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Atreves-te a quebrar os teus limites?

Em vez dos meus habituais artigos decidi escrever um pequeno conto. Prometo que tem tudo a ver com o tema deste artigo. Se mesmo assim não quiseres ler o conto podes saltar directamente para secção abaixo que diz moral da história. Eu não me importo...


A muralha que dividia o mundo


O homem encarava a muralha com o rosto franzido.

Sabia que para lá da gigante parede de rocha se estendia um mundo desconhecido. O seu instinto dizia-lhe que, do outro lado da parede, os pastos seriam mais verdes, o céu mais azul e o Sol mais intenso. Tinha que atravessar.

Passava os dias sentado a contemplar o imenso obstáculo e a elaborar planos para desvendar as maravilhas que escondia aquele muro.

[caption id="attachment_727" align="aligncenter" width="518"] wanting time | créditos: Victor Piscue[/caption]

Não podia escalar a muralha. A sua superfície era lisa, não teria onde colocar os apoios que sustentassem o seu peso durante a subida.

A parede eleva-se para lá das nuvens. Não havia forma de saber quanto tempo ia demorar a escalada. E mesmo que sobrevivesse a essa aventura, não sabia o que o esperava do outro lado do muro, não sabia se seria capaz de descer.

Não podia contornar a muralha. Já tinha percorrido o trilho que acompanhava o obstáculo durante meses para se deparar sempre com o mesmo cenário.

Não podia passar por baixo da muralha. O solo era rocha dura, não havia maneira de o perfurar. Só lhe restava tentar perfurar a parede.

A pedra da muralha não era tão dura como a pedra que a sustentava. Ele tinha que tentar.

Primeiro avançou furioso contra a muralha, sem qualquer protecção. Apenas para falhar miseravelmente. O homem tinha pensado, ingenuamente, que a força da sua fúria superava a força da muralha.

O repetido embate com as rochas causou-lhe grandes mazelas, mas a parede continuava incólume. O homem demorou muitos dias a recuperar das feridas, e passaram-se muitas semanas até que voltasse a ter coragem para uma nova tentativa.

Quando se preparava para o novo embate com a rocha, agora protegido com uma rudimentar armadura de couro, o homem apercebeu-se de uma simples verdade:
Se posso construir uma armadura também sou capaz de construir uma ferramenta que suporte a dor do embate por mim!

Levado pelo emoção da descoberta construiu um martelo, com rocha e madeira. Testou, com cuidado, o seu novo instrumento contra a parede e sentiu-a vibrar. Sorriu! Era a primeira vez que via a muralha a reagir a uma investida sua.

Golpeou a parede durante dias, até as suas mãos sangrarem de tanto empunhar o cabo de madeira. Até o sangue parar de correr e ser substituído por grossos calos.

Semanas de trabalho e muitos martelos destruídos apenas tinham resultado numa pequena reentrância. Iria demorar uma eternidade a abrir um buraco que permitisse a sua passagem.

O homem sentiu-se desanimar. As suas dúvidas foram corrompendo a sua curiosidade e coragem. Valeria a pena lutar toda a sua vida por um mundo desconhecido? Ele não tinha como saber se a parede algum dia iria ceder. Não tinha como saber o que lhe esperava do outro lado da muralha.

A gigante parede estava lá por alguma razão, talvez não existisse nada, talvez o esperasse um mundo de dor e destruição. Não valia a pena continuar a debater-se com a rocha dura. O homem tinha ainda tantos sonhos por realizar.

Aos poucos foi largando o martelo. Decidiu que estava na altura de explorar o mundo do seu lado da muralha. Reuniu os seus poucos pertences e fez-se à estrada, sem olhar para trás. A muralha faria agora parte do seu passado, uma parte dolorosa à qual nunca desejaria regressar.

O homem viajou pelo mundo durante muitos anos. Conheceu pessoas maravilhosas. Aprendeu muitas habilidades. O que mais o fascinava eram os instrumentos construídos pelo engenho e imaginação humanas. Instrumentos gigantes que transformavam o génio dos artesãos em pura força.



[caption id="attachment_730" align="aligncenter" width="553"] Museu Nacional de Ciência Naturais (Madrid) | Imagem própria[/caption]

Ofereceu-se como aprendiz em muitas oficinas. E absorveu todo o conhecimento como uma esponja.

O sol amanhecia numa bela manhã outonal quando o homem voltou a lembrar-se da muralha que tinha deixado para trás. Ela tinha estado sempre lá, no fundo da sua mente, chamando-o suavemente, todos os dias. O homem sabia que nunca poderia seguir com a sua vida se não arriscasse uma nova travessia.

