A importância de amar o nosso trabalho

Crescemos com a crença enraizada de que o trabalho é uma obrigação dolorosa que devemos cumprir, por nós e pela nossa família. Para mantermos os nossos pratos cheios, o nosso tanque com gasolina, as nossas roupa em bom estado e os nossos vícios satisfeitos...
Angry Skies | créditos: 2thin2swim

E normalmente ficamos por aqui. O trabalho não passa disso: de um meio para atingir um fim.

Por isso, não é raro que nos limitemos a seguir ordens, a andar nos carris. Porque inovar é algo que não nos interessa. É algo que implica riscos. E aceitar riscos implica segurança, não uma segurança de tipo material, mas uma segurança emocional e psicológica. Uma atitude que nos permita manter o norte quando todas as possibilidades jogam contra nós.

Mas, muitos de nós crescemos com a segurança de pertencer a um grupo. Jogávamos, quase sempre, em equipa, dirigindo-nos para um lugar conhecido e apoiados por aqueles que estavam mais próximos de nós.

Quando nos tornamos responsáveis o suficiente para decidir o rumo das nossas vidas, deparamo-nos com uma nova situação. Apercebemo-nos que existem jogos que teremos que jogar sozinhos, jogos em que teremos que nos debater com gigantes de 2 metros para chegar ao lugar que desejamos alcançar.

Para muitos esta situação pode ser aterradora. Eu sei que o foi para mim.

Durante muito tempo recusei-me a entrar em campo, com medo de ser vexada e humilhada por uma plateia intolerante. E quando mais me afastava do campo, mais esse medo criava raízes em mim.

Aqueles gigantes foram crescendo mais e mais na minha cabeça. E os meus desejos começaram a parecer insignificantes e impossíveis, porque os gigantes, e o jogo que com eles tinha que jogar, ocupavam toda a minha visão.

Acomodei-me. Mas não nos acomodamos todos em alguma fase das nossas vidas?

Penso que a educação e a formação incentivam esse tipo de comportamento. Como diz o brilhante Sir Ken Robinson: “A escola mata a criatividade!” (recomendo a conferência para quem ainda não viu).

Mas eu atrevo-me a ir mais longe: as escolas e o mundo profissional matam a criatividade, reprimem a personalidade de um indivíduo e espezinham capacidade de tomar iniciativa.

Porque, por muito boa que seja a adversidade para o nosso crescimento pessoal e profissional, tem que haver sempre alguém que plante a semente da criatividade e da iniciativa. Se não recebermos nutriente e oxigénio é normal que o nosso potencial fique estagnado, esmagado pelas limitações externas.

Amarra uma pedra a uma árvore e ela nunca crescerá, mas se a regares todos os dias e a deixares recolher a luz do sol verás as alturas que será capaz de alcançar.

A escola amarra rochas em todos nós. Pesos-mortos de obrigações que não compreendemos. E isso impede-nos de tomar iniciativa nos nossos trabalhos e nas nossas vidas.

E a iniciativa faz toda a diferença. Uma pessoa disposta a entrar no campo para se debater com gigantes, é uma pessoa disposta encontrar sentido e paixão naquilo que faz. É uma pessoa que, em vez de encarar o seu trabalho como uma obrigação, encara-o como uma missão vital e uma parte importante (e interessante) da sua vida.

Não é raro perdermo-nos no delírio da espera pelo emprego ideal. O emprego ideal é, para muitos de nós, a visão do oásis em que não precisamos de trabalhar, em que nos podemos sentar na praia a desfrutar duma cerveja fresca e de um belo pôr-do-sol...

Mas se passarmos assim as nossas vidas o mais provável é que cheguemos ao final com: uma barriga de cerveja, má pele, poucos amigos e um sentimento de vazio por não termos conquistado nada importante.

E quando digo importante não falo de uma conta bancária choruda, um BMW, uma casa nas Bahamas com uma praia privada. Quando falo em importante estou a referir-me aquelas conquistas que fazem uma grande diferença na vida das outras pessoas.

O nosso emprego não deve ser só sobre nós. Não nos devemos dedicar a pilhar e acumular riquezas porque isso é vida de pirata. O que nos torna felizes enquanto seres humanos é saber que fizemos a diferença na vida de outras pessoas. É saber que não precisamos de esfolar a nossa concorrência para chegar ao topo e que não precisamos de trabalhar de chinelos para nos sentirmos realizados.

O expoente máximo de um ser humano reside no contributo que este deixa ao resto da humanidade.

Por isso, encontra paixão e propósito no teu trabalho. Só assim a vida tem sentido.

Qual é a tua opinião?

2 comentários:

Sissym | 30 de março de 2011 às 22:17

Interessante que ouço pessoas que reclamam tanto de trabalhar, eu não sei viver sem. Eu acho que engrandece as pessoas, faz com que a mente trabalhe mais, não envelheça rapido. E sem trabalhar... como ter uma vida digna?! Eu sei que crises tem acontecido em todo o mundo, melhora um, piora o outro, mas não devemos nunca esmorecer.

Bjs

Ana Reis | 30 de março de 2011 às 22:37

Olá Sissym, bem-vinda ao blogue. E muito obrigada pelo comentário.
Sabes, eu também não imagino a minha vida sem trabalhar. É exactamente como escreves: "engrandece as pessoas". Dá-nos propósito, leva-nos a sair do sofá e a explorar novas situações. Põe a nossa inteligência a bom uso.
No fundo acho que nos torna pessoas mais felizes. Mas dizer que gostamos do nosso trabalho levanta muitas sobrancelhas. As pessoas normalmente encaram-nos como se estivéssemos malucos ou como se fôssemos idiotas que vêem o mundo em tons rosa. Há pouca paixão pelo trabalho nos dias de hoje. Penso que isso acontece pelas pressões sociais que muitas vezes nos levam a investir em profissões que não gostamos.
E a crises vão haver sempre. Não podemos usar isso como desculpa para não investir nas nossas paixões.
Fico feliz de conhecer mais uma pessoa que gosta do seu trabalho.
Um grande abraço

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