9 com

Como lidar com o fracasso

A vida prega-nos partidas. Num dia caminhamos alinhados com os nossos objectivos, carregando orgulhosamente os nossos compromisso. Noutro dia sofremos um choque frontal e colapsamos.

Aconteceu comigo. Acontece com muita gente. E tenho a certeza que aconteceu contigo também.
Crédito: Maggie Smith

Nesses momentos apenas temos vontade de mandar à fossa a psicologia positiva e desistir. Não é nenhuma vergonha, nem sequer é um sentimento raro. Contudo, na cultura em que vivemos, tendemos a ver esse colapso como um sinal de fraqueza. Podemos lê-lo nos olhos dos outros e podemos lê-lo nos nossos próprios olhos, quando nos forçamos a encarar o espelho.

O fracasso não é agradável


Não te vou mentir. Nem tentar embelezar a situação. Colapsar, fracassar ou errar (como queiras chamar-lhe) não é agradável, nem sequer é bonito de se ver. Não é o momento em que damos um pulo e exclamamos "eureka" com uma expressão da mais profunda felicidade. E seria desumano fingir que desfrutamos de todo o sofrimento.

Não te iludas. Todos colapsamos, independentemente de estarmos ou não a ser bem sucedidos nas nossas vidas.

Alguns colapsos e quedas são maiores que outros. Mas não é por teres conquistado muito na tua vida que vais deixar de te sentir injustiçado perante o fracasso e gritar aos céus: "Eu não mereço isto...".

Todos sentimos pena de nós próprios, em algum momento das nossas vidas, e cedemos à tentação de nos arrastarmos pela lama. E isso é normal.

A pena e a tristeza são uma parte importante das nossas vidas. E se é verdade que a tristeza tolda o nosso julgamento, também é verdade que reprimí-la não costuma trazer bons resultados a largo prazo.

O significado da tristeza


Não é necessário espantar a tristeza. Por vezes ao derramar uma lágrima vemo-nos rodeados de pessoas que quase nos gritam "não fiques assim" como se fosse um mantra para afastar os maus espíritos. Mas a tristeza não é venenosa, por isso não é preciso afastá-la sem perceber antes o seu significado.

Uma coisa que aprendi com a tristeza e com o desespero é que estes costumam amainar quando vamos ao cerne da questão.

Á poucos dias, enquanto me arrastava pela lama e vestia o manto do "coitadinha de mim" dei por mim a fazer a seguinte pergunta:

"Porque é que eu estou assim afinal?"

Essa interrogação fez um baque no meu cérebro. E dei por mim a admitir que estava a chorar por algo completamente diferente daquilo que eu pensava inicialmente. E quando percebi exactamente o que é me estava a fazer sentir miserável a tempestade amainou.

Limpei as minhas lágrimas, limpei a lama das botas, peguei nas armas e fui provar a mim mesma que era capaz de lidar com aquela situação.

E apesar de ainda sentir uma réstia de ansiedade a tristeza evaporou-se.

No que devemos focarmos quando fracassamos


O mais importante quando enfrentamos os nossos erros não é a profundidade da nossa tristeza, nem sequer é o tempo que demoramos a erguer a cabeça.

O imporante é reconhecer que temos três opções:

  • Podemos ceder aos nossos medos e desistir

O fracasso será como um espinho que irá manchar a nossa confiança em nós próprios.

  • Podemos ignorar a nossa dor e voltar a fazer tudo da mesma forma

Repetir as nossas acções costuma trazer consigo resultados muito semelhantes. E, eventualmente, a dor tornar-se-á avassaladora.

  • Podemos decidir aprender com os nossos erros e fazer as coisas de forma diferente

Fracassar é doloroso. Vamos recuar, agarrar-nos a um balde de gelado, enrolar.nos num cobertor, ficar a ver programas idiotas até altas horas, sentir pena de nós próprios e derramar mais algumas lágrimas depois de constatar que o nosso rabo ganhou mais celulite.

Mas não faz mal. Porque, quando tivermos inspirado profundamente e perguntado a nós próprios: "porque raio me sinto tão miserável!?". As coisas vão começar a fazer sentido.

Não é como caímos que é importante, é como nos levantamos. Não é como reagimos, é como agimos.

As reacção são acções do inconsciente moldadas por anos de aprendizagens que nem sempre são positivas e verdadeiras.

