O guia para recuperar a criatividade na vida (parte 1)

"é a faculdade de encontrar soluções diferentes e originais face a novas situações"

É como o dicionário porto editora define criatividade. Não é pintar um quadro, não é escrever uma obra-prima, não é ser excelente e reconhecido, é simplesmente encontrar soluções diferentes face a novas situações. O que significa que não são apenas os artistas que precisam de criatividade, todos a necessitamos para transformar o nosso dia-a-dia. Para evitar que a rotina mate lentamente os nossos sonhos.

A criatividade é uma qualidade que está em todos nós, no entanto crescemos numa sociedade que não a considera vital ou importante. E crescemos convencidos que apenas algumas pessoas são capazes de a desenvolver. A ciência provou que não existe qualquer vantagem que torne as pessoas mais criativas.

Então, porque é que a maioria das pessoas não abraçou ainda a sua criatividade?

Quando era pequena sentia que a escola e os compromissos tornavam a minha vida demasiado aborrecida, por isso gostava de inventar as histórias mais fantásticas para entreter os meus amigos. Obviamente o que eu contava não era verdade, mas naquela idade nunca nos preocupamos com as consequências das nossas acções. Gostamos de experimentar a vida e encaramos os problemas como mais uma diversão.

Fotografia de Thomas Hawk

Passado uns tempos os meus contos começaram a atrair a atenção dos adultos. E como deves imaginar passei por uns poucos sermões e castigos à conta da minha fértil imaginação. Nunca me importei muito com os castigos, mas a partir desse momento percebi que no mundo não havia lugar para as minhas "mentiras".

Porque é que vos conto isto? Por uma razão muito simples: acredito que todos partilhamos histórias semelhantes. Todos ouvimos sermões dos nossos familiares e educadores quando decidimos pintar as paredes da casa porque nos aborrecemos com a sua falta de alegria, ou quando desmontamos um aparelho electrónico por pura curiosidade, ou quando saímos de casa sem o conhecimento de ninguém para partir numa aventura.

Mas depressa percebemos que a nossa imaginação não é bem-vinda e ela adormece lentamente na rotina do nosso dia-a-dia. Todos nascemos criativos, mas o actual sistema de ensino e a mentalidade dos nossos educadores acabam por estrangular essa criatividade. E, mais tarde, quando estamos prontos para ser adultos e nos pedem que resolvamos um complicado problema enfrentamos as mais incríveis dificuldades. Porquê?

Porque decidimos deixar a nossa criatividade numa caixa com os nossos antigos brinquedos. No entanto, seja qual for a etapa da vida em que te encontras ou a função que desempenhes é sempre possível resgatar essa capacidade criativa para melhorar a tua vida em todos os sentidos.

Ao contrário da crença popular resgatar a criatividade não é difícil, o problema reside muitas vezes no facto de não sabermos por onde começar! Por isso, deixo aqui um pequeno guia que poderá ser útil para quem deseja acordar esta característica dormente que todos possuímos:

1) A criatividade é uma besta selvagem


A criatividade é um função do teu cérebro que não segue qualquer padrão lógico ou racional. O teu lado racional são as amarras que prendem esse animal, se queres realmente que ele se manifeste na sua verdadeira natureza tens que o soltar.

Esquece por completo a necessidade de fazer algo que tenha "sentido" como escrever um texto com coerência e com toda a gramática correcta, ou pintar algo bonito e profundo ou mesmo delinear um plano ou uma estratégia "perfeita". Porque uma criatividade organizada é algo que simplesmente não existe.

2) Desliga-te do mundo

Desliga a internet, o teu telemóvel, a televisão, o rádio, o que quer que te distraia. Se for necessário avisa os teus amigos que não vais estar disponível nas próximas horas.

Alguns escritores e artistas afirmam que estar num local amplio e bem iluminado os ajuda a ser mais criativos, porque não se sentem presos às quatro paredes. Por isso, muitas vezes as melhores ideias surgem quando não te sentes fixo a uma realidade como numa tranquila viagem de carro, de autocarro ou de comboio, ou em lugares como parques, jardins ou praças.

Claro que nestes locais, principalmente nas cidades, o ruído ambiente pode ser avassalador, por isso, ajuda bastante ter uns auscultadores que te isolem do som ambiente, tudo o que precisas de ouvir é a tua própria voz.

3) Escolhe a tua forma de expressão

Algumas pessoas acreditam firmemente que não são criativas porque não têm capacidade para escrever, cantar ou pintar. Mas essas são apenas as habituais formas de expressão, e a tua criatividade pode não se encaixar em nenhuma delas. É algo perfeitamente normal. A escolha de um canal de expressão determina o teu sucesso ou fracasso, por isso, este passo é essencial. E descobrir qual é o canal adequado à tua personalidade só se consegue experimentando.

Muitos artistas descobriram tarde na vida qual a forma de expressão que mais espicaçava a sua criatividade! Por isso, convém que percas algum tempo neste passo: vai a umas aulas de dança, de música, de pintura e desenho, de fotografia, de escrita criativa, faz voluntariado, participa em debates...

Acima de tudo é uma tarefa que exige bastante atenção da tua parte. Existem formas de expressão que nos põe mais à vontade que outras, mas não é um mundo branco e negro, não vais ser, à partida muito bom numa e péssimo nas outras. Por isso, o importante é que te concentres naquilo que te faz sentir melhor.

4) As tuas primeiras tentativas vão ser péssimas

Não podes experimentar dança por um dia e decidir que não foste feito para isso. Quando se trata de recuperar a nossa criatividade é necessário largar todos os conceitos e toda a educação que condiciona a nossa vida.

Tens de esquecer tudo aquilo que te prende e desfrutar do momento sem qualquer preocupação. Se conseguires aguentar o período de resistência inicial então estarás pronto para decidir. E só quando encontrares um meio adequado à tua personalidade estarás pronto para avançar.

No entanto, não significa que vais começar imediatamente a ter bons resultados e que vais ser instantaneamente bom expressando-te dessa forma. Aliás, nos primeiros tempos o mais habitual é que as tuas tentativas sejam sempre péssimas.

E é muito importante aprender a aceitar este facto. Mesmo depois de produzir inúmeras obras primas Mozart e Beethoven continuaram a produzir peças medíocres. Mas isso nunca os levou a desistir: eles simplesmente tentaram mais do que todos os outros, e aceitaram que o fracasso é apenas mais uma etapa do processo criativo.

5) Cronometra a tua actividade

Antes de começares a escrever (ou a pintar) diz a ti mesmo que vais escrever durante uma hora seguida sem parar. Senta-te e não te levantes até ter acabado o tempo. Em vez de pensares naquilo que vais escrever simplesmente escreve. Eu normalmente começo os meus primeiros rascunhos com frases idiotas do género: "Hoje está demasiado calor nesta cidade...".

O importante é que aprendas a criar um ritmo, isso vai permitir que as tuas ideias comecem a fluir livremente. Porque um ritmo constante normalmente "adormece" a tua mente racional e a espontaneidade terá a oportunidade de entrar.


A publicação da segunda parte deste artigo está agendada para dentro de três dias. Até lá podem visitar a página do Demetrio Guimarães que é um exemplo de alguém que decidiu levar a sua vida de uma forma totalmente espontânea e criativa.

Acaba de publicar o seu primeiro livro sobre as aventuras de um biólogo especialista em escorpiões que descobre que a vida se estende muito para além das suas limitadas crenças. Visitem o blogue do Demetrio onde ele fala sobre Rudamon: O novo herói!


E vocês, o que fazem para desenvolver a criatividade nas vossas vidas?

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