1 ano de blogue e o dilema da falta de tempo

A consistência não é algo que eu pratique em excesso. Na verdade, esta não a primeira vez que tento manter um blogue. Mas é também verdade que “A Revolução da Mente” é, de longe, aquele que eu mantive por mais tempo.

Fez no passado sábado, dia 16, um ano desde que comprei o domínio sobre o qual escrevo. E apesar de ter passado muito tempo a pensar que tinha sido uma decisão idiota, agora acredito que foi uma boa jogada.

1 ano não é muito tempo. Mas é o suficiente para aprender algumas duras lições e alcançar algumas pequenas conquistas.

Umas lições e conquistas que, neste momento, se encontram num irritante stand-by.

Algo que me deixa furiosa e mal-disposta.

Esta falta de dedicação ao blogue deve-se à minha nova rotina. Por causa do meu trabalho de investigação os meus dias têm sido caóticos, alguns deles dão comigo em louca. E acabam com uma Ana exausta a pensar se a vida há-de sempre assim.
Uh oh | créditos: Allan Foster

Contudo, no decorrer destes estranhos meses, percebi que às vezes as situações difíceis não estão lá para as evitarmos. Embora a tentação de fugir seja sempre muito grande.

As situações difíceis estão lá para nos fortalecerem, se estivermos dispostos a aprender com elas. Por muito “cliqué” e lamechas que pareça, não deixa de ser verdade.

Algumas dificuldades, principalmente as do mundo do trabalho, só nos dão vontade de arrumarmos as nossas tralhas, virar as costas e gritar ao mundo que não estamos para aturar estas porcarias.

Porque somos pessoas especiais e merecemos melhor, certo? Pois, é certo. Mas esse tipo de mentalidade não é a mentalidade de quem conquista coisas importantes nesta vida.

Para sermos bons em algo temos que descer do nosso pedestal. E perceber que não só temos que aturar porcarias, como essas porcarias são essenciais para o nosso crescimento.

Claro que vivi longos dias cheia de irritação, indignação, frustração e outras coisas acabadas em “-ção” que não me lembro agora. Mas depois de passar por uma longa fase de “menina mimada a quem tiraram o brinquedo” - sendo o meu brinquedo o tempo livre que agora está a oscilar entre o pouco e o nenhum – acho que amadureci.



Por isso é que hoje, 11 dias após o suposto aniversário do blogue, não me apetece gabar-me de glórias passadas e perder tempo a olhar para o que já ninguém se lembra.

O que quero com este post é partilhar aquilo que aprendi ao tentar manter este blogue com pouco tempo entre as mãos:

Não há atalhos na vida


O emprego ideal não existe. Seja ele dentro ou fora da internet. Vais ter dias maus, muitos, imensos. E vais culpar o teu chefe, teus colegas, clientes, fornecedores. Vais até culpar a economia, o governo e a mentalidade do país…

Não existe fim para a infinidade de coisas que podem estragar o teu bom humor e azedar a tua felicidade.

E trabalhar na internet não é o fim dessas coisas. É apenas o princípio de coisas diferentes, igualmente irritantes.

Por isso, o truque não é encontrar um atalho, nem encontrar o emprego ideal. O truque é aprender a superar as adversidades, sem fugir delas. É não fugir quando a situação fica negra, e aprender que, na maior parte das vezes, a resposta mais eficaz às adversidades é: esperar.

Apostar num sonho platónico pode ser uma péssima decisão


Surpreendem-me as pessoas que desistem de tudo por causa de um sonho. Seja ele fotografar, escrever, desenhar.

Desistir de um emprego estável quando o futuro é incerto é, não só uma decisão arriscada como pode pôr em causa esse mesmo sonho.

Será que escreverias da mesma forma se o fizesses por dinheiro, em vez de o fazeres por prazer? Se houver a pressão de colocar a comida na mesa há um grande risco de, tanto a tua motivação como as tuas capacidades, deixarem de evoluir.

No fundo dar um passo arriscado cedo demais pode levar-te a um angustiante fracasso.

É por isso que eu prefiro ter sucesso daqui a 10anos ou mesmo 20anos, do que desistir do meu emprego por um talento que ainda precisa de muito trabalho.

Aprender a ganhar o nosso sustento é uma questão de dignidade humana. E os sonhos são óptimos para alegrar os nossos dias, mas só com o tempo (muito tempo) e com muito trabalho nos irão colocar comida na mesa.

