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O futuro...

Pouco falta para o final de mais um ano e, como sempre tento avaliar os meus progressos enquanto me permito um breve descanso. Tenho pena de admitir que nunca sou bem sucedida nessa avaliação e acabo sempre por preferir contemplar o meu futuro do que perder-me em sonhos do passado que não posso reaver.

Embora a passagem de ano não tenha qualquer significado especial para mim acabo por ficar contagiada pela esperança que sempre se sente nesta época. Uma esperança de uma vida melhor que, para muitos acaba com a ressaca no raiar de um novo dia, quando nos levantamos e sentimos que tudo permanece igual... Contudo acredito que somos nós mesmos quem mais resiste a essa mudança, porque tememos as coisas que mais desejamos, tememos que, ao obtê-las a nossa vida perca o seu propósito. Por isso, enquanto permanecemos fieis à convicção de que a nossa vida precisa de uma mudança, tememos largar as coisas que tão bem conhecemos...

Não há fórmulas mágicas nem truques que nos possam ajudar a conseguir aquilo que mais desejamos.Nem são os outros que nos irão levar pelos caminhos que devemos seguir. Tornamo-nos capazes de estar atentos a tanta coisa ao mesmo tempo: podemos escrever uma mensagem enquanto comemos, vemos televisão e participamos numa conversa... Podemos jogar computador, falar ao telemóvel e ouvir algo que alguém tem para nos dizer. Mas estamos apenas a mentir a nós próprios, dividimos a nossa atenção e por isso não conseguimos reter nada. Vivemos absorvidos num mundo onde não temos sequer tempo para respirar, como poderíamos notar sequer o rumo que as coisas agora tomam? Não reparamos por acaso que, enquanto perdemos tempo em previsões fatalistas o mundo avança, quer queiramos quer não?

Estamos numa época de grande mudança e tudo o que parece importar é o próximo escândalo e a próxima má medida a criticar... mas, como aprendi, é o povo quem concede o poder a uma pequena parte para que esta o possa guiar, esse é um poder emprestado, é algo passageiro, e embora desperte paixões e leve pessoas a cometer actos de loucura, essas não devem ser culpadas. Ou já nos esquecemos quem os colocou lá em primeiro lugar?


Consigo sempre serenar quando ouço esta música, por isso não podia deixar de a partilhar: Toranja - Laços.
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A ciência na sociedade

Sinto-me um pouco limitada quando escrevo neste blog sempre que penso nas expectativas dos meus supostos leitores. E quanto a isso só há duas coisas a fazer: ignorar essas expectativas e escrever aquilo que me apetece ou tentar levar este blog mais a sério e especializar-me na divulgação da ciência (área para a qual me tento formar).
Mas mudar algo implica sempre perdas: perder leitores, perder um objectivo, perder ânimo para me lançar em terrenos desconhecidos. E apesar de todas as perdas implicarem ganhos, esses só serão visíveis muito mais à frente no nosso caminho. Contudo, qualquer que seja a minha decisão sei que sempre serei uma criatura de humores, portanto, enquanto me achar livre na concepção e desenho desta página sei que as minhas palavras e os meus temas serão como sempre foram: imprevisíveis...

Cheguei à pouco mais de um dia a Portugal, e depois de um período em que estranhei tanto o meu país, as suas gentes e mesmo a minha casa, consegui finalmente acalmar e resgatar um pouco do conforto e da segurança que sempre aqui senti. Por isso, não posso negar que, neste momento, não cabe na minha cabeça a ideia de voltar definitivamente a Portugal, aliás, reparei que nos últimos tempos, pensar que um dia teria que deixar Madrid é algo que me deixa bastante desconfortável... Mesmo assim, sinto-me bastante optimista com esse desconforto. Porque isso para mim significa que nunca deixarei de lutar pelos meus sonhos e por uma vida melhor, por muito ridículos e dificeis que me pareçam as minhas aspirações.

Apesar de Jornalismo, como tantas outras, ser uma profissão em declínio não deixo de notar que o tempo e papel dedicados à divulgação da ciência nos meios de comunicação são tão anedóticos que deviam envergonhar a nossa sociedade. E não é na divulgação dos avanços da ciência que nos devíamos envergonhar mais, é no facto de a sociedade permanecer analfabeta em assuntos de ciência: como funciona esta comunidade, quais os seus problemas, quais os seus objectivos.
Porque se alguma coisa aprendi é que a ciência de elites, que se dissolveu com a industrialização, continua bem viva nos imaginários do comum cidadão, nos raros momentos em que a sua mente vagueia por esse campo... Incluir a ciência na cultura é um sonho de muitos cientistas, contudo, não posso deixar de me sentir exasperada quando me encontro com a contradição dos seus comportamentos: incredulidade perante a "analfabetização" da população em assuntos de ciência e desespero quando vêem a sociedade intrometer-se nos seus frágeis sistemas de equilíbrio.
Uma ciência que se isola da sociedade é uma ciência que perde e que não pode crescer... O futuro é negro se escolhermos manter a ciência à margem da sociedade, se escolhermos deixá-la no pedestal onde se instalou ignorando o mundo cá em baixo.
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Três dias em Granada

A pouco menos de 3 horas de embarcar no autocarro que me vai levar a Portugal sinto-me a agonizar com o lento passar do tempo. Assim, decidi que estava na altura de combater a preguiça de escrever que recentemente se instalou em mim...
Esta última semana foram muitos os rascunhos que por aqui deixei, sempre sem vontade de os completar e publicar. Mas, uma vez que estou a estudar para ser jornalista não posso recuar perante uma oportunidade de escrever, principalmente se é para dizer aquilo que me apetece ou para melhorar a minha capacidade de contar histórias e notícias.
Com a exigência deste mestrado a revelar-se agora no seu pleno esplendor a minha primeira reacção foi recuar e dizer a mim mesma que não tinha jeito para isto. Pois é, o medo é tramado, assim que percebemos as verdadeiras implicações das coisas é sempre mais fácil dizer que não temos capacidades do que admitir que o conseguiremos com muito esforço.

Assim, ao contrário daquilo que se espera de um jornalista, eu sou capaz de começar cada artigo que escrevo contando as coisas mais irrelevantes e imprevisíveis. Sinto que preciso sempre de um "aquecimento" até estar preparada para contar a verdadeira história. Infelizmente, não é isso que se espera quando abrimos um jornal ou uma revista (embora agora sejam cada vez menos aqueles que o façam), pelo contrário, esperamos brevidade e esperamos novidades e factos relevantes.
Mas depois de dois intensivos meses de iniciação numa arte que eu desconhecia por completo, não posso deixar de sentir que me sabe bem escrever sobre assunto algum!

Contudo, não podia passar por aqui sem deixar um pedaçinho das aventuras que vivi em Granada...

Apesar de ser incapaz de dormir no autocarro consegui desfrutar da viagem a ouvir músicas antigas e a pensar na minha vida, sem me torturar com preocupações. O primeiro dia (sexta-feira dia 11) passou muito rápido, perdemos tempo à procura do hotel onde ficaríamos alojadas, andamos um pouco pela cidade, comemos do mais típico e barato... e mesmo nesse curto espaço de tempo ficamos maravilhadas com as paisagens de Granada.
No sábado acordamos cedo rumo a Alhambra, uma antiga cidade árabe que agora só existe para nos recordar de tempos passados e cujo encanto dos castelos nos faz sonhar com vidas tão diferentes das nossas.
Pela noite, quase vencidas pelo cansaço fomos a uma conferência/ espectáculo de encerramento do ano internacional da Astronomia... apesar do evento em si não ter sido satisfatório, não pude deixar de ficar espantada com a música de Antonio Arias que tenta unir a arte à astronomia (aqui vai o link para os curiosos: http://www.myspace.com/antonioariasmultiverso).
O dia acabou, mais uma vez, com umas tapas e um copo na mão, umas caras cansadas de sorriso alegre e uns olhos brilhantes das maravilhas que tivemos a oportunidade de conhecer.

O domingo chegou demasiado rápido: comprar recordações, conhecer o bairro árabe da cidade (principalmente o miradouros, a parte do "chegar lá a cima" é que foi a mais difícil), fazer as malas e dormir...

