Uma internet com conteúdos pagos?


Depois do comentário do Daniel Galvão do blog "O Mundo das Ideias Corporativas" ao meu último post - "O futuro do Grátis" - fiquei com vontade de ampliar o tema. Porque, me apercebi que ficaram coisas importantes por dizer, embora no momento não tenha sido consciente delas. Portanto, obrigada por discordar Daniel!

Porquê pagar os conteúdos se já pago o acesso à internet?

Pára por um momento, desliga-te do mundo que te rodeia. Imagina que dentro de uma semana é o aniversário de um amigo muito próximo de ti. E, por isso, desejas comprar-lhe algo muito especial.


Podes ser um artista ou optar por alguma lembrança que tu próprio fabricaste, mas, a maior parte das pessoas optará por passar naquela loja especial para comprar o presente. E agora, o que fazes?

Podes ir até essa loja de carro, ou de transportes públicos, podes até encomendar o presente por correio. Pagarás pelo produto, mas isso parece-te pouco importante neste momento.

Fotografia de Andy Mangold


Mas, espera um segundo. Não pagaste só pelo produto. Se foste de carro terás pago a gasolina. Se foste de transportes públicos pagaste o bilhete e mesmo que tenhas encomendado por correio terás que pagar nalguma ocasião os gastos de envio.

Na internet a situação é a mesma. Grande parte dos conteúdos estão disponíveis sem teres de pagar nada mais para além da taxa de acesso. Mas não podemos pretender que até a qualidade seja grátis na rede apenas porque já pagamos pela conexão ao serviço.

No mundo real pagamos pelo transporte, mas como esse hábito já está tão enraizado na nossa cultura, esse não é um gasto importante, é apenas algo inevitável. Na internet passa-se o contrário. O preço de acesso à internet ainda não é irrisório.

Ainda se paga muito pelo acesso à internet

Neste ponto tenho que concordar. Mas é importante ver este assunto desde outra perspectiva. Muitas vezes aparece uma nova tecnologia, imaginemos um telemóvel com acesso à internet desde qualquer ponto do globo. Ficamos imediatamente cativados, mas o preço ainda é demasiado agressivo para as nossas poupanças. O que faz a pessoa comum nesta situação? Espera!

Com a internet é diferente, porque já não conseguimos imaginar a nossa vida sem ela. E muitas vezes isto faz-nos esquecer que esta tecnologia é relativamente recente nas nossas vidas. Por exemplo, em Portugal a internet só começou a ser usada pelas universidades e nalgumas empresas a meados dos anos 80 (podes consultar este documento para saber mais sobre a história da internet).

Na realidade, a internet, tal como a conhecemos hoje, não terá mais de 10 anos. Para uma tecnologia tão complexa como esta, 10 anos não é nada. E mesmo que não possamos dar-nos ao luxo de esperar, uma coisa é certa. O preço em pouco tempo será mais acessível, e, possivelmente chegaremos a um ponto em que deixaremos de lhe dar importância.

Mas devemos pagar pelo acesso a todos os conteúdos?

O New York Times é um excelente exemplo de como aqueles que sempre lutaram por conteúdos de qualidade na internet, acreditam naquilo que acabei de escrever. A página web do jornal tem grande parte dos seus conteúdos disponíveis, mas se queres aprofundar alguns temas terás que pagar para ter acesso a esse conteúdo extra.

Sendo um meio de referência a nível mundial provocou o despertar da comunidade jornalística. E isto levou a que muitos meios começassem a optar pela mesma estratégia. O exemplo mais próximo de mim é El Mundo en Orbyt que disponibilizou conteúdos online de grande qualidade (inclusive adaptados aos novos leitores electrónicos) mediante pagamento.

Fonte: orbyt.es

Se esta revolução vai ou não para a frente está nas mãos dos consumidores. Mas isto poderá ser um vislumbre do futuro dos negócios online: o modelo do Freemium (como bem mo relembrou o autor do blog Rivercastell pelo twitter). Este modelo define-se pela oferta de um produto para se poder vender produtos complementares de uma maior qualidade a uma pequena percentagem de usuários (podem saber mais sobre este assunto no Freemium Blog).

No entanto a verdade é que, ninguém pode prever o futuro, especialmente quando o tema envolve a cultura e o comportamento de uma massa tão diversa de pessoas.

Conclusão

Devemos criar a cultura de recompensar os pequenos produtores pelos seus esforços (ainda que a recompensa seja simbólica).

Porque, caso contrário a internet não será a solução para a actual crise. Se realmente formos capazes de abraçar esta cultura acredito que será até possível distribuir de forma mais equilibrada a riqueza. E que a internet poderá ser um meio excelente para o desenvolvimento de novos talentos e uma forma de fazer o mundo melhor.

Pelo menos é esta a minha opinião. Talvez um dia chegaremos a um ponto em que seja possível viver da cultura do grátis. Mas esse é um assunto para outro post.

Os comentários são todos vossos!

2 comentários:

Planeta dos Blogs | 23 de junho de 2010 às 15:34

Esta é, sem dúvida, a grande questão do momento nos negócios online.

Como conseguir rentabilizar os projectos on-line, se as pessoas não estão habituadas a pagar na Internet ?


Há imensas nuances que devem ser analisadas, nomeadamente o tipo de negócio, serviços prestados, etc etc

A maioria das empresas e e os jornais em particular, querem implementar os mesmos conceitos dos negócio tradicional na Internet. Ora isso, na maior parte, dos casos não é possível.

Há uma enorme mudança de paradigma em relação aos modelos de rentabilização dos negócios tradicionais. Acho muito improvável que as pessoas paguem por aceder às notícias de um site de um jornal. No entanto já veria como muito provável que alguém pague uma pequena assinatura mensal para receber as notícias dos principais jornais Portugueses no iPad ou no Smartphone. Uma mudança de conceito e uma mudança de paradigma.

Mas continuo a ver negócios "tradicionais" com muito sucesso na Internet, tal como marcas de venda de sapatos, roupa, outlet, clubs privados de venda de roupa, informática, telemóveis, etc

Paulo
Rivercastell

Ana Reis | 23 de junho de 2010 às 22:32

É verdade Paulo é mesmo necessária uma mudança de paradigma. Claro que ela está em grande parte nas mãos dos consumidores. Mas será necessário que as empresas inovem e arrisquem para que as pessoas comecem a reflectir sobre a necessidade dessa mudança.

Um abraço,
Ana

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