Muitos criticaram a sua decisão. Ele tinha chegado àquela terra como um farrapo de homem. E depois de muito trabalho tinha conquistado respeito, honra e uma vida confortável. Não fazia sentido abandonar tudo isso para seguir o sonho idiota de perfurar a parede que dividia o mundo.

As pessoas que o conheciam vinham todos os dias oferecer os seus conselhos, tentando dissuadi-lo da sua decisão. Falavam com ele como se costuma falar com as crianças. E ao ver que as suas palavras não tinham qualquer efeito, um a um, os habitantes da vila que o tinha acolhido, partiam.

Quando o homem, por fim, encontrou o paz e silêncio, começou a trabalhar num plano para destruir a muralha.

Demorou poucos dias, impulsionado pelo seu rico conhecimento sobre a construção de máquinas e pela vontade antiga de se debater de novo com a grande barreira.

Com o plano concluído, o material reunido e as malas feitas, o homem despediu-se das pessoas que o tinham recebido. Muitos tinham a certeza de que o voltariam em poucos dias. Tinham a certeza que, depois de mais umas tentativas frustradas o homem voltaria para eles. E eles recebê-lo-iam de braços abertos.

O homem ignorou a reprovação silenciosa da sua decisão e retomou a estrada pela qual havia chegado à muitos anos. Encarou a aldeia que o tinha visto tornar-se o homem que era hoje. E lágrimas caíram dos seus olhos. Nunca esqueceria a bondade que aqui tinha encontrado, nem a beleza das construções emolduradas por aquele belo nascer do Sol.

Seguiu o seu caminho com o coração pesado. Mas quando finalmente viu a muralha surgir ao longe, o homem soube que tinha tomado a melhor decisão.

As suas mãos acariciaram a reentrância que tinha deixado na parede. E um sorriso saudoso surgiu no seu rosto.

Organizou as suas ferramentas e material e iniciou a construção da máquina que iria debater-se com a muralha.

Trabalhou dia e noite. Parando poucas vezes para comer e dormir. O entusiasmo era o seu alimento, e não precisava de descanso, sentia que tinha dormido todos estes anos.

Quando a máquina ficou pronta o homem conseguiu respirar. Contemplou a sua invenção com ternura. Nunca antes tinha desafiado tanto o seu génio e imaginação como nesta construção. Sentia que o intrincado sistema de válvulas e articulações era uma parte da sua alma.

A máquina iniciou o seu movimento com um barulho que seria infernal aos ouvidos qualquer um. Mas, aos ouvidos do homem, a barulheira era uma música celestial. Naquele momento, mesmo antes da broca embater na parede de pedra o homem soube que não era importante aquilo que ia encontrar do outro lado.

Naquele momento o homem soube que, nos últimos anos, tinha estado a atravessar lentamente a muralha. Tinha fortalecido o seu corpo e as suas ideias. Tinha aprendido a construir máquinas tão fortes como a muralha que barrava agora o seu caminho.

O outro lado seria apenas o começo de algo novo, porque a muralha à muito que tinha deixado de ser um monstruoso obstáculo.

FIM




Moral da história


Espinoza disse que devemos combater uma emoção com consequências negativas com outra emoção da mesma intensidade. Significa que não podemos derrubar uma muralha com um martelo.

Mas podemos aprender a construir uma máquina (um sentimento) capaz de se debater com essa muralha. E é nessa construção de sentimentos fortes que encontramos a nossa coragem.

Nas últimas semanas decidi embarcar numa dieta. Para perder aqueles teimosos 7 kg que se recusam a desaparecer.

Para além dos inúmeros conselhos gratuitos que todos parecem ansiosos por me transmitir (do género: “não precisas de perder peso, estás muito bem assim”), tive que lidar com a minha própria fraca força de vontade para me manter afastada de doces e outros alimentos que adoram instalar-se no meu rabo.

Emagrecer não é uma mania de quem tem fraca auto-estima (lamento desiludir os imensos defensores dessa ideia).

Emagrecer é um objectivo de quem sabe que merece um corpo melhor e está disposto a lutar por isso. Mas essa não é a mensagem dominante que passamos sobre as dietas.

As minhas razões para emagrecer estavam muito claras na minha cabeça. Contudo, foram os raros os dias em que eu não dei um pontapé na dieta. Em vez de me manter fiel ao plano decidi que gostava demasiado de comer e que o meu corpo estava perfeito da forma que estava.

Claro que ficava horrorizada sempre que subia à balança ou me contemplava ao espelho. Mas afogava esses momentos de angustia no prazer dos intoxicantes momentos doces.

