Nenhum sucesso vem sem espinhos

Vivemos na época do politicamente correcto.

Chegamos até ao cúmulo de etiquetar todos aqueles que criticam de cínicos e ignorantes. Quando, na verdade, os verdadeiros ignorantes são aqueles que deixaram de criticar.

As críticas são uma parte importante do crescimento tanto dos artistas como dos empreendedores.

Não falo daquele tipo de críticas que nos fazem rolar os olhos pela sua óbvia infantilidade. Falo sobre aquele tipo de críticas que são difíceis de digerir. Que afectam o nosso equilibrio e nos mostram uma perspectiva completamente diferente das nossas capacidades e limites.
Varanasi, Índia |créditos: whl.travel



Claro que nos dias que correm todos refreamos a nossa vontade de criticar. Não poupando nos elogios e nos parabéns na esperança de cair das boas graças do nosso interlocutor.

E esses elogios superficiais, que muitos nos largam na cara como se fosse um empréstimo que um dia planeiam cobrar, a largo prazo são devastores. Embora, no seu momento, sejam extremamente reconfortantes.

A ausência de críticas, no entanto, não é algo a celebrar. Porque sem críticas construtivas, partam elas dos outros ou de nós próprios, corremos o risco de parar de evoluir. Porque a crítica, ao contrário do elogio vazio, é dolorosa ao princípio e enriquecedora (e fortalecedora) a longo prazo.


A evolução de um artista ou empreendedor


Quando iniciamos um projecto importante nas nossas vidas é normal que o nosso peito inche de orgulho e bravura. No início sentimo-nos reis, confiantes de que as nossas capacidades nos levarão longe, muito longe, onde nenhum ser humano jamais se atreveu a ir.

É a fase da paixão.


É nestas alturas que abundam os elogios vazios de quem apenas procura reconhecimento pelos seus próprios talentos.

É a lua-de-mel da nossa jornada, como escreve Donald Mass no seu livro "The Breakout Novelist" (em Amazon.comou em Amazon.co.uk). Onde tudo nos parece assombrosamente possível e todos os nossos pequenos triunfos parecem extraordinários.

Esta fase acaba por passar.

Mais rápido para uns do que para outros. Mas uma coisa é certa: o encanto passa para todos.

Chegamos então à perda da inocência.


Uma grande e obscura parte na vida de qualquer artista ou empreendedor. Nesta fase o nosso sentido de identidade e de valor estilhaça-se em mil pedaços.

É uma quebra inrreversível e dolorosa.

Nesta fase o que é testado é a profundidade do nosso compromisso, mais do que o nosso talento. É uma prova de ferro, fogo, suor e lágrimas. E é aqui que os bravos se distinguem daqueles que apenas entraram no esquema procurando status e dinheiro.

É uma fase de conflito. Em que a tua auto-confiança sofre um choque frontal com a realidade e descobres as falhas que tão habilmente soubeste evitar até este preciso momento.

Não preciso de explicar porque é que esta fase é dolorosa. Conheces a dor da rejeição tão bem como eu.



A primeira vez que a minha escrita foi triturada em praça pública fiquei devastada. Depois de dias a arrastar-me pela casa a lamber as minhas feridas, acabei por chegar à conclusão que a pessoa que me tinha criticado era um perfeito idiota.

Cheguei à conclusão que a minha escrita era fantástica e ninguém me iria convencer do contrário. Claro que esta foi a minha forma infantil de negar as evidências.

Esta atitude é o derradeiro esforço de auto-preservação do nosso ego. Mas, se as críticas continuarem a aparecer tornar-se-à cada vez difícil negar a realidade.

É neste momento que muitos artistas e escritores regridem para dentro da sua concha. Passando a habitar num universo só seu, onde os seus talentos continuam a florescer protegidos do mundo exterior.

No entanto, embora muito apelativo, o isolamento é a pior opção. Isso foi algo que vim a descobrir à muito pouco tempo.

A razão?


Alimentar a crença de que somos melhores que os outros e escondermo-nos de qualquer crítica torna-nos seres humanos egoístas.

E esse tipo de seres não têm nada de novo a acrescentar ao mundo. Se queres realmente fazer a diferença tens que aprender a sair da concha. No fundo tens que te tornar mais acessível e, com isso, mais vulnerável a críticas.


Esta vulnerabilidade, mais uma vez, é dolorosa a curto prazo.


Mas a longo prazo é uma mais-valia.

Ficar fechados nas nossas conchas é algo que nos irá privar de valiosas lições.

Por isso a vulnerabilidade é essencial. E esta atitude perante as críticas implica muitas vezes aprofundar as feridas.

Eu explico melhor:
Uma pessoa que está disposta a aprender com as críticas, primeiro, tem que tornar-se vulnerável a elas e, segundo, tem que estar disposta a fazer perguntas dolorosas. E em vez de ficar pelo problema básico, deve tentar encontrar a raíz.

Isto implica, muitas vezes, enfrentar cara-a-cara os nossos críticos e perguntar directamente: "Exactamente, o que é que se passa de errado com a minha escrita?"

Depois dalgum tempo esta atitude traz bons frutos.

Crescer não é o mesmo que dar um passeio descontraído pela praia, aliás, crescer assemelha-se mais a escalar uma montanha: há sempre o risco de cair, de nos magoarmos e de nunca sermos bem sucedidos. Mas se não tentarmos nunca vamos saber o que nos espera no topo dessa montanha.

Leva anos a subir essa montanha. Anos atingir a maturidade.

Mas é um caminho que vale a pena. Caso contrário passaremos o resto das nossas vidas a viver abaixo do nosso potencial.

