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Produtividade, uma questão de atitude

Antes de começares a ler o artigo podes querer ir buscar aquela chávena de café ou chá. Porque hoje vou-me alongar um pouco mais do que o normal. Espero que desfrutes da leitura.

Quando o tempo escasseia


Nunca fizemos tanto e conquistamos tão pouco como nos últimos anos. Não é por isso raro chegarmos ao final da nossa jornada a sentir um vazio no peito.

Essa dor dissolve-se na rotina do dia-a-dia. E as tarefas urgentes roubam o lugar às coisas que consideramos verdadeiramente importantes, mas que vamos adiando por conformismo.
créditos da imagem: Ovidiu Onea

Desde que comecei a trabalhar e a tirar um curso em pós-laboral ao mesmo tempo tenho vivido os meus dias com uma sensação de vazio assustadora. Os meus esforços para manter o compromisso com a escrita têm-se perdido entre as tarefas urgentes que preenchem o meu dia e o tempo de lazer onde me abandono ao ócio e à liberdade de não pensar.

Tudo isto tem sido um imenso teste para mim. Eu sempre deixei tudo para última. Se o prazo de entrega de um trabalho é para daqui a 1 semana, eu começo a trabalhar, com sorte, três dias antes e faço noitadas para compensar o tempo perdido.

Virei-me para as técnicas de gestão de tempo em busca de respostas. Encontrei muitos sistemas de produtividade. Experimentei alguns por diversão. Muitos resultaram naquele momento, mas no dia seguinte não conseguia arranjar as forças para continuar.

Como controlar o nosso tempo


Aí percebi que essas técnicas apenas arranham a superfície. Por isso resultam tão bem por uns tempos. Mas aquilo que causa a nossa falta de produtividade não é algo que possamos combater com sistemas de gestão de tempo.

Porque podemos tapar a piscina para não ter que olhar para a água suja, mas ela vai continuar lá, no fundo da nossa mente, divertindo-se a sabotar todos os nossos esforços.

Tendemos a ver a falta de produtividade como preguiça. Contudo, essa fraqueza, partilhada por muitos de nós é algo que transcende a mera preguiça. Essa falha esconde, muitas vezes, algo mais profundo como a falta de propósito e, mais importante ainda, a falta de compromisso.

Estou numa altura da minha vida em que percebi que, o dia podia ter mais 10 horas que eu continuaria a não fazer nem metade das coisas que quero fazer. Por isso, percebi que o meu problema, partilhado por muitos de vós, não é a falta de tempo, é falta de atitude.

Desenvolver a atitude certa, é possível?


Como realça Stephen Covey no seu magnífico e sempre actual livro "Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes", antes de alcançarmos o sucesso e a tão invejada produtividade temos primeiro que ganhar essa batalha dentro de nós.

Os actuais sistemas de gestão simplesmente saltam essa parte. Ignoram que uma vitória na batalha pela produtividade tem que começar de dentro para fora. E não de fora para dentro, como muitos de nós nos habituamos a viver.

Vê as coisas por este prisma:


Conquistar a produtividade é uma luta até à morte. Uma luta contra nós próprios, o único problema é que não podemos matar uma parte de nós. Por isso, vencer essa resistência interior (para saber mais sugiro: O maior inimigo do sucesso) implica estender a mão aos nossos medos e aceitá-los como uma parte essencial de nós.

Não os podemos ignorar, nem os podemos destruir. Por isso, apenas os podemos aceitar. Mas por que é isso tão difícil?

Bem, por uma simples razão. Na vida procuramos sempre bases onde nos possamos apoiar. E aceitar que existe uma parte de nós que abunda de incertezas é aceitar que construímos a nossa vida sob solo que poderá ruir a qualquer momento.

Não é fácil viver sem o sabor estabilidade, especialmente, da estabilidade emocional. Mas se queremos ser produtivos temos que aprender a lidar com as nossas incertezas. Porque se as ignorarmos elas certamente nos destruirão, e se as tentarmos destruir, bem, isso é apenas outra forma de ignorar, é atacar a superfície, enquanto devíamos estar a dedicar o nosso tempo a escavar essas debilidades.