Ainda ensonadas apanhamos o autocarro de volta a Madrid na segunda-feira de manhã... e a neve decidiu aparecer, depois de ter tardado tanto em anunciar-se. Cansadas e quase a não chegar a tempo das aulas demos o dia por terminado e tenho agora recordações que vou guardar sempre com carinho de uma cidade cuja beleza é capaz de me fazer sorrir.
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Esperar

De repente, o meu quarto parece demasiado pequeno para mim e para os meus sonhos. De repente, o dia chegou e foi-se embora sem que eu me lembrasse de sentir o seu calor na minha face. De repente, passando o tempo a recordar, perdi o tempo para viver, ou, pelo menos para trabalhar...
Se calhar devia ter agarrado num casaco e saído para explorar o mundo, devia ter-me atrevido mais um pouco num lugar que ainda me é desconhecido, devia ter-me rido dos meus medos e dado um salto para o vazio...

Mas, o cansaço é algo com o qual não contamos... Como pode uma pessoa cansar-se de viver? Tudo o que tenho conquistado é fruto da minha luta, da minha espera, dos meus saltos para o vazio... Mas há coisas que os meus passos e a minha voz não podem alcançar. Há lugares onde ainda não posso ir, há emoções que ainda não posso sentir...

Um dia em casa a tentar trabalhar... também é necessário, mas, neste fim de tarde, pensar nisso deixa-me um pouco triste. Com vontade de mais, de coisas que possam preencher o meu dia sem me esvaziar de forças. De coisas que me dêem alegria e ofusquem a tristeza...

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O passo das horas...

Hoje o dia passou a correr, e tudo o que eu consegui fazer foi atender uma chamada da Movistar e aceitar a promoção deles... portanto, depois de mais de uma hora agarrada ao telemóvel ganhei um telemóvel novo ao mudar para essa operadora.

De resto, as horas evaporaram e eu continuo agarrada aos trabalhos que tenho que entregar na próxima semana: o tempo que lhes dedico é demasiado tendo em conta os resultados (que são poucos e nada satisfatórios).

Já me desabituei a escrever muito, uma vez que passei os últimos dias a explorar o twitter, por isso, achei que estava na hora de postar, mesmo na ausência de novidades. A foto que aqui publico é de um edifício do governo na Plaza Cibeles, no centro histórico de Madrid. De todas as fotos que tirei a semana passada é desta que eu gosto mais, imagino que assim seja porque na altura estava tão cansada e com tanto frio que fui surpreendida pela beleza da paisagem.
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A pequenez de pensamentos

Ontem, em conversa com a Rocío (outra companheira de piso), fiquei espantada com a pequenez dos meus próprios pensamentos. A certa altura começamos a falar de livros, e comentei que me impressionava todo este fenómeno da saga "Crepúsculo", porque não consigo gostar, nem da história nem da forma como está escrita. Então ela respondeu-me algo que eu não estava à espera: "Pode ser que as pessoas que lêem esse livro nunca tenham lido um livro antes e por isso se sintam mais entusiasmadas"!
Senti que tinha razão, mas eu demoraria bastante a chegar a essa conclusão. Sempre pensei que um bom livro era como o Vinho do Porto: os anos melhoravam o seu sabor. Mas agora percebo que, tal como o vinho, o gosto pela leitura é algo que se cultiva e vai ficando mais refinado com o tempo. Por isso, considero-me uma pessoa com muita sorte, uma vez que soube o que era um livro pelas mãos dos meus pais e aprendi vê-lo como um pequeno tesouro, um bilhete para outros mundos.
Assim, estes "best-sellers" que movem multidões, têm a capacidade que os livros que eu adoro não possuem: a de cativar as pessoas para o mundo dos livros. Estes livros cujo sucesso não compreendo tornam-se numa porta para um novo e enigmático mundo de criação humana. Uma criação que vence tudo o que é físico e definível, uma criação tão profunda que as palavras se tornam meros veículos, porque aquilo que os autores pretendem transmitir transcende o papel e a própria vida.

Os livros são mais uma etapa na escala da comunicação, um instrumento fabuloso que nos ensinou muito ao longo dos seus muitos séculos de existência. Contudo, creio que a Internet o vai substituir (embora duvide que acabe com a sua existência), o que suponho que seja algo positivo até. A Internet tornou-se um instrumento maravilhoso que nos permite comunicar e interagir e níveis nunca antes experimentados, contudo tudo depende do usuário dessa tecnologia.
Como um professor meu muito bem me dizia: "Evoluímos muito a nível tecnológico, contudo, esquecemo-nos de evoluir social e culturalmente; a nossa mentalidade está tão atrasada que é como puséssemos um carro da fórmula 1 nas mãos de uma pessoa que não sabe sequer conduzir". E por isso não somos mais capazes de avançar... não foi a Internet que trouxe todos estes problemas, foram as pessoas que a usaram erradamente...

Mas como sempre, tudo isto não passam de reflexões minhas. Só espero que causem algum impacto e reacção no leitor que queira por aqui passar.

Uma das minhas músicas favoritas: Paulo Gonzo - Falamos depois...


Até breve
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Uma esperança e uma cerveja

O frio e os trabalhos que se acumulam na minha secretária bem tentaram, mas a minha vontade de sair de casa e de perder-me por Madrid triunfaram, por isso, coloquei todas as minhas mundanas preocupações numa breve pausa.

Chegava esta sexta uma amiga de Karla (uma das minhas companheiras de piso) de Barcelona para conhecer Madrid. E embora nesse dia me tenha isolado um pouco por circunstâncias, que vou aqui chamar de: "coisas que acontecem e que tu não podes mudar, mas que te deprimem", o sábado chegou e com o amanhecer decidi quebrar o encanto do "quem espera sempre alcança".
De câmara numa mão e a outra no bolso (porque o frio era muito) juntei-me às duas amigas e, embora em Portugal isso fosse visto como um óbvio aproveitar da boa vontade dos outros (o típico "mitra" como se dizia no Norte não há muito tempo), aqui não me podia sentir mais bem-vinda. As três andamos por museus, ruas e bares, desfrutando de tudo na mesma medida... mesmo quando nos venciam as pernas cansadas e nos ardia a cara com o frio.
As actividades foram aquelas que o pouco tempo permitiu, mas não deixaram de aumentar, ainda mais, o meu já grande fascínio por esta cidade. Sempre senti o Porto como a cidade do meu coração, mas, neste momento, não posso deixar de amar Madrid, a cidade que vê nascer uma Ana bem diferente da menina que se isolava e apenas nos livros encontrava o seu refúgio.


Depois de dois dias esgotantes mas incrivelmente bem passados, chega a hora do vôo de regresso. Contudo, antes da despedida, instalamo-nos num bar perto do aeroporto, e aí, de cerveja na mão assistimos deliciadas ao grande clássico Barcelona - Real de Madrid.
Atiçada pelos gritos dos adeptos tive vontade de comprar um cachecol e gritar pelo Real de Madrid a plenos pulmões... um acontecimento bem raro em quem nunca interessou muito por este desporto.
Com o copo vazio e o jogo terminado senti uma pontada da desilusão ao ver o resultado. Barcelona 1 - Real de Madrid 0. Mas eu nunca fui de me ligar muito aos resultados, é toda a experiência que conta.
Por isso, mesmo para aqueles que, como eu, não são fãs de futebol... não podem dizer que o jogo não acende as almas das pessoas, atiça paixões e desperta alegrias, depois de ver o fruto do trabalho destes jogadores, que constantemente se desafiam para ser melhores, para ir mais além...

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A donzela na Casa de Campo

Ao despertar de uma noite bem dormida (sem os habituais sonhos loucos que a costumam povoar) abri a janela do meu quarto. O gelado sol eliminou os restos da minha teimosa preguiça.
Assim, carregando a mochila fiz-me à estrada, saudada por uns gelados 12ºC e por uma paisagem que aprendi a chamar de minha. Depois de uma longa viagem de metro, com os habituais personagens estranhos que conseguem sempre surpreender-me (não, não vou explicar), chego ao meu destino. Linha 10, estação de metro: Lago, situada no famoso parque natural de Madrid chamado "Casa de Campo".
Acompanhada pela minha câmara percorri os desconhecidos caminhos, sem nunca me afastar demasiado por medo de me perder no imenso labirinto de árvores e arbustos.
Na hora de almoço arranjei um bom lugar junto ao lago, que, embora ao início me tenha desiludido por parecer tão artificial e pequeno, não deixou de me maravilhar pela sua simplicidade. O tempo aqui ganhou novos contornos; depois de comer e ler um pouco do livro que trouxe da biblioteca - "Frankenstein", o tempo tinha voado. E a minha cansada e inquieta mente tinha, por fim, repousado afastada dos conflitos, mesmo daqueles que não são mais do que fruto da imaginação.
Ainda sem vontade de voltar a casa dirigi-me ao metro, em direcção a Arguelles, onde se situa o teleférico que faz a travessia do parque. Comprei uma viagem de ida e volta e, ao contemplar o mundo lá em baixo  esqueci-me de mim.



