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O futuro...

Pouco falta para o final de mais um ano e, como sempre tento avaliar os meus progressos enquanto me permito um breve descanso. Tenho pena de admitir que nunca sou bem sucedida nessa avaliação e acabo sempre por preferir contemplar o meu futuro do que perder-me em sonhos do passado que não posso reaver.

Embora a passagem de ano não tenha qualquer significado especial para mim acabo por ficar contagiada pela esperança que sempre se sente nesta época. Uma esperança de uma vida melhor que, para muitos acaba com a ressaca no raiar de um novo dia, quando nos levantamos e sentimos que tudo permanece igual... Contudo acredito que somos nós mesmos quem mais resiste a essa mudança, porque tememos as coisas que mais desejamos, tememos que, ao obtê-las a nossa vida perca o seu propósito. Por isso, enquanto permanecemos fieis à convicção de que a nossa vida precisa de uma mudança, tememos largar as coisas que tão bem conhecemos...

Não há fórmulas mágicas nem truques que nos possam ajudar a conseguir aquilo que mais desejamos.Nem são os outros que nos irão levar pelos caminhos que devemos seguir. Tornamo-nos capazes de estar atentos a tanta coisa ao mesmo tempo: podemos escrever uma mensagem enquanto comemos, vemos televisão e participamos numa conversa... Podemos jogar computador, falar ao telemóvel e ouvir algo que alguém tem para nos dizer. Mas estamos apenas a mentir a nós próprios, dividimos a nossa atenção e por isso não conseguimos reter nada. Vivemos absorvidos num mundo onde não temos sequer tempo para respirar, como poderíamos notar sequer o rumo que as coisas agora tomam? Não reparamos por acaso que, enquanto perdemos tempo em previsões fatalistas o mundo avança, quer queiramos quer não?

Estamos numa época de grande mudança e tudo o que parece importar é o próximo escândalo e a próxima má medida a criticar... mas, como aprendi, é o povo quem concede o poder a uma pequena parte para que esta o possa guiar, esse é um poder emprestado, é algo passageiro, e embora desperte paixões e leve pessoas a cometer actos de loucura, essas não devem ser culpadas. Ou já nos esquecemos quem os colocou lá em primeiro lugar?


Consigo sempre serenar quando ouço esta música, por isso não podia deixar de a partilhar: Toranja - Laços.
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A ciência na sociedade

Sinto-me um pouco limitada quando escrevo neste blog sempre que penso nas expectativas dos meus supostos leitores. E quanto a isso só há duas coisas a fazer: ignorar essas expectativas e escrever aquilo que me apetece ou tentar levar este blog mais a sério e especializar-me na divulgação da ciência (área para a qual me tento formar).
Mas mudar algo implica sempre perdas: perder leitores, perder um objectivo, perder ânimo para me lançar em terrenos desconhecidos. E apesar de todas as perdas implicarem ganhos, esses só serão visíveis muito mais à frente no nosso caminho. Contudo, qualquer que seja a minha decisão sei que sempre serei uma criatura de humores, portanto, enquanto me achar livre na concepção e desenho desta página sei que as minhas palavras e os meus temas serão como sempre foram: imprevisíveis...

Cheguei à pouco mais de um dia a Portugal, e depois de um período em que estranhei tanto o meu país, as suas gentes e mesmo a minha casa, consegui finalmente acalmar e resgatar um pouco do conforto e da segurança que sempre aqui senti. Por isso, não posso negar que, neste momento, não cabe na minha cabeça a ideia de voltar definitivamente a Portugal, aliás, reparei que nos últimos tempos, pensar que um dia teria que deixar Madrid é algo que me deixa bastante desconfortável... Mesmo assim, sinto-me bastante optimista com esse desconforto. Porque isso para mim significa que nunca deixarei de lutar pelos meus sonhos e por uma vida melhor, por muito ridículos e dificeis que me pareçam as minhas aspirações.