Conclusão, não fui capaz de emagrecer e ainda acrescentei um doloroso meio kilo ao meu peso. Foi aí que percebi que tinha que mudar a forma como me debatia com a minha muralha. Decidi construir um sentimento mais forte para combater a minha falta de vontade.

Percebi que os doces eram fonte de prazer momentâneo. Um prazer e satisfação que duravam escassos minutos enquanto o sabor se dissolvia na minha boca.

Estava a associar a comida à satisfação pessoal e a fingir que as bombas calóricas que teimava em ingerir não iam ter qualquer efeito no meu plano alimentar (e no meu peso, claro está!).

Percebi que estava a trocar uma satisfação pessoal duradoura (alcançar o meu peso ideal) pelo prazer instantâneo e efémero. Percebi que, evitar comer alimentos que engordam pode ser doloroso a curto prazo. Mas, se for capaz desse esforço, a minha paciência será compensada com um corpo muito mais satisfatório.


Uma simples verdade


Não podemos lutar por grandes objectivos com uma força de vontade frágil. Não podemos afastar um leão com um galho de uma árvore. Nem podemos ultrapassar os nossos limites com pensamentos fracos.

Para o fazer temos que nos munir de sentimentos intensos. Capazes de derrubar os pensamentos desencorajadores que, muitas vezes, invadem a nossa mente.

Quando temos grandes objectivos em mente, temos que desenvolver sentimentos intensos que ofusquem as dúvidas, que fariam qualquer homem são esconder-se a um canto com medo e vergonha.

Tentar quebrar os nossos limites pode ser motivo de angústia. Mas deves estar atento porque, se passas a vida a refugir-te em prazeres momentâneos significa que sentes um vazio na tua vida. E só na luta para quebrar esses limites poderás encontrar satisfação e realização duradouras.

Para combater um grande medo deves cultivar um sentimento oposto, igualmente intenso. Assim, quando entrares em terreno incerto não estarás numa competição desleal. Estarás munido de um sentimento poderoso e isso é essencial, quer na luta diária, quer na luta por sonhos e objectivos que nunca antes foram conquistados.

O que é te prende do lado escuro da muralha?
créditos da imagem: Victor Piscue
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4 sentimentos que podem fortalecer a tua escrita

Não acredito que exista alguém neste mundo capaz de te motivar a perseguir o sonho de te tornares escritor.

Alguém pode plantar a semente ou dar-te aquele empurrão. Mas não esperes por um mentor, não esperes por uma fada madrinha com uma arma que te obrigue a sentar numa cadeira e começar a escrever.

Aprender a escrever é um caminho muito pessoal, recheado de grandes dúvidas e de pequenas conquistas. Recheado de páginas horríveis que não darias a ler nem à tua própria mãe e de grandes textos que vão permanecer na sombra, incógnitos.

[caption id="attachment_710" align="aligncenter" width="518"] I've never felt so lost | Meg Wills[/caption]

O evoluir das capacidades de um escritor é sempre um caminho caótico. Semelhante a um passeio por um campo de batalha: estarás rodeado de morte, desilusão e destruição, mas, ocasionalmente, se tiveres estômago para isso, podes encontrar grandes tesouros.

A escrita não é um processo racional. É um processo emocional e criativo que é, muitas vezes, inibido pela nossa própria lógica e racionalidade. Um bom texto não deve ser aquele que siga todas as regras, convencionais ou imaginárias; um bom texto define-se pelo sentimento que o autor conseguiu imprimir nele.

A capacidade de escrever bons textos (aos olhos dos outros) é algo que vem com o tempo. Primeiro é preciso pisar muitas minas terrestres e embrenharmo-nos na assustadora floresta que é a nossa alma.

Deves contar as histórias que desejas ardentemente contar mas manténs na sombra por medo e vergonha. Senão corres o risco de estagnar.

Foi o que aconteceu comigo: comecei a contar aquilo que eu pensava ser importante para os outros. Por isso, em pouco tempo, deixei de ter a motivação para escrever. Parei de evoluir, parei de pisar minas e mantive-me no trilho mais seguro.

Por vezes, para crescermos enquanto escritores, é preciso escrever aquilo que nos vai na alma e ignorar tudo o resto.

Para o fazer podes começar por explorar os teus sentimentos:

1) Insatisfação


A insatisfação pode ser uma grande fonte de motivação. Todos passamos por situações nas quais nos sentimos impotentes. Em que sofremos e desejamos ardentemente mudar a nossa realidade, ou a realidade das pessoas que nos rodeiam.

As grandes mudanças são desencadeadas por grandes gritos e pelo inconformismo com o rumo das coisas. Todos experimentamos esse sentimento em alguma área das nossas vidas. Agarra-o. Explora-o. E podes estar a abrir as comportas de um dom maravilhoso.