Se é esse o caminho porque é que raramente se fala nele?


Vivemos na era dos resultados imediatos. E aprender a lidar com as nossas incertezas é um caminho longo que, apesar de não dar frutos imediatos, a longo prazo é a única forma de sustentar a nossa produtividade sem corrermos o risco de esgotar as nossas forças.

Eu compreendo que seja difícil de pôr em prática, ainda hoje tenho lutado para entender a melhor forma de conquistar essa atitude de produtividade. É uma batalha diária, e os resultados aparecem tardiamente depois de muitas situações de tentativa e erro.

A decisão é tua!


A tua vida pode acabar amanhã. Tens que decidir se queres continuar a deixar-te arrastar pela corrente das tarefas pouco importantes do dia-a-dia ou se queres conquistar algo de maravilhoso com a tua vida.

Ninguém neste mundo te vai impedir de desperdiçares a tua vida e os teus talentos. Podes acabar de ler este artigo e ligar a televisão, é o que todo o mundo faz de qualquer das formas. Ou podes pegar no bloco de notas e começar a trabalhar a sério.

1. Identifica aquilo que te impede de fazer as coisas que consideras importantes


Tens um sonho antigo que foste deixando sempre para segundo plano? Estás sempre a dizer à tua família e amigos que um dia vais ser escritor, actor, político? Mas estás preso nas aulas e no trabalho e quando chegas a casa não arranjas forças para lutar, por esse sonho, nas poucas horas que restam ao teu dia?

Marcas na tua agenda uma hora para escrever ou estudar ou desenhar, e depois deixas que a vida se meta entre ti e os teus planos, dia atrás de dia, até desistires deles?

Se te identificas com as perguntas que fiz é porque tens um problema de falta de atitude e seriedade para com a tua vida. Não, não te estou a julgar. Só te estou a avisar. Até porque eu ainda tenho muitos dias assim.

O que faço nesses dias é questionar-me:

Que desculpas estou a inventar para não trabalhar nos meus projectos? O que me impede de agarrar no PC e isolar-me do mundo para começar a trabalhar?

Sempre que fugires a uma determinada tarefa pergunta-te (e escreve) os pensamentos que tens naquele momento. Tens que identificar qual a causa interior que te impede de trabalhar.

Porque a resposta nem sempre é clara. Porque é óbvio que é por estarmos colados ao sofá e à televisão que não estamos a trabalhar. Mas nem sempre as coisas que nos distraem são as verdadeiras culpadas. Existe sempre algo mais que nos impede de afastar dessas coisas que sabemos não serem importantes.

Por exemplo, quando chego a casa depois de um dia de trabalho não me apetece isolar e começar a trabalhar. Quero estar com a minha família, gozar do calor da lareira e do som confortante da televisão. Isto são causas externas, as causas internas são mais matreiras e escapam muitas vezes ao entendimento. Por isso temos que as forçar.

Não existe nenhum método ou sistema para o fazer. Tens apenas que atacar os pensamentos que te impedem de trabalhar e questioná-los insistentemente. Porque, por detrás do som da televisão escondem-se muitas vezes: o medo estar só, o medo de falhar, o medo de não sermos capazes.

2. Aprende a viver o momento


Quando estou em casa penso que devia estar a escrever. Quando estou a trabalhar penso que gostaria de estar a escrever. A conclusão é que, por causa desse meu sonho de me tornar escritora, sou incapaz de viver o momento presente.

Por isso, quando estou a trabalhar não estou 100% concentrada nas minhas tarefas. E quando estou com a minha família tenho a minha atenção igualmente dividida. E essa é uma sensação horrivelmente frustrante.

E toda esta frustração pode acabar em duas coisas: vou acabar por culpar o meu trabalho e a minha família pela falta de tempo ou acabarei por esquecer esse sonho já que não consigo criar mais horas no meu dia para o sustentar.

Com isto aprendi: não é por estarmos constantemente a pensar naquilo que devíamos (ou queríamos) estar a fazer que as coisas vão acontecer. Sim, é tão simples quanto isso.