Apesar de Jornalismo, como tantas outras, ser uma profissão em declínio não deixo de notar que o tempo e papel dedicados à divulgação da ciência nos meios de comunicação são tão anedóticos que deviam envergonhar a nossa sociedade. E não é na divulgação dos avanços da ciência que nos devíamos envergonhar mais, é no facto de a sociedade permanecer analfabeta em assuntos de ciência: como funciona esta comunidade, quais os seus problemas, quais os seus objectivos.
Porque se alguma coisa aprendi é que a ciência de elites, que se dissolveu com a industrialização, continua bem viva nos imaginários do comum cidadão, nos raros momentos em que a sua mente vagueia por esse campo... Incluir a ciência na cultura é um sonho de muitos cientistas, contudo, não posso deixar de me sentir exasperada quando me encontro com a contradição dos seus comportamentos: incredulidade perante a "analfabetização" da população em assuntos de ciência e desespero quando vêem a sociedade intrometer-se nos seus frágeis sistemas de equilíbrio.
Uma ciência que se isola da sociedade é uma ciência que perde e que não pode crescer... O futuro é negro se escolhermos manter a ciência à margem da sociedade, se escolhermos deixá-la no pedestal onde se instalou ignorando o mundo cá em baixo.
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Três dias em Granada

A pouco menos de 3 horas de embarcar no autocarro que me vai levar a Portugal sinto-me a agonizar com o lento passar do tempo. Assim, decidi que estava na altura de combater a preguiça de escrever que recentemente se instalou em mim...
Esta última semana foram muitos os rascunhos que por aqui deixei, sempre sem vontade de os completar e publicar. Mas, uma vez que estou a estudar para ser jornalista não posso recuar perante uma oportunidade de escrever, principalmente se é para dizer aquilo que me apetece ou para melhorar a minha capacidade de contar histórias e notícias.
Com a exigência deste mestrado a revelar-se agora no seu pleno esplendor a minha primeira reacção foi recuar e dizer a mim mesma que não tinha jeito para isto. Pois é, o medo é tramado, assim que percebemos as verdadeiras implicações das coisas é sempre mais fácil dizer que não temos capacidades do que admitir que o conseguiremos com muito esforço.

Assim, ao contrário daquilo que se espera de um jornalista, eu sou capaz de começar cada artigo que escrevo contando as coisas mais irrelevantes e imprevisíveis. Sinto que preciso sempre de um "aquecimento" até estar preparada para contar a verdadeira história. Infelizmente, não é isso que se espera quando abrimos um jornal ou uma revista (embora agora sejam cada vez menos aqueles que o façam), pelo contrário, esperamos brevidade e esperamos novidades e factos relevantes.
Mas depois de dois intensivos meses de iniciação numa arte que eu desconhecia por completo, não posso deixar de sentir que me sabe bem escrever sobre assunto algum!

Contudo, não podia passar por aqui sem deixar um pedaçinho das aventuras que vivi em Granada...

Apesar de ser incapaz de dormir no autocarro consegui desfrutar da viagem a ouvir músicas antigas e a pensar na minha vida, sem me torturar com preocupações. O primeiro dia (sexta-feira dia 11) passou muito rápido, perdemos tempo à procura do hotel onde ficaríamos alojadas, andamos um pouco pela cidade, comemos do mais típico e barato... e mesmo nesse curto espaço de tempo ficamos maravilhadas com as paisagens de Granada.
No sábado acordamos cedo rumo a Alhambra, uma antiga cidade árabe que agora só existe para nos recordar de tempos passados e cujo encanto dos castelos nos faz sonhar com vidas tão diferentes das nossas.
Pela noite, quase vencidas pelo cansaço fomos a uma conferência/ espectáculo de encerramento do ano internacional da Astronomia... apesar do evento em si não ter sido satisfatório, não pude deixar de ficar espantada com a música de Antonio Arias que tenta unir a arte à astronomia (aqui vai o link para os curiosos: http://www.myspace.com/antonioariasmultiverso).
O dia acabou, mais uma vez, com umas tapas e um copo na mão, umas caras cansadas de sorriso alegre e uns olhos brilhantes das maravilhas que tivemos a oportunidade de conhecer.

O domingo chegou demasiado rápido: comprar recordações, conhecer o bairro árabe da cidade (principalmente o miradouros, a parte do "chegar lá a cima" é que foi a mais difícil), fazer as malas e dormir...

Ainda ensonadas apanhamos o autocarro de volta a Madrid na segunda-feira de manhã... e a neve decidiu aparecer, depois de ter tardado tanto em anunciar-se. Cansadas e quase a não chegar a tempo das aulas demos o dia por terminado e tenho agora recordações que vou guardar sempre com carinho de uma cidade cuja beleza é capaz de me fazer sorrir.
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Esperar

De repente, o meu quarto parece demasiado pequeno para mim e para os meus sonhos. De repente, o dia chegou e foi-se embora sem que eu me lembrasse de sentir o seu calor na minha face. De repente, passando o tempo a recordar, perdi o tempo para viver, ou, pelo menos para trabalhar...
Se calhar devia ter agarrado num casaco e saído para explorar o mundo, devia ter-me atrevido mais um pouco num lugar que ainda me é desconhecido, devia ter-me rido dos meus medos e dado um salto para o vazio...