Todos queremos contribuir para tornar este mundo um lugar melhor. Não precisas de ser um génio da escrita para o fazer. Basta escreveres com a raiva a pulsar na ponta dos teus dedos e quando deres por ti as palavras fluirão, sem que tenhas que esforçar-te por isso.

2) Tédio


Comecei a escrever porque estava aborrecida com a minha vida. Parecia-me injusto viver uma só realidade enquanto na minha cabeça pulsavam 1000 universos diferentes à espera de serem explorados.

O tédio é um sentimento poderoso. Porque se nos mantivermos desocupados a nossa criatividade irá rebentar como um tsunami, exigindo toda a nossa atenção. O nosso cérebro não gosta de estar parado, por isso, quando paramos de o alimentar com coisas desnecessárias (como a televisão) estamos a dar espaço para que a nossa mente se dedique a uma actividade muito mais produtiva: criar!

3) Tristeza


Aprendemos a encarar a tristeza e a dor como algo negativo. Brechas na nossa personalidade que devemos esconder para que os outros não nos achem vulneráveis. Mas ao escondê-las estamos também a matar a possibilidade de tornar os nossos textos mais autênticos.

A tristeza faz parte da vida de todos nós. A tristeza dos outros é algo que percebo e respeito. Porque sei que essa tristeza é algo que faz parte da condição humana e é algo que nos torna, quase sempre, mais fortes.

A tristeza pode ser o ponto de partida para a mudança. Não são raras as histórias de pessoas que bateram no fundo e decidiram que a única opção que lhes restava era subir.

Quando falo em bater no fundo não falo apenas de situações de pobreza, de abandono e de rejeição. Penso que a intensidade das perdas depende de cada um de nós. Não desvalorizes a tua tristeza, por muito que o teu vizinho aparente sofrer mais do que tu. Usa-a para escrever textos com significado, nem que seja só para ti.

4) Medo


Vivi tanto tempo paralisada pelo medo que, por vezes, tenho vergonha de o admitir.

Mas depois de anos a tentar lidar com o medo que sentia ao expor-me aos outros aprendi a interpretar o meu medo de uma forma bem diferente.

Aprendi a ver o medo como um sentimento bom. Quando estou apavorada sei que estou no bom caminho. Pega em temas e histórias que te deixem apavorado. Aceita desafios para os quais não te sintas completamente preparado.

Porque o medo esconde oportunidades. E escrever sobre temas que receias pode ser o ponto de partida para grandes textos.



A fluidez da escrita é algo que depende da fluidez dos sentimentos de quem escreve. Um texto racional é um texto educativo, por isso não podes esperar que esse texto seja capaz de inspirar os teus leitores.

Escrever pode ser uma experiência dolorosa, no sentido que nos obriga a olhar para as partes de nós que preferimos ignorar. Talvez por isso tantos escritores tenham sido pessoas desequilibradas.

No entanto, para cada desequilíbrio causado pela exploração na escrita penso que todos podemos esperar ficar um pouco mais fortes, enquanto pessoas e enquanto escritores.

Não esperes pela ideia perfeita e pelo momento ideal. Porque o momento ideal é agora e a ideia perfeita é o que te apetecer escrever neste preciso momento.

Boa escrita e até breve!
Créditos da imagem: Meg Wills
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A importância de amar o nosso trabalho

Crescemos com a crença enraizada de que o trabalho é uma obrigação dolorosa que devemos cumprir, por nós e pela nossa família. Para mantermos os nossos pratos cheios, o nosso tanque com gasolina, as nossas roupa em bom estado e os nossos vícios satisfeitos...
Angry Skies | créditos: 2thin2swim

E normalmente ficamos por aqui. O trabalho não passa disso: de um meio para atingir um fim.

Por isso, não é raro que nos limitemos a seguir ordens, a andar nos carris. Porque inovar é algo que não nos interessa. É algo que implica riscos. E aceitar riscos implica segurança, não uma segurança de tipo material, mas uma segurança emocional e psicológica. Uma atitude que nos permita manter o norte quando todas as possibilidades jogam contra nós.

Mas, muitos de nós crescemos com a segurança de pertencer a um grupo. Jogávamos, quase sempre, em equipa, dirigindo-nos para um lugar conhecido e apoiados por aqueles que estavam mais próximos de nós.

Quando nos tornamos responsáveis o suficiente para decidir o rumo das nossas vidas, deparamo-nos com uma nova situação. Apercebemo-nos que existem jogos que teremos que jogar sozinhos, jogos em que teremos que nos debater com gigantes de 2 metros para chegar ao lugar que desejamos alcançar.

Para muitos esta situação pode ser aterradora. Eu sei que o foi para mim.