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Há dias estúpidos nesta vida...

Depois de um espectacular fim-de-semana na minha casinha de Portugal (com direito a banquete, festa e uma ida ao dentista... essa não foi muito agradável), o resto da semana passou a voar. Isto porque, depois horas perdidas em frente ao computador a escrever, e outras tantas a ouvir duras criticas ao meus artigos, o tempo tornou-se algo confuso na minha cansada cabeça.

Ontem, uma vez que não tinha aulas, e depois de enviar um outro trabalho (um pouco menos sofrido que o anterior), fiquei com tempo de sobra para mim. Lembrei-me de ir comprar o bilhete de autocarro para o Natal; então, por volta das 17h meti-me no metro a caminho da dita estação.

Depois de quase uma hora de viagem recheada de estranhas personagens, cheguei. No ar pairava um suave odor a apressadas partidas e emocionantes chegadas. Dirigi-me ao balcão da companhia Alsa, e prontamente me coloquei na imensa fila. Ao ver todos com malas comecei a desconfiar que não me venderiam o bilhete com tanta antecedência.

Saudei a funcionária com um esperançoso "boa tarde", e, depois de uma luta com as palavras em espanhol, que ainda demoram a sair, lá consegui pedir uma viagem de ida e volta para Portugal. O resultado foi aquele que eu esperava: para além de ali não conseguir aceder às promoções que a companhia oferecia a viagens compradas com antecedência, não poderia comprar o regresso para dia 10 de Janeiro. Decepcionada, mas com uma enorma vontade de rir de minha estupidez, liguei à minha mãe a contar o sucedido, rir-me um pouco mais daquela situação idiota e comprei uma revista ("Super interessante") para me entreter no cansativo regresso.

Ao chegar a casa enchi a minha mochila para a habitual ida ao ginásio, onde mais uma vez me aguardavam as intragáveis recepcionistas, cuja única habilidade é abrir a porta ao pressionar um botão na sua secretária. Convencida que estava mais que a tempo demorei a reagir quando me disseram: "Sabe que o ginásio fecha às 20h não sabe?". Não, não sabia, não era isso que estava no site (sim, porque quaisquer que fossem as minhas dúvidas, relativas ao funcionamento do ginásio, só esse site me poderia esclarecer).
Olhei para o relógio: 19.37h, mordi os lábios e, de ombros descaídos retomei o caminho para casa... Depois de vir o caminho todo a mal-dizer a minha sorte, avistei ao chegar, o centro cívico. Nesse momento decidi que não valia a pena continuar numa espiral de auto-comiseração, peguei nos documentos necessários e dirigi-me ao luminoso centro, onde, na silenciosa biblioteca me fiz membro. Agarrei no livro de Mary W.Shelley, "Frankenstein" e voltei para o conforto do meu lar.

Já em casa agarrei numa taça de cereais e numas bolachas e, assim acompanhada, assisti ao espectacular  filme de Clint Eastwood: "Gran Torino". Um dos meus favoritos, daqueles que em vez de esvaziarem uma pessoa de emoções conseguem encher as suas almas de significado. Tenho receio que, com a chegada de romances extraordinários, que não aportam qualquer tipo de significado novo às nossas vidas (como é o caso da saga "Crespúsculo") a literatura e a sétima arte se reduzam apenas ao entretenimento, esquecendo a nobre função de formar consciências e alargar horizontes.


Ao vaguear ainda sem sono pela internet, encontrei a nova música de Michael Bublé, que, como todas as outras músicas do artista, me deixa um bom sentimento de leveza e a sensação de que tudo correrá bem:


Até breve...
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A reportagem e o retrato de Dorian Gray

Depois de um pacote bolachas Digestive de Chocolate de Leite (oferecidas pela minha avó), de uma noite curta, de um despertar atribulado, de uma manhã passada em frente ao portátil a escrever um trabalho, no qual senti um imenso bloqueio criativo que, durante dias não me deixou passar da primeira página. Depois da entrega desse trabalho (que ainda não percebi como fui capaz de acabar) em cima da hora... posso finalmente relaxar antes de agarrar num outro trabalho cujo o prazo de entrega é amanhã...

Ora, este medíocre trabalho que acabei de mandar ao professor não passa de uma reportagem de 3 páginas (sofridas) que descrevem os problemas que enfrentam agora as selvas amazónicas... eu sei, quem é que vai ler isso? Enfim, mas fiz o trabalho à mesma, e provavelmente fui a ultima a entregar. Gostava de dizer que valeu a pena o esforço e as poucas horas de sono, mas, sinceramente, não sei se é por ter passado tanto tempo a olhar para aquilo, já não consigo gostar.

A única frase da qual me orgulho é a primeira, que feita em poucos segundos fruto de uma repentina inspiração é bem capaz de ter aniquilado a minha imaginação para o resto da reportagem... Mas como é o ínicio que define se o leitor continua ou não a ler, ter começado bem nem é mau de todo.
Tenho tanto orgulho no raio da frase que a vou deixar aqui, só para que, daqui a muito tempo, ao reler as páginas deste blog me possa rir da altura em que uma simples frase bem concebida (se bem que com erros, uma vez que ainda não domino o espanhol escrito) era capaz de me fazer feliz:
"Al revés de lo que sucede al joven Dorian Gray, que nace del imaginario de Oscar Wilde, pintamos un cuadro de una Amazonias que no envejece, mientras la realidad se deteriora ante nuestros ojos, sin que seamos capaces de contrariar sus efectos."

Para quem desconhece este mítico personagem ou quer relembrar: Dorian Gray retrata uma época de hedonismo na qual vivia Oscar Wilde. Este jovem, cuja beleza é eternizada num retrato da autoria de Basil Hallward, apercebe-se, ao contemplar as suas feições retratadas, que a sua juventude não será eterna. Neste momento formula um desejo, o de permanecer para sempre como o pintor o eternizou.
O seu desejo acaba por se cumprir, e enquanto Dorian se afunda numa vida de pecados e perversões cada vez mais insanas, o retrato envelhece por ele, deformado pela passagem do tempo. No fundo, o quadro passa a ser a imagem fiel da sua própria alma.
O filme tem estreia marcada para 31 de Dezembro, segundo o site sapo.pt, e é daquelas estreias que eu não queria perder!


Até breve
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Morrer poeta

Era uma vez uma menina, que pensava que nascia para ser poeta, para engrandecer as coisas pequenas,
alargar as fronteiras do próprio corpo,

olhar para o mundo dentro de si.
Para ir mais longe que a própria vida
e confundir os outros com as suas palavras...

Mas quando a menina se fez mulher, contemplou o mundo à sua volta e sorriu,
estava cansada de olhar só para si,
de escrever palavras que só ela conhecia,
de viver histórias na sua cabeça
e construir castelos na areia.
Com o seu olhar vazio de mundo, a menina agora mulher pegou nos seus poucos pertences,

despediu-se da vida que não era sua,
e dirigiu-se à estrada que nascia dentro de si.

O seu destino é o próprio destino,
o de fazer-se pequena no mundo,
de contemplar cada nascer e pôr do sol,
como se, a cada dia, contemplasse o seu próprio nascimento.

Morreu para ela mesma, para que no mundo pudesse nascer,
renasceu um ser vivente, um ser que vê, respira e ama...
E agora enfrenta um infinito que nunca poderá abarcar,
como um marinheiro enfrentando as fúrias dum revolto Mar.