Mudar a forma como reagimos é difícil e demora tempo, muito tempo. Pode até demorar anos! Por isso, o importante é que te conheças, porque de cada vez que caires e começares a resmungar, uma luz vai acender-se e vais pensar: "ah! já me lembro deste sentimento, não vai demorar muito a passar...".

Com os anos acabarás por ganhar uma calma interior que virá com a experiência de superação de muitos obstáculos.

Até lá quero que saibas que por muito mal que te sintas ao cair, o importante é como decides levantar-te. Agarra nos teus erros e pergunta:

"O que posso eu fazer de diferente para ser bem-sucedido?"

Pensa nisso...
12 com

A estante abandonada e a gestão do tempo

Os livros são como pregos que se cravam na minha pele. De cada vez que me deparo com o estado de abandono da minha estante sinto que, ao afastar-me, carrego nas minhas costas todo o peso das páginas não-lidas.

Sempre fui uma leitora ávida. Mas o tempo passa e a vida muda. O tempo que tinha em abundância transformou-se num luxo escasso e arrastou consigo muitos dos meus sonhos. Deparei-me com o dilema de toda uma sociedade que vive absorvida pelo seu trabalho. O dilema da falta de tempo e da falta de capacidade para gerir o tempo que sobra.

[caption id="attachment_783" align="aligncenter" width="518"] The Passage of Time | Toni Carbó[/caption]

Quando o tempo é escasso e o trabalho arrasa com a nossa vitalidade, as actividades que valorizamos tendem a ocupar uma posição secundária. O trabalho passa a ser o protagonista nas nossas vidas e reclama todo o nosso tempo para si.

Quando finalmente chegamos a casa, qualquer réstia de motivação que conseguiu sobreviver à passagem do dia, acaba por ser absorvida pelo cansaço e pela facilidade que é deixarmo-nos levar pela televisão.

O tempo que foge


Contemplar a minha estante, recheada de livros que comprei quase por reflexo, é quase como um despertar para a realidade. Nesses momentos penso: para onde foi o meu tempo afinal? Devolvam-me o meu relógio antigo porque este anda depressa demais!

Foi então que percebi que estava a ser uma perfeita idiota! Cubrir-me de lamúrias nunca resolveu os meus problemas no passado.

É um facto que o tempo é escasso. Que todos os dias me lamento por estar a deixar os meus livros apanhar pó. Por estar a deixar as histórias que quero contar enterrarem-me por baixo das preocupações do quotidiano.

Mas isso não tem que determinar as minhas acções ou sentimentos. Como disse, estava a ser uma idiota.

O velho erro


Inocentemente, estava à espera que os livros arranjassem um "buraco" na minha agenda para serem lidos. E que o meu portátil me perseguisse na esperança que eu me sentisse inspirada para escrever. Estava a cair (outra vez) no velho erro de permitir que o meu tempo se gerisse a si próprio, sem qualquer intervenção inteligente da minha parte.

Bem que podia esperar uma eternidade. Duvido que os meus livros ganhassem, de repente, vontade própria e aparecessem nos momentos mais oportunos e nos cenários mais confortáveis.

Não posso depender dessas casualidades se quero realizar algo de memorável com a minha vida. Não posso esperar por folgas surpresa ou que o dia ganhe mais umas horas.

Depender, apenas, da sorte é a primeiro passo para o abandono das tarefas que mais prazer nos proporcionam.

A angústia pela falta de tempo


A angústia por abandonar actividades que são importantes para nós é um sintoma. Um sintoma de que estás insatisfeito. Podes ignorar essa insatisfação e ser consumido por ela. Eventualmente hás-de habituar-te e os pregos que se cravam na tua pele por adiares certas tarefas tornar-se-ão parte de ti, e acabarás por os esquecer.

É um mecanismo de adaptação e sobrevivência. Todos o possuímos e aplicamos quando a dor da perda se torna avassaladora para nós.

"Agora não é um bom momento", parece-nos, na maior parte das vezes uma desculpa perfeitamente racional. Mas é apenas uma forma de lidar com a nossa incapacidade para controlar o tempo que nos escapa.



Agora que já te assustei com tudo isto espero que me permitas dar-te um conselho. É um conselho que parte duma idiota com boas intenções.

