O segredo de uma mente disciplinada

Sou uma pessoa indisciplinada desde que me lembro. E essa minha atitude relaxada e preguiçosa sempre me valeu duras críticas de educadores e amigos ao longo de toda a minha vida.

Essas críticas afectaram-me tanto que, em pouco tempo acabei por tornar-me no meu oposto: uma pessoa com uma rígida disciplina incapaz de relaxar. Em poucos anos deixei de ouvir essas críticas humilhantes, e passei a ouvir: "Ana, acalma-te por favor"!

Debaixo de um aspecto descontraído que, apesar de tudo, consegui conservar, fervilhava em mim uma intensa sensação de stress constante. Não me tinha tornado uma pessoa mais disciplinada, embora o meu objectivo fosse disciplinar a minha mente. Simplesmente tinha-me perdido na luta contra a inércia e, actualmente sinto-me mais indisciplinada do que quando tudo isto começou.
No final estava a trabalhar mais para ter resultados semelhantes ou mesmo piores do que os que tinha antes. Estava a empurrar-me na concretização de vários objectivos ao mesmo tempo, estava a obrigar-me a estudar mais do que toda a gente para tirar melhores notas, a trabalhar mais do que toda a gente, e, ao mesmo tempo estava a tentar ajudar todos aqueles que me pediam ajuda.

Esta atitude fez-me entrar num ciclo vicioso. No fundo, a vida e a jornada de cada dia são como uma maratona, se corres mais rápido sabendo que não vais aguentar o ritmo não vais chegar mais longe do que aquele que mantém um passo firme. Provavelmente vais desistir nalgum ponto e demorarás muito em recuperar.

Fotografia de Thomas Hawk
A vida é como uma maratona!

Foi o que aconteceu comigo, obriguei-me continuamente a uma marcha forçada. Isso eventualmente esgotava-me ao ponto de ficar várias semanas sem ser capaz de dar um passo mais, de estudar um pouco mais, de trabalhar mais. Mas depois de algumas semanas de profunda apatia voltava ao mesmo ritmo, ou chegava mesmo a acelerar para recuperar o tempo perdido. Pensava que com o tempo me ia habituar, tornar-me mais forte, conquistar os meus objectivos... Pois é, adivinha: isso não aconteceu!

E depois de tanto tempo já não consigo contar quantas vezes tive que parar para descansar, para ser capaz de voltar ao ritmo frenético que tinha imposto a mim mesma. Já não me lembro de como tudo começou, mas é um facto que o stress e o pânico começaram a crescer em mim até atingirem níveis insuportáveis.

É certo que esse stress sempre foi uma motivação para conseguir muitas coisas na minha vida: levou-me a fazer Erasmus, a estudar arduamente para conseguir melhores notas, a embarcar na aventura de viver um ano em Madrid. E tudo valeu a pena... no entanto, algo muito mau resultou de todos esses anos de intenso stress: já não consigo relaxar, por muito que o tente. E cada vez mais preciso de um alto nível de stress para fazer as coisas.

Nos meus momentos de apatia comecei a questionar-me se as outras pessoas também se sentiriam assim. Descobri que a maior parte das pessoas vive com esse stress profundo devido ao louco ritmo que impõe a sociedade actual. Um sinal desses elevados níveis de stress é o aumento rápido das doenças cardiovasculares, responsáveis por 40% das mortes em Portugal (dados de 2009). No entanto, a pergunta mais importante a fazer é: sou feliz assim?

Bem, estou a alcançar muitos dos meus objectivos, mas, também estou a desgastar as minhas forças a um ritmo assustadoramente rápido. Deixei que a minha vida fosse governada pelo monstro do stress, e não pelos meus verdadeiros desejos. Não posso ser feliz assim.


Fotografia de Matt MacDonald

O resultado? Tornei-me uma pessoa sedentária sem me aperceber. A minha postura está bastante degradada e a toda a tensão que acumulo nos meus músculos e nas minhas costas impedem-me de relaxar. O mais chocante de tudo isto? Só o notei quando uns amigos me alertaram para isso recentemente. Tornei-me uma pessoa stressada e sedentária aos 21 anos.

E isto fez-me reflectir sobre o meu conceito de disciplina. Sempre pensei que, forçar-me a trabalhar durante horas seguidas e fazer várias tarefas ao mesmo tempo fosse o único caminho para conseguir as coisas que quero. No entanto, todos os fracassos da minha vida (apesar do meu esforço sobre-humano) ensinaram-me algo muito importante. Aprendi que a verdadeira disciplina tem pouco a ver com a rigidez e o esforço exagerado, a verdadeira e sana disciplina tem apenas a ver com saber definir as nossas prioridades.
 Para isto devemos conhecer o nosso ritmo, não devemos querer correr mais do que as nossas pernas nos permitem. E devemos desenhar uma meta para cada dia e cada mês. Desenhar uma meta e apenas uma.

Se aprendermos a concentrar-nos apenas nessa meta em pouco tempo seremos capazes de alcançá-la. E então teremos aprendido a virtude que apenas pode ser conquistada nesta vida: a perseverança! Se aprendermos a perseverança teremos nas nossas mãos uma das armas mais poderosas jamais concebidas. A arma que faz a diferença entre a vitória e o fracasso. E se perseverarmos nas coisas pequenas também seremos capazes de o fazer nas nossas grandes metas.