E nesse confronto, que existe em tudo, ela encontrou a sua própria luta,
renasceu visionária,
para mostrar o que os outros tardam em ver,
para dizer: "Parem... o mundo é vosso e espera apenas uma oportunidade para vos ensinar a viver..."
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Ágora

Actualmente, depois de séculos de história, nasce a preocupação de iluminar as sombras do nosso passado e enaltecer personagens que permanecem esquecidas pelos caprichos do tempo. Principalmente em Espanha, tenho tido o privilégio de observar os crescentes e ricos estudos sobre as mulheres na ciência. Uma dessas mulheres - Hypatia - ganha agora vida pelo corpo e voz de Rachel Weisz, no filme de Alejandro Amenábar: "Ágora".
No século IV D.C. uma violenta revolta cristã assola as ruas de Alexandria, atingindo a famosa biblioteca,  o maior arquivo do conhecimento do Mundo antigo. Dentro dos seus muros, Hypatia luta pela preservação  dos documentos e contra a crua mentalidade da época, que despreza a inteligência de uma das primeiras filósofas ocidentais.
Com estreia em Portugal para princípios de Dezembro deste mesmo ano, acredito que este filme resgata um pedaço enterrado da nossa história. Nem todos os factos narrados serão reais, pela própria falta de informação desse período, mas este pequeno olhar para o passado poderá trazer-nos pistas sobre o nosso incerto futuro.

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A arte de comunicar

Acho que a maioria das pessoas concorda, actualmente, que a credibilidade dos meios de comunicação se vê reduzida a interesses económicos, políticos e quaisquer outros que tornam qualquer notícia tendenciosa. O problema é que nem sempre nos preocupamos em tentar perceber porque isso acontece.
Como aprendiz de uma profissão numa espiral de decadência, tive o privilégio de construir a minha opinião na discussão entre especialistas, tanto de ciência como de comunicação. Contudo, todos os pontos de vista serão sempre formados nas crenças de cada um, e a minha crença é que os meios de comunicação são essenciais moderadores da crescente inundação de informações que nos ataca constantemente.

Todas essas influências são pouco sãs para a objectividade, e tornamo-nos cada vez mais conscientes disso, basta ver os próprios títulos das notícias. Contudo, isto tem uma forte razão de ser: é que a Comunicação/ Jornalismo sempre ocuparam escalões medianos de poderio financeiro. Desta forma, com a emergência dos grandes grupos, estes meios estão a ser comprados, vendidos, transformados e, os seus interesses terão que ser compatíveis com as prioridades dos seus financiadores.
No entanto, isto não pode ser a única desculpa para a decadência que agora observamos, também temos que nos perguntar: Será que foram os meios que criaram a necessidade de consumo de notícias sensacionalistas? Ou somos nós mesmos que, no presente excesso de informação, apenas o mais absurdo e distorcido capta a nossa atenção?
Sinceramente, não creio que haja uma resposta correcta, porque cada caso é tão distinto do outro que uma generalização apenas nos faria perder uma perspectiva sã das coisas. Contudo, uma drástica mudança neste sector dependerá:
  • da vontade dos seus profissionais (que passa pela boa e diversificada formação da nova geração);
  • do reavivar do sistema económico (que passa pela consciencialização das massas da necessidade de mudar o sistema moribundo que não mais nos suporta);
  • da adaptação da comunicação ao novo meio - Internet - e estudo de novas fontes económicas que possam suportar este sistema;
  • e finalmente, inovar a arte de comunicar, que deverá ir mais além do mero informar de factos actuais... que, pelo seu excesso deixam a nossa atenção apática e amputam a nossa capacidade de pensar por nós mesmos.
Não passarão todas estas palavras da esperança de uma jovem que não enfrenta ainda o feroz mercado de trabalho, e cujos os ideais cresceram num meio protegido. Mas, por aquilo que tenho visto e vivido tudo isto me parece ter um pouco de verdade. Sintam-se à vontade para discordar.

Até breve
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Insatisfeita e sem tempo para mais

Nada me tem deixado mais insatisfeita do que a impossibilidade de aceder à Internet sempre que quero, sem ter que contar o tempo, olhar para as horas ou poder relaxar e escrever o que quero neste blog.
Tantas coisas se passaram desde a última vez que escrevi, mas o tempo, mais uma vez é bastante escasso. Quero ter tempo para me exprimir como deve ser, mas como a vontade de escrever supera isso, creio que vou tentar resumir a muito pouco aquilo que tenho passado.

Ainda sem internet em casa (acho que deu para perceber pelas minhas queixas), e ainda sem perceber se é por amnésia do senhorio ou se ele está a adiar aos poucos aquilo que prometeu porque já não lhe convém. Não quero fazer juízos precipitados sobre as pessoas, mas passado tanto tempo não posso deixar de me questionar.

O passado fim de semana estava recheado de planos, tantos que tive que prescindir de uns para desfrutar de outros. Mas acaso do destino ou não, aquele que eu estava disposta a cumprir acabou por não acontecer, e todos esses planos se dissolveram quando fiquei em terra a braços com a missão de tornar pouco tedioso o meu infindável fim-de-semana.
Tudo se resolveu, pelo melhor ou não, e apesar dos planos furados e do frio, andar perdida pela cidade acabou por ser algo relaxante.

Hoje e amanhã decorrem as Jornadas do Meio Ambiente e do desenvolvimento sustentável em Madrid, num estranho mas interessante auditório chamado de "La Casa Encendida" (em português pode-se dizer que é a casa acesa... mas não soa muito bem!). Estou animadíssima, nunca vi tamanho empenho em Portugal para formar os jovens e fazê-los conscientes dos problemas actuais, principalmente nos centros urbanos. Com tantas e diversas opiniões finalmente posso dizer que os meus estreitos horizontes se alargam, quando posso vislumbrar um pouco daquilo que são os planos e opiniões de especialistas das mais diferentes áreas.

Até breve
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Confusión

Sempre tentei cultivar uma boa arte de escrita enriquecendo-me com leituras pesadas (mas nem sempre enfadonhas) e aventurando-me em assuntos nos quais a minha ignorância provou ser o maior dos pesos.


Mas estes computadores que não me deixam escrever o "til" começam a testar seriamente a minha paciência. Até agora tento ignorar esse facto e acredito ser capaz de lidar com ele enquanto espero que liguem a internet na minha casinha. Casinha essa que parece ter-se tornado mais pequenina com a chegada da minha 2ª companheira de piso, com três mulheres na mesma casa creio que alguns desastres e confrontos serão certamente inevitáveis.


E vamos ser sinceros, eu também não sou nenhuma flor que se cheire, que o diga a minha família. Podem, neste momento, sentir saudades minhas, mas voltem a perguntar-lhes se as têm depois de terem de me aturar durante 2 meses seguidos, tenho a certeza que a resposta será inesperada. Como todos os Homens sou uma criatura de hábitos, com a agravante de tender sempre a complicar as coisas simples e a sofrer com a ansiedade das coisas que estão ainda para acontecer.


Bem, já flutuei para bem longe daquilo que queria escrever.

Depois de uma noite mal passada, em que o sono só chegou com o raiar do dia, fui acordada pelo meu senhorio por volta das 9.30... atendi a chamada com a minha voz sexy completamente ensonada e confusa. Resulta que tive mesmo que me levantar e apressar porque queria "empadronarme" nesta bela parte afastada de Madrid chamada Getafe. Para quem não sabe (eu também não sabia), "empadronarme" é basicamente um papel que diz que estou a morar em Getafe e como tal tenho direito aos serviços comuns dos cidadãos (com cartão de saúde, etc.).

Em vez de ir para fila de horas que me esperava no "Ayuntamiento" (tipo junta de frgeuesia, câmara), o meu senhorio conseguiu meter-me lá por vias travessas para encurtar este processo nuns mero 10 minutos.

Mas onde quero eu chegar com isto? Não, não é enriquecer o vosso conhecimento acerca das burocracias deste meu novo país. Na verdade, quando estava a preencher os meus dados ocorreu algo do qual me avergonho, mas não me consigo impedir de o contar.

Quando cheguei à parte que diz país de origem adivinhem o que eu escrevi!? Tenho a certeza que ninguém acertou... A resposta correcta é: Portugual! Se não detectaram nenhum erro pode ser que o senhor que me "empadronou" também não o tenha notado, eu mesma só me apercebi quando saí toda feliz do edifício.


Cada vez me confundo mais, mesmo a escrever. Todo este post foi feito de "releituras" para apanhar as palavras em espanhol que não consigo já conter. Talvez venha a criar um blogue em espanhol à parte deste, uma vez que este país me deslumbra cada vez mais e, a ideia de realizar aqui um estágio não está assim tão distante.


