Essas actividades que preenchem o meu escasso tempo são relevantes na conquista pelos meus objectivos?

  3. Como preferia passar o meu tempo?



Se for preciso faz estas perguntas todos os dias, várias vezes ao dia. É uma forma de relembrares que desejar que as coisas aconteçam não é suficiente.

Quando sentires a angústia a aflorar quero que saibas que podes sempre dar-lhe um pontapé no rabo e expulsá-la da tua vida. Porque o interessa é o que podes fazer a partir deste momento, não interessa o passado e o tempo desperdiçado. Interessa o agora.



Quanto ao meu problema de falta de tempo para a leitura achei que ias gostar de saber a solução que encontrei:

Fazer um calendário de leitura.

Saber que tenho um prazo a cumprir obriga-me a levar um livro para todo o lado. Obriga-me a estar constantemente à procura de uma oportunidade para criar um "buraco" na minha agenda.

Não interessa se é o momento ideal para dedicar à leitura. Se eu for esperar pelo ideal convém deixar de comprar livros porque aqueles que possuo poderiam entreter-me toda uma vida.

Por causa dessa atitude dei por mim a desfrutar da leitura como não o fazia desde que fui apanhada pela vida universitária.

Estabelecer prazos é tão importante como estabelecer metas. As metas é sítio para onde queres ir. Mas se dependeres apenas da sorte para chegar lá podes desperdiçar toda uma vida a correr atrás de objectivos pouco importantes.

Até breve
créditos da imagem: Toni Verdú Carbó
16 com

A inveja e o seu talento para a manipulação

Queria agradecer à Ana Karenina dos "Escritos Ideológicos". Foi o seu artigo "Porque leio o seu blog?" que me inspirou e me levou a reflectir sobre a inveja que reina na blogosfera...

Este é o meu gato...

Chamo-lhe Romeu.

[caption id="attachment_759" align="aligncenter" width="504"] O meu gato | Imagem própria[/caption]

Quase todos os dias me sento no sofá ao chegar do trabalho. Estico as minhas pernas. Tiro o calçado e o meu cérebro entra em stand-by enquanto faço zapping pela diversidade que tem para oferecer a minha televisão.

O meu gato entra na sala, muitas vezes sem que eu me aperceba disso. Detecta a minha presença e toma uma decisão: saltar para o meu colo. Não me costumo opor a isso, mas há dias em que o meu colo está reservado para um livro ou para o computador. E o meu gato raramente se conforma com um lugar na periferia.

Nesses dias em que o afasto gentilmente começa o seu jogo de manipulação. Coloca-se silencioso ao meu lado a olhar para mim. Faz aqueles olhos que derretem um coração e espera paciente que eu note a sua actuação. Normalmente rio-me e faço-lhe uma festa para voltar rapidamente à tarefa que deixei pendente.

Ora, por causa disso o meu gato começou a desenvolver estratégias mais arrojadas. Já percebeu que o olhar de pedinte fofo não funciona sempre. Agora adoptou a estratégia de predador paciente. Senta-se ao meu lado fingindo desinteresse. Lambe as suas patas lentamente e mantém uma postura distante.

Quando nota que eu já deixei de registar a sua presença passa ao ataque. Dá um passo na minha direcção. Tão devagar que eu raramente noto que ele já se está a aproximar. Dá outro passo, como um predador furtivo que se aproveita da distração da sua presa.

Quando coloca as suas patitas nas minhas pernas faz uma pausa prolongada, fazendo-me acreditar que se irá contentar com um lugar secundário.

Finge-se desinteressado outra vez, até que eu me sinta confortável com a sua presença. E depois faz uma nova investida...

Bem, não preciso de contar o resto da história para imaginares o final: o meu gato vence e eu arrumo as minhas tarefas para o lado enquanto o abraço e faço festinhas.

Agora que penso nisso o meu gato tem o nome ideal. Porque debaixo daquelas olhos azuis e daquele pêlo fofo esconde-se um mestre do encanto e da manipulação.


A inveja tem as mesmas habilidades que o meu gato


Um pouco de inveja é saudável para nos mantermos motivados...

Mas por muito pouca que seja, a inveja tem a capacidade de se expandir no nosso pensamento e acções. Se desviarmos o olhar a inveja vai aproveitar para se infiltrar um pouco mais. E quando dermos por ela a inveja ocupa tudo... manchando a nossa escrita e impedindo-nos de concentrar no que quer que seja.

