O valor da solidão
... é das coisas que mais me assusta, estar sozinha a ouvir o som da minha própria voz.
Poderia começar hoje mesmo a distribuir inquéritos para perceber o que é a solidão e tenho a certeza que nunca o entenderia completamente. Porque a solidão não é só a ausência dos outros, a solidão é também quando conseguimos estar mais perto de nós e de Deus.
E assim como não existem duas pessoas iguais, não existem dois conceitos de Deus iguais e por isso a solidão torna-se algo muito diferente para cada um de nós. Impossível de definir.
"Todos os seres humanos têm medo da sua própria solidão.
Mas apenas na solidão nos podemos conhecer completamente,
e aprender a lidar com nossa eterna solidão."- Han Suyin
(créditos da imagem: Leonard John Matthews)
No entanto, acredito que existem claramente dois tipos de solidão. Aquela solidão coberta de mágoa, à qual tentamos escapar enchendo os nossos dias com actividades inúteis que nos impedem de pensar profundamente sobre o sentido das nossas vidas, e o tipo de solidão propositada. E é sobre esta última que desejo falar.
Quando reservamos propositadamente um tempo a sós, longe do mundo, dos outros e de qualquer tecnologia experimentamos sentimentos bem diferentes do comum vazio da solidão acidental. Mas na verdade, ficar sozinho(a) é bem mais difícil do que aquilo que à primeira vista nos parece.
Devemos preferir o isolamento à interacção social?
Só nos últimos anos se tornaram visíveis movimentos que defendem o valor do silêncio e da solidão propositada (pelo menos no mundo ocidental). Mas antes disso a solidão era algo muito negativo reservado apenas a pessoas que desejavam afastar-se da sociedade.
Quando pensamos numa pessoa solitária normalmente pensamos numa pessoa marcada pela tristeza e pela mágoa. Pensamos em alguém que não escolheu viver assim, mas foi uma vítima das circuntâncias da vida. Uma imagem que persiste até aos dias de hoje especialmente devido à sua repetição excesiva nos meios de comunicação e nas obras de ficção como séries, novelas e filmes.
O solitário sempre foi o estranho e marginalizado. Mas penso que chegou o momento de mudar a imagem que temos da solidão. E obviamente, não escrevo sobre a solidão permanente, escrevo sobre uma solidão que devemos aprender a desfrutar na medida certa.
O que significa a solidão...
Acredito que grande maioria das pessoas não é adepta a reservar uns momentos do seu dia para realizar uma espécie de retiro interior. Porque a maioria de nós tem tanto medo do seu interior como dos perigos do mundo cá fora.
Assim, o mais normal é agarrarmo-nos à televisão e à internet quando não temos nenhum programa em especial para o nosso dia. Esses dois meios ofuscam quase completamente a nossa capacidade de pensar profundamente sobre nós e sobre a vida. E constituem a forma mais eficaz de evitarmos a solidão completa e a possibilidade de ouvirmos a nossa própria voz.
Essa voz interior tem caído no esquecimento à medida que prosperam as actividades que ocupam os nossos tempos livres ou as engenhocas que nos impedem de pensar no que quer que seja. Essa voz tem sido conhecida por muitas formas diferentes ao longo da história, para o antigos eram as vozes dos deuses que lhes falavam através de sonhos e perságios, para outros a voz do Universo, em tempos recentes começamos a perceber que essa voz nos pertence, mas ao mesmo tempo parece ter mais sabedoria que nós próprios. Como acontecia com o grilo, a consciência de Pinóquio.
Na minha opinião essa voz que por vezes ouvimos quando menos esperamos é a voz do nosso subconsciente.
A nossa mente é imensa e, por isso, quase nunca somos plenamente conscientes da sabedoria que albergamos dentro de nós. O nosso cérebro funciona por isso como um software intuitivo que faz a ponte entre a nossa consciencia e o abismo profundo que habita dentro de nós.
Existem ainda muitas perguntas por responder acerca da mente e do cérebro, acerca da própria consciencia humana. Mas algo que devemos aceitar é que aquilo que somos transcede a nossa rotina, as nossas preocupações e mesmo os nossos desejos.
Uma verdade que pode ser assustadora para muitas pessoas, já me assustou a mim. É como dividir a nossa casa com um perfeito desconhecido que parece conhecer-nos melhor que nós próprios algum dia seremos capazes de conhecer.
A solidão permite-nos limpar todo o lixo que bloqueia o nosso pensamento (consciente) para podermos encontrar o caminho para essa sabedoria perdida. No próximo artigo escreverei sobre as melhores formas de tirar partido sobre dos momentos em que estamos sós. Até lá espero os vossos comentários.
5 comentários:
Realmente, estar sozinho é uma parte fundamental do esclarecimento da mente e do auto-conhecimento.
Parabéns pelo post!
muito obrigada Joyce. fico feliz por ter gostado do artigo.
aprender a apreciar a solidão é a cura para o stress que vivemos actualmente, ou pelo menos é o que eu gosto de pensar.
um abraço :)
Amiga Ana, que texto explêndido!
A sua abordagem sobre solidão é de uma profundidade sem igual. Pincelei um fragmento que você escreveu e que conseguiu me tocar:
"A solidão é também quando conseguimos estar mais perto de nós e de Deus."
Aprendi com você que ouvir minha própria voz permite-me encontrar a sabedoria perdida...
Obrigada por compartilhar!
Meu carinhoso abraço,
Yolanda
Existem momentos em que a solidão e o silêncio se transformam em liberdade.
Abraços forte
olá Yolanda, muito obrigada pelo seu comentário. fico muito feliz por saber que o artigo tenha tido tanto significado para si. desejo-lhe toda a sorte do mundo para encontrar essa sabedoria perdida.
um grande abraço.
olá "principe encantado"! muito obrigada por comentar. é sempre bom ver novas caras por aqui, espero vê-lo por aqui mais vezes.
adorei a sua frase, não tinha pensado nisso, mas tem toda a razão, no fundo a solidão pode-se transformar em liberdade.
um grande abraço
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