Acordar a "hablar" espanhol, dizer os bons dias às minha companheiras em espanhol, falar com o meu senhorio e a sua família (ao menos quando eles chegaram a minha cara de sono já não era tão grave), "empadronarme"... como é possível que eu chegue ao fim do dia a escrever e falar bem ambas as línguas?

Ainda ontem há noite, quando liguei para os meus pais, estava a falar tão lentamente que parecia que estava a tentar esconder uma bebedeira... porque na verdade o meu cérebro já estava a formar todas frases em espanhol e creio que se sentiu um pouco ofendido com a súbita mudança de idioma.

Como dizia um irmão inglês em Taizé: "comecei por não falar francês, mas com o tempo fui aprendendo e agora resulta que não falo bem nenhuma das línguas (foi +/- isto)". Pelo andar da carruagem creio que terei um destino muito similar.
Até breve...
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Incerteza


Não tenho escrito muito, o que por si só é algo raro. Na verdade, nunca conheci ninguém que se agarrasse tanto e de forma tão séria à escrita como eu.

Nos últimos tempos, sempre que escrevo, para além do enorme esforço que isso agora implica, parece que só encontro as palavras erradas para expressar, como aconteceu no último post. Creio que foi a solidão e a total consciência do quão desamparada e frágil estou, que provocaram esse desabafo.

Contudo, desde esse turbilhão de emoções pude finalmente acalmar, apesar de me arrepender profundamente de ter escrito o que escrevi; mais pareciam uns devaneios de uma velha louca. Mas sei que apagar esse post seria o mesmo que fingir que o passado não aconteceu, e, no fundo, não passaria de um desesperado acto de cobardia.
Tenho cometido tantos erros desde que aqui cheguei; mostrando o meu sorriso a quem me magoa e uma dura face a quem tenta aproximar-se. Tenho sido falsa (comigo mesma inclusive), hipócrita, ignorante, insegura, pateta e um insensível bloco de gelo.
Mas para mim parece-me claro que, tal como não fui capaz de me impedir de publicar aquele triste post, também não sou capaz de esconder debaixo das minhas defesas os meus verdadeiros sentimentos. O meu problema neste momento, aquilo que me escapa mesmo sem querer, é o facto de eu não ser ainda capaz de compreender a ambiguidade desses sentimentos.
Na maior parte do tempo sinto-me feliz e optimista, isso sou capaz de reconhecer. Contudo existe algo mais por detrás disso, algo que só posso vislumbrar quando essa alegria é abalada – quer pela rotina do dia-a-dia, quer pela mágoa dos momentos mais duros e mesmo na ausência de apoios.
Esse incompreensível sentimento assemelha-se a uma estranha insatisfação em oposição ao meu medo perante a profunda incerteza que cria já raízes no meu coração. O resultado é um “sentimento” que não posso definir, mas que nunca me deixa parar ou desistir, por muito que magoem as circunstâncias e por muito que o peso da ausência me tente vergar.
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Reflexões

Depois do extenuante post da última vez, decidi ser um pouco mais mundana nas minhas divulgações. Afinal de contas estou a estudar para ser Jornalista Científica e não filosofa... se bem que começo a desconfiar que me teria dado bastante bem nessa área.

Dado a minha ainda falta de capacidade para comentar assuntos actuais e dado à minha aparente incapacidade de suscitar nos leitores a vontade de comentar, não sei durante quanto tempo continuarei com este blog. Se conseguir arranjar um estágio num jornal, revista, ou mesmo numa empresa não sei até que ponto terei a coragem de continuar a escrever para um grande vazio.

Muitas vezes me pergunto qual a minha motivação para continuar nesta fútil tentativa de escrita, mas nunca consegui responder totalmente a isso. Sinceramente prefiro ter uma tentativa fútil que não ter absolutamente nada.

Contudo, é difícil, e não espero que me compreendam, porque eu escrevo para que as pessoas leiam, e depois de tanto tempo de esforço e frustração acumuladas parece-me que aos poucos a minha vontade vai esmorecendo sobre o peso das evidências.


Todos os dias me tento convencer que cada post meu não será o último, contudo, de todas as vezes que escrevo tudo isto me parece um enorme desperdício. As pessoas estão francamente mais interessadas em ler sobre... enfim, nem sei, não percebo a visibilidade dalguns blogs, em que temos o perfil normal de um "blogista" que relata quaisquer futilidades duma forma para mim sem encanto mas obtém mais comentários que o próprio Papa.

Não espero que compreendam mesmo, mas muitas vezes me pergunto que fizeram estas pessoas para obterem o "status" que neste momento despreocupadamente detêm.


Mas acabaram-se as queixas amarguradas, não há muito que eu possa fazer para mudar a minha angústia perante esta situação, senão fazer aquilo que sempre fiz, renovando o meu entusiasmo sempre que sinta a feroz aproximação destas crises.


Economia e a Educação sempre foram, a meu ver, dos grandes pilares da sociedade, e o facto de termos sacrificado a qualidade de um para apoiar aquele que verdadeiramente nos suporta é para mim um triste facto.

A educação a longo prazo irá certamente definir o estado das nossas sociedades. E o facto de estarmos a centralizar o ensino negligenciando os seus métodos apenas trará benefícios a médio prazo. Posso estar a comentar um assunto que está para além da minha percepção e capacidades, contudo entendo o suficiente para saber que a falha nos nossos actuais sistemas provocará uma crise da qual não podemos escapar, em que serão abaladas as próprias fundações de todo o actual sistema.


Contudo, a verdadeira pergunta seria: até que ponto isso será prejudicial? Na minha opinião, não creio que o seja a largo prazo, na realidade, a evolução, desde o nascimento da consciência da humanidade, tem ocorrido pela constante superação de crises. E, com este conhecimento, daquilo que não devemos fazer, aproximamo-nos cada vez duma situação ideal, de uma utopia (a qual não acredito que sejamos capazes de alcançar, contudo, a cada passo remediamos os nossos erros e crescemos em direcção a ela).
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Luta de vontades


Estou de volta com notícias frescas e de volta às t-shirts, parece que o tempo não quer mudar. Para já posso contar com mais dias solarengos, apesar de, segundo me disseram este tempo não é nada normal para esta altura do ano. O frio virá quando tiver que vir e até lá não me vou queixar.

Com viagem marcada para Portugal para dia 13 de Novembro começo a sentir-me um pouco nostalgica (a imagem ao lado é do aeroporto de Barajas - Madrid). O meu optimismo não mudou nem um pouco, aliás, acho que até aumentou um bocadinho, com a possibilidade de fazer um estágio na área que adoro. Ainda falta muito por definir, foi só uma decisão que tomei recentemente e, com a ajuda de um serviço de apoio na busca de emprego e estágios da universidade (inexistente em portugal) posso começar a procurar.

Estou a adiar aos poucos aquilo que queria realmente escrever, mas é um assunto tão estranho para mim que não me consigo decidir. Acho que só quem passa por isso percebe que às vezes é pior admiti-lo do que lutar contra ele em segredo. Mas creio que não é segredo para nenhuma das pessoas que me conhece: eu sou na realidade uma pessoa tímida. No entanto é precisamente nesta palavra que começa toda a confusão.

O que é ser tímido afinal? Poucas são as pessoas que conseguem responder a esta aparentemente simples questão, isso o percebi quando finalmente reconheci a existência e persistência deste peso que me arrastava. Corar facilmente não faz de ti uma pessoa tímida embora o possas parecer aos olhos dos outros, percebi que essa minha característica sempre fez de mim alvo da atenção dos outros quando eu menos a queria.

Corar nem sempre é um sinal de embaraço e é assustador como a maior parte das pessoas assim o pensa, eliminando a minha possibilidade de ser algo mais do que uma pessoa tímida aos olhos daqueles que me rodeiam. O problema é que comecei também eu a acreditar nas destrutivas críticas que outros me dirigiam.

A minha luta envolveu perceber este problema mais que todos, e a minha crescente compreensão cedo ficou manchada de mágoa e revolta contra algumas atitudes condescendentes daqueles que me tentavam perceber (não estou a acusar todos, muito menos os meus amigos).

Com o passar do tempo percebi também que é uma luta constante e muito solitária, no fundo é uma luta para nos conhecermos melhor e confiar nas nossas capacidades. Por isso acredito que seja uma luta sem fim e sem apoios.