Se te queixas da falta de tempo existem três perguntas que deves fazer a ti próprio:

  1. Como é que eu estou a gastar o meu tempo?

  2. Essas actividades que preenchem o meu escasso tempo são relevantes na conquista pelos meus objectivos?

  3. Como preferia passar o meu tempo?



Se for preciso faz estas perguntas todos os dias, várias vezes ao dia. É uma forma de relembrares que desejar que as coisas aconteçam não é suficiente.

Quando sentires a angústia a aflorar quero que saibas que podes sempre dar-lhe um pontapé no rabo e expulsá-la da tua vida. Porque o interessa é o que podes fazer a partir deste momento, não interessa o passado e o tempo desperdiçado. Interessa o agora.



Quanto ao meu problema de falta de tempo para a leitura achei que ias gostar de saber a solução que encontrei:

Fazer um calendário de leitura.

Saber que tenho um prazo a cumprir obriga-me a levar um livro para todo o lado. Obriga-me a estar constantemente à procura de uma oportunidade para criar um "buraco" na minha agenda.

Não interessa se é o momento ideal para dedicar à leitura. Se eu for esperar pelo ideal convém deixar de comprar livros porque aqueles que possuo poderiam entreter-me toda uma vida.

Por causa dessa atitude dei por mim a desfrutar da leitura como não o fazia desde que fui apanhada pela vida universitária.

Estabelecer prazos é tão importante como estabelecer metas. As metas é sítio para onde queres ir. Mas se dependeres apenas da sorte para chegar lá podes desperdiçar toda uma vida a correr atrás de objectivos pouco importantes.

Até breve
créditos da imagem: Toni Verdú Carbó
16 com

A inveja e o seu talento para a manipulação

Queria agradecer à Ana Karenina dos "Escritos Ideológicos". Foi o seu artigo "Porque leio o seu blog?" que me inspirou e me levou a reflectir sobre a inveja que reina na blogosfera...

Este é o meu gato...

Chamo-lhe Romeu.

[caption id="attachment_759" align="aligncenter" width="504"] O meu gato | Imagem própria[/caption]

Quase todos os dias me sento no sofá ao chegar do trabalho. Estico as minhas pernas. Tiro o calçado e o meu cérebro entra em stand-by enquanto faço zapping pela diversidade que tem para oferecer a minha televisão.

O meu gato entra na sala, muitas vezes sem que eu me aperceba disso. Detecta a minha presença e toma uma decisão: saltar para o meu colo. Não me costumo opor a isso, mas há dias em que o meu colo está reservado para um livro ou para o computador. E o meu gato raramente se conforma com um lugar na periferia.

Nesses dias em que o afasto gentilmente começa o seu jogo de manipulação. Coloca-se silencioso ao meu lado a olhar para mim. Faz aqueles olhos que derretem um coração e espera paciente que eu note a sua actuação. Normalmente rio-me e faço-lhe uma festa para voltar rapidamente à tarefa que deixei pendente.

Ora, por causa disso o meu gato começou a desenvolver estratégias mais arrojadas. Já percebeu que o olhar de pedinte fofo não funciona sempre. Agora adoptou a estratégia de predador paciente. Senta-se ao meu lado fingindo desinteresse. Lambe as suas patas lentamente e mantém uma postura distante.

Quando nota que eu já deixei de registar a sua presença passa ao ataque. Dá um passo na minha direcção. Tão devagar que eu raramente noto que ele já se está a aproximar. Dá outro passo, como um predador furtivo que se aproveita da distração da sua presa.

Quando coloca as suas patitas nas minhas pernas faz uma pausa prolongada, fazendo-me acreditar que se irá contentar com um lugar secundário.

Finge-se desinteressado outra vez, até que eu me sinta confortável com a sua presença. E depois faz uma nova investida...

Bem, não preciso de contar o resto da história para imaginares o final: o meu gato vence e eu arrumo as minhas tarefas para o lado enquanto o abraço e faço festinhas.

Agora que penso nisso o meu gato tem o nome ideal. Porque debaixo daquelas olhos azuis e daquele pêlo fofo esconde-se um mestre do encanto e da manipulação.


A inveja tem as mesmas habilidades que o meu gato


Um pouco de inveja é saudável para nos mantermos motivados...

Mas por muito pouca que seja, a inveja tem a capacidade de se expandir no nosso pensamento e acções. Se desviarmos o olhar a inveja vai aproveitar para se infiltrar um pouco mais. E quando dermos por ela a inveja ocupa tudo... manchando a nossa escrita e impedindo-nos de concentrar no que quer que seja.