Durante muito tempo recusei-me a entrar em campo, com medo de ser vexada e humilhada por uma plateia intolerante. E quando mais me afastava do campo, mais esse medo criava raízes em mim.

Aqueles gigantes foram crescendo mais e mais na minha cabeça. E os meus desejos começaram a parecer insignificantes e impossíveis, porque os gigantes, e o jogo que com eles tinha que jogar, ocupavam toda a minha visão.

Acomodei-me. Mas não nos acomodamos todos em alguma fase das nossas vidas?

Penso que a educação e a formação incentivam esse tipo de comportamento. Como diz o brilhante Sir Ken Robinson: “A escola mata a criatividade!” (recomendo a conferência para quem ainda não viu).

Mas eu atrevo-me a ir mais longe: as escolas e o mundo profissional matam a criatividade, reprimem a personalidade de um indivíduo e espezinham capacidade de tomar iniciativa.

Porque, por muito boa que seja a adversidade para o nosso crescimento pessoal e profissional, tem que haver sempre alguém que plante a semente da criatividade e da iniciativa. Se não recebermos nutriente e oxigénio é normal que o nosso potencial fique estagnado, esmagado pelas limitações externas.

Amarra uma pedra a uma árvore e ela nunca crescerá, mas se a regares todos os dias e a deixares recolher a luz do sol verás as alturas que será capaz de alcançar.

A escola amarra rochas em todos nós. Pesos-mortos de obrigações que não compreendemos. E isso impede-nos de tomar iniciativa nos nossos trabalhos e nas nossas vidas.

E a iniciativa faz toda a diferença. Uma pessoa disposta a entrar no campo para se debater com gigantes, é uma pessoa disposta encontrar sentido e paixão naquilo que faz. É uma pessoa que, em vez de encarar o seu trabalho como uma obrigação, encara-o como uma missão vital e uma parte importante (e interessante) da sua vida.

Não é raro perdermo-nos no delírio da espera pelo emprego ideal. O emprego ideal é, para muitos de nós, a visão do oásis em que não precisamos de trabalhar, em que nos podemos sentar na praia a desfrutar duma cerveja fresca e de um belo pôr-do-sol...

Mas se passarmos assim as nossas vidas o mais provável é que cheguemos ao final com: uma barriga de cerveja, má pele, poucos amigos e um sentimento de vazio por não termos conquistado nada importante.

E quando digo importante não falo de uma conta bancária choruda, um BMW, uma casa nas Bahamas com uma praia privada. Quando falo em importante estou a referir-me aquelas conquistas que fazem uma grande diferença na vida das outras pessoas.

O nosso emprego não deve ser só sobre nós. Não nos devemos dedicar a pilhar e acumular riquezas porque isso é vida de pirata. O que nos torna felizes enquanto seres humanos é saber que fizemos a diferença na vida de outras pessoas. É saber que não precisamos de esfolar a nossa concorrência para chegar ao topo e que não precisamos de trabalhar de chinelos para nos sentirmos realizados.

O expoente máximo de um ser humano reside no contributo que este deixa ao resto da humanidade.

Por isso, encontra paixão e propósito no teu trabalho. Só assim a vida tem sentido.

Qual é a tua opinião?
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Cria o teu próprio emprego | "Ser Freelancer em Portugal"

Este fim-de-semana, enquanto o mundo tinha os olhos postos no Japão, os portugueses inundavam as ruas, qual tsunami, com os seus gritos de protesto e de reivindicação.

Pessoalmente, apoio esta manifestação da “geração à rasca”, embora não tenha participado nela directamente. E, mesmo assim, não pude deixar de ficar estupefacta pela multidão entusiasta que invadiu as ruas da cidade do Porto. Foi algo digno de se ver. E é também o sinal de que Portugal se encontra no limite, em rota de colisão com um obstáculo que já é inevitável.

Não se trata de ser pessimista. Trata-se de aceitar de que, a crise actual, é o resultado de milhares de más decisões que moldaram a história do nosso país muito antes da chegada de Sócrates ou mesmo de Salazar. Por isso, manifestações como esta são a prova de que chegamos ao ponto de ruptura. E é nestes pontos que devemos abraçar a mudança ou corremos o risco de perecer no colapso de um estado negligente e corrupto.

A revolta só não vence a guerra


Apesar de tudo, as manifestações são uma consequência de más decisões. Acções deste tipo podem unir as pessoas debaixo de um sentimento de revolta comum, mas dificilmente poderão desencadear verdadeiras e duradouras mudanças.

Porque as manifestações servem para exigir uma acção concreta por parte da minúscula fracção com poder que nos governa, mas raramente se prestam a incendiar os corações das pessoas com um sonho, com algo pelo qual possamos lutar com as nossas próprias mãos.