A timidez ocorre quando não somos capazes de encontrar em nós a força para nos afirmarmos enquanto pessoas valiosas. A meu ver a timidez é também uma luta de vontades: a vontade formada pelas humilhações e mau-tratos (principalmente psicológicos) que sofremos ao longo da vida e a nossa verdadeira força de vontade, aquela que, para muitos, espera ainda ser encontrada.

Contudo, há pequenos truques que fui aprendendo. Quando coramos a nossa reacção mais instintiva (pelo menos no meu caso) é esconder, e, na minha opinião a luta contra a timidez é algo contra-instintivo. Se sentes vontade de te esconder mostra orgulhosamente a tua face; se sentires que estás bem na tua pele e perceberes que não és o centro do mundo verás que os outros têm mais que fazer do que dar importância a algo tão banal como o teu rubor e desconforto.

Se a voz te falha no momento em que mais dela precisas e se a tua mente bloqueia perante momentos cruciais, o que eu faço normalmente é desafiar-me. Costumo pensar em algo do género: “vais recuar agora e matar a oportunidade de te afirmares?”, “o momento é teu, por isso farás aquilo que sempre fizeste, que é seres tu mesma.”, “ninguém se vai lembrar se fizeres algo de errado, e se se lembrar apenas podes ser afectada por palavras menos boas se deres importância ao assunto”.

Outro truque para não perder o controle de mim mesma e deixar de ser um brinquedo na mão da minha própria confusão é respirar fundo e pensar nalguma coisa que goste muito, ou então pensar no meu verdadeiro objectivo. Desta forma, a tempestade não acalma mas pelo menos deixo de lhe dar importância concentrando-me naquilo que está para além das minhas revoltas águas.

Espero que achem útil e sintam-se à vontade para discordar, eu sempre gostei de contra-argumentar.

Até breve
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Frio...


O frio comeca a insinuar-se lentamente nesta afastada parte de Madrid. Ainda não neva, mas se com este frio já estou pálida como tudo e com os pés insensivelmente frios, não sei como irei reagir quando chegar o frio a sério!
Contudo, isso para já não me atrapalha muito, com o entusiasmo das aulas, do ginásio e das pessoas que vou conhecendo, nunca me senti tao optimista e feliz face a um futuro tao incerto.
A ausência das pessoas custa bastante, mas tudo se torna mais leve na alegria e paz que sinto agora. Nao nego que o início foi complicado, mais pelo choque da separacao do que pelas dificuldades que foram surgindo no dia-a-dia.
Já estou para escrever há algum tempo, mas nao ter internet em casa e muitas coisas para fazer acabam sempre por adiar a minha passagem por aqui. Espero no próximo post escrever sobre um assunto sobre o qual dediquei muito do meu tempo, um problema ao qual declarei luta sem esperanca de vencer, com o qual apenas posso alcancar umas estranhas tréguas.
Até breve
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Notícias


Faz hoje precisamente uma semana desde que cheguei a Madrid. Sinceramente parece que passou muito mais tempo. Espero poder continuar a escrever aqui como o tenho feito, apesar de nao ter um acesso fácil à internet.
Nao se inibam de comentar, eu também estou com curiosidade, quero saber notícias vossas:).

Até breve
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Mestrado


Foi ontem a abertura oficial do mestrado em (percam a cabeça): "Periodismo y Comunicación de la Ciencia, Tecnología y del Medio Ambiente". Só tenho uma palvra para aquilo que senti: delírio total (afinal foram duas...).
Pois, pensavam que eu ia queixar-me outra vez não era? Vá lá admitam, é verdade, eu ultimamente não tenho sido uma pessoa muito optimista.
Mas digamos a verdade, era impossível estar preparada para estar tão sozinha longe de casa. Não que eu agora me sinta só, entre o pessoal do mestrado e a minha companheira de piso. Contudo, posso dizer que ultrapassei o meu irracional medo de sair sozinha de casa, sair sem destino e perder-me numa imensa cidade que às vezes ameaça engolir a nossa existência.

Não esperava um comité de boas-vindas mas também não esperava esbarrar contra um muro de incompreensível desprezo e troça. Alguns espanhóis não percebem, eu posso ser estrangeira mas isso não faz de mim burra. Até porque, não percebendo uma palavra ou outra a linguagem corporal das pessoas revela muito mais do que aquilo que certamente gostariam. Para uma pessoa tão transparente como eu, cedo aprendi a tirar conclusões do comportamento das pessoas e como sempre fui muito observadora, suponho que, com o tempo tenho ganho uma certa perspicácia.

Neste post decidi publicar uma foto minha (finalmente, a minha câmara já estava a ganhar pó), naquele que é o meu actual quarto. Ainda de t-shirt, contudo, não tarda nada e já estarei a enfrentar o duro inverno de Madrid. A ver se me dou bem com o frio.

Até breve...
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O início...

Bem, cá estou eu em Madrid a tentar nao ser devorada pela grandesa desta cidade. Que nos pisa e atropela sem sequer notar a nossa presença. Tudo me parece estranho e ameaçador e se, outrora pensava que nao ia ter problemas com a solidao, agora consigo ver quao ingénua fui. Neste momento mais pareço um gato assustado que se esconde e mostra as suas garras ao que pensa serem ameaças.
Tudo isto está longe de corresponder ao meu sonho de infância. E ao contrário de toda a grandesa que tinha imaginado encontro-me agora rodeada de solidao.
Enfim, nem chegar a este computador que nao me deixa teclar o "til" e cuja força que preciso para escrever estao a desafiar a minha paciência, foi uma tarefa fácil. Pensavam que "quem tem boca vai a Roma...". Parece que é só mesmo em Roma que isso resulta, porque se nao fossem os mapas por ai espalhados e o meu fraco, mas neste momento orgulhoso sentido de orientaçao nao me tinha safado. Das duas uma: as pessoas nao percebem o que eu pergunto, o que nao me pareceu, ou gozaram com a minha cara por eu ser estrangeira.
Depois de uma estafante tarde de caminhada nao creio que tenha forças para algo mais...

Até breve...(espero)
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Em mudanças


Não tenho feito mais do que correr de um lado para o outro, tentando juntar tudo aquilo que julgo que irei precisar. Mas esta não se trata de uma viagem comum, pelo contrário, sinto que estou mesmo a empacotar os meus bens mais preciosos e a preparar-me para uma nova vida noutro lugar.
Uma parte de mim, aquela parte que adora aventuras, sente que vou demasiado carregada, como se isso pudesse, de uma forma que me é desconhecida, atrasar e mesmo prejudicar a minha próxima jornada. Outra parte de mim sente que nunca haverá mala suficientemente grande para levar o que necessito.

Experimento agora um sentimento novo, em que uma parte de mim quer fugir a todo o custo desta provação, sendo que esta atitude semeia discórdia e dúvidas quando menos espero. Contudo, quaisquer dúvidas parecem ceder perante a minha incontestável decisão Sei que posso estar a percorrer o caminho errado, que posso estar a fazer a pior escolha possível. No entanto, por isso saber, surge em mim a inegável certeza de que me arrependeria para o resto da minha vida se não tentasse, de que nunca me perdoaria se não desse a mim mesma a oportunidade de vencer.
A isto creio que se chama determinação... e a verdadeira prova de coragem ainda nem sequer começou.

Música do dia:
"Better man" dos Pearl Jam
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Tentar


Agora que chove e está frio lá fora é que sabe melhor este recostar no sofá e relaxar um pouco. Descansar o corpo e a mente das dúvidas do nervoso miudinho que chega agora com a proximidade da minha partida.
No passado sábado, depois de um estremunhado e mal-humorado acordar às 7 da matina. Eu e a minha família fizemo-nos à longa estrada que nos separa de Madrid. Depois de uns extenuantes 400km, paramos para um almoço intragável numa tasca espanhola. Observados por espanhóis que ainda petiscavam (apesar de ser uma hora mais tarde do que para nós) com olhos de desconfiança.

Depois de adquirir o meu sexy e irrestível hálito a queijo continuamos a viagem, já a sentir o calor a apertar e os joelhos protestar por uma caminhada ao ar livre.
Por fim chegamos - Getafe, Madrid - com a grande cidade no horizonte e o entusiasmo a acordar da tediosa viagem. Chegados à avenida de España somos cruamente confrontados com a realidade, de que aquilo não é propriamente um paraíso.
Primeira casa a visitar, foi o horror total, e só a muito custo conseguir manter intacta a minha esperança de viver com o mínimo conforto. Na segunda fiquei completamente espantada e conquistada... luminosa e espaçosa. Tudo o que eu preciso para sentir que tenho um cantinho só meu.