Privando o mundo do nosso contributo e privando-nos a nós próprios de uma verdadeira e duradoura felicidade. Não te parece?

7 comentários:

Yolanda Hollaender | 4 de julho de 2011 às 01:53

Encantadora escritora Ana Reis. Sou suspeita para falar de teus escritos, pois eles sempre me são coerentes e inteligentes - o que para mim é um grande aprendizado.
É um elogio sincero, pois admiro teu trabalho.
Acredito que a maturidade é que nos permite aceitar o "olhar" do outro com serenidade, porque as opiniões são tão diversas! Cada qual com o seu ponto de vista, defendo aquilo que acredita.
Aprendi, ao longo do tempo, que a crítica só é válida quando te acrescenta algo, pois do contrário é apenas uma ideia diferente da sua, com o intuito de gerar polêmica.
Escrever é um dom que deve ser lapidado e se transformar em arte única... Se não fosse assim, as obras teriam um único gênero. Imagine que monótono...
Meu carinhoso abraço,
Yolanda

Classificados Grátis | 6 de julho de 2011 às 23:41

É preciso criticar, mas acima de tudo é preciso SABER criticar. Infelizmente, nos tempos que correm nem todos sabem fazer uma crítica. E isso é o que, em parte, tem provocado a nossa reação negativa às criticas.
Se a crítica for bem feita, justificada e justa, é uma ajuda preciosa para evoluirmos, e até mesmo para aprendermos algo. Ver o mundo (ou uma simples opinião) sempre pelo mesmo prisma, não traz nada de novo. antes pelo contrário, cansa a vista e a razão.
Recentemente, li uma citação de alguém que dizia preferir discutir assuntos com quem não estava de acordo, pois só aí aprendia algo. É um tema parecido.
Não há que temer as críticas. Desde que se saiba criticar e discutir de forma civilizada, só temos a ganhar com críticas e discussões :)

Ana Reis | 11 de julho de 2011 às 10:37

Olá Yolanda!
Sempre bom receber um comentário teu. E muito obrigada pelo elogio sincero :)
É verdade que eu costumo ser muito céptica a elogios. É uma característica muito minha. No entanto, não quer dizer que eu não aprecie elogios. Na verdade, como todos nós, gosto muito de ser elogiada, mas tento sempre manter os pés na terra. Porque se voar muito alto sei que vou acabar por ter uma gigante desilusão!
A maturidade é algo que pode demorar anos, mas é como escreveste: permite-nos olhar a opinião dos outros sem nos sentirmos ameaçados por ela.
É verdade que há críticas que devemos ignorar. Mas também é verdade que ignoramos muitas críticas (muitas de pessoas idiotas) que, se estivermos dispostos a compreender de verdade, acrescentariam muito à nossa visão do mundo e de nós próprios.
No fundo lidar com críticas implica segurança para aceitá-las sem deixar que isso afecte a nossa auto-confiança. E implica também estar consciente que somos livres de não concordar com aquilo que nos dizem!
Acredito também que ouvir opiniões muito diferentes das nossas nos permite fugir da monotonia e estar continuamente a melhorar e a inovar os nossos talentos.
Um grande abraço :)

Ana Reis | 11 de julho de 2011 às 10:45

Olá,
Uma grande verdade: é preciso saber criticar. Porque muitas críticas escondem inveja e outros sentimentos menos saudáveis. Concordo que essa tem sido a atitude dominante, principalmente na blogosfera, onde, a maior parte dos internautas se julga perfeitamente seguro para criticar sem arcar com as consequências das suas palavras.
E, por causa disso, muitas críticas não têm qualquer fundamento. Na verdade penso que já nem sequer nos devemos referir a elas como críticas mas sim como insultos.
Por isso, antes de tentar entender uma crítica devemos perguntar até que ponto ela está bem fundamentada e, até que ponto a pessoa que nos critica tem maturidade e conhecimento para opinar sobre esses assuntos.
Gostei muito da citação. Conheci uma pessoa que dizia o mesmo e foi essa pessoa que me inspirou a mudar a minha forma de encarar as críticas.
Não se deve mesmo temer as críticas, na verdade, cheguei a uma fase da minha vida em que considero que as boas críticas são mais do que bem-vindas!
Um grande abraço

Ivan | 24 de julho de 2011 às 00:21

Como é enriquecedor ler seus posts! Interessante que eu estava realmente precisando ler este artigo! Estou realmente aprendendo a receber críticas, é muito difícil, mas aprendendo a filtrar as críticas, crescemos o lado pessoal e também o profissional, escutar as críticas e treinar o ego para ser humilde, e aprender a ouvir sem discutir.
Abração Ana, sou seu Fâ!

Ana Reis | 1 de agosto de 2011 às 19:53

Olá Ivan! Obrigada pela participação :)
Sabes estavas tu a precisar de ler e eu a precisar de escrever este artigo. Escrevê-lo foi um pouco como arrumar o "sotão" e ao pôr as minhas ideias em ordem em relação a este tema tão sensível para mim. Acabei por olhar para as críticas de forma bem mais serena.

Aprender com as críticas passa muito por aquilo que escreveste: "treinar o ego para ser humilde". Não podia estar mais de acordo com isso.
Algumas críticas são bem difíceis de digerir. Porque, ao menos tempo que somos humildes para os outros, no nosso interior acreditamos que somos seres muito especiais. O que não deixa de ser verdade, mas acredito que, na maioria das vezes nos colocamos num pedestal muito alto. E para sair de lá é preciso coragem, e disciplina.

Muito obrigada e um grande abraço

Empréstimo | 13 de abril de 2012 às 18:47

Esta atitude sempre traz bons frutos, o problema na maioria das vezes é o orgulho da pessoa criticada...

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