O caminho para encontrar os nossos talentos
Na verdade, desde tomei a decisão no início desse ano fui constantemente assaltada por dúvidas sobre a minha própria sanidade mental. Certamente não estava preparada para viver fora por minha própria conta e risco, nem tinha sequer a certeza de que queria dedicar-me a esta área de trabalho no futuro.
Fotografia de Marc
Sozinha numa grande e desconhecida cidade...
Não tinha a mais remota ideia do que me tinha levado àquele momento. Sempre fui a menina ponderada, mas neste caso percebi que o que me tinha levado ali fora um impulso e uma vontade inconsciente de testar os meus limites. Na verdade, estava profundamente aborrecida com a minha vida...
Depois de tanto tempo a tentar integrar-me, percebi que todas as decisões que tomei, apenas serviram para alimentar um sistema monótono e uma sociedade com a qual não me identifico. A minha vida estava no modo de piloto automático, sempre dentro dos limites pré-estabelecidos.
Por isso tinha sido incapaz de encontrar a minha própria voz, estava apenas a viver os sonhos que outros tinham preparado para mim.
Francesco Clemente, quando lhe perguntaram numa entrevista como é que uma pessoa encontra a sua própria voz enquanto pintor, respondeu simplesmente:
"Tens que arranjar espaço, se estás sempre ocupado a sorte nunca te poderá encontrar".
O que significa arranjar espaço na nossa vida?
Nem sempre os nossos talentos e sonhos são óbvios, mesmo para nós próprios. Por isso é tão importante deixar um espaço para que eles se possam manifestar. Uma tarefa difícil para os dias de hoje em que andamos demasiado absorvidos com a nossa rotina e obrigações.
O espaço do qual nos fala Clemente foi o espaço que eu descobri quando fiquei sozinha numa grande cidade. Porque saí da minha zona de conforto, onde tudo é familiar e seguro, e isso ensinou-me que tudo o que sabia e tomava como certo era apenas uma parte da verdade.
Tudo aquilo que tinha aprendido até ao momento não me iria ajudar a enfrentar esta nova aventura. O choque com uma realidade que eu não podia controlar despojou-me de tudo o que era acessório e desnecessário e fiquei apenas eu! Arranjei um espaço na minha vida, livre de conceitos e preconceitos.
Ao início foi aterrador, mas, ao desviar-me do caminho que antes percorria encontrei verdadeiros tesouros, livrei-me de velhas crenças e tornei-me mais real, tornei-me mais eu com todas as minhas qualidades e falhas ao descoberto.
O quero dizer com tudo isto é que às vezes passamos pela vida em piloto automático, pensando que já sabemos tudo o que há para saber. Essa sabedoria por vezes satura-nos e fecha-nos a novas perspectivas sobre o mundo e sobre nós. Para criar um espaço para que se manifestem os nossos verdadeiros talentos é preciso abanar as nossas convicções e contemplar as paisagens que estão para além da nossa janela.
Fotografia de Grant MacDonald
Quando nos sentimos confusos quanto à nossa vocação (para saber mais lê o artigo: como encontrar a tua vocação?) e quando não conseguimos encontrar uma solução para os nossos problemas é porque, provavelmente, estamos saturados de conhecimentos que não nos ajudam verdadeiramente.
Como disse Moat quando a sua filha lhe levou o soldado Jake Sully, no épico Avatar:
"Não se pode encher um copo que já está cheio"
O significa que se queres realmente as respostas a certas perguntas tens que ver o problema com uns novos olhos. É necessário que te livres das crenças que te impedem de evoluir, é necessário que esvazies o teu copo, para que o teu talento e a sorte tenham a oportunidade de entrar.
E como se consegue isso?
"Não podemos resolver problemas com o mesmo tipo de pensamento que usamos para os criar"
Albert Einstein
O caminho para encontrar sonhos e talentos não é mesmo para todos. Mas exige sempre que nos atrevamos a sair da nossa zona de conforto e enfrentemos as nossas próprias inseguranças. Se conscientemente nos empurrarmos para situações que escapam ao nosso controle será possível livrarmo-nos das nossas máscaras.
Estas situações que nos deixam desconfortáveis não são as mesmas para todos. Para uns podem ser situações simples do quotidiano, enquanto que para outros pode ser necessário sair do país e isolar-se num local completamente desconhecido. Alguns exemplos mais concretos:
- Aprender um novo idioma numa turma de completos desconhecidos,
- Aprender a dançar,
- Aprender a andar a cavalo,
- A meditar,
- A cantar,
- Fazer desportos radicais,
- Fazer voluntariado,
- Falar com um desconhecido na rua,
- Fazer um retiro espiritual...
O limite é a tua imaginação. Não te limites ao que pensas que sabes sobre a vida, atreve-te a expor a situações que não podes controlar, corre riscos, conhece-te a ti mesmo sem a máscara do ego. Abraça a vida tal como ela é e não como os outros dizem que tem que ser.
Em contacto com o desconhecido percebemos que as respostas que procurávamos estavam dentro de nós.
E tu, alguma vez sentiste que em situações desconfortáveis ficaste a saber mais sobre ti mesmo?
(Espero que não achem que é egoísta da minha parte usar as minhas próprias experiências como ponto de apoio, mas, à falta de um doutoramento em psicologia apenas tenho as minhas vivências e as palavras de outros para me apoiarem.)