Mal posso esperar para o decorar e gastar o meu tempo a explorar as redondezas, só eu e a minha máquina fotográfica.
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A força da Fé

Já que no anterior post escrevi sobre política (ou pelo menos tentei com a minha inexperiente opinião), hoje parece-me lógico (embora, duvido que sensato) falar sobre Deus.
A Fé, sempre foi uma força que moldou o meu carácter e minha forma de ver o mundo, embora, a maior parte da minha vida tenha vivido alheia ao divino. Nascida e criada por pessoas com cerradas tradições católicas, cedo as fui esquecendo, na descoberta da fantasia dos filmes e dos livros e mesmo na imprevisibilidade das amizades que fui criando.
No meu mundo de sonhos, nunca reservei um espaço para algo mais que agora sei ser superior a todos nós. Foi somente quando decidi, por puro instinto, embarcar em 2005 rumo ao desconhecido que acordou em mim o desejo de acreditar, que dormia seguro, embalado pelas histórias de fantasia que construía diariamente na minha cabeça.
Foi nas Jornadas Mundiais da Juventude em Colónia, Alemanha, que tudo começou, das quais apenas quis fazer parte pela oportunidade de viajar. Claro que na altura não me passaram pela cabeça os eventos católicos aos quais teria que assistir... mas já estou a divagar (talvez dê história para outra altura, em que eu tenha vontade de escrever e pouca coisa para contar).
Confesso que a intensidade da experiência, a sua fugacidade e o facto de me encontrar longe do meu lar, fez com que eu olhasse para as coisas de outra forma. E as coisas que descobri e aprendi a amar deram-me o impulso necessário para que eu quisesse prolongar essa experiência e levar os seus frutos para casa.

Falar sobre Deus e a Fé dos Homens torna-se, contudo, um assunto frágil e instável à luz das nossas dúvidas, e é daqueles temas cujos os argumentos não serão nunca suficientes para convencer os nossos pares, se estes decidirem não acreditar. Por isso mesmo, creio que hoje não será um bom dia para enveredar por esse caminho, sempre tive que manter a minha tendência de revelar demasiado sob um cuidadoso controle. Outra das minhas características camaleão, que já me ajudou tanto quanto me prejudicou ao longo dos tempos. Sou bastante transparente, se algo não me agrada não o escondo e odeio viver mentiras... sei que parece contraditório, vindo duma pessoa que passa a vida a sonhar.

Onde queria eu chegar com tudo isto... bem, creio que para o Homem sempre foi difícil aceitar a existência de forças que não pode ver nem sentir. Então, como poderíamos nós provar que é real? Penso que, quando algo é invisível aos nossos sentidos devemos procurar as suas manifestações no mundo material. O que nos leva a uma nova questão, que nos aprisiona num ciclo aparentemente sem fim. Uma pergunta que parece esquecida nos recantos da memória:
Mas afinal, o que é Deus? E que eventos provoca Ele nas nossas vidas?
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Relações

Há dias em que um inegavelmente lindo pôr do sol, consegue trazer-me a paz e a serenidade que necessito. Não posso negar que tenho uma faceta contemplativa e que, apesar de nunca (até hoje) ter sido capaz de perceber o seu propósito, acredito ser uma daquelas características que nasceu comigo... cujo carácter primário e completamente instintivo sempre me fascinou.

Num destes dias, numa viagem de carro, numa pausa da TV ou enquanto respirava apenas por uns minutos o ar puro, percebi que, o que tenho visto nos outros e mesmo no mundo não passa de um parco reflexo daquilo que sou.
Já muitas vezes me tinha deparado com esta afirmação, em fugazes olhares lançados a livros e prateleiras, revistas e anúncios... mas nunca a verdade me atingiu daquela forma, tão delicada e insensível.
Apesar de saber que é pouco possível que o consiga evitar, agora sei que, ao longo dos tempos fui preparando uma indistinta armadilha para mim mesma, com a mesma dedicação com que um amante prepara uma romântica noite com a sua amada. Armadilha difícil de quebrar sem entrar em conflito com as nossas próprias crenças. Armadilha essa que oculta aquilo que preferimos não ver. Que as relações que estabelecemos, nos definem muito mais do que desejávamos, a forma como somos tratados (com leviandade, complacência, arrogância...) é o nosso mais fiel auto-retrato. E certas palavras que ouvimos, ou comportamentos dos outros perante nós, trazem como que uma confirmação do reflexo que escondemos de nós. Não acredito que correspondam ao nosso verdadeiro eu, apenas são reflexo de como nos tratamos a nós mesmos.


Este domingo fui exercer o meu direito de voto... com a vaga esperança de que, finalmente estávamos próximos de uma mudança. Contudo, a vitória do PS não surpreendeu, com a fraca oposição do PSD e sem que qualquer movimento político, até à data, tenha conseguido ganhar influência suficiente, para se sobrepor aos actuais gigantes da política. O resultado apesar de esperado não deixou de me desiludir, tantas conversas e cartas lançadas, tanto desejos inflamados de mudança pareceram cair em temporário esquecimento, ou se calhar, apesar de tudo, o PS continua a representar o interesse das maiorias neste país.
Com a minha definitiva mudança para Madrid marcada para 10 de Outubro vejo-me impossibilitada de participar nas próximas eleições, no entanto, acredito que os resultados não se vão alterar em relação a anos anteriores.
O meu conhecimento sobre política e o seu funcionamento estão longe do desejado, mas sempre me senti fascinada pelas suas percepções. E, apesar de continuar a achar que a maioria dos detentores da tão afamada capacidade de "fazer política" são uns vagos idiotas engravatados, continuam a ser detentores de um poder capaz de mudar o curso das nossas vidas. Grande responsabilidade para tão levianos seres...
Perdoem-me se cometi alguns erros políticos, é apenas a opinião de uma jovem que só agora começa a perceber o verdadeiro alcance das sociedades humanas.
Até lá...

Música do dia:
"You found me", The Fray
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Verdades


Há verdades claras como água, há verdades escondidas, camufladas. Há verdades que nos enaltecem e motivam e há aquelas que nos deixam sem respirar.
Verdades que, quando ditas nem parecem aplicar-se a nós. Por isso, tentamos convencer todo o mundo do contrário, principalmente a nós próprios sem contudo percebermos que, o que dizemos são pequenas mentiras para adiar aquilo que, há muito, foi colocado diante dos nossos olhos.

Lidar com certas verdades pode demorar e, quando nos apercebemos do seu verdadeiro significado ficamos sem forças para avançar. Absorvidos na sua fatalidade acabamos por sentir pena de nós e dos tolos que somos. Contudo, mesmo após aceitarmos as nossas limitações hesitamos na encruzilhada que nos antecede. Esses caminhos que se desenham diante dos nossos estupefactos olhos fazem-nos pensar em nós.

Sou uma perfeccionista, a minha melhor amiga e pior inimiga, tecendo críticas quando mais ninguém o faz e palavras de conforto em dias menos bons. Sei que nunca serei suficientemente boa para viver à altura das minhas expectativas, mas também que desvalorizo qualidades que me definem exagerando os meus erros e limitações.
Mas, e agora? O que devo esperar de um futuro incerto quando me sinto tão pequena?
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o caminho a seguir...

Sinceramente, estou farta da minha escrita sem sentido, dos meus relatos sem comentários e reacções, dos temas repetidos, das palavras vulgares e da dedicação pouco motivada...
Hoje escrevo apenas para dizer que, num momento de silêncio durante uma oração de Taizé em Aveiro, percebi o quão ridícula tenho sido... sempre em busca de uma felicidade ilusória, irreal, não palpável. Uma felicidade que apenas vi definida por terceiros em livros e discursos inflamados. Uma felicidade pouco minha, um sentimento desconhecido.
Até que ficou claro para mim, a felicidade é uma escolha, um sorriso, um abraço, um brilho nos olhos, um apoio, um sonho. Não percebo como me deixei enganar por tanto tempo, mesmo depois das imensas e intermináveis discussões sobre o fragilidade humana que não chegam a lado nenhum.
Percebi que, posso mudar muito, ser a pessoa que sempre quis ser, atingir os meus sonhos, viver livre e feliz... mas, se eu não gostar de mim agora tudo o que eu fizer no futuro nunca será suficiente. Por isso sofremos todos de uma necessidade inexplicável, um desejo infindável de querer sempre mais. Enquanto não percebermos que o que temos neste momento é o suficiente, as nossas conquistas serão ocas, supérfluas, insignificantes.