Mas, o cansaço é algo com o qual não contamos... Como pode uma pessoa cansar-se de viver? Tudo o que tenho conquistado é fruto da minha luta, da minha espera, dos meus saltos para o vazio... Mas há coisas que os meus passos e a minha voz não podem alcançar. Há lugares onde ainda não posso ir, há emoções que ainda não posso sentir...

Um dia em casa a tentar trabalhar... também é necessário, mas, neste fim de tarde, pensar nisso deixa-me um pouco triste. Com vontade de mais, de coisas que possam preencher o meu dia sem me esvaziar de forças. De coisas que me dêem alegria e ofusquem a tristeza...

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O passo das horas...

Hoje o dia passou a correr, e tudo o que eu consegui fazer foi atender uma chamada da Movistar e aceitar a promoção deles... portanto, depois de mais de uma hora agarrada ao telemóvel ganhei um telemóvel novo ao mudar para essa operadora.

De resto, as horas evaporaram e eu continuo agarrada aos trabalhos que tenho que entregar na próxima semana: o tempo que lhes dedico é demasiado tendo em conta os resultados (que são poucos e nada satisfatórios).

Já me desabituei a escrever muito, uma vez que passei os últimos dias a explorar o twitter, por isso, achei que estava na hora de postar, mesmo na ausência de novidades. A foto que aqui publico é de um edifício do governo na Plaza Cibeles, no centro histórico de Madrid. De todas as fotos que tirei a semana passada é desta que eu gosto mais, imagino que assim seja porque na altura estava tão cansada e com tanto frio que fui surpreendida pela beleza da paisagem.
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A pequenez de pensamentos

Ontem, em conversa com a Rocío (outra companheira de piso), fiquei espantada com a pequenez dos meus próprios pensamentos. A certa altura começamos a falar de livros, e comentei que me impressionava todo este fenómeno da saga "Crepúsculo", porque não consigo gostar, nem da história nem da forma como está escrita. Então ela respondeu-me algo que eu não estava à espera: "Pode ser que as pessoas que lêem esse livro nunca tenham lido um livro antes e por isso se sintam mais entusiasmadas"!
Senti que tinha razão, mas eu demoraria bastante a chegar a essa conclusão. Sempre pensei que um bom livro era como o Vinho do Porto: os anos melhoravam o seu sabor. Mas agora percebo que, tal como o vinho, o gosto pela leitura é algo que se cultiva e vai ficando mais refinado com o tempo. Por isso, considero-me uma pessoa com muita sorte, uma vez que soube o que era um livro pelas mãos dos meus pais e aprendi vê-lo como um pequeno tesouro, um bilhete para outros mundos.
Assim, estes "best-sellers" que movem multidões, têm a capacidade que os livros que eu adoro não possuem: a de cativar as pessoas para o mundo dos livros. Estes livros cujo sucesso não compreendo tornam-se numa porta para um novo e enigmático mundo de criação humana. Uma criação que vence tudo o que é físico e definível, uma criação tão profunda que as palavras se tornam meros veículos, porque aquilo que os autores pretendem transmitir transcende o papel e a própria vida.

Os livros são mais uma etapa na escala da comunicação, um instrumento fabuloso que nos ensinou muito ao longo dos seus muitos séculos de existência. Contudo, creio que a Internet o vai substituir (embora duvide que acabe com a sua existência), o que suponho que seja algo positivo até. A Internet tornou-se um instrumento maravilhoso que nos permite comunicar e interagir e níveis nunca antes experimentados, contudo tudo depende do usuário dessa tecnologia.
Como um professor meu muito bem me dizia: "Evoluímos muito a nível tecnológico, contudo, esquecemo-nos de evoluir social e culturalmente; a nossa mentalidade está tão atrasada que é como puséssemos um carro da fórmula 1 nas mãos de uma pessoa que não sabe sequer conduzir". E por isso não somos mais capazes de avançar... não foi a Internet que trouxe todos estes problemas, foram as pessoas que a usaram erradamente...

Mas como sempre, tudo isto não passam de reflexões minhas. Só espero que causem algum impacto e reacção no leitor que queira por aqui passar.

Uma das minhas músicas favoritas: Paulo Gonzo - Falamos depois...


Até breve
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