Por isso é tão importante reservares uma parte do teu dia para te dedicares aquilo que consideras importante, seja isso trabalhar num projecto, conviver com família e amigos ou estudar. Caso contrário a frustração pode infiltrar-se em todas as esferas da tua vida e impedir-te de desfrutá-la.

Aprende a honrar cada tarefa com alegria e dedicação. Mesmo aquelas coisas que não gostas de fazer mas sabes que tens que levar até ao fim em nome dos teus objectivos mais queridos. Encontrar prazer no nosso trabalho ajuda-nos a ultrapassar a nossa frustração e criar a atitude necessária para nos dedicarmos às coisas que consideramos mais importantes na nossa vida.

3. Cria um compromisso contigo próprio


Este é o cerne da questão, os anteriores são uma mera preparação para este passo.

Sê sincero contigo mesmo. Ignora o que os outros possam pensar sobre aquilo que estás a tentar conseguir. Quando se trata de conquistar algo, não são as nossas capacidades que estão em jogo. E embora estas desempenhem um grande papel, acredita que o desafio e a satisfação, ficam curtas quando nos dedicamos apenas a tarefas que sabemos ser capazes de realizar.

A forma como gastas o teu tempo deixa-te feliz? Se não, o que preferias estar a fazer?

A vida é finita. E, acredites ou não na vida depois da morte, o que interessa é o agora. As coisas não vão acontecer daqui a uns anos se não trabalhares por elas hoje.

Podes escrever muito bem. Ser muito talentoso. Mas talento sem compromisso é desperdício. Pelo menos é o que se costuma dizer. Mas sem compromisso estamos também a ser mártires sem causa, porque nos privamos da oportunidade de crescer enquanto pessoas. E privamos aqueles que nos rodeiam de crescer connosco.

Quando criamos o compromisso de explorar os nossos talentos tornamo-nos conscientes do nosso poder. E, sem essa consciência, a verdadeira produtividade não pode existir.

O que quero que leves deste artigo são as perguntas que te fiz. Quero que penses se estás a viver a tua melhor vida hoje, independentemente das tuas posses materiais.

Quero que sintas na pele o entusiasmo pelo teu crescimento pessoal. Quero que cries compromissos. Não precisas de criar prazos irrealistas, nem ter expectativas gigantes. Basta que relembres, sempre que possas, aquilo que estás a perder nas horas que ficas colado à televisão.

E tu, tens-te sentido pouco produtivo ultimamente?
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A importância de manter um diário

Manter um diário é como criar um porto seguro, ao qual podemos regressar sempre que os mares se revoltam.

Escrevo por experiência própria, manter um diário, mesmo com pouco frequência, tornou-me uma pessoa melhor. Ajudou-me a superar a passagem de grandes tempestades, e tornou-se o meu farol quando o mundo à minha volta ficava demasiado escuro para que eu pudesse distinguir o caminho.


créditos da imagem: Niklas Sjöblom

A nossa memória está longe de ser infalível. Como escreve António Damásio no seu “Livro da Consciência” a memória não é algo estático. Passamos muito tempo das nossas vidas a recordar e, ao fazê-lo, estamos a reescrever essas memórias. Assim, a nossa história é algo que vai crescendo connosco, que se vai modificando.

O objectivo deste mecanismo mental é encontrar padrões nos acontecimentos. E são estes padrões que nos permitam, de certa forma, prever o nosso futuro. Por outras palavras, estudar o passado ajuda-nos a determinar as consequências das nossas acções e a identificar o melhor caminho a seguir para atingirmos os nossos objectivos.

Como quando em bebés aprendemos que ao metermos a mão no fogo apenas nos vamos queimar. Essa simples recordação influencia o nosso comportamento para sempre. Aprendemos que o fogo é bom porque nos mantém quentes numa noite fria, mas aprendemos também a guardar a nossa distância para evitar a dor de uma queimadura.

E por que estou a contar-te tudo isto?


O problema de rever o passado é que o vamos alterando, ainda que de uma forma mínima. Por isso, a nossa memória do dia de hoje vai ser bastante diferente daqui a 10anos. O que vamos recordar pode ser o resultado dos nossos medos inconscientes que vão produzindo padrões que, originalmente, não existiam.