A revolta é uma chamada às armas, mas nunca poderá ganhar a luta. E isso é algo que temos preferido ignorar nos últimos tempos. Porque é mais fácil (e mais atractivo, especialmente para os media) culpar tudo e todos do que partir para uma acção concreta.

Um país sustentável deve assentar no valor dos indivíduos e não dos seus governos. Porque os governos são passageiros e algumas pessoas deixam legados inspiradores que podem ser eternos. Protestar não é o mesmo que fazer. E é o fazer que nos vai levar para fora desta crise, no entanto, parece-me que não nos prestamos tanto a isso quanto nos entregamos à doce loucura da contestação.

Na verdade, o valor de um país irá assentar na criatividade e determinação dos profissionais liberais e das micro empresas. Esses profissionais têm que transceder as adversidades e a instabilidade dos seus governos e criar a sua própria economia.

Claro que esta não é uma mensagem tão atractiva quanto a emoção causada pelos gritos de uma multidão. E é por isso que raramente a escutamos.

Hoje gostava de deixar uma sugestão a todos os meus leitores. Façam! Não deixem para os outros essa responsabilidade, porque podem não ficar satisfeitos com o resultado final.



Invistam em vocês, nos vossos sonhos e nas vossas capacidades. E é com este objectivo em mente e por sugestão da colega Ana Martelo, fundadora do blogue SerFreelancer.com, que decidi divulgar um evento inspirador a decorrer em Aveiro no próximo dia 2 de Abril.

A conferência “Ser Freelancer em Portugal” é uma iniciativa única que vai reunir diversos profissionais da área:

  • Miguel Alho – Programação Web

  • Paulo Faustino – Blogging

  • Ivo Renato – Formação

  • Carlos Rodrigues – Fotografia

  • Luciano Larrossa– Jornalismo

  • Ana Martelo – Produção de Conteúdo

  • Lígia Dias Costa – Tradução

  • Carlos Gavina – Design

  • Dora Ferro – Contabilidade

Pessoalmente, considero corajosa esta iniciativa da Ana Martelo. Já que ser freelancer, especialmente em tempos de crise, é algo que assusta muita gente.

Ser trabalhador independente é algo que acarreta bastantes mais riscos do que trabalhar por conta de outrem. No entanto, acredito que, se não estivermos dispostos a correr esses riscos não estaremos preparados para alcançar o sucesso. Porque viver a vida de forma cautelosa, esperando que os outros resolvam os nossos problemas, é uma vida que se torna insignificante.

Ser freelancer permite-nos viver para além dos padrões de uma empresa, chefe ou instituição. Permite-nos dar asas à nossa criatividade e de crescer para além do que seria possível se estivessemos limitados por regras que não são as nossas. Para todos os que procuram crescer a nível profissional recomendo esta conferência.

Porque, para além de reunir profissionais inspiradores que criam a sua própria realidade, este é um evento único a não perder sobre uma actividade que ainda vive na penumbra em Portugal.

Agarra esta oportunidade, as inscrições terminam dia 20 de Março. Podes inscrever-te na página web do evento!

Preparado para começar a mudar de vida?
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Como superar o cansaço e reencontrar a motivação

Sabes aqueles dias em que chegas a casa depois de um longo dia de trabalho e só tens forças para ligar a televisão? Aqueles dias que começam cheios de energia e boas intenções e acabam com uma sesta no sofá depois do jantar e uma agenda ainda mais preenchida que o dia anterior?


Napping | crédito: Not So Much



Ultimamente tenho tido muitos desses dias. E essa é uma rotina que tem degradado, lentamente, a minha motivação para escrever e para actualizar o blogue. Levanto-me de manhã, de cabeça fresca e mil ideias a bailar diante dos meus olhos... mas no final do dia toda essa energia é apenas uma lembrança que desaparece enquanto enterro a cabeça na almofada ao som dos programas do horário nobre.

Algumas pessoas dirão que não estava habituada à dura vida de trabalhador. Outras dirão que se acabou a boa vida e que a partir de agora os meus dias serão sempre estafantes e pouco produtivos. Outros dirão que na vida real não há lugar para cultivar as nossas paixões.

E por alguns dias eu concordei com essas pessoas. Deixei-me levar pela ideia fácil de que agora, com pouco tempo entre as mãos, ninguém me pode culpar por não prosseguir com os meus esforços. Ninguém me pode culpar por me dedicar apenas ao meu trabalho e abandonar projectos e paixões que fui alimentando nos últimos tempos. Ninguém me pode culpar por não querer trabalhar ao fim-de-semana. Ou de querer passar as horas que restam do meu dia colada à televisão...