É só a minha opinião...
Até breve
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Redescobrir o mundo

Agora que sinto, cada vez mais perto, o encerrar de mais um capítulo da minha vida, começo a pensar num futuro desconhecido que me espera com ânsia e curiosidade.
Pela primeira vez na vida estarei sozinha, num país que desconheço e sem pontos de apoio e referência. Apesar de eu não o admitir, a maior parte das vezes, isso assusta-me de morte, contudo, nessas alturas uma parte de mim permanece confiante de que esta é a escolha certa, é o caminho que devo seguir...
É um pouco avassalador, saber que me encontro só face ao meu destino, saber que o caminho permanece escondido por um imenso véu que insiste em não revelar o que oculta.

No entanto, não foi para esta conversa sem sentido que eu decidi escrever. Não sei se repararam, mas eu mudei o título do blog. Este título surgiu-me no outro dia, enquanto sonhava acordada a ver um programa sem sentido na televisão, ocorreu-me que talvez todas as coisas que haviam para ser descobertas já o tinham sido. Ocorreu-me também que, com tanto génios e inventores, o mundo se torna cada vez mais pequeno aos nossos olhos e que, cada vez mais parecemos misturar-nos numa sociedade que não nos representa e identifica...
A ambição, as ideias, o fogo... tudo isso parece insignificante, retratado em filmes e novelas que nos iludem e afastam do seu verdadeiro sentido.
Por isso pensei... qual o meu lugar aqui, afinal? Que posso eu fazer para me destacar...?
Mas agora eu sei, estas perguntas não passam de um beco sem saída. Continuar a insistir nelas seria como tentar que das cinzas se erguesse um fogo há muito extinto.
As perguntas que deveria estar a fazer a mim mesma são: o que me faz feliz? O que posso eu fazer pelos meus amigos e pelas causas em que acredito?
O mundo não passa de uma enorme e inconsciente massa, que traça um futuro que ela própria desconhece.

Assim, decidi desistir das razões erradas e das coisas que me sufocam, decidi viver como eu sinto que devo viver a fazer as coisas que me fazem feliz. Talvez não tenhamos um papel e um lugar no mundo, mas temos um lugar no coração daqueles que nos rodeiam e nos conhecem...
O que eu quero é levar aos outros um pouco de mim e daquilo que eu vou aprendendo. Quero redescobrir um mundo que descobri nos livros e fotografias... e viver a vida livre de amarras. Enfim, quero ser feliz.
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Um desvio no caminho


Nunca pensei deparar-me com um assunto sobre o qual não pudesse escrever livremente, sem sofrer com as consequências...
Mas assim me encontro neste momento, e, sem paciência para inventar uma fábula, que sirva os meus propósitos de relatar aquilo que me aflige, acho que me vou contentar em relatar tudo aquilo que aprendi.

Pensava que já tinha vivido dias realmente desgastantes, mas sentir que toda a minha vida dava um grande passo atrás e que, todas as portas que eu pensava ter atravessado se fechavam sob o olhar atento dos meus incrédulos olhos... bem, isso foi uma estreia para mim.
O meu primeiro impulso foi insultar tudo e todos e contorcer-me numa raiva cega de quem se sente atraiçoado pela vida e por aquilo em que acredita. Como eu me conheço tão bem sabia que toda esta revolta iria acalmar, e em breve eu seria capaz de pensar com clareza sem correr o risco de piorar as coisas com as minhas rudes palavras.
Após algumas conversas (umas mais fáceis que outras) percebi que o destino, se é que tal existe, tem um humor bastante apurado. Numa palavra o que aconteceu apenas se descreve como problemas (e toda a gente os tem), aos quais não tive a chance de escapar, por muito que fosse capaz de lutar.
É uma daquelas situações em que, na altura temos a vaga noção de que certas escolhas nos poderão trazer problemas num futuro próximo e, depois, quando achamos que o perigo já passou essas escolhas voltam para nos assombrar... e acabamos por receber duras e frias bofetadas.
Quando percebemos que não há nada que possa ser feito para amortecer a nossa queda, apenas damos o nosso melhor e agarramo-nos firmemente à esperança de que tudo irá correr bem.
Não posso dizer que tudo se resolveu pelo melhor, apenas que o estrago não parece ser permanente e que, apesar de tudo há sempre algo a retirar destas provações. Ao deitar, tentei fazer um balanço daquele dia tão estranho, não quis intitulá-lo de “mau”, achei que a palavra era demasiado forte. Foi mais o dia em que fiz um desvio...

E se tudo isto aconteceu tenho que acreditar que foi por uma boa razão (a qual agora apenas posso tentar adivinhar), razão que apenas posso explicar dizendo que, “Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela” e, como muito bem ouvi dizer, às vezes nós é que nos concentramos demasiado na porta e não reparamos que o caminho continua, mesmo que seja por uma estrada e desvio inesperados. E, a única forma de explicar o porquê deste desvio é acreditando que lá colhemos tesouros escondidos que, de outra forma não seriamos capazes de encontrar.
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Pedras no caminho

No regresso de Las Palmas a euforia e felicidade camuflaram discretamente todos os sentimentos por resolver que se debatiam dentro de mim.
Por uns tempos a ansiedade e tumulto não me pareceram importantes, apenas pequenas pedras no meu caminho que em nada alteravam o rumo que eu decidira tomar...

Até que o silêncio se tornou insuportável e aquilo que eu tomei por certo começou a desmoronar. E, aquelas pedras que eu ignorei, percebi, eram pequenas partes de mim que deixaram de me servir. Porque, uma vez que decidi abraçar o mundo e as mudanças que em mim irá produzir, nada tenho a temer. Ainda me resta um longo caminho a percorrer...
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Amanhecer


Há dias que acordamos e estamos seguros que o mundo descansa glorioso sob os nossos pés...
Há dias que temos a certeza que nunca nos deixaremos pisar, calcar, humilhar...
Há dias que perseguimos os nossos sonhos e brindamos loucos no festejo das nossas façanhas...
Há dias que nos olhamos ao espelho e só vemos o brilho e as coisas boas...
Há dias que temos a certeza quem somos e aquilo que queremos ser...

Mas há outros dias que a nossa frágil esfera se desfaz e somos fulminados pela verdade contida em cada nascer do sol, a irrecusável certeza de que cada início esconde um fim, e esse será sempre imprevisível, improvável...

Apenas podemos esperar que nossos esforços não sejam em vão, que consigamos conquistar o que está para além do nosso horizonte.

Até breve
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Pelo caminho...


Enquanto observava com fascínio o mar ao som do suave ronronar do comboio, pensava na vida e naquilo que me espera. Nestas alturas, quer eu queira quer não, costumo perder-me a contemplar o passado... talvez à procura de respostas, de sinais.
E senti que era mesmo verdade aquilo que descobri há uns meses, que tudo o que vivi até agora não provocou mudanças em mim, apenas me fez perceber muitas coisas, principalmente fez-me ver aquilo que eu sou na realidade.
Se para muitos essa pode ser uma expressão de felicidade e deleite, a verdade é que, para mim, acabou por ser um pouco chocante. Foi como viver toda a minha vida sem nunca ter olhado um espelho e, de repente, alguém colocasse um diante de mim e o reflexo fosse bem diferente do esperado.
Diria que aquilo que perdi no processo foi a minha ingenuidade e talvez inocência. Crescer é um processo doloroso, mas no fim sei que serei aquilo que quero e sonho ser. Essa ingenuidade só me trouxe problemas no passado eu sei... mas também fez de mim uma pessoa sensível, sonhadora e idealista. O facto de a perder só fará com que eu a aprecie mais...

Parece que afinal me aceitaram no Mestrado em Madrid... Para o ano estarei a escrever de terras bem diferentes e terei novas aventuras para contar. Aventuras de uma natureza mais pessoal, visto que estarei sozinha a encarar um futuro bem diferente daquilo a que estou habituada.

Até breve
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