Isso significa que uma rejeição amorosa pode parecer-nos muito pior daqui a 10 anos. Porque, em todo esse tempo fomos explorando essa dor que sentimos e acabamos por a ampliar. E é aqui que ter um diário nos pode ajudar.

Escrever com as memórias frescas na mente para mais tarde rever os acontecimentos permite-nos:

  • Perceber quando a nossa reacção a uma determinada situação foi exagerada ou distorcida (muitas vezes porque a atitude de certa pessoa nos fez lembrar alguém que nos magoou);

  • Impede-nos de distorcer e tornar mais dolorosa a realidade;

  • Ao desabafar com o diário aprendemos a exprimir os nossos sentimentos e a identificá-los mais facilmente;

  • Escrever com os sentimentos à flor da pele alivia a nossa dor e elimina a irracionalidade das nossas palavras e pensamentos;

  • Permite-nos perceber quando entramos num ciclo vicioso de dor e sofrimento e revela-nos a chave para sair desse ciclo;

  • Permite-nos criar uma relação saudável connosco próprios e, como consequência disso, aprendemos também a construir relacionamentos mais saudáveis com outras pessoas.

Apesar de tudo conheço poucas pessoas que tenham o hábito de descrever a vida para si próprias. Muitos consideram que um diário é sinónimo de perda de tempo, que não nos trará benefícios nem mudanças significativas na nossa vida.

A minha resposta a estas dúvidas: depende até que ponto estás disposto a comprometer-te com o teu diário.

Escrever por escrever. Escrever acontecimentos superficiais, isso sim, é uma perda de tempo. Mas explorar e questionar as nossas ideias, dúvidas e emoções é algo que nos levará ao limite. E é no limite que aprendemos mais sobre nós próprios.

Escrever e a capacidade de liderar


Para sermos líderes da nossa vida temos primeiro que ser líderes de nós próprios. E isso não algo que se conquiste de ânimo leve. Porque, para liderar temos que enfrentar os nossos piores demónios e sair vencedores.

Temos que cultivar uma atitude de firmeza em relação aos nossos próprios sentimentos. Temos que ser capazes de os abraçar e não nos deixarmos levar por eles.

Um diário permite-nos construir bases para a nossa vida emocional. E isso ajuda-nos a desenvolver o nosso carácter, um carácter que seja integro, firme e gentil.

À primeira vista estas parecem qualidade nada vantajosas para os tempos que correm.

Afinal de contas, quem precisa de integridade num mundo competitivo como o de hoje? E quem precisa de firmeza de carácter e de gentileza quando é a hostilidade que ganha batalhas?

Mas a hostilidade e a competitividade dificilmente aumentam o nosso valor enquanto seres humanos. Essas são as características das pessoas reactivas, pessoas que vivem uma vida de submissão aos acontecimentos externos, e que nada fazem para reclamar o seu papel como líderes de si próprios.

Conclusão


A sorte não acontece a quem se limita a esperar por ela. A sorte é forjada com o esforço, a paixão e a visão de grandes homens e mulheres. E o resto são pormenores, nada mais simples do que isso.

Mas o esforço, a visão e a paixão só acontecem a quem se conhece bem a si próprio. A quem não tem medo dos seus demónios, sejam eles: timidez, excesso de peso, incapacidade de falar em público ou de levar os seus projectos até ao fim.

Porque os demónios escondem oportunidades. E quanto mais assustadores os teus demónios, maiores os ganhos que advirão da sua conquista.

Pelo menos é assim que eu penso. Se não fosse pela minha timidez duvido que me tivesse interessado tanto pela comunicação, que tivesse aprendido a escutar verdadeiramente os outros, duvido até, que me tivesse embrenhado tanto no universo da escrita.

Manter um diário dá-nos o poder de julgar e avaliar as acções e sentimentos. Um poder que enobrece a alma. Porque se nós nos desmarcarmos de fazer isso, aqueles que nos rodeam encarregar-se-ão de nos julgar.

Enquanto que, se aceitarmos a responsabilidade de nos julgarmo-nos a nós próprios, estaremos a construir a nossa confiança e auto-estima. O nosso julgamento passa a ser mais importante que as palavras dos outros e, com isso, estamos a reclamar o poder de liderar as nossas vidas.