Então porque continuo a sentir uma sensação de vazio depois de uma semana tão pouco produtiva?

Porque essas pessoas que me dizem para me dedicar ao trabalho e esquecer actividades paralelas estão erradas!

Vivemos para trabalhar. E penso que isso é uma questão cultural que atrasa muito o nosso desenvolvimento pessoal e profissional. Passamos a semana a trabalhar até cair e passamos o fim-de-semana a criticar os nossos chefes, horários e condições de trabalho. Não há lugar para renovação nem para a inovação.


Superar uma rotina esgotante


Tem sido difícil para mim encontrar a energia para escrever depois de um longo dia de trabalho. E acredito que falta de energia física tem a capacidade para aniquilar a nossa motivação.

Por outras palavras, penso que a determinação apenas não tem o poder de superar o nosso esgotamento físico (a não ser em ocasiões muito especiais, como quando tememos pela nossa própria vida). E a própria determinação é, muitas vezes, camuflada pelo cansaço. Isso leva-nos a pensar que não estamos motivados, quando na verdade apenas estamos cansados.

Tenho lido bastante sobre produtividade nos últimos tempos, e por isso organizei uma lista das dicas que tiveram um impacto mais profundo no meu pensamento e na minha vida.
Um aviso antes de começar: nem todos concordam com as dicas que vou partilhar, assim como eu não concordo com muitas das dicas que se partilham por aí. Por isso, recomendo que experimentes e construas a tua própria opinião.


a) Alongamentos pela manhã


Quando a rotina nos esgota começam a abundar os dias em que acordamos cansados. E essa é uma sensação terrível que nos põe logo de mau humor pela manhã. Esse mau humor matutino vai manipulando o nosso pensamento e leva-nos a ver sempre o lado mau das coisas. E isso é algo que destrói a nossa imaginação, criatividade e, consequentemente, a nossa motivação.

Portanto é muito importante começarmos o nosso dia de uma maneira que nos inspire a dar o melhor de nós. Para isso eu costumo fazer uma série de alongamentos pela manhã. Não é nada muito elaborado, até porque não devemos forçar muito o corpo pela manhã, uma vez que estamos a regressar do sono e podemos provocar lesões acidentalmente.

Alongarmos os nossos músculos é uma forma diferente de despertar. E em vez de irmos cabisbaixos e “bocejantes” no caminho para o trabalho começamos o dia com energia, e é essa energia que nos permite manter a motivação.

Existem muitos vídeos no youtube com rotinas de alongamentos matutinos. Partilho convosco aquela que mais gostei.

http://www.youtube.com/watch?v=u49iIT4EyGo


b) Comer bem


Comemos todo o género de porcarias nos dias que correm. Porque a “junk food” é rápida, acessível, supre as nossas necessidades básicas e deixa um gosto bom na nossa boca.

Ou seja, tudo aquilo que valorizamos quanto estamos cansados e temos pouco tempo. E, na verdade, é quando estamos mais vulneráveis que tendemos a comer pior e isso apenas agrava a nossa sensação de cansaço. É como quando nos magoamos, podemos tomar um comprimido para as dores, mas ele não resolve o problema, apenas nos torna insensíveis a ele.

Eu não sou um exemplo a seguir no que toca a hábitos de alimentação. Mas esse é um objectivo pelo qual tenho lutado. E posso dizer que as mais pequenas mudanças na alimentação têm resultados espantosos. E acredita que a maioria das pessoas pensa que come de forma saudável, mas na verdade apenas se estão a iludir.

Comer pouco, muitas vezes ao dia. Evitar alimentos com açúcar refinado, especialmente pela manhã. Comer muitas frutas e vegetais. Preferir as carnes brancas e o peixe. Evitar carnes vermelhas, especialmente ao jantar. Evitar o café e beber muita água.

Apesar de nem sempre obedecer a estas simples regras sinto-me muito melhor comigo mesma quando o faço. Acredito que a forma como comemos afecta como nos sentimos ao longo do dia e, no fundo, afecta o nosso entusiasmo e motivação.

Recomendo: Alimentação saudável, um guia prático


c) Praticar exercício físico de forma regular


Durante muito tempo ignorei este conselho. De certa forma pensava que uma vida activa era mais do que suficiente para me manter em forma. Mas, à pouco tempo percebi que o exercício não só é importante para nos mantermos em forma.

A prática de exercício físico treina o nosso organismo para suportar maiores níveis de esforço. Isso faz com que a nossa rotina esgotante aos poucos deixe de consumir tanto as nossas forças.