Ainda hesitas? Porque não experimentas por um mês? Pega numa folha, escreve 4-5 objectivos a curto e médio prazo que desejas concretizar. Concentra-te no que achas mais importante, e traça um plano para todos os dias e semanas. Corre ao teu ritmo, mas começa a correr já. Quando o alcançares essa meta refaz a tua lista e escolhe novamente o mais importante para ti neste momento.

Em pouco tempo terás os teus sonhos na palma da tua mão. É essa a verdadeira disciplina, concentrar as nossas forças num objectivo concreto e correr atrás dele. É a única virtude que nos levará a concretizar os nossos sonhos!

Eu comecei a praticar esta filosofia à pouquíssimo tempo, no entanto, a alegria que sinto desde então é indescritível. Por isso tinha tanta vontade de a partilhar.

E vocês, o que fazem para manter uma mente disciplinada?

Os comentários são todos vossos.

8 comentários:

Planeta dos Blogs | 4 de julho de 2010 às 13:11

Várias vezes penso sobre o assunto, e de certa forma, já me deparei com situações iguais ou parecidas. E a resposta é a sempre a mesma : Equilibro

Tento sempre equilibrar as águas.Da mesma forma que acho que tenho de ser profissional no meu trabalho, até gosto do tal stress para que tudo seja mais emocionante, etc Também me imponho ter de sair com os amigos, ir de férias, etc.

Eu aprecio imenso o equilíbrio.Gosto muito de me empenhar no trabalho e sou algo exigente e critico comigo mesmo. No entanto também sou um ser muito social. Adoro estar rodeado de amigos, adoro festa e divertimento, adoro programas culturais como cinema, teatro, etc

Entendo as tuas preocupações e acho muito positivo que já tenhas todas essas auto-lutas e auto-discussões. Acho que são importantes fazer estas reflexões ao longo do nosso caminho. Muitas vezes temos de parar, reflectir e corrigir o caminho.

Já que estás a estudar em Madrid não deixes de te divertir, sem nunca deixares os estudos de vista."Madrid tiene una marcha increíble." não a deixes de a aproveitar.


Bom trabalho e boa diversão! :)

Paulo (rivercastell)

batidodemorango | 4 de julho de 2010 às 13:25

Obrigada pelo comentário Paulo! É um facto que dificilmente paramos para pensar nestes assuntos, a não ser quando algo grave acontece.
Eu também aprecio o equilíbrio, no entanto, acredito que crescemos verdadeiramente com o desequilíbrio. Embora devamos sempre equilibrar a nossa vida, se queremos ser pessoas melhores o ideal é mesmo mergulhar de cabeça nos desafios.
Madrid é uma cidade incrível, tem sido muito bom viver por cá :)

Um abraço,
Ana

Miguel Lucas | 3 de setembro de 2010 às 19:40

Olá Ana, gostei muito do artigo. Apreciei bastante a sua descrição acerca das vicissitudes que a levaram a crescer e a desenvolver-se.

Falou-se de equilíbrio. sem dúvida que ele é mais que necessário na vida de todos nós. Tal como o desequilibro. A vida é feita de consequentes desequilíbrios (de preferência sobre controlo) numa polifonia de movimentos a que chamamos vida. Se pararmos de nos movimentar "morremos". Se nos desequilibramos em demasia damos trambolhões. Algures entre as duas situações está o esplendor da "verdadeira" vida.

Abraço

Ana Reis | 4 de setembro de 2010 às 14:45

Olá Miguel,
Muito obrigada pelo seu comentário. Apesar de todos os atritos sinto que cresci muito nos últimos tempos e não me canso de dizer que estou grata por tudo isso.
Gostei muito do que escreveu sobre equilíbrio e desequilíbrio, eu também penso assim. Acredito que uma pessoa vai evoluindo por desequilíbrios e é bom que sejamos capazes de reconhecer que eles são necessários. Só perdendo um pouco do equilíbrio e do sossego é que podemos aspirar a crescer um pouco mais.

Um abraço

Hícaro | 18 de dezembro de 2010 às 06:27

Olá. Achei o seu texto excelente. Essa leitura teve muito significado para mim. Geralmente procuro ser uma pessoa perfeccionista no estilo "hard worker guy". Mas, às vezes acabo excedendo os meus limites e fico esgotado. Agradeço por me proporcionar reflexão e conhecimento. Peço, por favor, para que não pare de escrever... estou admirado com os seus textos. Obrigado.

Ana Reis | 18 de dezembro de 2010 às 12:40

Olá Hícaro, seja muito bem-vindo ao meu blog. Muito obrigada por partilhar a sua experiência e muito obrigada pelo elogio.
Ser perfeccionista só é bom até um certo ponto. Ás vezes é apenas uma forma de não termos que lidar com certos receios.
Espero que encontre o equilíbrio na sua vida.

Quanto a mim, espero não deixar de escrever tão cedo :)
Um abraço

Ivan | 29 de julho de 2011 às 16:53

Pois é, muito objetivo e claro! Eu estava agir da mesma forma. E essa é a "formula" correta de alcançar e realizar as metas e objetivos. Parabéns mais uma ótima leitura que me ajudou muito!
Abraço

Ana Reis | 3 de agosto de 2011 às 09:57

Olá Ivan, muito obrigada pelo comentário.
Fizeste bem em escrever fórmula entre aspas, porque, na verdade, não há fórmulas universais, apenas fórmulas pessoais, que vão mudando ao lado do tempo.
Mas fico feliz que as minhas palavras tenham tido sentido para ti.
Um grande abraço

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