A pergunta que tens que fazer a ti próprio é se as tuas capacidades estão maduras o suficiente para ganhares o teu sustento. Porque ficar dependente doutros é mau para a nossa auto-confiança. E uma auto-estima baixa é algo que se reflecte na qualidade do nosso trabalho.

Mais tempo não significa mais dedicação


Cheguei a uma estranha conclusão nos últimos tempos:

Se eu não conseguir reunir a coragem para escrever com pouco tempo entre as mãos, é pouco provável que seja capaz de o fazer a tempo inteiro.

Mais tempo por dia nem sempre significa mais dedicação. O tempo que dedicamos a melhorar uma capacidade não se mede pelas horas que dedicamos num dia, mas pelo esforço constante e a longo prazo.

É como treinar um músculo. Não é por passares 4horas no ginásio que amanhã vais notar a diferença. É o esforço diário a médio prazo que te vai proporcionar os melhores resultados.

Desistir de um emprego estável (é verdade que quase nenhum emprego é estável nesta economia, mas percebes o que quero dizer) para ter mais tempo para trabalhar nos teus sonhos pode conduzir-te a um pesado fracasso. Principalmente se não tiveres nada mais palpável do que a tua determinação para te apoiar.


Conclusão


Mantêm o teu passatempo preferido vivo, se ele durar tempo suficiente, se sobreviver às tensões do mundo do trabalho e se a tua motivação se fortalecer, então aí, se quiseres podes largar tudo e dedicar-te apenas àquilo que mais amas.

Mas acredita que o sonho que amas pode não te trazer mais felicidade do que aquela que tens agora. Porque a relva do vizinho há-de ser sempre mais verde e o Sol será sempre mais agradável do outro lado. E vais ter sempre que aturar porcarias.

Mudar de país, mudar de emprego, mudar de look… nada disso resolve as tuas angústias. Nada. Lamento, mas é a verdade. Porque a mudança externa pode ser gratificante a curto prazo, mas, o mais provável é que se torne irrelevante depois de algum tempo.

Aprender a viver em paz com as coisas que nos angustiam é uma das bases para uma vida profissional feliz.

Vai existir sempre algo ou alguém que te angustie, que estrague os teus planos, que te leve à loucura. Todos acabamos por superar isso se convivermos com a origem da nossa angústia durante tempo suficiente.

Mas, o mais importante nem é a superação é mesmo aprender a ver o lado positivo das frustrações e usá-las para reforçar o nosso valor.

E é entre o superar o mau e o usar o mau para construir algo positivo que está a linha que divide os bons dos excelentes profissionais.



O teu trabalho também te deixa doido? Adorava ouvir mais sobre as tuas loucuras!

7 comentários:

Yolanda | 27 de julho de 2011 às 12:33

Encantadora amiga Ana Reis, que alegria compartilhar com você esse teu texto! Ainda mais, para comemorar o aniversário do teu excelente blogue.
Gosto dos teus escritos porque sempre me fazem refletir e aprendo algo de bom, tanto que estou indicando o seu nome para a campanha que o diHITT está fazendo, ao selecionar os "Top Blogs" (digamos assim) dessa rede social.
Você é franca, descreve sentimentos que "todos nós" passamos e que não se fala com naturalidade, pois é penoso conhecer a si mesmo e admitir que se tem limitações e frustrações, e que isso pode parecer fraqueza aos olhos dos outros...
Essa angústia que você descreve, entre a necessidade de trabalhar para seu sustento e o tempo livre para o lazer, fazendo as coisas que gosta, é mesmo um paradoxo: se parar qualquer das atividades, a frustração virá na certa.
Registro mais uma vez e, incansáveis vezes se necessário for, minha admiração por este teu espaço. Levo a certeza de que você não desistirá do teu sonho...
Meu carinhoso abraço,
Yolanda

Pedro Cardoso | 27 de julho de 2011 às 14:35

Há um balanço delicado entre aceitarmos as realidade das coisas, e tentarmos mudar as coisas de acordo com os nossos sonhos. Ao mantermos tal balanço proporciona-se a felicidade e auto-realização.

Apesar de ser aparente que a realidade dura oprime os teus sonhos, e apesar de em parte eu sentir que em certa medida estás a racionalizar essa opressão...

Está implícito neste artigo que procuras um equilíbrio entre os teus sonhos e a tua realidade; enquanto mantiveres esse ideal, é impossível falhares.