Um bónus


Mantenho o meu diário usando um software gratituito - RedNoteBook - óptimo para quem gosta de escrever no computador.

Podes fazer o download aqui e organizar as tuas entradas por temática e etiquetas, como se fosse um blogue.

Recomendo que escrevas, pelo menos, uma vez por semana. Relatando os acontecimentos da semana passada e anotando com detalhe as tuas expectativas para a nova semana. Assim, terás a verdadeira noção do teu progresso, erros e sucessos, e será mais difícil que te deixes levar pelo marasmo do dia-a-dia. Porque, com um diário, será quase impossível esqueceres as tuas resoluções.

Leitura recomendada:
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Esta crise vai devorar-nos?

Promessas vazias. É tudo a que temos tido direito nos últimos tempos.

Ao ver aquele bando de tolos engravatados a passear-se diante das câmaras de televisão apenas consigo pensar: existe ainda um governo que possamos culpar?

créditos: Matthew


Porque tudo o que vejo é um grupo de homens obesos e suados a tentarem proteger os seus interesses enquanto o país colapsa à sua volta.

É triste. E é nesta época de crise que as pessoas decidiram começar a atacar-se umas às outras. Porque os jovens de hoje são preguiçosos, porque os empresários sacrificam o futuro dos jovens para manterem o seu nível de rendimentos, porque o governo é tirano e corrupto, porque… enfim, não me apetece continuar.

Até porque anos de críticas e insultos mostraram ter um efeito tremendamente positivo no rumo do nosso Portugal. Espera aí, parece que não.

Torna-se quase irresistível criticar e culpar os outros. Mas a realidade é esta. Nunca os jovens estudaram tanto, nunca estivemos tão bem preparados.

E por isso hoje temos que lidar com a imensidão de licenciados, mestre e até doutorados que têm que submeter-se a um trabalho ranhoso onde conseguem ganhar apenas 3euros por hora.

A realidade


Tudo para conseguir um pedacinho da independência financeira. Uma independência que tiveram que adiar para concluir o curso com boas médias e para gozar um pouco da despreocupação da vida académica.

Mas acabando esse período a vida atinge-nos com força. Demasiado qualificado, não tens experiência, até gostamos de ti mas não estamos a contratar pessoas. São as desculpas mais vulgares para o desemprego dos altamente qualificados.

E quem o diz são os empresários e profissionais já bem estabelecidos. Mas parece-me que esses quadros de topo se esqueceram que, quando começaram, tiveram alguém que acreditasse neles. Porque nessa altura uma pessoa podia começar a sua carreira pelo fundo e subir de escalão pelos seus próprios esforços.

Mérito. Foi como se construíram as empresas que agora nos dominam. Mas o mérito deixou de ser suficiente. Porque o trabalho se tornou escasso. E porque, frente a uma massa de jovens tão bem qualificados o mundo se tem portado como um menino mimado: guardando o dinheiro e privilégios todos só para si.

E o governo nada tem feito a não ser preocupar-se com a sua salvação.

Faz-me lembrar aquela cena do "Titanic" em que todos começam a correr para os botes de salvamento na iminência de um naufrágio.

Mas enquanto no Titanic se deu prioridade às mulheres e crianças, em Portugal, são os nossos modestos governantes os primeiros a embarcar. E enquanto se enfiam nos botes, sorrateiramente, continuam a passar o discurso do “está tudo bem” para desviar a nossa atenção da iminente colisão com o enorme iceberg da crise económica.

Portanto, ponto da situação:



  • Temos uma montanha de jovens qualificados a submeterem-se a empregos ranhosos em troca da independência financeira,

  • Temos jovens que nem um trabalho ranhoso conseguem arranjar e têm que enfrentar uma situação de desemprego imatura,

  • Temos empresários bem estabelecidos a portarem-se como meninos mimados,

  • E temos, finalmente, um governo feliz, a embarcar nos botes de salvamento enquanto o país se destrói a si próprio em insultos e críticas.

