O maior inimigo do sucesso

“Quem quer passar além do Bojador
tem que passar além da dor”

Fernando Pessoa, em “Mar Português”

Tug of war (créditos da imagem: toffehoff)

Todos temos limites. Momentos em que a dúvida nos paralisa. Momentos em que o medo nos impede de continuar.

Os limites são áreas escuras nas nossas vidas. Território intocável. Zona de conforto que não devemos nunca deixar, porque se nos mantivermos dentro dela tudo correrá bem.

Aprendemos a identificar esses limites à medida que crescemos, mas, muitas vezes, eles são-nos impostos por outros. “É demasiado complicado para ti…”, “Não devias sequer tentar…”, “Porque é que te arriscas tanto…?”. E mesmo que, no fundo, saibamos que isso não é verdade é sempre mais fácil aceitar essas palavras do que desafiá-las.


Além dos nossos limites

Quando comecei a praticar yoga parecia-me improvável que o meu corpo algum dia atingisse o grau de elasticidade que esta prática exige. Sendo uma aluna medíocre a desporto não tinha muitas expectativas de ser bem sucedida.

Depois de uns tempos percebi que era eu quem mais sabotava a minha própria evolução. Na minha cabeça exagerava sempre a dor e o desconforto que sentia e, muitas vezes, acabei por desistir antes de tentar sequer uma posição.

Neste período da minha vida aprendi a lidar com algo que mais tarde viria a reconhecer como: a resistência.

No yoga familiarizei-me com a dor, com o desconforto, e com o receio de quebrar os meus próprios limites. E com isso aprendi que os nossos esforços para quebrar esses limites vêm sempre acompanhados por uma dor e uma resistência de igual intensidade. Quanto mais arrojados formos, mais o nosso inconsciente e ego vão resistir a essa mudança.


Onde nasce a resistência?

No yoga a resistência apareceu sob a forma de dor física. Mas essa resistência nem sempre é física e, muitas vezes é difícil de identificar.

Percebi isso ao mudar-me sozinha para Madrid. Ao aproximar-se o início desse novo período da minha vida, a decisão que me parecia acertada há tão pouco tempo, de repente começou a parecer-me uma tolice.

Ao afastar-me tanto da minha zona de conforto accionei todos os alarmes no meu cérebro primordial. A parte do nosso cérebro que apenas se preocupa em assegurar as nossas necessidades básicas e a nossa sobrevivência.

Quanto maior for a mudança ou o risco a que nos propomos mais drástica vai ser a reacção do teu cérebro primordial. Porque quanto maior o sonho que queres realizar maior vai ser o risco de que venhas a sofrer, maior a probabilidade de falhares e maior a probabilidade de seres humilhado.

Por isso o teu ego vai fazer de tudo para que falhes: vai amplificar os teus maiores receios, vai desenterrar as tuas experiências mais dolorosas, vai tentar persuadir-te a desistir e, em troca dos teus sonhos, vai conduzir-te a uma falsa sensação de segurança. Tudo para assegurar a tua protecção, tanto física como emocional.


A resistência e o sucesso

O segredo das pessoas bem sucedidas não é a inteligência, não é genialidade, nem sequer é criatividade. É a capacidade de persistir, de forçar os limites e de ultrapassar a resistência que todos experimentamos.

São muitas as pessoas fantásticas que vejo a conformarem-se com o rumo e a irrelevância das suas vidas. “Não sou capaz, não sou inteligente nem criativo o suficiente…”, são as maiores desculpas que contamos a nós próprios para evitar lidar com o risco e o desconforto.

Mas alcançar o sucesso não é uma questão de perfeição, de inteligência e muito menos de criatividade. Só quando comecei a levar este blogue a sério percebi que as ideias não se esgotam. O verdadeiro desafio consiste em levá-las até ao fim, especialmente quando sentimos que os produtos dos nossos esforços não são tão bons quanto gostaríamos.

Para crescer e para melhorar é necessário, publicar, publicar e continuar a publicar. Especialmente quando sentes que o teus talentos estão “verdes”, que as tuas capacidades ainda não estão completamente desenvolvidas. Porque se nunca tentares nunca saberás o que podes alcançar.


E se falhares?
 
Um dia li uma frase fantástica que ficou gravada a fogo na minha cabeça. Essa frase dizia mais ou menos isto: nunca confies nas pessoas que nunca fracassaram. Para essas pessoas a vida parece fácil, até ao dia em que fracassam.

Se nunca lidaste com o verdadeiro e duro fracasso como sabes qual vai ser a tua reacção quando ele vier bater à tua porta? Vais quebrar, ou vais levantar-te mais motivado para continuar?