Quando comecei este blogue, ler artigos melhores que os meus meus costumava causar-me uma pontada de inveja. Achava isso normalíssimo, e até, saúdavel. Mantinha-me motivada, dava um impulso na minha criatividade e obrigava-me a melhorar continuamente.

Eis que a parte de mim que acredita que sou incapaz de vencer (penso que todos temos um sabotador dentro de nós) se aliou a essa inveja saudável. Começou insinuar-se nos meus pensamentos.

Passei a ver o trabalho dos outros com desconfiança. Criticava prontamente todos aqueles que davam mostras do seu talento. Desprezava aqueles que recebiam as atenções enquanto os meus trabalhos desfilam, incógnitos, pela imensa montra que é a blogosfera.


Até que a corda se rompeu.


E eu passei a questionar como é que toda aquela inveja tinha começado. Lembrava-me de ela ter começado bem pequena e inofensiva. Nem me apercebi de que a estava a alimentar! Ela inchou, até atrofiar, quase por completo a minha motivação e criatividade.

Pelo comportamento hostil que vejo a desencadear-se por toda a blogosfera parece-me que não fui a única a deixar a inveja subir para o colo.

Isso fez-me reflectir sobre o poder da inveja sobre mim e sobre todos aqueles que lutam para se tornarem excelentes numa determinada área do engenho humano. A inveja faz-nos lutar por sermos reconhecidos, enquanto, ao mesmo tempo nos recusamos a reconhecer o talento dos outros.

Esse sentimento resulta em hostilidade, não só em relação aos outros, mas também em relação a nós.

Porque quando nos tornamos cegos em relação ao valor dos outros, tornamo-nos cegos em relação ao nosso próprio valor. Como podes saber se estás a melhorar, como podes sentir-te inspirado se não tens o valor dos outros como ponto de referência?

Quando leres um bom texto e te sentires desanimado com a pequenez do teu reportório pensa que, pelo menos, tens bom gosto. Como vais saber se os teus textos são bons, se não sabes reconhecer essa mesma qualidade nos textos dos outros?


Já pensaste nisso?


Já pensaste que todos aqueles que se tornaram realmente geniais não deixaram de elogiar o trabalho dos seus pares. Não o fazem apenas por simpatia, ou porque já alcançaram reconhecimento com o seu trabalho. Fazem-no porque estão plenamente confiantes das suas capacidades e sabem que o sucesso é algo que não se esgota.

Sabem que admirar o sucesso dos outros os ajuda a desenvolver as suas próprias capacidades. Sabem que, ao deixarem-se influenciar e maravilhar pelas conquistas doutros estarão a abrir caminho para novas conquistas pessoais.

Com isto não digo que deves andar por aí a bajular todos aqueles que cruzam o teu caminho. Elogiar por elogiar é falsidade. E a falsidade não costuma andar muito longe da inveja.

Além disso, se comentas em blogues e elogias desconhecidos só para que as pessoas visitem o teu espaço a tua falsidade vai ser identificada à distância.


Não podemos gostar todos do mesmo


Aceita que haverão pessoas que não vão gostar nem se vão interessar por aquilo que tu escreves. Não escrevas para essas pessoas, porque não podes mudar alguém que não está disposto a escutar-te.

Não gastes o teu tempo a comentar e a seguir blogues que não aprecias de verdade. E deixa-te maravilhar por aqueles que admiras.

Tornei-me uma blogueira mais equilibrada depois de ter feito o esforço de enxergar o valor das pessoas que cruzam o meu caminho (digital ou não!). A blogosfera não é competição, a blogosfera é um berço de ideias e de conquistas. Por isso não percas a oportunidade de apreciar o trabalho daqueles que te rodeiam.


Reconhecer a qualidade é o primeiro passo para a desenvolver


Pensa assim: és um viajante no início da tua jornada. Tens as mãos e os bolsos vazios e apenas o teu sonho te guia. Sabes para onde vais, mas não sabes como lá chegar.

Tem a certeza duma coisa: agora, podes não estar a ver o caminho, mas dá mais uns passos, mesmo que seja na direcção errada. Torna-te numa pessoa aberta, deixa que aqueles que admiras operem mudanças em ti. E quando deres por ti terás as mãos cheias de ferramentas poderosas e, em breve, tornar-te-às tão bom viajante quanto aqueles que admiras.

Pega nesta ideia!

Até breve
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