“Vou mas é voltar para a ilha!”, tenho a certeza que diria o nosso querido náufrago da série "Maré-Alta".

Diria que neste momento de crise, ficar é para os fortes. Porque a situação não vai melhorar nos próximos tempos.

Mas enquanto andei por aí a pedinchar por estágios, tive a oportunidade de reflectir sobre tudo isto.

E, por aquilo que vi e ouvi ainda existe um caminho. É estreito, é sinuoso, é doloroso. Mas se trabalharmos todos juntos somos bem capazes de conseguir.

O que falta é criar emprego. E não o podemos esperar das grandes empresas. Com os seus quadros paralisados e os seus executivos afundados naquelas belas cadeiras de escritório que reduzem as dores de costas.

Tampouco podemos esperar que o governo crie emprego. Basta ver a situação dos funcionários públicos e dos professores que eles querem, amavelmente, pôr no olho da rua. Tampouco devemos ter esperança na nobre profissão de cientista e investigador. Porque nesta área temos as mãos e os pés atados, e, por causa da crise avizinham-se cortes que irão deixar muitos profissionais sem trabalho.

Uma solução


Ainda podemos desviar-nos do iceberg. Mas para isso temos que reclamar o nosso poder de volta. Temos que criar o nosso próprio emprego, temos que ser empreendedores.

E isso será difícil, num país onde quase ninguém sabe o que significa uma incubadora de empresas. Um país que tem uma das mais baixas taxas de empreendedorismo da Europa.

Mas a resposta para esta crise é essa. Inovar, arriscar, criar empresas. Sim, mesmo jovens licenciados que têm ainda pouca experiência de trabalho. Porque vamos ser realistas, não podemos esperar que a actual geração de trabalhadores nos estenda a mão. Temos que ser nós a reivindicar o nosso valor, a enaltecer as nossas capacidades.

É preciso ter paciência, estudar o mercado, aprender os ofícios. Mas não esperes subir na vida à conta de outrem. Não esperes uma oportunidade dourada e um cheque chorudo. Porque no Portugal de hoje temos que ser nós a fabricar as nossas próprias oportunidades.

Vou deixar-te pensar nesta ideia ao som da nova música dos Deolinda que ameaça já converter-se no hino da crise e da geração “à rasca”.
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A armadilha do crescimento pessoal

A literatura na área do desenvolvimento pessoal (ou auto-ajuda, como queiram chamar-lhe) está pelas ruas da amargura. Manchada pelas tentativas baratas dalgumas pessoas em lançar receitas milagrosas que vão mudar a nossa vida para sempre.

Acontece o mesmo com as notícias que constantemente lemos sobre o cancro.

Sempre que existe um pequeno avanço na investigação somos bombardeados por títulos a proclamar mais uma vitória nessa luta. Estamos cada vez mais perto, mas, para quando devemos esperar uma vitória total? Bem, isso podemos apenas ler nas entrelinhas... talvez, com sorte, para daqui a 50 anos.

Se estivermos constantemente a anunciar que curamos o cancro estamos a provocar a descrença generalizada na ciência.

E o mesmo se passa com o desenvolvimento pessoal. Se nos depararmos com uma montanha de livros a anunciar a receita mágica que nos livrará de todos os males, das duas uma: ou estão todos a mentir, ou apenas um está certo.
créditos da imagem: Michael LoRusso

Com a crise e a incerteza em relação ao futuro das nossas nações prosperam os “profissionais” das fórmulas mágicas, das histórias de sucesso mal contadas, das receitas infalíveis e do dinheiro instantâneo.

Mas antes de culparmos esses modestos charlatães não devíamos, em primeiro perguntar-nos, se…

Não será a nossa ânsia por ver nascer


dias melhores que nos impede de ver a verdade?


Não confio nos gurus de auto-ajuda, mas tampouco confio naqueles que prontamente os criticam. Todos temos liberdade de expressão. Mas temos também a liberdade de pensar por nós próprios e de questionar as palavras e as acções dos outros.

Por outras palavras, eu tenho o direito de me expressar, mas o que irás fazer com as minhas palavras é da TUA responsabilidade.