Parabéns, e bem haja!
Pedro

Pedro Lopes | 27 de julho de 2011 às 22:49

Olá Ana,

Então parabéns pelo primeiro aniversário do teu blog, o tempo passa num instante. :)

Não desanimes, as dificuldades estão lá para ser ultrapassadas, o que é preciso é continuar.

E não, não existe emprego nem trabalho "ideal", isto porque quando encontramos aquilo que verdadeiramente gostamos de fazer as palavras emprego e trabalho deixam de existir, a única maneira de deixar de trabalhar é precisamente fazer aquilo que verdadeiramente gostamos, é verdade que os problemas continuam a aparecer mas serão muito mais fáceis de resolver.

Força nisso e continua a escrever.

Abraço. :)

Ana Reis | 1 de agosto de 2011 às 20:19

Olá Yolanda, é sempre bom e enriquecedor receber um comentário teu!
É verdade, nunca pensei que chegasse ao final de 1 ano de blog a sentir a ansiedade que sinto: a ansiedade por escrever mais e melhor.

Fico muito feliz com a indicação. Nem sabia que estava a decorrer essa campanha. O meu tempo para acompanhar esses acontecimentos tem sido limitado, com muita pena minha.
Muito obrigada pelos elogios. Ás vezes penso que sou franca demais, mas no final de contas, acho que essa forma de escrever é que dá uma personalidade diferente à minha escrita.
O meu objectivo sempre foi comunicar com os meus leitores a um nível íntimo, e isso implica aprender a lidar bem com sentimentos que, para muitos, podem ser humilhantes e vergonhosos.

Mas somos todos humanos. E acho que todos precisamos de partilhar esse tipo de experiências para saber que não estamos sozinhos.
Com certeza não irei desistir do meu sonho, embora neste momento não esteja a persegui-lo com tanto afinco e dedicação. Tenho a certeza que esta adaptação tempestuosa vai passar!

Um grande abraço e muito obrigada pelas palavras carinhosas!

Ana Reis | 3 de agosto de 2011 às 09:46

Olá Pedro, obrigada pelo comentário perspicaz!
Ainda não encontrei esse balanço. E como tendo a pôr o meu trabalho em primeiro lugar, a minha dedicação à escrita tem sofrido nestes últimos meses.
Racionalizar é o que normalmente faço com tudo. Aliás, pensar demais nas coisas é tanto um defeito como uma qualidade minha. Mas é a minha forma de lidar com as coisas, sempre foi.

Espero que tenhas razão quando dizes que enquanto eu mantiver os meus ideias é impossível falhar. Sinto o mesmo, embora nem sempre ande tão confiante disso.
Pelo menos não planeio desistir, pelo menos, não a longo prazo. Mas a curto prazo sei que estou estagnada e embora isso me encha de raiva, sei que essa desistência temporária é importante para eu encontrar o tal equilíbrio.

Um grande abraço e obrigada pelas palavras

Ana Reis | 3 de agosto de 2011 às 09:55

Olá Pedro, muito obrigada, quem diria que este aniversário ia chegar tão rápido!
É verdade, às vezes o único que podemos fazer face a situações difíceis é continuar a aparecer todos os dias. Por muito que isso nos custe.

O mais estranho de tudo isto é que eu gosto muito do meu trabalho. Só não gosto do facto de ainda não ter conseguido conciliar o meu trabalho com a minha escrita. Sem falar que preciso também de reservar um tempo para outras partes, igualmente importantes, da minha vida.

Todos passamos por isso. Mas lá está, tudo o que posso tentar fazer neste momento é continuar a aparecer!

Um grande abraço e obrigada

Márcio Baptista | 3 de junho de 2012 às 00:51

Olá Ana,

Primeiramente parabéns pelo aniversário do blog.
Vou dar um segundo parabéns por ter conseguido me fazer parar em tua página e ler uns quatro posts seus com gosto.
Digo isto pelo fato do pouco hábito de leitura, o que aliás, venho tentando introduzir em minha vida.

Estou mergulhando neste mundo (blogosfera) e tenho encontrado algumas dificuldades como iniciante. Como por exemplo: Escrever.
Tenho mais facilidade de me comunicar verbalmente.
Estava eu a pesquisar sobre que temas discutir em um blog e encontrei sua página.

Nossa, estou impressionado. Como você escreve bem.
Gostaria de ressaltar que você acabou de ganhar um fã, e que voltarei para ler mais seus artigos.
Um forte abraço!!

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