Seja de que forma for o fracasso traz aquilo que o sucesso nunca nos trará: sabedoria. Quem nunca o experimentou é porque nunca tentou ir para além dos próprios limites. O fracasso é uma bênção disfarçada. É um sinal de que estamos a fazer algo verdadeiramente emocionante e de que estamos prestes a atingir os nossos objectivos.

Nos últimos anos cresceram os estudos sobre a capacidade de lidar com o fracasso, a essa qualidade chamamos de resiliência. Lentamente, começamos a perceber que a mente domina sobre a matéria, e que um passado doloroso não é sinónimo de um futuro angustiante.

Ser corajoso e aceitar riscos implica também aceitar a possibilidade de fracassarmos (ainda que temporariamente). Implica aceitar os nossos medos e aprender a lidar com eles. Como dizia a minha professora de yoga, a dor é nossa amiga. Sem ela não teremos nunca a certeza de estarmos a desafiar os nossos próprios limites.

Se quiseres saber mais recomendo que assistas a esta inspiradora conferência de Seth Godin.


Seth Godin: Quieting the Lizard Brain from 99% on Vimeo.


Se nunca tentares ir além dos teus limites apenas vais receber o mesmo de sempre. O que tens que fazer é perguntar-te se te sentes satisfeito com isso.


Os vossos medos algum dia vos impediram de arriscar?

7 comentários:

vidarealdasam | 21 de dezembro de 2010 às 18:33

OLá querida !!!

Maravilhoso seu texto,muito bem elaborado e inspirador !!
Sem dúvidas o medo de arriscar às vezes nos paralisa, a diferença entre as pessoas é que algumas conseguem forças para seguir em frente enquanto outras não mais se movem.
Muito verdadeira a frase para não confiar em que não fracassou, pois absolutamente todas as pessoas que tiveram coragem para enfrentar os desafios, em algum momento fracassaram.
E são estes tombos que nos trazem aprendizado e conhecimento para uma nova tentativa que poderá ser mais bem sucedida.
O maior inimigo do nosso sucesso somos nós mesmos.
Adorei !
Um enorme abraço !

Ana Reis | 21 de dezembro de 2010 às 18:45

Olá Sam, fico muito feliz com a sua visita e com o seu comentário. Gostei muito das suas palavras!

Nós somos mesmo os nossos maiores inimigos. E escrever este artigo ajudou-me a consolidar essa ideia na minha cabeça. Já passei por tantos momentos da minha vida em que decidi encolher-me a um canto, por isso sei a angústia que é não arriscar. Com as minhas palavras espero que as pessoas saibam que não estão sozinhas nesta batalha. Que todos temos os nossos problemas e limites, mas eles existem lá para que a gente os aprenda a quebrar.

Um grande abraço!

Edson Palma | 6 de janeiro de 2011 às 16:04

Olá,

Quero contar o como assimilei esse artigo, falando minha experiência em fazer acrobácias com skate

..."Por causa da vida actualmente focada na família e, após ter passado uma adolescência estudando e praticando esse esporte". Minha válvula de escape!

Estou retornando, sem grande moderação, aplicando manobras jamais realizadas antes por que no half-pipe tenho arriscado frontside - difícil, porque fico de costas para a rampa vertical durante a execução e, acho que é um esforço atrás do sucesso...

Obrigado por publicar essa excelente indicação no blog A revolução da mente, certo?!

( :

Até logo

Ana Reis | 6 de janeiro de 2011 às 16:47

Olá Edson, mais uma vez obrigada pelo seu comentário aqui no blogue. E muito obrigada por partilhar a sua experiência. Requer coragem voltar a actividades que antes nos deixaram tão felizes, mas que acabamos por deixar causa de algumas circunstâncias que estão fora do nosso controle. E é muito bom que esteja disposto a arriscar tanto, isso é determinante para manter a motivação a longo prazo.
Muita sorte na sua jornada para dominar as manobras no skate!
Um abraço
(p.s. sim, o blogue chama-se A Revolução da Mente)

6 razões para adquirir um alojamento próprio | A Revolução da Mente | 21 de janeiro de 2011 às 11:16

[...] O que interessa não é a grandiosidade dos nossos planos, mas a capacidade de os levar até às últimas consequências (podes ler: O maior inimigo do sucesso). [...]

Antonio Carlos | 8 de maio de 2011 às 13:03

Ana

Mais uma vez sou surpreendido com sábias palavras, e estas em específico contribuíram para o meu sempre presente objetivo, ser. E os versos de Fernando Pessoa !
necessários pois "Navegar é preciso"

Um forte abraço

Ana Reis | 19 de maio de 2011 às 16:12

Olá António,
Muito obrigada pelo comentário. Fico muito feliz que as minhas palavras tenham significado algo para alguém :)
Neste momento só fico desanimada pelo facto de não ser capaz de produzir mais e melhores textos.
Um grande abraço

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