Habituar o nosso corpo ao exercício, para além de libertar as já famosas endorfinas (que provocam bem-estar físico e psicológico), desenvolve a nossa resistência e permite-nos manter um alto nível energético ao longo de todo o dia.

Para isso não é preciso entrar a matar.  A quantidade de exercício deve ser algo a aumentar gradualmente. Porque demasiado esforço quando não estamos habituados ao exercício provoca lesões e diminui a probabilidade de tentarmos fazer do exercício uma rotina futura.
Portanto, no início, o importante não é quanto tempo consegues correr ou andar de bicicleta. O importante é praticar uma actividade ou rotina, mesmo que seja durante 10 minutos por dia. O importante é que o esforço seja constante e progressivo. Porque uma sessão de exercício muito agressiva pode fazer mais mal do que bem.


d) Descansar de forma correcta


Se não descansarmos de forma correcta, ou seja, sem a presença constante da internet e da televisão, corremos o risco de esgotar a nossa imaginação e criatividade. De certeza que já te aconteceu ter boas ideias no chuveiro ou enquanto cozinhavas.

Isto é porque essas actividades não são esgotantes a nível mental. São actividades que permitem à tua mente repousar. O mesmo não acontece com a televisão e com a internet. Porque estes meios preenchem os nossos sentidos e não deixam espaço para que a nossa mente vagueie. Por outras palavras, estes meios absorvem completamente a nossa atenção e isso é esgotante.

Uma boa forma de descansar é meditar. Porque meditar torna-nos conscientes dos pensamentos angustiantes que vão povoando a nossa mente como ervas daninhas. E ser conscientes aumenta a nossa capacidade de concentração e imaginação.

Outra boa forma de descansar é dar passeios, pela praia, pelo parque, ou por qualquer outro cenário que aches inspirador. Os passeios são mais refrescantes para nossa mente e motivação que muitos textos e vídeos sobre o assunto.


e) Primeiro o mais importante


Na verdade este é um dos hábitos explorado por Steve Covey no seu livro "Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes". E um dos mais significativos para mim.

Sou daquelas pessoas que gosta de comer primeiro a parte mais saborosa do bolo. Um mau hábito que nunca me dei ao trabalho de mudar. E é por isso que começar com mais difícil acabou por ser o que provocou maiores e mais importantes mudanças na minha vida.

Normalmente agendamos o nosso dia para começar pelas tarefas mais insignificantes. Como ver o email e as notícias. Essas tarefas não exigem nenhuma energia criativa mas consomem tempo e atenção e isso acaba por ter repercussões negativas na nossa capacidade de concentração.

Por isso começar o nosso dia realizando as tarefas mais difíceis altera por completo a forma como nos comportamos durante o resto do dia. Porque, para além de estarmos mais frescos no início do dia, ao conquistarmos as coisas mais importantes primeiro ficamos mais motivados para as nossas outras tarefas que são, à partida, mais fáceis de realizar.


f) Manter a postura e fazer intervalos


Esta dica é importante para quem trabalha sentado durante boa parte do dia (o que não é o meu caso neste momento). Enquanto estava à procura de emprego dedicava mais tempo a este blogue e isso implicava passar horas sentada a ler e a escrever.

Nesse período da minha vida notei que a minha postura se ia deteriorando lentamente. Apesar de eu praticar exercício físico de forma regular. Depois de muita pesquisa percebi que 1hora de exercício diário tem pouco impacto na nossa forma física se passamos o dia inteiro sentados.

O significa duas coisas:



  • Primeiro, devemos apostar numa boa cadeira que nos permita manter as costas direitas e os cotovelos ao nível do teclado do computador.
    Nos últimos tempos tenho usado uma bola de pilates para me sentar a trabalhar ao PC. Ao início era desconfortável, mas aos poucos fui notando que estava a fortalecer as minhas costas, por isso, a longo prazo, esta prática é algo que diminuí as dores de costas e de pescoço (as zonas mais afectadas para quem trabalha durante muitas horas ao computador).

Recomendo: 10 reasons to use an Exercise Ball as your chair
Working on a exercise ball
créditos: Phil Windley



  • Segundo, de nada nos vale praticar exercício intensamente durante 1hora se ficamos parados durante todo o dia. Por isso, o ideal é aprendermos a parar pelo menos, de hora a hora, e fazer alongamentos. Quem quiser ir mais longe pode mesmo manter perto de si uns pesos leves (1-5kgs) para ir levantando nesses intervalos.
    Estas pausas são essenciais para manter a nossa energia, saúde e, em último caso, a nossa motivação.

Espero que estas simples dicas sejam tão úteis para ti como o foram para mim. E espero que tenhas desfrutado muito deste Carnaval.

Ficarei feliz por saber a tua opinião sobre este tema!
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