E essa é uma liberdade que muitas vezes deixamos na cama pela manhã e que sacrificamos pelo prazer, dinheiro, fama e amor imediatos.

Mas tão louco é aquele que engana como aquele que se deixa enganar. E é incrível a quantidade de vezes que nos esquecemos disso.

Porque terá ganho tão má imagem a auto-ajuda?


Acredito que a auto-ajuda acabou por provocar a sua própria queda. E embora ainda sejam muitos os que correm atrás das fórmulas mágicas, penso que são cada vez mais aqueles que se afastam com repugnância dessa secção em qualquer livraria.

Mas as principais causas por detrás de tão desdenhosas críticas são, sem dúvida:

  1. Tendência dos autores da esfera da auto-ajuda a verem o mundo apenas através da sua própria experiência. E, por isso, se tornarem incapazes de assimilar e valorizar as experiências de outras pessoas.

  2. A grande maioria dos autores rejeita qualquer forma de pensamento que seja diferente da sua e, portanto, partem do princípio que apenas eles estão correctos e que, o resto do mundo, está errado.

Esta cultura de auto-ajuda barata apoia-se na própria desvalorização dos conhecimentos dos outros sobre a vida. Podemos dizer que é quase uma forma de discriminação.

Quando percebi isso, a necessidade de me alimentar nas centenas de livros de desenvolvimento pessoal evaporou-se. Mas actualmente, da cinza que deixou a auto-ajuda fácil tem renascido uma nova filosofia.

Uma filosofia que terá que lidar com os preconceitos provocados pela sua antecessora.

Enquanto as actuais gerações lutam com os fantasmas que as antigas deixaram penso que o maior desafio será escapar à própria armadilha do desenvolvimento pessoal.

Esta armadilha não é nada evidente nem lógica. Aliás, penso que a maior parte das pessoas não a consideram uma armadilha de todo. Mas ela está lá, e não podemos reconquistar o respeito pela literatura que tenta ser uma mais-valia para a vida das pessoas se não lidarmos primeiro com a sua ameaça.

Afinal, que armadilha é essa?


Entre destruir antigas crenças limitadoras e desenvolver um novo estilo de vida ou uma nova forma de pensar. É onde reside a armadilha do desenvolvimento pessoal.

No fundo, trata-se do nosso hábito de adiar a felicidade até nos tornarmos pessoas melhores.

Pensa nisso. Sempre que queremos, por exemplo, aprender a controlar e a gerir o nosso tempo partimos do princípio de que algo está profundamente errado na nossa vida. E que, se não formos capazes de o corrigir nunca poderemos ser felizes.

Essa armadilha manifesta-se quando dizemos a nós próprios que vamos ser felizes quando:
formos promovidos, quando perdermos 20 kg, quando deixarmos de fumar, quando perdermos a timidez…

E quando dermos por nós estaremos a deitar tudo para trás das costas. Porque essa felicidade se torna algo impossível de alcançar.

Passamos tempos a lutar por desejos que muitas vezes não compreendemos. Começamos grandes mudanças nas nossas vidas, muitas vezes, porque todos os outros estão a fazer o mesmo. Sonhamos com o sucesso, com a fama e com o dinheiro, mas, muitas vezes, não sabemos sequer o que faríamos com eles.

Nós nunca teremos o suficiente para acalmar o nosso ego. Nunca teremos o suficiente para sermos plenamente felizes. Nunca teremos o suficiente para nos arriscarmos a sonhar mais alto.

Percebes o que quero dizer?


Estamos tão concentrados em mudar aspectos exteriores que acabamos por rejeitar o nosso valor intrínseco.

Por isso, os novos autores que escrevem sobre esta área têm que aprender a abraçar o ambíguo, a serem tanto, professores como alunos. Para superar a armadilha do desenvolvimento pessoal rápido temos que reaprender a valorizar a nossa experiência enquanto seres humanos. Só assim poderemos evoluir.

Porque a vida não é uma linha recta, é apenas uma linha com muitas curvas e contra-curvas. E, por vezes, a experiência dos outros pode-nos levar a caminhos melhores.



Pensa nessa ideia. E não te esqueças de deixar a tua opinião nos comentários.
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