Quando comecei este blogue, ler artigos melhores que os meus meus costumava causar-me uma pontada de inveja. Achava isso normalíssimo, e até, saúdavel. Mantinha-me motivada, dava um impulso na minha criatividade e obrigava-me a melhorar continuamente.

Eis que a parte de mim que acredita que sou incapaz de vencer (penso que todos temos um sabotador dentro de nós) se aliou a essa inveja saudável. Começou insinuar-se nos meus pensamentos.

Passei a ver o trabalho dos outros com desconfiança. Criticava prontamente todos aqueles que davam mostras do seu talento. Desprezava aqueles que recebiam as atenções enquanto os meus trabalhos desfilam, incógnitos, pela imensa montra que é a blogosfera.


Até que a corda se rompeu.


E eu passei a questionar como é que toda aquela inveja tinha começado. Lembrava-me de ela ter começado bem pequena e inofensiva. Nem me apercebi de que a estava a alimentar! Ela inchou, até atrofiar, quase por completo a minha motivação e criatividade.

Pelo comportamento hostil que vejo a desencadear-se por toda a blogosfera parece-me que não fui a única a deixar a inveja subir para o colo.

Isso fez-me reflectir sobre o poder da inveja sobre mim e sobre todos aqueles que lutam para se tornarem excelentes numa determinada área do engenho humano. A inveja faz-nos lutar por sermos reconhecidos, enquanto, ao mesmo tempo nos recusamos a reconhecer o talento dos outros.

Esse sentimento resulta em hostilidade, não só em relação aos outros, mas também em relação a nós.

Porque quando nos tornamos cegos em relação ao valor dos outros, tornamo-nos cegos em relação ao nosso próprio valor. Como podes saber se estás a melhorar, como podes sentir-te inspirado se não tens o valor dos outros como ponto de referência?

Quando leres um bom texto e te sentires desanimado com a pequenez do teu reportório pensa que, pelo menos, tens bom gosto. Como vais saber se os teus textos são bons, se não sabes reconhecer essa mesma qualidade nos textos dos outros?


Já pensaste nisso?


Já pensaste que todos aqueles que se tornaram realmente geniais não deixaram de elogiar o trabalho dos seus pares. Não o fazem apenas por simpatia, ou porque já alcançaram reconhecimento com o seu trabalho. Fazem-no porque estão plenamente confiantes das suas capacidades e sabem que o sucesso é algo que não se esgota.

Sabem que admirar o sucesso dos outros os ajuda a desenvolver as suas próprias capacidades. Sabem que, ao deixarem-se influenciar e maravilhar pelas conquistas doutros estarão a abrir caminho para novas conquistas pessoais.

Com isto não digo que deves andar por aí a bajular todos aqueles que cruzam o teu caminho. Elogiar por elogiar é falsidade. E a falsidade não costuma andar muito longe da inveja.

Além disso, se comentas em blogues e elogias desconhecidos só para que as pessoas visitem o teu espaço a tua falsidade vai ser identificada à distância.


Não podemos gostar todos do mesmo


Aceita que haverão pessoas que não vão gostar nem se vão interessar por aquilo que tu escreves. Não escrevas para essas pessoas, porque não podes mudar alguém que não está disposto a escutar-te.

Não gastes o teu tempo a comentar e a seguir blogues que não aprecias de verdade. E deixa-te maravilhar por aqueles que admiras.

Tornei-me uma blogueira mais equilibrada depois de ter feito o esforço de enxergar o valor das pessoas que cruzam o meu caminho (digital ou não!). A blogosfera não é competição, a blogosfera é um berço de ideias e de conquistas. Por isso não percas a oportunidade de apreciar o trabalho daqueles que te rodeiam.


Reconhecer a qualidade é o primeiro passo para a desenvolver


Pensa assim: és um viajante no início da tua jornada. Tens as mãos e os bolsos vazios e apenas o teu sonho te guia. Sabes para onde vais, mas não sabes como lá chegar.

Tem a certeza duma coisa: agora, podes não estar a ver o caminho, mas dá mais uns passos, mesmo que seja na direcção errada. Torna-te numa pessoa aberta, deixa que aqueles que admiras operem mudanças em ti. E quando deres por ti terás as mãos cheias de ferramentas poderosas e, em breve, tornar-te-às tão bom viajante quanto aqueles que admiras.

Pega nesta ideia!

Até breve
Related Posts with Thumbnails